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domingo, 11 de março de 2012

O DOURO É LINDO MAS DE COMBOIO POCINHO A BARCA D’ALVA, MAIS LINDO É – LINHA APODRECE E OS FOZ CÔA FRIENDES FORAM MOSTRAR QUE A QUEREM REACTIVADA





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JORNADA IRREVERENTE E DIVERTIDA - POIS O HUMOR É A FORMA MAIS INTELIGENTE PARA DIZER COISAS SÉRIAS - POR ISSO, DIGNA DE SER ATÉ SAUDADA JUNTO AOS SAGRADOS TEMPLOS DO SOL NOS TAMBORES - QUE NÃO ESTÃO ASSIM TÃO LONGE DO MAGNÍFICO CENÁRIO DO DOURO - SE CALHAR ATÉ FOI ATRAVÉS DE UMA BOA PARTE DAS SUAS MARGENS OU DO SEU LEITO QUE OS PRIMITIVOS POVOS, QUE OS CULTUARAM, ALI TERÃO CHEGADO.

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Embora inicialmente concebido para divulgar as actividades nos Templos do Sol. no Monte dos Tambores, concluí que o assunto se ajustava perfeitamente - pela proximidade e não apenas. Pois, como é sabido, cada vez mais o mundo se transforma numa gigantesca aldeia global - O tempo em que as imagens das televisões não invadiam, a tranquilidade ou a rotina dos lares, já lá vai... Hoje já ninguém fica indiferente ao que se passa, não apenas na casa do seu vizinho, na sua aldeia, no concelho, distrito, no seu país, como até nos pontos mais distantes da Terra - E os Templos do Sol (dos quais se divisam perfeitamente alguns dos montes que ladeiam o Douro), situando-se, os dois magníficos calendários solares pré-históricos, num local que é como que a ponte, que une a meseta ibérica ao douro maravilhosos e à terra transmontana, e, sendo também eles a herança vivia de costumes antigos às celebrações aos ciclos da Natureza, significa que (independente até de qualquer distância) ambos reflectem, não propriamente um espírito microcósmico mas macrocósmico - pois o sol, quando nasce e brilha, é para todos.

Assim sendo, este blogue tinha, obviamente, que apoiar e associar-se à extraordinária iniciativa levada a cabo pelos Fozcôa friendes - um grupo de cidadãos que rejeita remeter-se à cómoda situação dos meros egoísmos pessoais - Olha mais longe!... Pugna em defesa da comunidade - É o caso do louvável exemplo que decorreu no passado dia 23 de Abril - E cujo objectivo era chamar atenção para o estado degradante em que se encontra o património da CP, ali mesmo nas faldas do monte, sobranceiro a uma panorama ímpar do Douro, onde recentemente foi inaugurado o Museu do Côa - aquele que já é considerado o melhor museu da Europa, no género .

E a constatação de que via férrea, poderia agora estar a canalizar milhares de visitantes, vindos nomeadamente da vizinha Espanha, através do troço que separa o Pocinho de Barca D'Alva é francamente frustrante - Aquilo que agora poderia ser uma extraordinária mais valia, tendo-a quase à porta e não podendo desfrutar da sua utilização, é uma vergonha, um atentado à região. A linha tem estado para ali apodrecer, desde há mais de duas décadas, impedindo as gentes destas terras - de duas das regiões mais isoladas do resto do pais e que tem sido as mais esquecidas, - de poderem beneficiar de um dos mais importantes factores de desenvolvimento - as acessibilidades dos caminhos de ferro.


Porém, foram tantas e tais as impressões e também os sentimentos contraditórios, em tão surpreendente e agradável caminhada, que, por minha parte, acabei, de facto, por não saber como descrevê-los. Sim, veja-se, como um simples passeio pedonal, pode transformar-se num pacífico manifesto de prazer e de protesto e, ainda por cima, deixar tantas e tão variadas recordações.

E creio, que, até por todos quantos participaram e percorreram os oito quilómetros da linha desconjuntada e desbaratada, que separa o Pocinho à Estação da Foz do Côa. - Pois quem é que não susteve a marcha por uns instantes?... Ou chocado perante tanto desprezo e o desleixo que lhe deparava, a cada passo aos seus pés, ou para se deslumbrar ante a beleza das margens e do rio, com assomos e sorrisos de uma Primavera, que embora parecendo começar o dia timidamente, pouco a pouco, ia-se abrindo em luminosas clareiras de sol, como que dando as boas-vindas aos intrépidos caminhantes - Ora detendo o olhar extasiado numa flor, ora para colher um espargo (sim, houve até quem levasse uma mão cheia deles) enfim, aspirar aqueles ares, parar um pouco e inebriar os pulmões com aqueles aromas das ervas e arbustos, misto de um cheirinho húmido que vinha do rio, trocar dois dedos de diálogo com os companheiros que seguiam na fila ou lado a lado, ou, então, simplesmente, suster a passada a contemplar este ou aquele trecho de paisagem que, a cada ângulo do percurso, era um sucessivo renovar de surpresas e de emoções.

Porém, de volta ao bulício da cidade, pelo menos no meu caso, defrontei-me com um dilema: fiz tantas fotografias - de tão extraordinários momentos e circunstâncias - que, de facto, me fora difícil fazer as escolhas. Sem quase me aperceber, fui deixando passar os dias como se, em cada dia, tivesse o sagrado dever de repetir aquela fantástica caminhada ao longo daquele espantoso cenário do Douro. - para lembrar às autoridades que, o abandono de coisas boas, também é crime.

Até porque, que é belo é uma dádiva da natureza: é para ser partilhado. E uma das maneiras mais agradáveis de partilhar a beleza daquele rio, é permitir que o comboio volte ali a circular - No fundo, foi aquilo que um grupo de cidadãos, ali foi transmitir a quem de direito. Sublinhe-se, com a presença de tantos espíritos jovens e generosos - Que, no regresso a casa, também terão pensado para os seus botões: - Não prometam!... Ponham as mãos à obra: reabilitem imediatamente aquela linha! -

ERAM MAIS DE DUZENTOS NA MESMA CAMINHADA, AO LONGO DE VELHOS CARRIS, QUE ATÉ PARECIAM FANTASMAS, EM GRITANTE CONTRASTE COM A MARAVILHOSA PAISAGEM


À chegada formaram um cordão ao longo da velha linha, de costas para a esventrada Estação do Côa, voltados para a aprazível albufeira do rio, ergueram os mãos, bateram palmas, repetiram o gesto, saudando a barca da Senhora da Veiga, que, aquela hora (meio-dia)navegava leito acima, envergando camisolas brancas - quais pombas e pombos brancos da paz) e, com a sigla estampada no peito da mensagem que pretendiam transmitir (REABERTURA DA LINHA - POCINHO BARCA D'ALVA - OBRIGATÓRIO TRÂNSITO PELA LINHA), foram depois recebidos a toque de caixa e de tambores pelos "É PÁ NA LUTA!"- uma malta de jovens do caneco!..Irreverentes pró caraças! Verdadeiramente endiabrados, vestindo-se a preceito, com fraques e sobre-casacas e enxalmos dos tempos da Maria da Fonte, erguendo cartazes, fazendo soar palavras de ordem, bem ensaiadas, bem trinadas, - arrancadas às vozes do povo que representavam - óculos escuros à época dos comboios a vapor, não fosse por ali aparecer algum vampiro ou dos fantasmas que ameaçam apoderar-se dos escombros, já meio assombrados, da tão saudosa estação - a qual - mesmo completamente, desassoalhada e escaqueirada no seu interior, parece apostada em manter as paredes firmes - como símbolo heróico de protesto e de resistência - à estupidez, à incúria e à inércia de governantes negligentes e irresponsáveis
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Unidos por um objectivo comum: que o troço de caminho de ferro, entre o Pocinho e Barca D’Alva, seja reactivado - Uns, vindos de Foz Côa, das freguesias, outros de mais longe, do Porto, de Coimbra, de Lisboa, Faro, de vários pontos de Portugal.
Comunicaram-se através do Blogue Foz-Côa Friends e, sob a batuta de João Pala, José Lebreiro e José Ribeiro, José Constanço e Carmen Guerra, decidiram fazer uma caminhada, desde o Pocinho, à velha estação da Foz do Côa - E não foram só protestar - também confraternizar, desfrutar de uma bela manhã primaveril, almoçar à sombra de frondosas amoreiras, botar discursos e formar uma sólida associação. Para assim terem uma voz mais forte e lembrarem ao poder constituído, que querem voltar a ver os comboios a circular do Pocinho a Barca D'Alva - É seu desejo determinado que esse troço de 28 Km, que foi amputado, na década de oitenta, não continue naquele miserável estado de abandono, um insulto às consciências de quem ali passa e quem navega nas calmas águas do rio e escancara os olhos naquelas vias enferrujadas, negras e destroçadas, parafusos amontoados, postos e fios caídos, velhos edifícios - outrora acolhedores e postos de repouso e de abrigo - e que agora parecem ter sido acabados de bombardear na guerra do Iraque.
Todos consideram que a reactivação é fundamental para o desenvolvimento da economia da região. Sobretudo para o turismo e até mesmo para a circulação de mercadorias e de passageiros - E prometem voltar à luta se a linha não voltar a ter o percurso inicial.
O Douro vinhateiro, Património da Humanidade, com a sua beleza ímpar, a singularidade das suas encostas, repletas de surpresas, onde a rudeza e a formosura da sua paisagem, com os seus contrates e o seu lado humano e selvagem, se harmonizam numa imagem surpreendente! Única no mundo! - Sim, só por esta benesse da Mãe Natureza - embora, pelos homens, arrancada a ferros – justifica-se plenamente o investimento - - E então porque razão se espera ou perde mais tempo? - Quando a vida é tão curta e o tempo corre tão rápido e é tão precioso!
O abandono da linha é gritante! É um contraste escandaloso com a beleza natural das margens do rio e da tranquilidade idílica das suas águas. Manter-se a linha, tal como está, é o mesmo que, a uma extraordinária bailarina, lhe cortassem as pernas. Jamais poderia bailar! - O mesmo se passa com a ligação ferroviária do Douro Maravilhoso -Quem parte do Porto, não pode ir a Espanha. Só de automóvel ou de avião. Ou então terá que dar uma grande volta pela linha da Beira Alta. 
Foi construída, há mais de um século, para os comboios circularem de Campanhã a Barca D’Alva - Entenderam as autoridades daquela época, que a sua construção era importante para o desenvolvimento da região do Alto Douro e Trás-os Montes – E, agora, não é?!... Vamos lá meter mãos à obra e arranjar depressa aqueles velhos carris, pôr a linha em ordem, porque, tal como está, quer os velhos edifícios das estações, como os carris, mais parecem escombros ou esqueletos de fantasmas, em que até as pobres aves se arrepiam e assustam, fogem espantadas! -História - Linha do Douro. -
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2 comentários:

João Pala disse...

Jorge Trabulo, um conterrâneo mas também um experiente e versado jornalista, prendou-nos com este magnifico “registo” da nossa primeira caminhada “pela reabertura da Linha – Pocinho / Barca d’Alva”. Além das outras que surgirão (tantas quanto as necessárias), onde o Jorge Trabulo marcará sempre presença, tenho a certeza que também um dia fará, com muita alegria e prazer, o relato da primeira viajem do comboio –Pocinho / Barca d’Alva, após seu abrupto, injusto e disparatado encerramento.
Obrigado companheiro.
Um abraço

Peregrino da Luz disse...

Obrigado Meu Caro João Palma - Tenho outros blogues, fiz uma incursão por eles e só agora me dei conta do teu amável comentário - E também para corrigir algumas gralhas do texto postado Sim, é reconfortante, lerem-se palavras de estímulo dos amigos. Mas quem está de parabéns, são vocês! - A pequena equipa que organizou este extraordinário passeio. Onde se fruiu o prazer da natureza e houve oportunidade para se tomarem posições em sua defesa - Nem sempre o progresso é amigo do ambiente. Mas, no caso da reabilitação da linha do Douro, ambas as coisas se harmonizam e conjugam. Ainda assim o comboio continua a ser o meio de transporte, aquele que menos polui e se insere no espírito da paisagem. Mesmo já não sendo, como nos velhos tempos, em que, em cada curva, o seu apitar, quase competia com o resto da passarada. Espero, pois, que, quando ele voltar ali, o possamos saudar e festejar - E que essa imagem seja para breve