Por Jorge Trabulo Marques - Jornalista - Autor da descoberta - Organizador e coordenador do evento)
O Equinócio da Primavera 2017, ocorreu, hoje, dia 20, às 10h29min.TMG – Instante esse que marcava o início da Primavera no Hemisfério Norte. Os dias vão a partir de agora a ser maiores que as noites, por 92,79 dias até ao próximo Solstício que ocorre no dia 21 de Junho às 05h24min. Nós celebrámo-lo, de uma forma singela mas de profundo significado mistifico astronómico e histórico, momentos depois de se levantar no alto das colinas e ladeiras do Rio Coa - do Vale Sagrado - No altar sacrificial da Pedra da cabeleira de Nª Srª
Havia noticias que diziam que a Primavera ia entrar nebulosa e fria, e até com possibilidades de chuva ou de aguaceiros, poderá ser amanhã ou depois, mas por estas bandas, ainda não foi hoje
Mas por acaso até foi essa a ideia que me turbou o pensamento, ao
levantar-me da cama e ao espreitar pela janela, à seis da manhã- De facto, quando sai de casa e vi a aldeia, imersa
em nevoeiro, quase me apeteceu rogar umas pragas à a S. pedro ou à meteorologia pela partida, que parecia
querer despontar-me
Mas, felizmente, que, à medida que me afastava do
fundo do povo, por um artigo caminho romano (já sem a acalçada de outros tempos
, mas ainda assim, bem convidativo à evocação e a ser palmilhado), sim, à
medida que ia caminhando em direção ao maciço das Quebradas e Tambores, constatava
que o mesmo se ia dissipando, que a lua, em fase de quarto-minguante, se
descobria num céu límpido e sem uma névoa e que, a ocidente, se ia levantando
um clarão luminoso, sinal de que o nascer do sol, poderia brindar-nos com a
ascensão dos seus esplendorosos raios atravessando a cripta do Santuário
Rupestre da Pedra da Cabeleira de Nª Sra, que, o investigador, Adriano Vasco
Rodrigues, em meados dos anos 50, classificaria como antigo local de culto ou
de sacrifícios – No entanto, sem ainda alguém saber, que, a par dessa função, o
enorme penedo, escondia outros mistérios: o de, simultaneamente, se tratar de
um verdadeiro calendário solar, tal como outros antigos alinhamentos sagrados, que
ainda persistem em vários pontos do globo, heranças de ancestrais civilizações, que há
milénios nos antecederam, sendo o mais famoso o já mítico e monumental círculo
de Stonhenge, na Inglaterra.
Quis um feliz caso, que eu pudesse ser o privilegiado dessa
fabulosa descoberta, em 2001, tal como a dos monumentos megalíticos que se seguiram,
especialmente o da Pedra do Solstício, mercê de continuada investigação, este
alinhado com o solstício do Verão, junto do qual, graças a algumas boas
vontades, têm decorrido outras celebrações.
O objetivo
destes eventos, não visa promover
qualquer espécie de culto ou de sacrifício, como talvez os povos, que se
abrigavam por estas penedias, o terão feito, mas tão somente o de recuperar, o que, esses ancestrais costume ou rituais, teriam de
mais belo, energético, sagrado e purificador: o estreitamento com as maravilhas
concedias pela Mãe-natureza, de que a sociedade atual, tanto se tem divorciado,
em favor do supérfluo, do superficial e do
ruidoso
LÁ ESTIVEMOS PARA RECEBER AS ENERGIAS BENFAZEJAS E PURIFICADORAS DO LENDÁRIO E EGÍPCIO OLHO DE HORUS - Não como mero amuleto de tatuagem ou de trazer ao peito, como sucede na atualidade mas vivificantemente coroado de raios de luz e de esplendor
Referem estudiosos que OS EGÍPCIOS utilizavam vários amuletos protetores, tanto em vida quanto em suas múmias. Entre os mais antigos encontra-se o Olho Uedjat que já aparece no Império Antigo (c. 2575 a 2134 a.C.) e é um dos mais comuns em todos os períodos da história egípcia. Ele simbolizava o olho direito do falcão, isto é, de Hórus, - Pois bem, o mais certo é os egípcios - berço de uma das mais avançadas civilizações - terem herdado esse conhecimento de outras civilizações ainda mais rciadas.
VALEU A PENA LEVANTAR CEDINHO
LÁ ESTIVEMOS PARA RECEBER AS ENERGIAS BENFAZEJAS E PURIFICADORAS DO LENDÁRIO E EGÍPCIO OLHO DE HORUS - Não como mero amuleto de tatuagem ou de trazer ao peito, como sucede na atualidade mas vivificantemente coroado de raios de luz e de esplendor
Referem estudiosos que OS EGÍPCIOS utilizavam vários amuletos protetores, tanto em vida quanto em suas múmias. Entre os mais antigos encontra-se o Olho Uedjat que já aparece no Império Antigo (c. 2575 a 2134 a.C.) e é um dos mais comuns em todos os períodos da história egípcia. Ele simbolizava o olho direito do falcão, isto é, de Hórus, - Pois bem, o mais certo é os egípcios - berço de uma das mais avançadas civilizações - terem herdado esse conhecimento de outras civilizações ainda mais rciadas.
VALEU A PENA LEVANTAR CEDINHO
Levantei-me cedinho para estar, a tempo e horas, no local, porque o relógio do tempo não pára, e, os antigos calendários solares, não precisam de ser substituídos, mantem-se inalteráveis na sua perene e pétrea monumentalidade – De saco na mão, com o Didjeridu, o equipamento fotográfico, várias túnicas para eventuais visitantes, que as quisessem envergar – Ao contrário da maioria das celebrações anteriores, desta vez caminhava sozinho, e, quando me plantei, envergando uma das túnicas, frente ao altar sacrificial do imponente enigmático bloco granítico, cada vez mais me mentalizava de que ia cumprir o programa, sem mais ninguém, mas pouco depois, lá apareciam os mais dedicados participantes e colaboradores habituais:
António Lourenço, ex-autarca da freguesia, o homem que, ao longo de mais de 30 anos, mudaria, no bom sentido da palavra, completamente a face da aldeia, desde o ´saneamento, ao abastecimento de água e de eletricidade, entre tantas outras valiosas obras e melhoramentos.
– É o atual Presidente da Associação Humanitária dos Bombeiros voluntários de V. N. de Foz Côa, onde têm desempenhado um excelente trabalho de reconhecido louvor e mérito – Natural do vizinho concelho de Meda, casou nesta minha aldeia, com a prof. Amélia Lourenço (outra das pessoas voluntariosas a lavar as túnicas ou a prestar-nos a sua colaboração no que for preciso), pois, sim senhor, embora quase sobre a hora, mas ainda assim a tempo de se associar, ele que até já havia cortado algumas silvas no recinto, num dos dias anteriores, ali estava a parar a sua carinha para vir ao meu encontro – Tal como sucederia com outros amigos e colaboradores habituais, que não têm faltado
O Prof. José Lebreiro, natural de Foz Côa, um dos cofundadores da Foz Côa Friends - Associação e também, um dos seus principais dinamizadores: uma homem de cultura e de sensibilidade, que durante vários anos, ligado à Universidade de Coimbra, um coração magnânimo, voluntarioso e sensível, sempre muito empenhado nas mais diversas questões culturais do concelho – Acompanhá-lo, também o inconfundível José Andrade, uma figura também muito dedicada e voluntariosa, um talentoso fadista, grande animador e conversador – E também uma quase enciclopédia de histórias do que observa e retém a sua memória.
Poucos mas de espírito muito alegre e participativo – Prevejo, que, um dia chegará, em que o local será visitado por muita gente: oxalá não em jeito de romaria, como acontece em tudo quanto é demasiado publicitado mas ao mesmo tempo dessacralizado – Certamente, no dia em que, alguma televisão estrangeira, de expressão internacional ou produção cinematográfico, souber dar a devida importância às maravilhas pré-históricas, existentes os Tambores, Quebradas Mamcheia
Na qualidade de coordenador e organizador das várias festividades, já ali juntamos várias centenas de participantes, já ali, levámos até grupos de ballet e promovemos várias manifestações artísticas, já ali se fizeram reportagens televisivas (SIC;TVI e RTP ) em direto e gravadas, nos primeiro eventos, , pois, mas, como se sabe, em Portugal, de um modo geral, a cultura continua a ser um parente pobre – E, como já não é novidade, deixou de interessar. Se calhar, ainda bem: valem mais pouco de muitos e ruidosos – E os momentos, que pude desfrutar com os três amigos, talvez não fosse possível na confusão de muita gente.
No sul, o
Verão despede-se para dar entrada ao Outono, cá pela latitude onde nos encontramos,
é o Inverno, do nosso descontentamento, que se deseja que seja esquecido, o
mais depressa possível, com a chegada de
uma temperatura mais amena da estação primaveril – Só por este facto,
vale a pena o sacrifício de levantar cedinho da cama – Em poder estar, tal como estivemos, esta manhã, junto ao altar
sacrificial do Santuário da Pedra da Cabeleira de Nª Srª, frente ao majestoso
frontispício e aos pés de um dos mais belos monumentos do género, onde quisemos dar as boas vindas à
mais florida e perfumada estação do ano e,
uma vez mais, desfrutar do privilégio de contemplar momentos de raro esplendor
solar e de ancestral matriz histórica
No Outono,
como é o horário do Verão, não custa tanto, mas por esta altura as manhãs,
costumam ainda ser um bocado frescotas e pouco motivadoras para festas ao nascer do sol – A celebração do solstício, como ocorre ao pôr-do-sol, é mais participada - , Naturalmente, não deixaremos de a organizar.
CELEBRÁMOS O EQUINÓCIO DA PRIMAVERA COM POEMAS DE MÁRIO CESARINY do livro “Primavera Autónoma das Estradas" e de "A Porta do Labirinto" de MANUEL DANIEL - Tudo começou com a recordação da visita que Fernando Assis Pacheco, o poeta, jornalista e escritor, aqui fizera um mês antes da sua morte
Um dos objetivos destas nossas iniciativas, tem sido também prestarmos homenagem a poetas e escritores: a ideia surgiu-nos na pedra, a que demos o nome de o Alltar dos Poetas, batizado com esta designação pelo facto de ali ter erguido os braços o poeta , escritor e jornalista, Fernando Assis Pacheco, um mês antes da sua morte, no regresso a Lisboa, depois de ter ido ao vale do Côa a fazer uma reportagem para a revista Visão -
Convidei-o a dar ali um asseio para visitar aquele local: nomeadamente a Pedra da Cabeleira e o Castro do Curral da Pedra: - também gostaria de o ter levado ao Castelo Velho, Cova da Moura e fazer uma incursão por outros locais do maciço dos Tambores, onde há muita curiosidade para ver, mas a o fim da tarde desse dia, galopava e ele ainda tinha pela frente uma viagem muito longa. Mesmo assim, ainda deambulou por ali um bocado: ao retomarmos o caminho de regresso, sugeri-lhe para se despedir com um breve ritual, subindo para uma pedra, que parecia mesmo talhada para altar e ali prenunciar umas palavrinhas, que eu lhe transmitira, voltando-se ao mesmo tempo para todos os quadrantes: assim fez, partindo dali radiante e entusiasmado pelos agradáveis e reconfortantes mementos que ali passou – Mas, pelos vistos, naquele dia, o gesto acabaria pro ser premonitório, dado ter falecido um mês depois.
CELEBRÁMOS O EQUINÓCIO DA PRIMAVERA COM POEMAS DE MÁRIO CESARINY do livro “Primavera Autónoma das Estradas" e de "A Porta do Labirinto" de MANUEL DANIEL - Tudo começou com a recordação da visita que Fernando Assis Pacheco, o poeta, jornalista e escritor, aqui fizera um mês antes da sua morte
Celebração do Solstício do Verão |
Um dos objetivos destas nossas iniciativas, tem sido também prestarmos homenagem a poetas e escritores: a ideia surgiu-nos na pedra, a que demos o nome de o Alltar dos Poetas, batizado com esta designação pelo facto de ali ter erguido os braços o poeta , escritor e jornalista, Fernando Assis Pacheco, um mês antes da sua morte, no regresso a Lisboa, depois de ter ido ao vale do Côa a fazer uma reportagem para a revista Visão -
Convidei-o a dar ali um asseio para visitar aquele local: nomeadamente a Pedra da Cabeleira e o Castro do Curral da Pedra: - também gostaria de o ter levado ao Castelo Velho, Cova da Moura e fazer uma incursão por outros locais do maciço dos Tambores, onde há muita curiosidade para ver, mas a o fim da tarde desse dia, galopava e ele ainda tinha pela frente uma viagem muito longa. Mesmo assim, ainda deambulou por ali um bocado: ao retomarmos o caminho de regresso, sugeri-lhe para se despedir com um breve ritual, subindo para uma pedra, que parecia mesmo talhada para altar e ali prenunciar umas palavrinhas, que eu lhe transmitira, voltando-se ao mesmo tempo para todos os quadrantes: assim fez, partindo dali radiante e entusiasmado pelos agradáveis e reconfortantes mementos que ali passou – Mas, pelos vistos, naquele dia, o gesto acabaria pro ser premonitório, dado ter falecido um mês depois.
Em sua homenagem, e em sua memória, a pedra passou
a ter um significado especial -
Precisamente, no mesmo dia em que tomei conhecimento da sua morte, gravaria as
iniciais do seu nome, entre um pequeno triangulo – Pois tem sido, nessa pedra -
especialmente na celebração do solstício do Verão, - que se têm recordado e prestado várias homenagens - No entanto, também o fazemos na Pedra da
Cabeleira de Nª Sra ou mesmo em ambos os locais, se o homenageado for vivo e
estiver presente: - Entre outras figuras, foi o caso do poeta, Manuel Daniel, na
pose da fotografia, com que aqui recordamos a sua presença – Por razões de
saúde – particularmente da sua vista – tem podido ali voltar – Mas nós achamos que
continua a ser merecedor da nossa distinção – Eis, pois, a razão pela qual, de
vez em quando, ali gostamos de ler alguns do seus belos poemas, tal como hoje
sucedeu, simultaneamente com a leitura
de alguns poema de Mário Cesariny, a que me referi noi post anterior.
MULTIFACETADA – ADVOGADO, POETA, ESCRITOR, DRAMATURGO E O HOMEM AO SERVIÇO DA CAUSA PÚBLICA
Manuel Daniel, natural de Meda, figura bem conhecida e muito estimada no seu concelho e de Vila Nova de Foz Côa, onde se fixou desde 1971, aliás, em toda a nossa região, é um amigo das celebrações dos Templos do Sol - Por várias vezes, nos deu a sua preciosa colaboração. E, quando não pode participar (por razões de saúde) há-de arranjar forma de nos estimular com as suas amistosas palavras, que muito lhe agradecemos
Advogado, escritor,
poeta, dramaturgo, estudioso, um homem de cultura, tendo dedicado muitos
anos da sua vida à função pública e à vida autárquica. A par
de vários livros de poesia, colaborações de artigos e poemas na imprensa regional
e nacional, bem como em jornais brasileiros, prefácios e a
coordenação em várias obras, é também autor de 40 peças de teatro, nomeadamente
para crianças, 20 das quais ainda inéditas. Muitos dos seus poemas foram lidos
por Carmem Dolores e Manuel Lereno, aos microfones da extinta Emissora
Nacional, em “ Música e Sonho”, de autoria de Miguel Trigueiros –
Considerado, na época, o programa radiofónico mais prestigiado - Mesmo
assim objeto de exame censório, tal como atestam os arquivos.
Mas não menos relevantes
são as letras que vêm a ser musicadas e gravadas em discos e cassetes -
Interpretadas por Ramiro Marques, em EP nas
canções “Amor de Mãe” e “Amor de Pai”, pela Imavox, em 1974 – E,
também, anos mais tarde, as letras para um “Missa da Paz” e coletâneas temáticas
sobre “Natal e Avós” E, com música de Carlos Pedro, as “Bolas de
Sabão”, “Ciganos”, “Silêncio” e outros poemas.
“No fundo, com tudo isto, nós queremos interrogar o Universo para saber quem somos e o que fazemos aqui. Em todo este esforço à volta da contemplação do sol, do fenómeno da vida e dos movimentos dos astros, em tudo isto há uma interrogação latente: que é o homem que se está a perguntar a si mesmo, quem é ele e o que faz sobre a terra. Queremos saber através destas celebrações, ainda que o não pensemos, a nossa total identidade" - Palavas de do poeta Manuel Pires Daniel, pronunciadas na celebração do solstício do Verão, em 2011
"Nos dias de Equinócio ou de Solstício, tenho sempre uma lembrança especial da sua pessoa, pelo exemplo que resuma do seu esforço no sentido de valorizar o observatório milenar que descobriu e vai revelando persistentemente no Santuário Rupestre dos Tambores, nas Chãs.
Lamento
não possuir capacidade visual para poder acompanhar as suas iniciativas, e
não deixo de me sentir reconhecido pelo trabalho que vem desenvolvendo por um importante valor histórico das nossas terras.
A HOMENAGEM A MÁRIO CESARINY - FOI TAMBÉM O TRIBUTO A UM BOM AMIGO
Jorge Trabulo Marques - Mário Cesariny |
Tive oportunidade de ser amigo de Mário Cesariny de Vasconcelos, de ter partilhado com ele variadíssimos e inesquecíveis momentos de agradável convívio; daí o duplo prazer, quer pela admiração da sua personagem como da sua obra, com que, juntamente com o poeta Manuel Daniel, associámos a poesia de ambos à celebração do Equinócio da Primavera
"Passados dez anos, sobre a sua morte - "é uma voz
que ainda ecoa" e o seu surrealismo uma revolta que ainda não perdeu o
sentido” - Entre os amigos mais chegados, a sua presença continua tão forte quanto
antes. Como naqueles tempos passados em redor de uma mesa de café a falar de
literatura, de política, de arte, de tudo. Sempre certeiro, Cesariny chegava e
com uma palavra era capaz de mudar a temperatura de uma sala, sobretudo de
pensar fora da caixa porque ele nunca soube o que era estar dentro dela.
Isso — essa ânsia de liberdade noutro Portugal — trouxe-lhe muitos
problemas, mas também fez com que se tornasse autor de uma das obras mais
importantes do modernismo português. E não só literário, mas também pictórico.
Porque a poesia e a pintura andaram sempre de mãos dadas com Cesariny — faziam
parte dele. E assim diz quem o conheceu” - .Diz num interessante artigo, Rita Cipriano, publicado no Observador – Do qual
extraímos este breve exerto.
Em Junho, noutro dos calendários pré-históricos, celebrámos o Solstício do Verão
Registo de véspera - Ao nascer do Sol, em Stnohenge - Ao pôr do Sol - Nos Tambores
De cor e salteado, é o tema da exposição, recentemente inaugurada no Centro Cultural de
Belém (CCB), que vai estar ali patente um ano para recuar aos dez
anos que passaram sobre a morte de um dos maiores experimentalistas do
surrealismo português, desde a pintura à poesia e à música, mas também à sua
singular maneira de ser - Que é justamente o que mais me apraz recordar
dos variadíssimos momentos em que tive o prazer de conviver com o autor
do Corpo
Visível; Manual de Prestidigitação, Pena Capital, Primavera Autónoma das Estradas, O Virgem Negra; Mãos na Água a Cabeça no Mar; A alma e o mundo;
Nobilíssima Visão; Um Auto para Jerusalém,
entre outros títulos poéticos
A importante exposição, composta por um
acervo de 30 obras de sua autoria, cedidas da coleção da Fundação
Cupertino de Miranda, a instituição mais representativa do surrealismo
português
No próximo dia 25, no dia Mundial da
Poesia, vai ter um destaque especial, com uma série de evocações
do autor, incluindo a estreia mundial de uma composição de Christopher Bochmann
feita a partir dos seus versos e uma maratona de leituras "por diferentes
personalidades". A instalação vídeo Poema Colagem – Homenagem a Mário
Cesariny, o documentário de Miguel Gonçalves Mendes sobre o
artista, Autografia, que recentemente regressou às salas em versão restaurada,
e uma conversa sobre o artista também integram o tributo, de entrada gratuita.- Refere
o Jornal Público, Um ano para lembrar os dez que já passámos sem Mário
Cesariny , que, na opinião do organizador da exposição, José Manuel dos Santos,
director cultural da Fundação EDP, Mário de Cesariny está sempre a ser
descoberto e que, por isso, continua vivíssimo": "
Mário Cesariny era único em tudo, inimitável e inigualável – A
personalidade dos santos e os heróis não é fácil de compreender pelo
comum dos mortais, porém, Cesariny nem era uma coisa nem outra – Mas
assumidamente espontâneo e natural, excecional e conscientemente
artista, deliberadamente libertário, contestatário à ditadura
salazarista, corajosa e desinibidamente homossexual. Nunca se coligou a qualquer
partido senão a dar expressão aos ideais do manifesto surrealista André
Breton, um dos seus mestres da Académie de la Grande Chaumière, em
Paris, “cuja influência o levaria a participar na criação, no mesmo ano, do
Grupo Surrealista de Lisboa, juntamente com figuras como António Pedro, José
Augusto França, Cândido Costa Pinto, Vespeira, João Moniz Pereira e Alexandre
O´Neill, que reuniam na Pastelaria Mexicana. Este grupo surgiu como forma de
protesto libertário contra o regime salazarista e contra o neo-realismo”
Não se importando, pois, de estar-se nas tintas, de fazer tábua rasa das
ficções sociais burguesas e dos seus hipócritas bons costumes, tendo chegado a
ser preso e perseguido, quer em Portugal, quer mesmo na conservadora
Inglaterra, com humilhantes apresentações e
interrogatórios por não abdicar da sua liberdade do
pensamento das suas ideias, sensibilidade artística e genuína
humana e maneira de ser
CESARINY ADMIRAVA O ESPÍRITO AVENTUREIRO
DAS MINHAS ARRISCADAS TRAVESSIAS EM FRÁGEIS PIROGAS E EU ADMIRAVA-O POR SER UM
POETA DE CORPO E ESPÍRITO INTEIRO - http://www.odisseiasnosmares.com/2012/10/28-dia-grandes-vagas-alterosas-entravam.html
E também apreciava os meus apontamentos insólitos de reportagens e entrevistas na extinta Rádio Comercial RDP - Um dia haveria de ser ele a substituir o repórter com a empregada de Natália Correia, deslindando segredos, de almoços e jantares, no lendário Botequim e em sua casa e outras revelações - Quem haveria de imaginar tão inesperado acaso!
Mário Cesariny – Diálogo surrealista, 1991 - com a criada cabo-verdiana, da poetiza Natália Correia, em noite das marchas de Santo António, sobre ratos e ratazanas que comem mãozinha de criancinhas e outras surpreendes revelações - Em memórias de um repórter - Ao lado do poeta e pintor, e na mira do apontamento espontâneo de reportagens para Rádio Comercial, quando questionava algumas das pessoas que assistiam ao desfile, eis que surge o diálogo mais inesperado e insólito, que ali poderia esperar.
E também apreciava os meus apontamentos insólitos de reportagens e entrevistas na extinta Rádio Comercial RDP - Um dia haveria de ser ele a substituir o repórter com a empregada de Natália Correia, deslindando segredos, de almoços e jantares, no lendário Botequim e em sua casa e outras revelações - Quem haveria de imaginar tão inesperado acaso!
Tenho no meu vasto arquivo de
repórter da rádio, muitos registos da sua voz: quer de algumas tertúlias
poéticas onde participou, quer de quando nos cruzávamos nalgumas
das ruas ou espaços que ele mais frequentava: - pois, além das entrevistas às
mais diferentes personalidades, uma parte dos meus trabalhos eram
baseados em registos de rua e casuais, de coisas do arco da velha, em direto ou
gravados, de todo o tipo; desde assassinos, a prostituíras, rufias, drogados,
marginais, gente conhecida ou anónima, dava-me gosto ir ao encontro do palpitar
do coração da cidade, fosse de dia ou de noite. Hoje, a rádio,
dispersa-se em mil frequentes, já não dispõe dos grandes auditórios dos anos de
oiro da rádio, os seus realizadores imitam-se e repetem-se, como gira-discos e
só servem para enfastiar o ouvinte com carradas de anúncios, música barulhenta
e enfadonhas conversas da treta.
Mário Cesariny, conhecendo bem as minhas
andanças, sabendo que, no saco do repórter, havia sempre um
gravador pronto a premir a tecla para acionar o movimento da cassete de
gravação, por vezes, era ele mesmo, que quando nos cruzávamos,
se o apanhasse em pleno desvario poético, me perguntava: “Olá
Jorge!... Trazes aí contigo a maquineta?”... – Claro que, mal descobria o seu
perfil, à distância, era o gesto de que imediatamente me preparava para tomar: – E, sem mais
delongas, ali estava o poema, acabado de criar, vertido como se naquele
momento lhe estivesse a jorrar da mais cristalina fonte e da encosta
do mais sublime ou auspicioso monte.
Ele concedia-me esse privilégio, não
porque estivesse a pensar na forma de promover os seus versos, visto essa
questão há muito estar ultrapassada, pois, a bem dizer, Cesariny, quando
nasceu, já devia vir com o rótulo dos predestinados, além de que também
não precisava de correr atrás da imprensa, nem o desejava nem era esse o seu
gosto. Fazia-o, por um lado, porque me considerava seu amigo, e,
por outro, porque, sendo também uma pessoa afável, simpática e dialogante - que
gostava de dizer os seus poemas, como se cada verso lhe saísse do mais fundo
das suas emoções ou cogitações, e não mercê de meras construções imaginativas
de quem é muito letrado e até sabe fazer umas versalhadazecas umas rimas
ou coisas parecidas, engraçadas ou intelectuais, que, mais das vezes
ninguém entende – mas sobretudo, porque esse gesto também era surrealista, uma
insólita forma de expressão artística.
Nesse aspeto, ele não fazia concessões –
Sim, o gosto de surpreender e ser-se surpreendido, um ato
poético, artístico e espontâneo, por aquilo que fazia e criava –
Cesariny era avesso às entrevistas combinadas mas adepto e apaixonado do
diálogo informal e espontâneo. E até sucedia, por vezes, que, ao cruzar-me com
ele na rua, ao perguntar-lhe se me podia dizer alguns versos para o meu
gravador, me respondia: “desculpa, Jorge; mas neste momento não ando com versos
na cabeça, não posso perder tempo contigo:
- Não vês, além aquele magala, tão
jeitoso! …Vou ver se o engato!”…Agora não posso falar contigo… E lá ia à
sua vida…De cabeça erguida, de quem não deve, não teme; enfiado na sua
gabardine… Qual andorinha apeada, mais parecendo levitar de que andar.
Sim, só mais tarde, é, que, ao ver a sua
fotografia estampada num jornal, a propósito da sua poesia, pude associar aquela
figura franzina e misteriosa à do poeta Mário Cesariny –
Naquela altura, eu conhecia mal os poetas e escritores portugueses de vista, uma vez ter passado 12 anos fora de Portugal. Por isso, quando, um dia, ao fim da tarde, ao cruzar-me com ele à saída do metro nos Restauradores - donde pretendia caminhar até lá cima ao Marquês de Pombal e dali dirigir-me à Rádio Comercial-RDP, na mira de registar alguns apontamentos de reportagem (naquele tempo ainda trabalhava a recibo verde), é que não resisti a cumprimenta-lo, dizendo-lhe: “Já sei que é o poeta Mário Cesariny!- Ele corresponde-me com um amável sorriso, com uma pergunta: então e onde vai?... Vou para a Rádio Comercial!” – Falámos uns breves momentos, dizendo-lhe que um dia gostaria de lhe gravar alguns poemas e de conversar consigo. E, na verdade, muitas haveriam de ser as vezes que nos encontramos; em cafés ou numa das esplanadas dos restauradores, onde também gostava de se sentar, sim, em variadíssimas circunstâncias, tendo mesmo chegado a convidar-me a visitar a sua oficina e a conhecer as suas irmãs, em sua casa.
Conheci-o, casualmente, pela primeira vez, nos finais
dos anos 70, numa discoteca Gay, no Príncipe Real, denominada Rokambole, próximo
da Faculdade de Ciências– Tinha ali ido fazer uma reportagem para a
Rádio Comercial sobre a estreia de um espetáculo de travesti, e, enquanto
assistia às hilariantes pantominas dos atores, quis um feliz caso
que estivesse sentado no mesmo sofá ao seu lado: às tantas, e, como
nestes ambientes informais e descontraídos, quando as pessoas estão sentadas
lado a lado, o diálogo geralmente acontece, sou eu que, lhe lanço esta
pergunta:
Por caso, o Sr. não é poeta? - Ele
sorri e responde que sim, mas não disse mais nada nem eu insisti – Isto pelo facto
de ter observado, na sua maneira de falar, simples,
espontânea, no relacionamento com outra pessoa, da sua idade,
sentada do seu lado direito (mais tarde vim a saber que era o pintor Francisco
Relógio) com a qual de vez em quando iam trocando umas palavras,
porém, sem qualquer tipo de afetação na voz ou nos gestos, ao
contrário de outras pessoas, que por ali conviviam e se divertiam,
Porém, como é sabido, no rosto dos espíritos iluminados, o silêncio também
fala. E eu quando andava em reportagem, olhava as pessoas, com olhos de ver,
procurava eventuais motivos de curiosidade para apresentar no programa em que
participava – Pois, tal como me confessara, mais tarde, o pintor, Carlos
Botelho, em sua casa: vocês, repórteres, devem ter muito que trabalhar
para alimentar uma bocarra, tão grande, como é a da rádio – Sim, no tempo em
que fazer rádio, não era só no estúdio mas ir ao encontro das pessoas e dos
acontecimentos.
A mesma dificuldade me reconheceria
também, António Ramos Rosa, outro grande poeta, que, depois de o ter visitado
numa enfermaria de um hospital, pela primeira vez, me receberia
muitas vezes em sua casa, tendo, a partir de certa altura, não apenas tido
o prazer de conviver com ele e com a sua esposa, Agripina Costa
Marques, mas também para lhe registar algum poema, acabado de criar
ou mesmo de levar o original para minha casa para lho depois lho
entregar em letra de forma: pois, houve uma altura, na sua vida, em que, devido
a problemas de saúde, escrevia com alguma dificuldade, com gatafunhos, quase
indecifráveis e, mesmo o que batia à máquina de escrever, necessitava de melhor
apresentação: os versos saiam-lhe espontaneamente, até de uma simples palavra,
que eu próprio pronunciasse,, a sua poesia era de emoções, que
faziam pensar mas dir-se-ia que não era pensada mas sim vertida de uma mente,
fermentada e fecundada de múltiplos e profundos pensamentos, talvez mesmo em
permanente estado de ebulição ou delírio . Bom, mas neste momento, eu estou
agora a lembrar a memória de Mário Cesariny
Referindo-me aquele silêncio de Cesriny quando
lhe perguntara se não era poeta, àquela ausência de resposta à sua
identificação, na verdade, tal episódio, deixou-me, de algum modo intrigado,
pelo que fiquei sempre com aquela curiosidade em saber quem era aquela
figura franzina, graciosa e fantasiosa, mas ao mesmo tempo com expressão muito
concentrada e enigmática, com um rosto ascético de intelectual e de
sonhador, que de vez em quando apertava os dedos alongados entre umas mãos
finas de mulher ou de artista mas que correspondia com afabilidade e
simpatia a quem se lhe dirigisse ou com quem falasse. Sorrindo
com frequência, mesmo quando depois se refugiava num ar mais ´serio. Expressão esta que só depois lhe reconheceria, claramente.
Jorge Trabulo Marques - Mário Cesariny |
Naquela altura, eu conhecia mal os poetas e escritores portugueses de vista, uma vez ter passado 12 anos fora de Portugal. Por isso, quando, um dia, ao fim da tarde, ao cruzar-me com ele à saída do metro nos Restauradores - donde pretendia caminhar até lá cima ao Marquês de Pombal e dali dirigir-me à Rádio Comercial-RDP, na mira de registar alguns apontamentos de reportagem (naquele tempo ainda trabalhava a recibo verde), é que não resisti a cumprimenta-lo, dizendo-lhe: “Já sei que é o poeta Mário Cesariny!- Ele corresponde-me com um amável sorriso, com uma pergunta: então e onde vai?... Vou para a Rádio Comercial!” – Falámos uns breves momentos, dizendo-lhe que um dia gostaria de lhe gravar alguns poemas e de conversar consigo. E, na verdade, muitas haveriam de ser as vezes que nos encontramos; em cafés ou numa das esplanadas dos restauradores, onde também gostava de se sentar, sim, em variadíssimas circunstâncias, tendo mesmo chegado a convidar-me a visitar a sua oficina e a conhecer as suas irmãs, em sua casa.
Naturalmente
que não o posso esquecer: aquele rosto que infundia uma
natural empatia, porque, na sua maneira de ser, que lhe era genuína e
inata, naquela sua expressão de vagabundo sorridente e
incorrigível - misto de fina sensibilidade, ironia, cultura e
afabilidade, não morava a hipocrisia - -
Em Cesariny, tanto no poeta como no
pintor, não havia fingimento ou artificialismos imaginativos mas
espontaneidade, uma constante ânsia de revelação, um profundo sentimento de
liberdade, de espírito de descoberta de fantasia ou do insólito, de
transgressão à vulgaridade, tal como as crianças olham as estrelas, estendendo
a mão para lhe tocar, também em Cesariny havia como que o desejo de as poder
alcançar, buscando e amando os aspetos mais sedutores, contrastantes e
misteriosos da vida, tanto nas criaturas humanas como no ambiente que o
rodeava.
No dia
seguinte à sua morte, ainda sob a emoção da sua partida para a eternidade, não
resisti a escrever uns verso de invocação e já de saudade, que publiquei num
poste de outro dos meus sites, em Templos do Sol, do qual aqui transcrevo esta
passagem, a que dei o título de
Os poetas não morrem! – E Cesariny é um deles!... Ler em os poetas não morrem... mário cesariny - é um deles!
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