expr:class='"loading" + data:blog.mobileClass'>

terça-feira, 9 de março de 2021

Dona Branca - A Verdadeira História da Banqueira do Povo – Entrevista ao Jornalista Pedro Prostes da Fonseca, que relata a ascensão e a queda, assim como as virtudes e os defeitos da mais famosa burlona lisboeta dos anos 80

 Jorge Trabulo Marques - Jornalista

O autor da Obra e os netos da Dona Branca

 

 

 

 

 

 

 

O Livro foi lançado, há cinco anos, pelo jornalista e escritor, Pedro Prostes da Fonseca, que entrevistei na Feira do Livro de Lisboa, desse mesmo ano, sob o título “Dona Branca -  A Verdadeira História da Banqueira do Povo, em que, ao longo de 228 páginas, o autor do livro "A Porta da Liberdade", sobre a fuga de Álvaro Cunhal de Peniche, conta  como começou, na década de 40 do século passado, o negócio de emprestar dinheiro, a começar pelas peixeiras.

 

Foi o grande escândalo dos anos 80  -  Não era banqueira, mas emprestava dinheiro ao povo. Pagava juros a 8% ao mês (só subiria para os 10% muito mais tarde) a quem depositava e concedia empréstimos a 12% e 15%" – O dinheiro era amontoado, fora de cofres  - Não tinha um banco, mas deixou um rasto de lesados e desesperados, que, só mais tarde o BPN e o BES, viriam a protagonizar.

Apanhara certos hábitos de rica -- não prescindia de champanhe francês, muitas vezes logo de manhã --, mas ao mesmo tempo continuava-lhe colada a origem social: tinha passe da Carris e mandava consertar o calçado ao sapateiro", descreve o jornalista Pedro Prostes em "Dona Branca -- A Verdadeira História da Banqueira do Povo" (Dream Editora - O início do negócio está associado às varinas na zona do Intendente, em Lisboa, nesses anos da década de 40.

"Guardava o dinheiro da venda das varinas, recebendo no final dos dias uma pequena compensação. Com o tempo, acumulou o suficiente para emprestar, com juros, às varinas para irem à lota comprar peixe, copiando o negócio da Nazaré", descreve o autor.

De seu nome, Maria Branca dos Santos, conhecida por D. Branca, uma hábil usurária, estilo generosa avozinha, que, uns anos antes,  chegara a ser considera como a  “tia boa e tolerante”,  montou um esquema em pirâmide,  que acabaria por colapsar -   Foi o grande escândalo dos anos 80  -  Não era banqueira, mas emprestava dinheiro ao povo. Não tinha um banco, mas deixou um rasto de lesado, que, só mais tarde o BPN e o BES, viriam a protagonizar .

Dª Branca -  Uma banqueira às suas ordens” – Foi  no dia 5 de Março de 1983, e com este título, na sua edição n.º 140, que o semanário Tal & Qual apresentou aos portugueses Maria Branca dos Santos. Estavam feitas as apresentações, mas nem os jornalistas adivinhariam o turbilhão que se viveria na sociedade portuguesa nos 19 meses seguintes, até à detenção da Dona Branca, em Outubro de 1984.

Até, que,   o mesmo jornal, no ano seguinte, em 7 de Agosto de 1984,  rotulou o caso com a manchete:  “A Branca... rota” (07/09/1984).- Isto porque, o  “a conta 631 5356 do Banco Português do Atlântico, na Praça de Londres, deixou de ter cobertura. Os depósitos cessaram. Os clientes da Dona Branca queriam levantar as economias e a conta estava “careca”. Colaboradores próximos publicavam desmentidos na imprensa, recusando qualquer ligação à operação da benemérita.

Foi o pandemónio em Lisboa. Meio milhar de pessoas acorreu aos escritórios. Foi necessário destacar um contingente da PSP para a Avenida Rio de Janeiro porque, nas palavras de Rui Machete, ministro da Justiça, “não podemos permitir que a Dona Branca seja sovada”. Encenaram-se tentativas de recuperação em Setembro. Numa das ocasiões, um falso depositante aproximou-se do escritório e, à frente da fila de credores, garantiu que ali ia deixar 1.500 contos por ter confiança na banqueira. Era tarde. Nem os vinte investigadores da PJ que tinham caído na esparrela conseguiram recuperar os seus depósitos. A fonte secara.

No dia 4 de Outubro de 1984, a Dona Branca foi presa. Nunca se soube o volume total de depósitos perdidos. Morreu em Abril de 1992, numa casa de saúde, praticamente cega. http://ecosferaportuguesa.blogspot.com/2013/03/a-fotografia-de-luiz-carvalho-selou-o.html

 Outro dos  livro de Pedro  Prostes da Fonseca, que vale a  pena ler ou reler

 


«A Porta para a Liberdade», de Pedro Prostes da Fonseca, apresenta factos inéditos sobre a evasão do Forte de Peniche, protagonizada por Álvaro Cunhal e mais nove homens. A edição é da Matéria Prima.
Muito setem escrito sobre a já lendária fuga de Álvaro Cunhal  do Forte de Peniche – E também já aqui nos referimos sobre um dos soldados da GNR que conheceu o dirigente do PCP naquele presidium e que admitiu ter trocado com o seu colega, no dia em que estava prevista a fuga.


!.
O Forte de Peniche era tido como uma das prisões de mais alta segurança do Estado Novo. Mas há pormenores que ainda se desconhecem,


 "COLABOREI, SEM SABER, NA FUGA DE CUNHAL"

A fuga de Álvaro Cunhal do forte de Peniche, com outros presos,  ficou  a dever-se, em grande parte, ao soldado da GNR, José  Alves, que estava de sentinela àquela hora – Mas não era, José Alves, que nesse dia devia estar de serviço mas o soldado Profesto Augusto Fernandes, agora com 84 anos, natural de Chãs, freguesia do Concelho de Vila Nova de Foz Côa, que aceitou a troca. - E teve dissabores. Pois também foi chamado ao exaustivo e apertado inquérito dos Pides, que se seguiu,  mas confessa que não ficou chateado pela atitude do seu colega, que era um excelente profissional e  bom companheiro, mas que sentiu pena  e  deixou-o muito triste  ao  constar-se  das represálias que foram exercidas sobre a sua famíli


-
"Deu-lhes a liberdade! Pois que mal haviam feito aquelas pessoas?!.Ninguém ali estava por ter cometido qualquer roubo ou outro crime!.". - Por isso diz que não está arrependido de ter sido usado.  Tinha-me calhado ter ficado ali destacado. Não fui escolhido  por ser duro! Aconteceu!...  Preferia  ficar de sentinela, dias seguidos, no quartel da GNR, em Lisboa, donde nos mandavam para estas missões do que ir ali a fazer aquela vigilância!....Era um lugar frio, húmido e desagradávelOs presos sabiam que nós tínhamos uma arma e não nos viam como amigos. Os Pides olhavam-nos com desconfiança e eram arrogantes!.Eram ríspidos e desconfiados para connosco e com os carcereiros e, os  interrogatórios aos presos,  eram longos e desumanos. Tínhamos que os gramar quase todos os dias. Até nós tínhamos  medo deles!.. Nunca fui comunista mas se  visse hoje, aquele meu camarada, dava-lhe um abraço!... Não era qualquer um que se atrevia a correr os riscos que ele correu!.

COLABOREI, SEM SABER, NA FUGA DE CUNHAL" Mas confessa que não se sentiu traído mas pena dos problemas e represálias que sofreu a família do seu colega. -  Ele contou-me, há pouco tempo,  que colaborou, sem saber na fuga de Álvaro Cunhal . Pois, o seu colega, havia-lhe  pedido, na véspera,  para fazer a troca com ele, tendo aceite, alegando ter que tratar de uns assuntos  no dia seguinte.  


Alves, fica de serviço nesse dia, da programada fuga e o Profesto  passa a fazer o turno dele no dia imediato. Claro que, segundo me recordou, “aquilo causou ali uma grande bronca!” – Os Pides, que ali iam regularmente, não tardaram a aparecer, com os seus inevitáveis inquéritos –  “Eles eram desconfiados e duros, mesmo para com os soldados da GNR e carcereiros” – Recorda. “Quando ali entravam, com aquelas caras autoritárias, até parecia que o terror se espalhava por todo o Forte! Olhavam-nos com desprezo e autoritarismo” – Confessou-me este meu conterrâneo. Que diz se lembrar, muito bem, da figura de  Álvaro Cunhal. “bem apessoadosempre com ar sério, compenetrado  e a passaritar - para trás e para a frente” . Que passava muito tempo, a "andar de um lado para o outro", e, geralmente, com ar carrancudo, sempre com ar muito concentrado, não dialogando" com os carcereiros ou soldados da GNR" - Aliás, tanto os soldados da GNR como os carcereiros  também estavam proibidos de conversar com os presos. E, sobretudo, com "o perigoso comunista", como era então classificado-


Pelos vistos, nem tudo ainda foi revelado – Tal o secretismo envolvido na preparação e na fuga, que, pelo que se depreende, factos houve que  ficaram apenas na mente dos seus intervenientes – Todavia,  para um bom jornalista, que goste de investigar até ao discreto dos pormenores, não há mistérios  indecifráveis – É o que se conclui da leitura do excelente livro de Pedro Prostes da Fonseca -  Acerca do  que ocorreu, naquele já distante 3 de Janeiro de 1960, em que  dez homens, entre os quais, Álvaro Cunhal, se evadiram do Forte de Peniche.
Considerada, até hoje,  uma das mais importantes e espetaculares fugas  do Portugal salazarista, só foi possível graças a um homem, Jorge Alves. Soldado da GNR.

Nenhum comentário: