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domingo, 11 de março de 2012

PROF.FERNANDO BALTAZAR, UM DOS NOSSOS MAIORES AMIGOS, DEIXOU OS TEMPLOS DO SOL NA TERRA ONDE NASCEU – ALDEIA DE CHÃS - E PARTIU PARA O REINO DA LUZ










Fernando Baltazar já não está entre nós - Já não voltamos a desfrutar mais do seu entusiasmo, da sua dedicação e carinho, da alegria de colaborar e festejar connosco as celebrações do Equinócio da Primavera, do Outono ou o Solstício do Verão: despediu-se, trágica e inesperadamente um dos nossos mais entusiastas membros da Comissão dos Festejos, nos Templos do Sol, nos Tambores.

Morreu na sua propriedade da Cardina, ontem, vitima de um trágico acidente, ao conduzir o seu pequeno tractor. A encosta, situada na margem esquerda do Côa, é muito declivosa e, embora ainda não conheça os pormenores, presumo que, infelizmente, aconteceu, o que, afinal, já vitimou muitos agricultores nesta região, onde o labor do campo, exige os maiores esforços para se colherem os frutos da terra – É, de facto, uma contrapartida, demasiado pesada, e, por vezes, com o preço da própria vida: são frutos do melhor que há, neste Alto Douro Maravilhoso, mas à custa de pesados riscos e esforço hercúleo

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O seu funeral realiza-se hoje às 17 horas para o cemitério de Chãs, aldeia de onde vivia e era natural À família enlutada, em meu nome pessoal e interpretando o sentimentos dos demais elementos da Comissão das Celebrações nos Templos do Sol, apresentamos as nossas mais sentidas condolências




Não há uma sem duas – Ainda não há um mês, foi o acidente do Tiago, do seu sobrinho neto, que sofrera o embate de um tractor, numa aldeia vizinha, quando conduzia um motociclo: a pesada máquina, ao atravessar-se-lhe, de repente, na via pública, deixara-o quase às portas da morte, partindo-lhe uma perna e provocando-lhe graves ferimentos.
Foi na véspera, à noite, do meu regresso a Lisboa. Não podendo contactar os seus pais, foi através dele que procurei saber do seu estado – Haviam-me dito que era preocupante, mas ele já tinha noticias um pouco animadoras, de que o seu estado parecia evoluir e estar livre de perigo.
Contudo, mal imaginara ele que, a tragédia – agora fatal – lhe ia bater também à porta – E também eu, , mal me poderia passar pela cabeça de que aquelas seriam as suas últimas palavras que lhe ouviria pronunciar
Familiares e amigos – toda a minha aldeia, onde era querido e estimado –, ficou profundamente consternada. Creio que todos vamos sentir a sua ausência., as suas palavras simpáticas e amistosas. Mas a mágoa está ainda muito presente e é imensa.
Ele era um dos nossos: um dos genuínos amigos dos Templos do Sol e um grande amigo da sua(nossa) aldeia, onde fora sempre uma pessoa muito admirada e respeitada – Era o Sr. Professor. Toda a gente nutria por ele uma natural simpatia. Tanto aqui , como no concelho, no Porto, onde também viveu, em todo o lado, onde ele houvesse estabelecido um diálogo, trocado até umas breves palavras, Fernando Baltazar, deixava sempre um sorriso, um gesto de cordialidade e um ar de simpatia.
O seu olhar sincero, a sua expressão, sorridente e sempre franca, a sua simplicidade e a maneira como respeitava o próximo, infundia uma natural bondade, ternura e aproximação.
Generoso, comunicativo, afável: com a família, os amigos, com toda a gente. Porque, além de muito culto, era um espírito sensível, aberto, expansivo, dedicado e empenhado. E também um grande apaixonado com o chão que o viu nascer, há 83 anos – De resto, bem patente nas inúmeras fotografias que retratam as paisagens, o património construído, religioso, histórico, paisagístico e humano da nossa aldeia – Legou aos seus (e, no fundo, a todos nós) o mais completo arquivo fotográfico, daqueles tempos, em que, se ia à fonte de aguadeiras no mancho ou de cântaro à cabeça, as ruas eram ainda enlameadas, a iluminação nos lares era a Luz da candeia de petróleo ou do azeite e havia uma igreja no adro com um belíssimo e vestuto campanário, e que já não existe - Agora, desse singelo templo, só fala a memória dos mais velhos e as fotografias que nos legou, das quais já se fez uma exposição. Tal como já não existem muitas pessoas queridas da aldeia, a que agora o seu corpo se foi juntar.
Morrer de morte natural, até se aceita. Mas quando esta é brutal, é um duplo impacto: é um misto de inconformação, de profunda dor e tristeza
Quem me transmitiu a notícia foi o Pala, um fozcoense de gema, amigo do nosso concelho e da defesa do seu património - Um daqueles valentes entusiastas, sempre disposto a divulgar e a defender as coisas boas da nossa terra, por iniciativa pessoal ou associando-se a outros amigos, agora através do blogue Foz-Côa Friends, de que é o principal dinamizador - Ele já se revelou também um bom amigo, um óptimo colaborador e passou a apoiar-nos, a dar-nos o seu estímulo na realização das nossas festividades. Também ele ficou muito chocado e muito triste com a sua morte, quando soube do acidente que o vitimou, através do site dos Bombeiros de Foz Côa.
Os seus pais eram amigos e, quando o conheceu, também ele passou a admirar as suas qualidades, a alegria, o entusiasmo, a maneira de ser, natural e muito humana. do Prof. Baltazar - Era das tais pessoas, em que a generosidade se espelha directamente da alma aos olhos e se reflecte no rosto, presente-se e é transmitida, logo às primeiras falas, como um espelho voltado ao sol, numa saudável convivência de empatia e de entusiasmo.
Apesar de já ter tido alguns problemas de saúde, nem por isso deixava de ir no seu jipe até à Cardina, lá para os lados do Poço do Fumo, junto ao Maçoeime, afluente do Côa. No Inverno ou no Verão, ao longo do ano, deslocava-se ali a cuidar da sua vinha –Lugares isolados e montanhosos, mas mágicos! Que exercem um irresistível fascínio. No rio já não trabalham os antigos moinhos. Existem lá os casebres mas estão ao abandono - Perdeu-se a tradição e os caminhos eram ruins.
Mas era ali, entre duas íngremes vertentes e com o vale encaixado a servir de pano de fundo, a correr pasmado de sul para norte, que tantas as vezes terá sentido a alegria de se deliciar com as belas uvas, os saborosos frutos que ali colhia, em que tanto se esmerava - mas também onde sentia alguns desapontamentos, bem amargos, quando o granizo lhe destruía as colheitas! e não lhe deixava sequer uma folha nas videiras , tal como pude um dia ali testemunhar - Mesmo assim, embora vendo que os sacrifícios haviam sido inúteis, o professor seguia de cabeça em frente e não desanimava! - Tinha lá construído uma pequena casa , onde chegava a pernoitar - ou a oferecer essa hospitalidade aos amigos do clube de caça - e, só pela beleza daqueles espaços, pelo vale maravilhoso, pela cascata fantástica, onde o rio parece sufocar com as duas margens - talvez única no Côa e em Portugal - , sim, só por essas dádivas da natureza, eu creio que ele sentir-se-ia recompensado!
Pois foi precisamente, ante esse cenário que lhe era tão próximo e familiar, mas onde a terra se ergue, quase a pique, desde lá do fundo do rio, que a vida o traiu!.. Ele que tanto amava aquelas encostas e a que tantos sacrifícios se há entregado -e le, a mulher e o filho - pois bem: oh destino ingrato e incompreensível, para que és tão injusto aos que fazem da vida, não o ócio, o rame rame sem sentido, mas a permanente entrega, o sacerdócio da sua verdadeira razão de ser e de dar sentido às suas vidas!...
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