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sábado, 3 de junho de 2023

Castelo Melhor - Foz Côa - Cegou em criança. Depois disso, nunca mais viu a luz do dia –“Nunca sonhei a ver qualquer coisa!” – João Augusto Ferreira – E na sua freguesia havia tanta maravilha para ver!... Mas chegou até a escrever versos - Um homem que nunca se deixou vencer pelo mundo das trevas –

   João Augusto Ferreira –- Um homem que nunca se deixou vencer pelo mundo das trevas – Fazia o trabalho da sua loja, animava as festas, com a sua concertina, partia amêndoa, fazia trabalho de campo e escrevia poemas – Tinha 92 anos quando o entrevistei em 1998 na sua loja, a partir amêndoa ao lado de sua mulher


Apesar da sua enorme insuficiência física, soube superar admiravelmente o seu infortúnio, graças a um inaudito esforço e a uma imensa força de vontade.

Primeiro, estudando o próprio braille - o que fez logo em rapaz, na cidade do Porto. Pois cedo compreendeu que a leitura e a escrita eram para si as melhores armas para escapar à completa escuridão ou ao mar de trevas para onde o destino o havia lançado. Depois, então sim, certo de que estava já preparado, regressa à sua aldeia e, sem desânimos ou temores, toca de lançar desafios ao futuro.
Assim, em 1926, e após ter conseguido poupar algum dinheiro como sacristão, estabelece-se com uma pequena loja de tabaco. Segundo diz, contra a vontade de sua mãe, a qual pensava - consciente da cegueira de seu filho - que ele iria ficar sem o dinheiro e sem o tabaco


Apesar da sua enorme insuficiência física, soube superar admiravelmente o seu infortúnio, graças a um inaudito esforço e a uma imensa força de vontade.

Porém, para espanto e alegria de ambos, não é o que acontece: pois, mal o jovem João Ferreira se põe ao balcão, é êxito assegurado - conterrâneos ou não, amigos ou simples clientes, todos querem ir comprar o seu maço de tabaco à loja do Sr. João. E, portanto, o negócio imediatamente floresce.

De tal modo, que, no ano seguinte, já não vende cigarros, também estende a atividade ao ramo da mercearia. Depois, ao completar o segundo ano da sua experiência comercial, passa também a vender bijutarias e vinho. E, com tal sucesso, que não tarda que transforme a sua pequena loja "numa espécie de supermercado" do seu tempo, conforme hoje nos recorda. E onde não falta nada: desde a onça de tabaco, o copito ou quartilho de vinho, às peças de cotim e de riscado ou outro tecido, em voga, ao arroz, ao açúcar amarelo, aos rebuçados avulsos que tanto deliciavam as crianças, aos aparos para as canetas de tinteiro, às lousas e cadernos escolares, ou até ao petróleo para alimentar os candeeiros e- candeias nos lares, já que a eletricidade, então, ainda era um sonho distante.


Portanto, com tal diversidade de produtos e miudezas, dir-se-ia que o negócio cedo prosperou e que, no seguimento das economias que fora juntando, pôde aspirar a outros objetivos, entre os quais a compra do rés-do-chão e da casa onde situava a pequena loja - Depois casa, e João Ferreira é então um homem ainda mais feliz. Mas, naturalmente, apesar de a partir de agora ter com quem poder repartir algumas tarefas e sacrifícios, já que a sua mulher iria ser sempre a grande amiga, e companheira de todas as horas, a verdade é que a vida é uma luta constante, seja para quem for. E, então, principalmente naquele tempo! Eram realmente tempos muito rudes e difíceis para a grande maioria da população. Para quem trabalhava à jeira, para quem cultivava as suas ladeiras, e mesmo para os pequenos comerciantes ou pessoas ligadas a outras pequenas atividades. Só não o era para os grandes agrários, ou caciques da época, que poderiam, amealhar o que quisessem à custa da mão-de-obra quase escrava


Castelo Melhor é uma das freguesias do Concelho de Vila Nova de Foz Côa, que outrora pertenceu ao reino de Leão mas que o Tratado de Alcanizes, com D. Diniz, haveria de acrescentar ao Reino de Portugal - Para quem demande a capital da amendoeira e dos mais afamados vinhos generosos, e queira visitar o núcleo das gravuras paleolíticas da Penascosa, na margem direita do Rio Côa, terá que atravessar pelo meio desta antiga aldeia - E não se vai arrepender, tanto pela riqueza do património edificado, como seja o seu Castelo, como arqueológico, isto para já não falar das maravilhosas panorâmicas, que lhe oferecem as suas encostas, sobranceiras do Côa, nomeadamente na floração da amendoeira mas até em qualquer altura do ano - É sempre um passeio inesquecível.


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