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segunda-feira, 14 de maio de 2012

ENCENADOR JOÃO MOTA, NO TEATRO D. MARIA ll, COM MENOS DOIS MILHÕES PARA FAZER O QUE QUISER SEM AGENDA POLÍTICA





O encenador João Mota - é uma referência, quer como actor, quer como precursor do   teatro independente – Foi o fundador de  A Comuna - Teatro de Pesquisa, dois anos antes do 25 de Abril – Tendo-se recusado a receber subsídios do então SNI, organismo fascista. Foi apoiado por Azeredo Perdigão e sua mulher –  Sim, por parte  da fundação mais sólida e prestigiada, em Portugal e na Europa,  com a qual o próprio regime, não fazia o que queria – Fortemente endividado,  com a guerra colonial, António de Oliveira Salazar, ele próprio chegou a estender-lhe a mão e   a contrair-lhe alguns avultados empréstimos - Foi-me revelado pelo então Presidente da Fundação Gulbenkian. Mas, por este andar, qualquer dia será o contrário. A Fundação Calouste Gulbenkian –  a pedir umas migalhas à Segurança Social ou a  um Estado falido. Já acabaram com o Ballet e qualquer dia ficam só os administradores. E até o palacete de Calouste Gulbenkian, em Paris, foi à vida - Nem a memória dessa jóia arquitectónica  foi respeitada. O histórico edifício, adquirido inicialmente em 1922 pelo diplomata, coleccionador e financeiro de origem arménia para ser a sua residência em Paris,  foi vendido  para dar lugar a um Centro Cultural, ao estilo dos super-mercados marchê. Aos caprichos economicistas  da "escrupulosa" mentalidade neo-liberal que varre a Europa e o resto do mundo.  Foi uma heresia de Rui Vilar -  Que deu luz verde a uma boa oportunidade para quem o comprou.


 
JOÃO MOTA, APRESENTOU-SE EM VÁRIOS PALCOS  EUROPEUS,-  INCORPOROU  VÁRIAS PERSONAGENS, NA SUA LONGA E BRILHANTE CARREIRA DE ACTOR E ENCENADOR  – UM TOMARENSE, FRONTAL, HUMANISTA E GENEROSO -  DIFICILMENTE ALGUÉM O CONSEGUIRA IMITAR A ELE.



Nasceu, em 22 de Outubro, na cidade de Tomar - "Alma de pedagogo, espírito de­sassossegado, inconformista militante, João Manuel da Mota Rodrigues, o fundador do Teatro A Comuna, nasceu condenado a viver sobre o palco, cedendo à arte a sua vida. Diz que sente, à boa maneira de José Gomes Ferreira, saudades do futuro repetidamente adiado, e que o passado terminou de repente, quando morreu a pessoa que melhor o conhe­cia: a mãe."

"Inigualável, perturbador, exigente, é difícil encontrar alguém que não goste de João Mota. Cobre a vaidade com um manto de humildade sincera, é ge­neroso e desprendido, e está sempre disponível para os que dele precisam, esquecendo com frequência de si mes­mo. A ele, ao seu esforço e dedicação, se fica a dever o novo teatro português, de matriz internacional, e um modo muito especial de formar actores "- In João Mota



Conheço o percurso de João Mota, desde o princípio dos anos 80, altura em que, por várias vezes, me dirigi à Comuna para assistir ou reportar - para uma conhecida estação de rádio - os seus espectáculos. E, pelos vistos, o homem mantêm-se firme  nas suas convicções: quer no tocante à visão que tem do teatro, como factor lúdico e interventivo na sociedade, quer  nas suas preocupações humanistas e sociais. A entrevista que ele deu, ontem à noite, ao programa Terreiro do Paço, do jornalista Henrique Garcia, foi para mim, um momento de agradável empatia com o actor  -  A  prova de que, João Mota, desde Novembro à frente do Teatro Nacional D. Maria II, não é dos que, facilmente vergue a orientação da sua conduta e dos seus ideais, segundo os ventos que sopram – Infelizmente, na vida artística, os exemplos, escasseiam, já não são muito abundantes – Por um lado, porque,  as alternativas de trabalho nas televisões, elas mesmas sob o domínio  do poder económico, também não permitem grandes veleidades aos espíritos mais irreverentes, lúcidos e independentes; por outro, porque ainda há, no meio artístico, como de resto, na elite que domina os mais importantes sectores de actividade, uma mentalidade, que se não teve influência directa, foi bastante marcada pela cultura do fascismo. No que pensa é no seu próprio interesse e no seu egoísmo. Não se incomoda de vender a alma ao diabo.


AINDA É CEDO PARA  SE SABER COMO, JOÃO MOTA,  VAI FAZER OMELETAS SEM  OVOS – HÁ, PORÉM, UMA CERTEZA: ELE NÃO ESTÁ NO TEATRO APENAS  PARA FAZER RIR O PÚBLICO OU AGRADAR AOS GOVERNOS – LUTOU ANTES DO 25 DE ABRIL, SEM TER QUE SE EXILAR, E  MUITO MENOS O FARÁ AGORA 

Em Novembro passado,  quando o secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas, convida João Mota para  substituir Diogo Infante, que então dirigia o Teatro D. Maria II, afastado depois de ter anunciado a suspensão da programação para 2012 por falta de condições financeiras, gerou-se, então,  acesa e controversa polémica, que tomou contornos partidários. – Uma vez ter sido despedido  pelo facto de não concordar com as medidas de austeridade do Governo – O que, numa primeira impressão,  pressupunha, não só mais dificuldades aos já frágeis apoios concedidos ao teatro, como o  inevitável serventualismo político.


Referia, nessa altura, o Expresso, que “O secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas, comunicara  que "em caso algum permitirá o encerramento de qualquer teatro nacional ou a suspensão integral da programação do Teatro Nacional Dona Maria II, tal como foi sugerido pelo seu diretor artístico"
Por seu vez, João Mota, explicava,  à imprensa, que, as razões que o levaram a aceitar o convite, se fundamentavam no facto de não ser «pessoa de desistir». «Se não desisti antes do 25 de Abril, quando era tudo muito mais difícil de fazer por que razão ia desistir agora?» Tendo sublinhado que não gosta de dizer «vou fazer», prefere dizer «vou tentar».

ENTREVISTADO PELA TVI 24 - DOMINGO À NOITE - NUM PROGRAMA DE HENRIQUE GARCIA, JOÃO MOTA DISSE QUE, PORTUGAL, É “UM PAÍS CULTURALMENTE POBRE” – À PERGUNTA SE   “OBRIGARAM-NO A FAZER ALGUMA COISA?!..". SUA RESPOSTA FOI ESTA: "O SECRETÁRIO DE ESTADO, CHEGOU ALI...FAZ FAVOR!... TENHO É DOIS MILHÕES A MENOS...”

No entanto, pelos menos, até hoje, João Mota assegura que ainda ninguém foi despedido - E que  último espectáculo está sendo um êxito de bilheteira.  Na entrevista dado ao programa “Terreiro de Paço”, referiu que o Teatro Nacional D. Maria II, ainda na matiné de ontem, teve a casa cheia, mas manifestou-se preocupado de que, a actual crise,  possa  reflectir-se  nas opções do público.

O teatro em Lisboa tem público... mas vai piorar... Quando as pessoas se aperceberem, que não vão receber o 14 mês.... A prestação de um automóvel que costumamos pagar... Um presente para o neto ou para o filho ou para a mulher, vai-se perder. Quando isso acontecer. Ou o governo arranja um processo, com o resto da Europa, de começar a desenvolver  algum trabalho.... Porque, alguma obra se tem que fazer... O dinheiro faz correr dinheiro... Se não acontece nada e se vai fechando... Eu sou contra as coisas fechadas.. O Estaline tentou fazer isso na União Soviética. Fechou, fechou!.”  E o resultado” foi “ exactamente o contrário... Tem que se abrir. E é preciso começar a pensarmos seriamente,  como é que vamos, pouco a pouco, pormos uma máquina a funcionar.... Essa máquina vai trazer mais operários, mais arquitectos ou mais engenheiros...(..) Essa máquina, que neste momento, está parada

JOÃO MOTA ALEGA QUE NÃO LHE FOI IMPOSTA  NENHUMA AGENDA

HG - Qual o foi o contrato que lhe pediu para ser director do Teatro de D. Maria?...

JM- Nenhum...  Até agora não despedimos ninguém. Há uma grande alegria em trabalhar, uma grande ligação entre todos. Em criar uma família. Isso é essencial para se trabalhar criativamente e com imaginação. É preciso estarmos todos, pelos menos entre nós, efectivamente bem. Somos para aí 85

Receitas:

JM - Nós vivemos num país culturalmente pobre. Não é que o país o seja (...) Mas o hábito de leitura foi-se perdendo: lêem mas não sabem analisar um texto. Esse lado deve-se muito à escola. O Leonardo Coimbra, que foi Ministro da Instrução na Primeira República  (...) Chamava-se Ministério da Instrução, porque era para instruir; a outra a educação deve ser dada em casa dos pais. Ele dizia que a primeira educação deve ser artística... Creio que isso foi em 1917... (...) Um século depois!..Veja!.... Perdemos essa grande riqueza: da educação  do ser sensível.  .... Choca-me com se pode perder uma geração. Já há uma que foi perdida: esta!...

O teatro tem que inquietar e alertar . O lado social, económico, político e cultural ...O teatro tem isso tudo. (...) Com certeza que temos de falar sempre desses assuntos. Não podemos dizer que vamos fazer uma cagada!... Vamos fazer para quem?!.. Para quê e para levar a onde?!...(..) Mas não me foi pedido absolutamente nada... Quando vim para Director do teatro Nacional, nada me foi pedido. Nada me foi pedido.
HG- A comuna tem uma tradição de independente Essa tradição, essa independência, essa irreverência, transporta-a para o Teatro Nacional?

JM - A comuna nasceu dois anos antes do 25 de Abril. A Comuna recusou subsídios de SNI. Porque o teatro que se quer antifascista, não pode receber subsídios do fascismo Tivemos a grande ajuda da do Dr. Azeredo Perdigão e da Dra. Madalena Perdigão da Fundação Gulbenkian, que nos ajudou no primeiro espectáculo. Que é exactamente a partir do auto da alma – Uma das frases,  é exactamente  para onde ides? .... Que é do Auto da Barca do Inferno?....Já a perguntar a propósito.. (...) E hoje ainda perguntámos para onde é que vamos (...) Em que, a alma quando vai para  céu, não ia para o céu... Saí para a rua... Que é na rua que temos que viver... Que temos de dar exemplos... 

O que me choca muito é que há poucos exemplos!... Mas não só em Portugal. No mundo... Na Europa, não temos exemplos... O único exemplo, de que me lembro bem, que me ajudou muito, a crescer!, foi  o de Nelson Mandela .. É um homem que luta...contra.... É preso!... E, em vez de criar ódio, quando sai da prisão, não vem com esse ódio de matar!... Pelo contrário, de fazer a ligação entre o preto e o branco... E, quando tem o poder, quando tem isso tudo, vai-se embora.!... Fiquem..  Isso é um exemplo que devíamos seguir..Gandhi a mesma coisa. São esses exemplos que me interessam.. Os outros, são aqueles que trabalham todos os dias para ganhar o pão para o seu sustento. E isso há muitos exemplos na nossa história e continua haver diariamente, porque é difícil o nosso quotidiano. É por isso que eu digo que o actor devia ser um militante do quotidiano. Devia ser uma pessoa acordada... Tudo o que se passa lá fora e o seu próprio país. .Em que é que podemos ajudar?!... Como é que podemos enfrentar?...(...)

HG - Vão estar mais perto da actualidade?

JM: Sim.. Com os desempregados... Há mais pessoas a dormir na rua. Pessoas sem casa!... Não só drogados. Não é verdade! Pessoas que não têm onde comer!... Não têm onde dormir!... E há outros que se recusam... que é o mesmo papel!..Não quero estar com essa gente!... Quero antes estar na rua, que é a minha casa.

(...)
HG - Como é que os vai fazer ir ao Teatro?

JM - A quem? A eles?!...Não... Eu quero é tratar esses assuntos!... Só!... Depois, os jovens tem de saber desse teatro... Os sociólogos... Os padres... Toda a sociedade... Quando nós conseguirmos que o Teatro é o centro... É mais fácil a própria sociedade se aperceber dos problemas que estão acontecer.

Não basta ler o jornal, porque a gente já não lê o jornal... Ver as noticias. Porque, há pessoas que eu conheço, que me dizem: eu não quero ouvir notícias, João! Eu não quero já ouvir!..Porque já não sabemos o que  é hoje,   amanhã é igual... Ainda por cima as geografias alteram-se.. Todos estamos muito confiantes de que a eleição do novo presidente da república francesa, vá ajudar a alterar alguma coisa. Mas vai mesmo?!...

(...) A juventude está com 14, 16 anos...Pois bem... O que é que se pode criar a nível da comunidade?!..Porque nós temos que dar esperança às pessoas, mas também temos que lhes contar a verdade. O teatro tem esse lado... Quando perdermos essa lado?... A transparência... As pessoas que dizem: o teatro tem de fazer rir!.... O teatro tem de fazer pensar!... Tem que fazer rir também... Tudo nos serve para  falarmos do homem. Tudo o que se faz é teatro... Basta entrar em cena sem dizer nada.... Atravessar... Já é uma acto teatral... E esse lado?!... Veja que não há teatro na província!... A província tem muito pouco teatro. Esse professares são poucos ajudados!... Esse alunos, alguns nunca viram o mar mas alguns nunca foram a teatro também. Quer dizer... Devemos pensar no interior também. Como é que estamos?!.. Não é só os campos que estão desertos e o mar também... Mandaram-nos sair de lá. E agora dizem-nos para voltarmos. Agora é difícil... As pessoas habituaram-se ao pequeno serviço.. A ficarem em Lisboa... Ou a ficarem... Mas é interessante.."  ver o  que se passa "na minha terra... Eu sou de Tomar... Há pessoas estão a regressar ao campos... Mesmo, as que vivem em Lisboa, ao fim de semana, já vão criando as suas hortas... Já estamos a pensar de maneira diferente. Não podemos é ficar com os braços cruzados.

(...) JG - E qual foi o programa?...Obrigaram-te a fazer alguma coisa?...Não... O Secretário de Estado, chegou ali... faz favor. Tenho é dois milhões que a direcção anterior... 

JM - O que é difícil...Temos que fazer co-produções com as outras companhias, com os outros grupos. Se esses grupos perdem os subsídios, por exemplo, a co-produção vai ao ar! Os subsídios muitas vezes são menos. São quase esmolas..Dá pouco para criar... Na criação tem que se errar... É que dantes estávamos proibidos de errar.... Não há ninguém perfeito... E numa obra, também... Tentamos!.. Durante a vida, melhorarmo-nos. Mas é preciso tempo... É preciso saber errar... E do erro...Agora há uma crise. Mas quando sairmos desta, vai haver outra a seguir... Já não pode ser é igual. Os gregos diziam que sem crise não há crescimento... Agora, esta crise é arrasadora.. Porque está a matar!... Não é só problema da fome... Está a matar espiritualmente na alma... Está a tirar tudo o que é a coragem, o que é alegria!... Tudo o que é olhar nos olhos! Esse prazer da vida, que temos de ter. Mesmo comendo mal, muitas vezes - Excerto da entrevista - Veja em Terreiro do Paço > Programas > TVI24
 

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