Por Jorge Trabulo Marques, Jornalista –
Por Jorge Trabulo Marques, Jornalista –
Odete Santos, natural de Pega, concelho de Guarda é uma beiroa de gema e tem de ser interpretada tal como ela é - Sincera, exuberante, polémica, teatral, apaixonada, frontal e corajosa dos seus princípios ideológicos - De outro modo, recusaria o convite. Não o recusou, porque ela gosta de dizer o que tem a dizer, e, tal como o toureiro, vai às lides a enfrentar a faena à sua maneira.
E pensamos que foi desse modo
que Odete Santos ali foi
ouvida. Com atenção mas com humor, ninguém se escandalizou. Pois não faltou
quem a tomasse a serio e também sorrisse. Por isso, ninguém se sentiu
ofendido ou levou a mal as suas críticas. Pois julgamos que ninguém devia
estar à espera que ali fosse elogiar o livro. É que, Álvaro Cunhal,
se, em vida, era respeitado e admirado, depois da sua morte, passou
a ser idolatrado. Se alguém questionar os seus dogmas, logo o seus fiéis lhe
saltam em cima.
"Se a mistificação se pode avaliar pelo seu funeral, então o de Álvaro Cunhal, em 15 de Junho de 2005, mostrou a dimensão do mito que era. A magnitude do seu enterro só foi comparável, em Portugal, com o de outros políticos – António Salazar e Francisco Sá Carneiro -, e também eles transformados em mitos, embora se situassem em distintos (até opostos) territórios ideológicos”- Estas as palavras introdutórias de Álvaro Cunhal o Homem e o Mito, por Joaquim Vieira - Obra lançada ontem e que promete vender e polemizar.
instantâneo por nós captado de reprodução de entrevista na RTP
ODETE SANTOS DISSE QUE NÃO IA REPRESENTAR A LINHA OFICIAL DO PARTIDO MAS PARECE QUE FOI MESMO ESSA A POSIÇÃO ASSUMIDA
"Foi pena eu não ter acabado de ler o livro antes de eu dizer que sim (…)Perante este livro eu tenho que ter uma opinião negativa do Dr. Álvaro Cunhal. Preferia não ter vindo” - Álvaro Cunhal deu que falar em vida. E vai continuar a dar que falar, depois de morto, Gerou paixões e ódios. A camaradas ou a adversários, ninguém lhe ficava indiferente. E o mesmo se passa com os artigos ou livros que se escrevam acerca do histórico dirigente do Partido Comunista Português – É o que se prevê, venha a suceder com a mais recente biografia ilustrada e documentada, de autoria de Joaquim Vieira, Editora Objectiva, a avaliar pela reação de Odete Santos, convidada para o debate da sessão do lançamento de autógrafos, que decorreu no auditório do El Corte Inglês, ontem ao fim da tarde, que tinha como convidados especiais, a ex-deputada comunista e de Fernando Rosas, historiador co-fundador e ex-deputado do Bloco de Esquerda
"Se ainda
houvesse União Soviética, muitas coisas não estariam a passar-se no mundo” – Disse Odete Santos. Lá isso é
verdade. Não era o Sol da Terra mas servia de travão à hegemonia americana. A China passou de socialismo comunista a ultra capitalismo do
Estado. As ditaduras árabes transformaram-se em primaveras da desordem, do
roubo e da destruição. E as ditas democracias ocidentais, deram lugar à mais
gananciosa e selvática ordem global liberal!
Fernando Rosas diz que, Joaquim Vieira, nesta biografia de Álvaro Cunhal, o Homem e o
Mito, mostra-nos um homem complexo (naturalmente com as opiniões do autor)
mostra-nos o homem político, o dirigente partidário e comenta os seus tempos de
direção; mostra-nos o homem nos seus afetos, mesmo nalguns pontos da sua
privacidade que ele tem zelosamente guardados; dá-nos flashes do seu
relacionamento pessoal; do chefe partidário na vitória e na derrota; do homem
na força do seu poder, como dirigente partidário; na sua criação e evolução
artística - Um percurso biográfico que é praticamente indistinto do
Partido Comunista Português
ÁLVARO CUNHAL ENGANOU-SE AO PROFETIZAR QUE TODOS OS CAMINHOS IAM DAR AO SOCIALISMO - NADA DISSO: AO LIBERALISMO SELVAGEM
A obra contou com a colaboração documental do arquivo do PC,mas talvez por não se tratar de uma biografia oficial, num Partido que, de algum modo, ainda não perdeu a sua ortodoxia, a única personagem destacada que de viu na sala, foi Odete Santos – Declarou que não vinha em nome do Partido mas não hesitou em assumir, talvez a mesma posição crítica, que fará o núcleo do comité central:
“Não se trata de correr atrás da utopia (…) Os Homens podem transformar em realidade sonhos milenários (…) Na época actual, todos os caminhos do progresso social acabarão por conduzir ao socialismo” – Esta citação de Álvaro Cunhal, está destacada como legenda de uma fotografia do lendário líder do PCP, logo no começo do livro e foi a que mais agradou a Odete Santos, que leu no final da sua intervenção – Mas entrou logo a matar:
O livro está muito bem
apresentado documentalmente: vê-se aí o contribuo importante que o Partido
Comunista deu para fazer o livro. Nada há a dizer acerca disso. Nem eu trago
nenhum recado do Partido sobre o Álvaro Cunhal. (…) mas foi pena eu não ter
acabado de ler o livro antes de eu dizer que sim, porque eu tinha dito que não
vinha cá. Porque, depois de eu ler o livro qual é a opinião que eu
faço de Álvaro Cunhal?..(…) tinha de fazer uma opinião negativa. Porque, o
Álvaro Cunhal é apresentado aqui como uma pessoa sectária, como uma pessoa que
manobra nos bastidores, como uma pessoa vingativa, que diz mal do Dr. Mário
Soares, porque tem inveja dele. Como uma pessoa, que até em Moscovo viveu num
prédio de luxo (…) e até tinha um automóvel à sua disposição! - Escândalo
não é?! Desculpe lá !
OBRA BIOGRÁFICA À ALTURA DO MITO?
Com tantos documentos e tantas imagens, tão
graficamente apresentadas, vê-se que é um livro que vai vender bem -
Cunhal sabia exercer o seu fascínio através da palavra e da imagem. Depois do
25 de Abril, quando as sobrancelhas lhe começaram a ficar mais ramalhudas e a
cabeleira ao jeito da crina de "cavalo branco", como alguns
o chegaram a classificar, mas antes da velhice começar a mostrar os
seus sinais, a imagem de Cunhal era de um autêntico Galã. O livro mostra que o
homem, realmente, tinha o magnetismo dos mais admiráveis
nativos do signo escorpião. Daí que, o preço, mesmo um
pouco acima dos 20 euros, conquanto não seja acessível a muitas bolsas, vai
vender bem.
Odete Santos, alegou que " preferia não ter vindo de ter que fazer um grande sacrifício. E é muito mal fazer sacrifícios nestas coisas da cultura” –No entanto, vai haver muito quem faça o seu sacrifício - Claro que, cada leitor irá fazer o seu juízo - Até para os olhos daqueles que apenas viam virtudes em Álvaro Cunhal, mesmo estes, estamos certos que acabarão por perdoar ao autor ter dito dito que ele não era nenhum santo, que também tinha as suas virtudes e os seus defeitos, como qualquer ser humano.
Odete Santos, alegou que " preferia não ter vindo de ter que fazer um grande sacrifício. E é muito mal fazer sacrifícios nestas coisas da cultura” –No entanto, vai haver muito quem faça o seu sacrifício - Claro que, cada leitor irá fazer o seu juízo - Até para os olhos daqueles que apenas viam virtudes em Álvaro Cunhal, mesmo estes, estamos certos que acabarão por perdoar ao autor ter dito dito que ele não era nenhum santo, que também tinha as suas virtudes e os seus defeitos, como qualquer ser humano.
BIOGRAFIA, INDUBITAVELMENTE, BEM DOCUMENTADA E ORGANIZADA COM EXCELENTES TEXTOS
(...) Obra profusamente ilustrada e documentada, esta
biografia traça um retrato tão imparcial quanto apaixonante de Álvaro Cunhal,
desde o berço burguês à liderança comunista. (...) Este
livro procura ir ao encontro da figura para lá dessa visão mítica, desvendando
o eterno praticante da ortodoxia do pensamento, o defensor do seu partido como
objeto sagrado, o líder dividido entre o impulso revolucionário e o
racionalismo institucional ou o protagonista de uma turbulenta vida sentimental
que sempre preferiu manter oculta. – Mais pormenores em http://www.wook.pt/ficha/alvaro-cunhal-o-homem-e-o-mito/a/id/15263416
Joaquim Vieira nasceu em Leiria, em 1951. Jornalista, ensaísta e documentarista, foi membro da direção de vários órgãos de informação (Expresso, RTP, Grande Reportagem).Autor de várias obras – pormenores em http://www.wook.pt/authors/detail/id/2365059
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