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domingo, 30 de novembro de 2025

Mestre Leal da Câmara - Nasceu em 30-11-1876. Famoso pintor e caricaturista português. O dia em que ambos fomos notícia

 


O Mestre Tomás Júlio Leal da Câmara (1876-1948) foi um caricaturista português de reconhecimento internacional e grande agente cultural do concelho de Sintra

Mestre Leal da Câmara - Nasceu em 30-11-1876. Pangim, Índia Portuguesa Famoso pintor e caricaturista português. Notabilizou-se como perspicaz denunciador da sociedade corrupta e dos costumes do seu tempo. A sua obra, marcadamente satírica e polémica, serviu de espelho e crítica social. Escolheu a Rinchoa, em Sintra para viver.

Tomás Júlio Leal da Câmara (Pangim, Índia Portuguesa, 30 de Novembro de 1876 — Rinchoa, 21 de Julho de 1948)
Biografia e obra

Chegado a Lisboa com quatro anos de idade, veio revelar, desde muito cedo, especial aptidão para o desenho, principalmente a caricatura. Frequentou o Instituto de Agronomia e Medicina Veterinária, que abandonou em 1896 para se dedicar à defesa do ideal republicano.

Colaborou em vários jornais da época como O Inferno — Jornal de Arte e Crítica, A Marselhesa [1] (1897-1898), A Sátira [2] (1911), A Corja [3] (1898) e O Diabo. A sua colaboração nestes jornais, tecendo críticas violentas à Monarquia e à Igreja, provocou a suspensão das publicações. A forte tendência satírica, levou-o a ser considerado inimigo da instituição Monárquica e foi forçado a exilar-se em Madrid e depois em Paris — onde se fixou a partir de 1900, colaborando no grande jornal de caricaturas L'Assiette au Beurre — e finalmente na Bélgica, vindo a tornar-se reconhecido a nível europeu.

Durante a sua estada em Madrid de 1898 a 1900 mantém uma amizade com o poeta modernista Rubén Darío. Foi também testemunha de um destacado incidente no anedotário das letras espanholas do século XX: o afrontamento verbal e físico num café entre os escritores Ramón María del Valle-Inclán e Manuel Bueno em 24 de Julho de 1899.

Depois da Revolução Republicana de 5 de Outubro de 1910, pôde finalmente regressar a Portugal, fixando-se no Porto.

Campeões do Mundo Sub-17 recebidos em festa no aeroporto de Lisboa.Registos de imagens e breves diálogos com familiares, amigos e admiradores

 Jorge Trabulo Marques - Video com registos de imagens e breves diálogos 


                    Campeões do Mundo Sub-17 recebidos em festa no aeroporto de Lisboa.Registos de imagens e breves diálogos com familiares, amigos e admiradores A seleção sub-17 de futebol, campeã do mundo, chegou sábado a Portugal, depois de conquistar o título mundial inédito na quinta-feira (28), em Doha.

A equipa, que venceu a Áustria por 1-0 na final, foi recebida por algumas centenas de adeptos e familiares que encheram a zona de chegadas
Do aeroporto, seguiu para o Palácio de Belém, num autocarro decorado para assinalar a conquista, tendo depois seguido para a Cidade do Futebol, onde foi recebida pela estrutura da Federação Portuguesa de Futebol, na Praça dos Heróis.
Aqui lhe oferecemos o apontamento que tivemos o prazer de registar no aeroporto.





Ca

sábado, 29 de novembro de 2025

Pico Cão Grande em S. Tomé- A conquista inesquecível do pico mais aprumo da Terra, o emblemático símbolo basáltico de quem visita o sul desta maravilhosa Ilha, o mais atraente ícone do ecoturismo africano. que a minha equipa conquistou, pela primeira vez, em 12 de Outubro de 1975, depois de sucessivas tentativas, ao longo de quase cinco anos.

 Jorge Trabulo Marques - Jornalista, ex-navegador solitário e escalador


Pico Cão Grande em S. Tomé- A conquista inesquecível do pico mais aprumo da Terra, o emblemático símbolo basáltico de quem visita o sul desta maravilhosa Ilha, o mais atraente ícone do ecoturismo africano. que a minha equipa conquistou, pela primeira vez, em 12 de Outubro de 1975, depois de sucessivas tentativas, ao longo de quase cinco anos.
Pessoalmente, pude sentir o grande prazer – misto de glória, apreensão e receio – de, com o Cosme Pires dos Santos (mas também graças ao apoio do Constantino Bragança e dos meus guias, do Sebastião e do Chico), desfraldarmos, no topo do seu cume, a 663 metros de altura acima do nível do mar a Bandeira Nacional de São Tomé e Príncipe, depois de nas sucessivas escaladas, antes da Independência, termos erguido a Bandeira Portuguesa, trepando as suas vertiginosas faces, que se erguem aprumo no mais denso manto da selva verde.

De sermos os primeiros seres humanos - pois há aves que lá nidificam – a pisar as rochas da sua monumental crista!Que se ergue no coração da floresta equatorial, área integrada no Parque Natural Obô, com mais de 700 espécies de plantas e 143 tipos diferentes de aves

Já lá vão 50 anos todavia as memórias, permanecem ainda hoje tão vivas, tão vibrantes, como se o tivesse acabado de escalar – O que parecia custar aceitar era o não reencontro, a não partilha dessas mesmas emoções, com o valoroso Pires dos Santos – Mas, felizmente quis o destino que, finalmente, na tarde de 5 de Agosto, 2015, nos reencontrássemos, num abraço fraternal e amigo na companhia da sua mulher, e dois dos seus irmãos e do jornalista Adilson Castro.
- Cão grande não é Pico! É cabeça de bicho, senhor!...Quem subir ele, morre ou então tem poder no seu corpo!...

Estas algumas das afirmações que, por várias vezes, ouvi de velhos angolares (autóctones de uma conhecida etnia fixada ao sul de S. Tomé), entre outras histórias de feitiços e de homens gabões; designação dada aos trabalhadores das roças, vindas de outras colónias, em situação de degredo ou sujeitos a contratos miseráveis, que preferiam o refúgio do interior do espesso obó ao regime brutal e de semiescravidão em que prestavam serviços nas grandes propriedades agrícolas, acabando, enfim, por ali viverem no mais completo abandono e isolamento, decididamente arredados de tudo e de todos, já que a própria condição insular do meio não lhes permitia outra alternativa.

Por isso, o Cão Grande, assim como toda aquela vasta área de obó que o circunda, desde a perseverança ao Novo Brasil e Monte Mário, zonas de “capoeira” enorme e cerrada, foram pois lugares que, pela sua singularidade, muitas histórias, mitos e lendas alimentaram ao longo dos tempos da colonização.

É certo que nunca por lá se me depararam quaisquer desses homens de barbas até à cintura e com mais de trinta e tantos anos de mato, como por vezes me contavam. Mas acreditei que lá os houvesse, pois apercebi-me dos vestígios da sua presença, nomeadamente cabanas de folhagem e até de buracos nas rochas

. E, à noite, quando pernoitava, lá pelas alturas do Pico, também tive ocasião de ver pequenos clarões de fogueiras a refulgirem por entre o negrume espesso e rumorejante da floresta, donde, aliás, chegavam , simultaneamente, como que sussurros de vozes humanas, em jeito de cânticos ou monólogos em surdina, misturados com o vozear dos macacos e com outros sons característicos do obó, dando-me, por isso, a indicação segura por ali estariam acoitados alguns seres humanos

quinta-feira, 27 de novembro de 2025

Diário de um náufrago no Golfo da Guiné - Ao 38º Dia numa piroga - 27-11-1975 - pude acostar na Guiné Equatorial, numa pequena enseada da Ilha de Bioko

Diário de um náufrago no Golfo da Guiné - Ao 38º Dia numa piroga - 27-11-1975 -  pude acostar na Guiné Equatorial, numa pequena enseada da Ilha de Bioko -  Mas a noite  viria a ser passada estendido no chão sobre uma vulgar esteira esteira dos calabouços de uma esquadra amontoado com outros presos, após um  longo e exaustivo interrogatório, tendo sido conduzido algemado,  no dia seguinte, para famigerada prisão Black Bech, por suspeita de espionagem - Onde quem entrava  vivo, saía caixão - Todos os dias e anoites ouvia gritos lancinantes de tuturosas execussões

De miserável náufrago a perigoso prisioneiro - 38 dias de sofrimento na vastidão do Golfo da Guiné:  depois de pisar areia macia, do recanto uma discreta praia, algures em Bococo e de ter sido humanamente recebido numa finca de cacau, neste mesmo dia à noite sou depois conduzido algemado  a um escuro calabouço e, no dia seguinte,  a  uma sinistra cela do reino de terror  de  Francisco Macias Nguema


Diário de Bordo  - 27 de Nov - 1975 - 38º Dia - Eis que, finalmente, depois de 38 dias, me encontro numa praia!... Junto a um recanto!... de ummagnífica montanha! De verdura!... Equatorial!... De plantas exóticas ! das mais variadas espécies!.... Foi extremamente difícil chegar até aqui!... Foi para além mesmo da minha resistência!... Mas finalmente , atingi esta costa!... Esta costa que  se ergue aqui numa montanha de verdura!... De magníficas árvores, das mais variadas cores!...

 Estas foram as últimas palavras que pronunciei para o meu diário gravado, um pequeno gravador que consegui preservar no interior de um contentor de plástico, igual aos do lixo. assim como a máquina fotográfica , cujos rolos  o mar poupou mas que bem podiam ter sido confiscados pelas autoridades policiais da Guiné Equatorial, o que não aconteceu, porventura por descuido, já que, quando me prenderam, além de terem passado tudo a pente fino, até as gravações chegaram a ouvir, de ponta a ponta - E eram seis as  cassetes. 




Mal me arrastava de fraqueza mas sentia-me como se estivesse a viver as aventuras de um inesperado
 Robinson Crusoe - E, mesmo ainda hoje, não sei se sentiria vontade de sair dali tão cedo. Porém, quando me apercebi de que havia um carreiro, muito batido, que ali desembocava e que poderia ser sinal de que a praia não era totalmente selvagem (de resto, pouco depois do nascer do sol e antes de a abordar, já ali tinha visto, na pequena língua do negro areal, um homem à cata de ovos de tartaruga) pelo que não tive outro remédio senão seguir aquele mesmo careiro, que me levaria a uma finca  - à sede de uma plantação de cacau.  Tal facto, ia-me custando a vida. Tomado por espião e depois de ter passado a primeira noite nos calabouços de uma esquadra, fui transferido algemado para ser encarcerado na então tenebrosa prisão de Black Beach, em Punta Fernando.

LER POSTAGEM COMPLETA EM  
https://canoasdomar.blogspot.com/2024/11/ao-38-dia-numa-piroga-27-11-1975-pude.html

Sporting 3- Club Brugge 0 – Equipa leonina em noite cantada e vitoriosa , na 5ª jornada da Liga dos Campeões Europeus,

   Jorge Trabulo Marques - Football Dream



A equipa liderada por Rui Borges, logrou uma vitória folgada, ao bater por 3-0 os belgas do Club Brugge  e empolgar a noite outonal no Estádio de Alvalade, nesta quarta-feira, dia 26 , com mais de 41 mil espectadores.

Soube  resistir à pressão inicial da equipa visitante e dominar a partida com um resultado expressivo e merecido – Ao minuto nove surgiu algo inesperado que parecia antever uma noite complicada, quando a Morten Hjulmand é exibido o cartão vermelho direto depois de uma falta sobre Stankovic. Vá lá que o árbitro Stieler, tomou a decisão sensata – depois de consultar a  VAR e reverteu a decisão para o  cartão amarelo.

Os golos foram matracados por Geovany Quenda, aos 24 minutos, Luis Suárez, aos 31, e Francisco Trincão, aos 70 – Assim sendo, os bicampeões portugueses, que já tinham vencido em casa o Kairat (4-1) e o Marselha (2-1).além dos três triunfos um empate frente à Juventus (1-1), e uma derrota com o Nápoles (2-1), segue no 8º lugar, o último que garante o apuramento direto, com 10 pontos, mas em igualdade com algumas das equipas em zona de play-off.- Segundo é referido pela imprensa desportiva






terça-feira, 25 de novembro de 2025

Meu 25 de Nov 1975 - 36º dia Perdido no Golfo da Guiné - Há muito desisti de olhar para a bússola. Ora navego para um lado ora navego para outro. Tento evitar que a canoa fique completamente à deriva ou atravessada à vaga.

 


A
lgures no Golfo da Guiné, 25 de Novembro de 1975  Há 49 anos
 Jorge Trabulo Marques  25 de Nov 1975 - 36º dia Perdido no Golfo da Guiné - Há muito desisti de olhar para a bússola. Ora navego para um lado ora navego para outro. Tento evitar que a canoa fique completamente à deriva ou atravessada à vaga. Tenho a costa de África já próxima para meu espanto!..(..) Mas já é noite!...Estou a velejar!... Estou-me a precipitar como um suicida.... Mas tenho fome!!... Não posso demorar mais tempo
..


À medida que as forças me vão fraquejando, são mais os pensamentos  que me assolam de que as palavras que expresso para o meu diário. Embora com os olhos pregados nos contornos de  terra à vista, assim vai decorrer mais um dia perdido no mar, sem todavia a poder alcançar. Mas, só ao 38º dia é que a poderia finalmente pisar.
Sim, mais propenso a pensar de que a expressar as minhas emoções ou observações  para o modesto gravador,  que religiosamente guardo num simples contentor de plástico,  que em terra servira de caixote de lixo – Estou completamente desligado do resto do mundo. A bússola permite-me saber a direcção que tomo mas não sei onde estou. Vou ao sabor dos ventos e das correntes. Que nem sempre me levam pelo melhor rumo. O remo improvisado, continua a ser pouco ou nada eficaz. Não posso comunicar seja com quem for. Senão com a vontade de Deus. E também não tenho a certeza se me vê ou se me ouve. Mas eu existo, e,  a bem dizer, sou um náufrago. E o drama que vai no coração de quem anda perdido no mar, é intraduzível  em palavras - Aqui ficam, pois,  as que foram faladas (para o diário) e alguns dos pensamentos  que ficaram guardados na minha memória. 

 Diário de Bordo Já é manhã do 36ª dia! Esteve uma noite esplêndida!..Magnífica! Não choveu... A manhã apresenta-se  serena mas muito nublada!...Está aqui à minha frente uma serra muito alta!!...Muito comprida!!...Devo estar entre  os Camarões e a Nigéria...Mas ainda falta um bocadito...

O mar é um imenso tapete calmo, que cintila como um espelho de luz. . Manhã  radiante! Não corre a mais leve aragem... Nem um sopro sequer a agitá-lo. A canoa "São Tomé - Yon Gato" mal se move. Também ela parece querer repousar  das muitas pancadas, dos maus tratos que tem sofrido...  Que,  inexplicavelmente, tem suportado, com tanta indiferença e resignação...Como se levasse no seu bojo a carga mais preciosa deste mundo, que fosse imprescindível salvaguardar.

OLHA O CÉU E REZA DEUS A TUA ORAÇÃO – Que tão imenso e distante é , cujo teto é o teu único abrigo e o vasto mar o teu único caminho em todos os sentidos do circular horizonte   




Assando uma ave
Obrigado minha canoa!.. Sou um retrato desfigurado de mim mesmo mas não me sinto derrotado. Ainda não me levaste a terra mas antevejo esse momento de suprema felicidade... Sinto um encantamento inexprimível, inefável!... Porém, começa a sentir-se muito calor.....Mas, por agora, estou bem.....Dá-me a impressão que até   já  me sararam as feridas e me passaram  as dores do meu corpo. Estou mais tranquilo. Vejo que tenho aqui a terra, relativamente próxima. ...Oh, meu pobre coração!.. Tão maltratado tens sido!.... Depois de tanta angústia e de tanta incerteza,  como esta visão te descomprimi e tranquiliza um pouco mais!... 


 Diário de Bordo 2 Esta amanhã, a moral pode considerar-se elevadíssima! Comi a ave que ontem apanhei... Cozia-a com um toco de uma vela de cera que ainda aí tinha... E apanhei mais um peixito...Tenho aqui a costa de África já muito próxima... e montanhosa para meu espanto....

De facto, estava convencido de que a orla da costa  fosse mais baixa, como a da Nigéria, onde fui parar da outra vez... Mas não... É extraordinariamente acidentada ... Já pensei que fosse a Ilha de Fernando Pó...Mas não deve ser...Dá-me a impressão que se prolonga indefinidamente, formando como que uma imensa bacia que se destaca de uma enorme massa verde escura....Ora, se fosse uma ilha, provavelmente teria outra configuração... Porém, as nuvens que pousam nas suas montanhas, que ora cobrem ou descobrem os seus perfis, fazem-me uma certa confusão...Veremos, quando lá chegar...

 Diário de Bordo Serão neste momento, uma ou duas da tarde... Tem estado um calor sufocante!...Uma calmaria bastante inquietante!...Vejo perfeitamente  à minha frente a nordeste a costa de África!... Que se eleva numa enorme serra!  Toda coberta de vegetação, encimada por nuvens... 

Agora começa a correr uma ligeira brisa... Entretanto, vou ver se consigo velejar qualquer coisa...

Tento, mas em vão...A vela continua a pender, quase inerte, espanejando debilmente, a brisa é muito fraca...O sol bate-me em cheio... A água das chuvas que guardo no bidão de plástico,  tem uma colorarão amarelada, é mal gostosa, não me mata a sede. A garganta fica-me sequiosa, arde-me de secura...Os lábios gretam-se-me, devido ao calor que é abafadiço, escaldante, insuportável!..

O céu está manchado de azul e de branco.. E, sob aqueles vultos de névoas, descobre-se um verde escuro, luzidio .... Quando poderei  lá chegar?!... Tão próximos me parecem aqueles contornos, todavia,   fisicamente, tão  inacessíveis!

Que pena a força misteriosa das  correntes e as ninfas que regem o carinhoso bafo das  brisas me não  arrastarem para lá...O pano erguido no tosco mastro,  mal se mexe, não drapeja. Parece estar ainda mais  triste de que eu.

Sim, estou ansioso e preocupado. O tempo passa... As horas correm lentas mas vão seguindo o seu curso... Já não faz tanto calor mas mantém-se a mesma calmaria ... O sol declina,  já baixo e meio pálido a poente ... Não tardará a desaparecer... O crepúsculo, aqui é muito rápido...E, eu,   na iminência de já não alcançar a tão desejada costa de África... Depois vem a noite... ...Como será a noite?!.. Esta é sempre a minha maior incerteza... A interrogação que faço todos os dias  ao anoitecer... Mais uma vez tenho que deixar o meu destino à mercê dos caprichos dos ventos e das correntes... Oh!... esta vontade!.. Esta ânsia de aportar a  uma praia e pisar as suas areias, ouvir o sonoro marulhar das ondas (tão diferente do chape-chape no costado da piroga, que já quase  me enlouquece) a desfazerem-se na perpétua maresia sonora daquela beberagem espumosa... Oh, brilho divino!...Desejava que ao menos me aproximasses à luz do dia para que não fosse enrolado na rebentação ou atirado contra qualquer rochedo... Quando fiz a travessia de São Tomé ao Príncipe, eu, ao pôr do sol, estava aproximar-me de uma falésia. E vi que ao largo estava a formar-se um tornado. Não tive outro remédio senão afastar-me daquele precipício, voltar costas à rochosa e íngreme encosta. e enfrentar a tempestade. Se me apanhasse ali, não tinha salvação possível... Só Deus sabe os trabalhos que não tive durante aquela tormentosa noite!... Os relâmpagos rasgavam continuamente a escuridão, caíam faíscas por todo o lado. E, o plâncton, que a escuridão trazia à superfície, parecia deixar a espuma das vagas em chama, arder em fogo!

Porém, enquanto a noite me não cobre pela cortina do seu espesso véu e me não turva meus  olhos ansiosos, os inunda de sons e  silêncios noturnos, evoco aqui  um poema de José Régio, creio que muito a propósito, num momento em que me sinto levado a vaguear por um imenso oceano  de pemubrosas dúvidas. 

Talvez à vida, talvez à morte, não sei..Não sei, efectivamente, onde vou chegando. Mas não ignoro, no entanto, que terei de chegar, urgentemente, a qualquer parte . Porque, o mísero estado em que me encontro, quase esgotado de forças,  dificilmente me permitirá que possa adiar a minha sobrevivência por mais tempo, que reuna forças  para  chegar  mais longe.

Por isso, procuro avaliar no lusco-fusco do entardecer, tento decifrar os passos que ainda terei de avançar ou de percorrer... Indago e perscruto, através da morosidade inquietante que me angustia e me arrasta,  o que me aguardará para lá dos confins da imensa e misteriosa planura cinzenta,  pergunto-me a que ponto do horizonte poderei ser levado..

 O tempo refrescou, a noite ondula negra em torno de mim. .Vogo sobre um  mar de trevas e o que eu vejo em redor é um manto de escuridão. Lá, no alto, surge o brilho tímido das primeiras  estrelas – E, quem sabe,  se talvez alguma  me sirva agora de guia e de protecção. Oh, sim... Mas, eestando elas, tão  longínquas? ....

Diário de Bordo 4 - Neste momento são oito horas da noite! Deverão ser cerca das oito hora das noite! Toda a tarde de manhã não houve vento!... Só agora é que apareceu! Estou a velejar!... Estou-me a precipitar como um suicida!.. Não vejo absolutamente  nada! Não sei se estou perto, se estou longe da terra!... Mas tenho fome!!... Não posso demorar mais tempo!...

A canoa voa velozmente, qual pássaro notívago. A vela mal se distingue por entre o emaranhado das sombras  que preenchem o vazio da noite, no entanto, noto que vai enfunada e que estica retesadamente a corda da escota.

Os meus olhos e os meus ouvidos mantêm-se ativamente sincronizados e jogam entre si o rumo que deve tomar a pequena quilha galopante da propa desta espécie de embarcação fantasma.  Assentado no fundo da canoa, recostando-me a uma das travessas, apelo a todas as minhas forças para segurar o tosco remo improvisado e dar o rumo em direcção à zona  onde deixei de ver os contornos de terra.  Não pude navegar de dia, quero aproveitar o vento que sopra de noite. Mas só vejo trevas à minha volta. Vultos negros, sombras disformes e confusas a preencherem o imenso deserto vazio que paira em torno de mim. Meus olhos fixam-se no pequeno círculo fosforescente da pequena bússola que trago no pulso em forma de balão. Nada mais enxergam que a pequeníssima agulha a oscilar tremulamente. Se ao menos descobrisse alguma estrela que me servisse de orientação. É assim que me oriento nas noites em que  posso navegar.  Mas a noite é cerrada e já as ofuscou. No entanto,  não quero desistir. Bem me bastaram as horas de espera e de calmaria ao longo do dia. Com a terra sempre à vista e nem um sopro de vento que me empurrasse para lá. As correntes levavam-me sempre ao lado, autêntico suplício de Tântalo. Tremenda ansiedade e sofrimento.  

 O céu continua carregado  de nuvens escuríssimas. Atmosfera densa. Pesadíssimo  e baixo o tecto que  quase me submerge....A canoa  galopa, vai galopando, vai  sulcando temerariamente  a negra vastidão,  qual pássaro noctívago de peito aberto ao desconhecido. Nunca, como esta noite, naveguei com tão porfiada  determinação. Nada me intimida. Ou vida ou morte.  Vou disposto arriscar  tudo. Mesmo a ter que correr o risco da canoa ser atirada para qualquer escolho, negro rochedo ou linha de rebentação.

Navego, talvez  há quatro ou cinco horas, vergado sobre o remo. Velejando continuamente às cegas, alheio a todos os perigos. Tão cansado já vou do esforço do remo, que tenho a sensação de estar possuído por uma certa vertigem,... Que não é a canoa que navega  à tona de uma vasta e negra planície, mas que sou eu que  deslizo e me precipito por uma  escuríssima colina abaixo.   Não faço  a menor ideia para onde vou, que distância  me separa de um porto de abrigo.  A única coisa de que me apercebo é o ressoar de um certo bruá, que parece vir dos confins da massa escura para onde me dirijo. 

 Os meus ouvidos funcionam como  um autêntico radar - São também os meus olhos. Procuram decifrar todos os ruídos dos súbitos movimentos, todas as ressonâncias, provenientes do  barulho das vagas que se enrolam e espumam nas proximidades,  as pancadas que se  abatem contra o costado,. Avaliam todos os sons, vão sincronizados com o rumorejar noturno do mar.

É, todavia, cada vez mais complicado segurar o remo, o vento é forte e inconstante e vai-se-me tornando difícil  saber qual o verdadeiro rumo que  estou a tomar. Há muito desisti de olhar para a bússola. Ora navego para um lado ora navego para outro. Tento evitar que  a canoa fique completamente à deriva ou atravessada à vaga. Estou fisicamente esgotado e no limiar da minha resistência. A  par da fraqueza,   invade-me uma enorme sonolência, a que não quero ceder. 

Finalmente, encarando  a noite e todos os perigos, sem desfalecimento, sem pregar olho, dou-me conta dos primeiros alvores da madrugada.  O vento afrouxa, a vela fica panda e, para minha maior decepção,  a claridade do novo dia, faz-me descobrir que, em vez de me ter aproximado dos perfis e recortes  daquelas encostas montanhosas, que vira de véspera, afinal, constato de que nada me servira tamanho esforço – Fico com a sensação de que estou noutra posição, ainda mais ao largo.  Exausto, aproveito então para me deitar um pouco sobre o fundo duro e encharcado da canoa e descansar – Agora, completamente alheio ao que desse e viesse.... Na esperança, porém,  de que o novo dia  me conduza a bom porto. 



 

Marechal Francisco Costa Gomes –Recordar o Presidente Português obreiro da democracia e pacifista : mais de metade dos cientistas do Mundo estão ocupados em meios de combate em vez de se empenharem com “os problemas da fome, do analfabetismo, do meio-ambiente e da saúde - Entrevista repartida em dois videos



 Jorge Trabulo Marques - Jornalista  - Desde 1970  - A Honra e o Prazer de ter entrevistado em sua casa um Homem Valoroso, Generoso e Pacífico - Registo sonoro  dividido em dois videos - Mas há outros excertos que não me foi possível ainda recuperar

Foi o décimo-quinto Presidente da República Portuguesa, o segundo após a Revolução de 25 de Abril.  Natural de Chaves, 30 de Junho de 2014. Faleceu  em Lisboa, aos 77 anos, em 31 de Julho de 2001 - De família numerosa, de onze irmãos (dos quais três vão falecer antes de chegar à idade adulta), muito cedo Francisco da Costa Gomes fica órfão de pai, ainda antes de completar 8 anos. Após terminar a instrução primária, em Chaves, aos 10 anos entra no Colégio Militar, provavelmente falta de posses, para que possa aí prosseguir os estudos, prosseguindo a carreira de armas. Sobre a profissão militar o próprio diria mas tarde: «se pudesse não teria seguido.».

Entrevista -  Registo sonoro de uma antiga cassete - De entre as centenas de entrevistas e apontamentos, que ainda guardo no meu extenso arquivo em memórias de um repórter

Tenho pois  a honra e o prazer de editar o excerto de uma longa e  interessante entrevista, que me concedeu em sua casa, não obstante estar num período de convalescença, por razões de saúde  - "Sabe, que ainda ontem tive 40º graus de febre" - Confessava-me 

COSTA GOMES  - O MILITAR PACIFISTA

O paladino da paz –.Um dos militares mais pacifistas, que, após deixar a Presidência da Republica, não aceita ser  chamado a desempenhar qualquer cargo político, optando pelo  Conselho Mundial da Paz, como terreno de intervenção, seguindo, atentamente e com preocupação, o recrudescimento das armas convencionais e atómicas das duas grandes potências, que, ao invés de olharem mais para os problemas da saúde e das condições de vida das populações, gastam milhões em armas atómicas e convencionais.  –


RETIROU-SE DA POLITICA MILITAR PARA SE DEDICAR À PAZ MUNDIAL

JTM - O Sr. Marechal Costa Gomes é um homem retirado da cena política? É um homem que acompanha atentamente os problemas! Como vê a política: como interveniente ou como observador?

F.C.G. A política nacional vejo-a simplesmente como observador e um observador muito atento, porque, como tenho dedicado a maior do meu tempo, às questões internacionais, sobretudo àquelas que dependem da paz e do desarmamento, e, como isso me leva, muitas vezes, a conferências para fora do país e me obriga a um preparação, quando estou em Portugal, que me faz alhear um pouco da política do dia a dia do nosso país, é claro que eu estou mais a par daquilo que se julga que constitui hoje a política internacional e a situação internacional de propriamente da politica nacional.

JTM - Porquê essa preocupação?

F.C.G - Bom, a preocupação deriva de várias coisas:  em primeiro lugar do facto  de julgar que nós estamos realmente  de baixo da uma ameaça terrível que pode, de um momento para o outro destruir por completo a vida sobre este belo planeta, que é a Terra. É isso. Pode-se dizer  que as pessoas mais lúcidas e aquelas que se têm dedicado mais a este assunto, desde 54, desde o rebentamento da primeira bomba atómica, começaram a prever esta situação. Mas, não  há dúvida nenhuma, que, durante as duas primeiras décadas, praticamente o assunto da era atómica, foi completamente ignorado, as armas atómicas foram completamente ignoradas! Ninguém sabia nada  do que se passava, espacialmente nos países onde a luta começava a ter um cariz de competição muito forte, e, nos anos 70,  o mundo começou a ser surpreendido com a ideia de que, já havia nessa altura, armas suficientes para destruir várias vezes a humanidade.

“MAIS DE METADE DOS CIENTISTAS  DO MUNDO OCUPADOS EM APERFEIÇOAR MEIOS DE COMBATE” – Em vez de se empenharem com “os problema    da fome, do analfabetismo, do meio-ambiente e  da saúde

JTM – Acha que ainda há uma grande tensão entre os dois blocos?

F.C.G. Eu julgo que ainda há uma grande tensão mais forte do que aquela que devia existir, porque há uma desconfiança mútua, não só  do ponto de vista político, com sob o aspeto militar, que inibe e que faz  com que não se possam adiantar e definir determinados assuntos com a lógica, e, sobretudo,  com a necessidade que os mesmos impõem. Veja, por exemplo,  este facto que agora se deu, ultimamente, insólito: pois,  estamos todos à espera que, de um momento para o outro, se possa assinar o acordo  que elimine os mísseis intermediários e os mísseis táticos  da europa. Pois bem, qual é a atitude que a Nato toma perante esta decisão? É que… sim, senhora …vamos acabar com os mísseis mas temos que reforçar as forças convencionais.

Ora, eu acho que esta atitude é uma atitude absolutamente negativa! O que nós precisamos não é de reforçar as forças convencionais  é de reduzir também as forças convencionais! Porque, um dos  maiores problemas que existem no Mundo – e sem a redução dos orçamentos militares, se não será possível resolvê-lo – é o problema    da fome, é o problema do analfabetismo, é o problema do meio-ambiente, o da saúde, enfim, são uma série de problemas  que realmente fazem com que, a maioria da população mundial, dia a dia, veja os seus problemas acrescidos, agudizados e não sinta que há uma luz, que não há uma pequena ação solidária  dos países – que os têm, que, no fundo, os têm assegurado – para melhorar esta esta situação.

Ora, esta situação só pode ser melhorada, diminuindo drasticamente as despesas militares, não só o que diz respeito aos orçamentos. Como também no que diz respeito à investigação científica. Porque, hoje, mais de metade dos cientistas no mundo, estão dedicadas a aperfeiçoar armas e aperfeiçoar  meios de combate, quando, realmente, a todas as pessoas bem intencionadas,  lhes parece que se deviam dedicar as era para o bem-estar  da Humanidade, e, portanto, pró  melhoramento das condições de vida de todos os Povos.

JTM – Acredita na possibilidade de um novo conflito à escala mundial?

F.C.G. -  Acredito! Não porque as pessoas o queiram! Podemos dizer que 90% da população mundial é contra um conflito à escalda mundial  - Mas, com o acumular de armas que existem no mundo e, com os pequenos conflitos locais, que ainda não conseguimos debelar e, outros que se podem desenvolver de um momento para o outro, como é, por exemplo, a situação do Golfo Pérsico, pois, uma destas situações, pode, sem querer, levar a um conflito mundial! E isso é extremamente perigoso, porque, as armas que depois se possuem, são de tal maneira potentes e de tal maneira poderosas, que, se elas forem empregues,  durante muito tempo, será o tempo suficiente  para aniquilar a vida sobre a Terra.




O PERÍODO QUENTE PÓS 25 DE ABRIL

JTM - Outra questão que eu gostaria que o Sr. Marechal recordasse – alguns anos já volvidos sobre aquele período da revolução: um período, naturalmente, muito confusão, como é que a esta distância, o Sr. Marechal. Os recordaria?

F.C.G. – Bom, eu acho que foi realmente um período muito confuso! Muito perturbado! A revolução fez-se, mas, claro, dadas as circunstâncias em que ela teve de se efetuar. Não houve uma preparação, sobretudo para se poder  transitar do regime  que havia para um outro, onde as liberdades e os direitos humanos, estavam salvaguardas e estavam em plena pujança, e isso deu como resultado, que, houve, de facto, durante os primeiros tempos – no primeiro Governo (em todos os governos mais ou menos provisórios – deficiências muito grandes, que, só o trabalho e só a boa vontade e dedicação  de muitos, conseguiram, não digo suprir, mas pelo menos atenuar.

“OTELO TEVE AS SUAS DEFICIÊNCIAS MAS, DE UMA MANEIRA GERAL, FOI UM ELEMENTO POSITIVO  E A REVOLUÇÃO DE ABRIL DEVE-LHE MUITO.

Otelo Saraiva de Carvalho, detido a 20 de Junho de 1984 pela Polícia Judiciária, no âmbito deste processo. Da FP, com uma pena de 18 anos .De recordar, que o principal operacional do Movimento das Forças Armadas. nunca assumiu a criação das FP-25 nem a militância no grupo. Do tempo total de pena cumpriu apenas cinco anos. Em entrevista, concedida há Lusa, em 2010, Otelo confessou que, no dia em que recebeu a notícia da criação deste partido revolucionário armado, a encarou com "apreensão e perturbação com a ideia". Otelo: FP-25 foram "choque grande e um prejuízo tota
  
JTM – Sr. Marechal. Uma das figuras muito conhecidas e, de grande interveniência, na revolução, é Otelo Saraiva de Carvalho, atualmente preso: como é que vê a prisão de Otelo Saraiva de Carvalho?

F.C.G – Eu, como tive ocasião de dizer no Tribunal,  só conheço regularmente, a ação do Tenente-Coronel Otelo, quando ele parte ou do Conselho da Revolução
, em que me esteve diretamente subordinado.  – No Concelho de Revolução, porque eu era o Presidente do Concelho de Revolução; no COPCON COPCON –, porque o COPOCON estava dependente  do Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas e eu acumulava as funções de Presidente da República e de Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas. Ora, nesse tempo, eu posso dizer-lhe que, Otelo teve as suas deficiências,  mas, de uma maneira geral, foi um elemento  positivo e a Revolução de 25 de Abril, deve-lhe muito.

Depois, do 25 de Novembro, praticamente nunca mais tive contactos  com Otelo, mas, daquilo que eu conheço, a forma como eu pus o problema no Tribunal,  eu julgo que o caráter , a   moral e a maneira de ser do Otelo, não são de molde a admitir que ele, direta ou indiretamente, tenha tomado parte em qualquer das ações terroristas.

Era bom que se visse, que se estudasse bem, as ações terroristas, não só a partir  de 1974 mas que se vissem bem as ações terroristas, entre 1975 e 1976, porque, realmente, nessa data houve muito terrorismo em Portugal!  - Terrorismo absolutamente escusado! Terrorismo que que visava, única e simplesmente,  o regulamento do status quo, então estabelecido, em que as pessoas, não hesitara em matar, em destruir, em fazer ações, que realmente todo o mundo hoje as condena, porque, felizmente, o terrorismo hoje está condenado internacionalmente de uma forma absoluta.

JTM – Portanto, em sua opinião, acha injusta a prisão de Otelo?

F.G.C – Não posso dizer que é injusta ou justa. Eu não sei as causas que levaram à prisão de Otelo. Penso que –  nisso acredito, acredito na Justiça Portuguesa -, que o juiz que fez o inquérito  e que promoveu a sua detenção, tinha as suas razões. Podem não ser razões que não sejam razões suficientemente fortes para justificar a prisão durante tanto tempo de Otelo.

Não há dúvida nenhuma é que, Otelo Saraiva de carvalho, tem, em toda a Europa,  uma data de pessoas importantes, sobretudo no campo jurídico, que o apoiam, que o defendem e que estão constantemente  a fazer diligências para a sua libertação.

A entrevista, que, honrosamente me concedeu, continuaria  com  ainda com várias perguntas, desde a sua próxima deslocação a Tóquio, no âmbito das conferências do Conselho Mundial da Paz,  assim como de como recordava as  funções que desempenhou, em Angola,  1970-72, como  comandante-chefe da Região Militar de Angola – Perguntei-lhe, que, tendo também estado,   como militar nesta ex-colónia,  no meu  tempo (1966) se constava que havia quem, dentro do Quartel general, passasse informações do MPLA – Costa Gomes, negou que, de sua parte, alguma vez tivesse tomado essa atitude, não passando de calúnias e de falsidades. Pena não puder reproduzir as suas palavras, visto,  no dia seguinte ter ido fazer uma entrevista ao Monsenhor Moreira das Neves, em sua casa, e, inadvertidamente,  ao usar a mesma cassete, apagado o resto da entrevista.  Contudo, ainda disponho de uma outra entrevista, esta feita no torno de uma conferência, em que ele também participara, que igualmente conto editar oportunamente em vídeo.



Costa Gomes morava na Av. João XXI, próximo do cruzamento da Av. de Roma, em Lisboa. Nessa tarde, que me recebeu, estava sozinho e, curiosamente, os móveis da sala, estavam todos cobertos com lençóis brancos, visto ir para obras, mais parecendo a enfermaria de um hospital. Mesmo assim, teve a gentileza de me receber, já que a entrevista havia sido marcada uns dias atrás e ele não quis faltar ao compromisso. - 


Militar sempre preocupado com a paz, de perfil civilista, indo ao pormenor de, sintomática e simbolicamente, restringir o uso da farda apenas às ocasiões em que tal lhe era exigido, é no entanto, na Guerra colonial, de entre os grandes cabos de guerra, o mais renitente em utilizar a força bélica em grandes e pequenas operações, e, paradoxalmente, o que mais êxito teve em termos operacionais e bélicos.

Costa Gomes foi, com uma antecedência assinalável, em 1961, o primeiro chefe militar a defender claramente que a solução para a guerra colonial era política e não militar, não obstante cumpriu com brilhantismo as suas funções como comandante militar da 2.ª Região Militar de Moçambique, entre 1965 e 1969 (primeiro, como segundo-comandante, depois, como comandante) e, seguidamente, como comandante da Região Militar de Angola.

Após o 28 de Setembro de 1974, com o afastamento do general Spínola, Costa Gomes é nomeado para a Presidência da República, onde lhe caberá a difícil missão de conciliador de partes em profunda desavença, com visões radicais do mundo, algumas verdadeiramente inconciliáveis. Levará sobre os seus ombros tudo quanto se irá passar até à crise de 25 de Novembro de 1975, onde lhe coube o papel capital de impedir a radicalização dos conflitos poupando o país a enfrentamentos violentos e uma possível guerra civil. Costa Gomes é considerado um dos principais obreiros da instauração da democracia em Portugal.



«A APRENDIZAGEM DA ARTE DA «PRUDÊNCIA»

“A figura que sai das páginas de Luís Nuno Rodrigues é a de um general renitente. Da obra ressalta, desde logo, que a carreira militar de Costa Gomes deriva não tanto de um gosto pelas armas, mas sobretudo de uma evolução imposta pelas necessidades materiais da família. Do Colégio Militar à Academia Militar, o percurso de Costa Gomes resulta de uma evolução natural imposta pelas condicionantes familiares. A carreira militar não satisfazia em pleno Costa Gomes, que acabou por frequentar a Universidade do Porto, aí concluindo a licenciatura em Ciências Matemáticas (1939-1944). Este facto não o impediu de percorrer, ainda jovem, um extraordinário caminho como militar, ganhando prestígio no meio castrense, não deixando, contudo, de evidenciar uma renitência: a renitência ao uso e ao abuso da violência. Para o futuro marechal Costa Gomes, a violência (a força armada) só devia ser aplicada enquanto fosse útil ao equilíbrio e à paz na sociedade. O uso excessivo da violência, assim como a utilização da violência de forma inútil, eram-lhe repugnantes.

Na lógica do marechal Costa Gomes, cabia aos militares dosear o uso da violência, tendo sempre como fim assegurar os objectivos de ordem e paz social. – Excerto Relações Internacionais (R:I) - O general «renitente»

 
Marechal  Francisco Costa Gomes -   Uma das grandes personalidades, militares e cívicas,  Membro da Junta de Salvação Nacional desde a madrugada de 26 de Abril, e, como chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas em 30 de Abril de 1974. O primeiro Presidente da República Portuguesa a discursar perante a Assembleia Geral das Nações Unidas - Em Janeiro de 1975 está presente na assinatura do Acordo de Alvor, entre o governo e os movimentos de libertação angolanos, relativo à independência de Angola. Depois de dar posse ao IV Governo Provisório, também chefiado por Vasco Gonçalves (25 de Março de 1975), preside à assinatura, em 11 de Abril de 1975, do primeiro pacto MFA-Partidos.

Declarações inéditas de Francisco Costa Gomes, uma vez que,  da longa entrevista, que  honrosamente me concedeu, na qualidade de repórter da extinta Rádio Comercial RDP, apenas escassos minutos foram transmitidos. O  tema principal da minha deslocação a sua casa, versava sobre questões relacionadas com  o armamento atómico e convencional  das duas grandes potências e  o  papel do Marechal na Conferência Mundial da Paz, que, por agora, apenas reproduzo em texto .

E, de facto,  foi a propósito  destes assuntos, num tempo em que pareciam desanuviar-se algumas tensões, entre os dois blocos, que começaria por fazer as primeiras perguntas. Contudo, outros temas acabariam por ser abordados, nomeadamente, o que pensava do período quente pós 25 de Abril e da prisão de Otelo Saraiva de Carvalho  -   Conteúdo editado em vídeo. – Porém,  é minha intenção,  vir a editar,  no Youtube, também outra interessante entrevista, sobre este tema

 “Francisco da Costa Gomes toma posse como Presidente da República na sequência da renúncia de António de Spínola, a 30 de Setembro de 1974. Em pleno processo revolucionário terá de enfrentar situações de grande complexidade.

Nascido em Chaves, no seio de uma família numerosa, a sua infância é marcada pela morte do pai nas vésperas do seu 8.º aniversário. As dificuldades económicas da família levam a que, terminada a instrução primária, ingresse no Colégio Militar em Lisboa. A solução não lhe agrada, sobretudo devido ao afastamento da família.

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Com uma carreira militar brilhante, várias comissões de serviço nas colónias e estágios no Quartel-General da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), acabará por ser convidado, em Agosto de 1958, pelo ministro da Defesa, general Botelho Moniz, para o cargo de subsecretário de Estado do Exército. Começa assim uma carreira política que, depois de várias vicissitudes, o projectará ao mais alto cargo de Estado: a Presidência da República.

(…)Apesar da ambiguidade de que muitos o acusam, todos lhe reconhecem o mérito de ter conseguido evitar a guerra civil.

Ao ocupar a cadeira presidencial, uma das suas primeiras preocupações parece ser a de garantir a estabilidade, apesar da conjuntura revolucionária que se vive. Demonstra-o, primeiro, ao reconduzir Vasco Gonçalves para o cargo de chefe do governo (III Governo Provisório, em 1-10-1974). Depois, durante a viagem que efectua aos EUA onde procura não só estabelecer contactos com vista à cooperação entre os dois países, sobretudo económica, como também tranquilizar a comunidade internacional quanto ao rumo da transição portuguesa” – Excerto de . Biografia completa - Museu da Presidência da República