Jorge Trabulo Marques - Jornalista
O autor da Obra e os netos da Dona Branca |
O Livro foi lançado, há cinco anos, pelo jornalista e escritor, Pedro Prostes da Fonseca, que entrevistei na Feira do Livro de Lisboa, desse mesmo ano, sob o título “Dona Branca - A Verdadeira História da Banqueira do Povo, em que, ao longo de 228 páginas, o autor do livro "A Porta da Liberdade", sobre a fuga de Álvaro Cunhal de Peniche, conta como começou, na década de 40 do século passado, o negócio de emprestar dinheiro, a começar pelas peixeiras.
Foi o grande escândalo dos anos 80 - Não era banqueira, mas emprestava dinheiro ao povo. Pagava juros a 8% ao mês (só subiria para os 10% muito mais tarde) a quem depositava e concedia empréstimos a 12% e 15%" – O dinheiro era amontoado, fora de cofres - Não tinha um banco, mas deixou um rasto de lesados e desesperados, que, só mais tarde o BPN e o BES, viriam a protagonizar.
Apanhara certos hábitos de rica -- não prescindia de champanhe francês, muitas vezes logo de manhã --, mas ao mesmo tempo continuava-lhe colada a origem social: tinha passe da Carris e mandava consertar o calçado ao sapateiro", descreve o jornalista Pedro Prostes em "Dona Branca -- A Verdadeira História da Banqueira do Povo" (Dream Editora - O início do negócio está associado às varinas na zona do Intendente, em Lisboa, nesses anos da década de 40.
"Guardava o dinheiro da venda das varinas, recebendo no final dos dias uma pequena compensação. Com o tempo, acumulou o suficiente para emprestar, com juros, às varinas para irem à lota comprar peixe, copiando o negócio da Nazaré", descreve o autor.
De seu nome, Maria Branca dos Santos, conhecida por D. Branca, uma hábil usurária, estilo generosa avozinha, que, uns anos antes, chegara a ser considera como a “tia boa e tolerante”, montou um esquema em pirâmide, que acabaria por colapsar - Foi o grande escândalo dos anos 80 - Não era banqueira, mas emprestava dinheiro ao povo. Não tinha um banco, mas deixou um rasto de lesado, que, só mais tarde o BPN e o BES, viriam a protagonizar .
Dª Branca - Uma banqueira às suas ordens” – Foi no dia 5 de Março de 1983, e com este título, na sua edição n.º 140, que o semanário Tal & Qual apresentou aos portugueses Maria Branca dos Santos. Estavam feitas as apresentações, mas nem os jornalistas adivinhariam o turbilhão que se viveria na sociedade portuguesa nos 19 meses seguintes, até à detenção da Dona Branca, em Outubro de 1984.
Até, que, o mesmo jornal, no ano seguinte, em 7 de Agosto de 1984, rotulou o caso com a manchete: “A Branca... rota” (07/09/1984).- Isto porque, o “a conta 631 5356 do Banco Português do Atlântico, na Praça de Londres, deixou de ter cobertura. Os depósitos cessaram. Os clientes da Dona Branca queriam levantar as economias e a conta estava “careca”. Colaboradores próximos publicavam desmentidos na imprensa, recusando qualquer ligação à operação da benemérita.
Foi o pandemónio em Lisboa. Meio milhar de pessoas acorreu aos escritórios. Foi necessário destacar um contingente da PSP para a Avenida Rio de Janeiro porque, nas palavras de Rui Machete, ministro da Justiça, “não podemos permitir que a Dona Branca seja sovada”. Encenaram-se tentativas de recuperação em Setembro. Numa das ocasiões, um falso depositante aproximou-se do escritório e, à frente da fila de credores, garantiu que ali ia deixar 1.500 contos por ter confiança na banqueira. Era tarde. Nem os vinte investigadores da PJ que tinham caído na esparrela conseguiram recuperar os seus depósitos. A fonte secara.
No dia 4 de Outubro de 1984, a Dona Branca foi presa. Nunca se soube o volume total de depósitos perdidos. Morreu em Abril de 1992, numa casa de saúde, praticamente cega. http://ecosferaportuguesa.blogspot.com/2013/03/a-fotografia-de-luiz-carvalho-selou-o.html
Outro dos livro de Pedro Prostes da Fonseca, que vale a pena ler ou reler
-"Deu-lhes a liberdade! Pois que mal haviam feito aquelas pessoas?!.Ninguém ali estava por ter cometido qualquer roubo ou outro crime!.". - Por isso diz que não está arrependido de ter sido usado. Tinha-me calhado ter ficado ali destacado. Não fui escolhido por ser duro! Aconteceu!... Preferia ficar de sentinela, dias seguidos, no quartel da GNR, em Lisboa, donde nos mandavam para estas missões do que ir ali a fazer aquela vigilância!....Era um lugar frio, húmido e desagradável. Os presos sabiam que nós tínhamos uma arma e não nos viam como amigos. Os Pides olhavam-nos com desconfiança e eram arrogantes!.Eram ríspidos e desconfiados para connosco e com os carcereiros e, os interrogatórios aos presos, eram longos e desumanos. Tínhamos que os gramar quase todos os dias. Até nós tínhamos medo deles!.. Nunca fui comunista mas se visse hoje, aquele meu camarada, dava-lhe um abraço!... Não era qualquer um que se atrevia a correr os riscos que ele correu!.
Alves, fica de serviço nesse dia, da programada fuga e o Profesto passa a fazer o turno dele no dia imediato. Claro que, segundo me recordou, “aquilo causou ali uma grande bronca!” – Os Pides, que ali iam regularmente, não tardaram a aparecer, com os seus inevitáveis inquéritos – “Eles eram desconfiados e duros, mesmo para com os soldados da GNR e carcereiros” – Recorda. “Quando ali entravam, com aquelas caras autoritárias, até parecia que o terror se espalhava por todo o Forte! Olhavam-nos com desprezo e autoritarismo” – Confessou-me este meu conterrâneo. Que diz se lembrar, muito bem, da figura de Álvaro Cunhal. “bem apessoado; sempre com ar sério, compenetrado e a passaritar - para trás e para a frente” . Que passava muito tempo, a "andar de um lado para o outro", e, geralmente, com ar carrancudo, sempre com ar muito concentrado, não dialogando" com os carcereiros ou soldados da GNR" - Aliás, tanto os soldados da GNR como os carcereiros também estavam proibidos de conversar com os presos. E, sobretudo, com "o perigoso comunista", como era então classificado-
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