Jorge Trabulo Marques - Jornalista
Registo deixado em memória dos Pedreiros de Foz Côa, que construíram com pedra de granito o Paço Municipal, em meados do século IXX, no rés-do-chão do qual foi também edificada a cadeia, além de outros edifícios, séculos depois da igreja matriz também ter sido erguida com a mesma pedra do maciço dos Tambores, aldeia de Chãs, deste concelho, então termo de Longroiva e Mêda, numa área onde termina a chamada Meseta Ibérica, o reino do granito, visto, na margem oposta do vale da Ribeira Centeeira e a partir das ladeiras voltadas para os Piscos, predominar apenas o xisto, que se vai estender pelos vales e colinas do Douro e Côa
É conhecido na aldeia de Chãs, pela “Pedra Escrita” -Muitos dos seus habitantes (nesta altura, já com mais casas de que moradores), nunca a terão visto, dada a dificuldade do acesso, mas faz parte dos mitos e lendas desta freguesia: ergue-se num dos penhascos mais altos do maciço dos Tambores, em volta do qual foi cortada a pedra de granito para a construção dos Paços do Concelho de Vila Nova de Foz Côa, em 1857-58, de que ainda há abundantes vestígios desses cortes, tendo dali seguido nos tradicionais carros de bois pelo antigo caminho romano, que sobe da Quinta da Canameira em direção à Portela e às Portas de Chãs, que vai cruzar com a calçada que vinha de Longroiva, pelos Areais para Calábria.
Porém, enquanto, ao virem de Foz Côa para a área da pedreira, o trajeto era todo a subir, com sucessivas curvas, pela encosta que separa o granito do xisto, o regresso, pelo menos até à Ribeira Centeeira, na margem esquerda da qual se situa aquela quinta, esse era somente feito a descer – Ali, não vestígios de ter havido alguma ponte, senão a existência das chamadas poldras, pedras pelas quais se fazia passagem para quem não fosse em cima da albarda das bestas ou nos carros de bois.
Atravessada
a ribeira, subia-se então por uma encosta em direção a Muxagata e dali para Foz Côa, por antigos caminhos. Deveria
fazer-se uma romagem por esses mesmos caminhos, sugestão que aproveito para
aqui deixar – Parte do percurso, hoje
irreconhecível, mas fácil de percorrer, a pé ou de bicicleta. A que me referi num
extenso artigo, em 1998, no extinto jornal ÉCÔA, com o título: "De bicicleta
ou a pé em jornadas de evocação e de maravilha por caminhos de outrora"
A inscrição
que se pode ler é a seguinte:
ALVINO I
BARBOZA
COM OS CEUS
8 COMPºs
18 MEZES
CORTARAO
PEDRA Pª A
CADEIA D V. Nª
FIN A 13 DE
JUNHO D. 1858
A referência
a esta memória, é descrita na monografia CHÃS DE FOZ CÔA- A Sua História e a
Sua Gente -, de autoria de Joaquim Manuel Trabulo, meu estimado primo, nascido
nesta freguesia, em 2 de Junho de 1938, a quem dirijo o meu abraço pelo registo
de tão importantes testemunhos - É dito na página 72 e 73, que “os pedreiros de
Foz Côa, num dos penedos que ainda hoje existe, próximo do Castelo Velho, além
da inscrição com o nome do mestre e a referência aos seus oito companheiros,
deixaram, no alto do mesmo, uma pedra brasonada com o escudo nacional, encimado
por uma cabeça humana.
Aquando do
seu transporte, da pedreira das Chãs, ficou danificada por falta de cuidado,
tendo sido retocada com cimento.
Essa pedra
encontra-se no pátio interior da casa que pertenceu ao Sr. Adriano de Jesus Sousa.
Dizem ter sido preparada para os Paços do Concelho. Os técnicos concelhios,
porém, achando-a demasiado simples, teriam optado por outra mais rica
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