Poema dito por António Rosa e o excerto de uma entrevista, na altura em
que recebeu o Prémio Pessoa – Deu-me a honra e o prazer de me receber, várias vezes
em sua casa. Autor de oito dezenas de livros de poesia, além de antologias e
outras obras, com traduções em vários
países – Considerado um dos melhores poetas portugueses contemporâneos
Pois bem: de novo aqui estou, recordando esse grande poeta e saudoso amigo, que me deu o prazer de me receber, por várias vezes em sua casa, algumas das quais no dia do seu aniversário - E hoje até poderia ser um desses dias, se fosse vivo - Porém, não foi isso que estava escrito nas constelações, nas mais longínquas nublosas que fazem parte do seu léxico poético
SIM, PORQUE...
Morreu um poeta mas não a sua palavra -
IMPOSSÍVEL GRITO
Se eu pudesse caminhar com palavras lentas sóbrias
E se eu pudesse falar-te ou gritar
Como um vento selvagem
Se tu pudesses ver-me se eu te pudesse olhar
Aqui onde escrevo e nada principia
Aqui onde o embate é nulo contra o bloco
Onde se cerra o muro onde a ferida não fala
Nenhum impulso emerge do ilimite vazio
Nenhum punho se ergue entre as pregas do abismo
Se escrevo ou falo ainda é o mutismo que fala
Se olho é através de um não olhar
Se prossigo sei que a minha sede é vã
Onde estou é aquém de toda a origem
Onde estás é além de todo o encontro
E todavia escrevo terminando onde escrevo
Sem o gérmen que abriria o diálogo da água
Sem a dissonância viva de quem está ainda algures
Emparedado
E crê que um grito alguém ainda o ouviria
E todavia se escrevo é porque talvez espere
Avançar entre os muros para uma praia secreta
Que um sinal ilumine este deserto de cinza
Que uma pergunta abale este bloco inamovível
Se eu pudesse falar-te através desta espessura
Se tu pudesses ver-me se eu te pudesse olhar
Oh quem pudera gritar como o vento selvagem
Quem pudera desatar o nó oculto sempre
O nome oculto sempre!
Fui eu que enterrei o meu nome sob a pedra
Fui eu que me enterrei para sempre sob o nome
Todo em mim é ausência ou um contacto vão
Por isso tu não me vês e eu não te vejo a ti
Mas se eu te escrevo ainda estas palavras nuas
Estas palavras mais pobres do que a sombra vazia!
Não será este caminho uma forma do grito?
Aqui onde escrevo algo principia
Aqui o embate contra um bloco negro
Aqui se abre um muro aqui a ferida fala
Aqui designo a pedra da asfixia
A forma desgarrada de um grito flutua
(António Ramos Rosa)
E se eu pudesse falar-te ou gritar
Como um vento selvagem
Se tu pudesses ver-me se eu te pudesse olhar
Aqui onde escrevo e nada principia
Aqui onde o embate é nulo contra o bloco
Onde se cerra o muro onde a ferida não fala
Nenhum impulso emerge do ilimite vazio
Nenhum punho se ergue entre as pregas do abismo
Se escrevo ou falo ainda é o mutismo que fala
Se olho é através de um não olhar
Se prossigo sei que a minha sede é vã
Onde estou é aquém de toda a origem
Onde estás é além de todo o encontro
E todavia escrevo terminando onde escrevo
Sem o gérmen que abriria o diálogo da água
Sem a dissonância viva de quem está ainda algures
Emparedado
E crê que um grito alguém ainda o ouviria
E todavia se escrevo é porque talvez espere
Avançar entre os muros para uma praia secreta
Que um sinal ilumine este deserto de cinza
Que uma pergunta abale este bloco inamovível
Se eu pudesse falar-te através desta espessura
Se tu pudesses ver-me se eu te pudesse olhar
Oh quem pudera gritar como o vento selvagem
Quem pudera desatar o nó oculto sempre
O nome oculto sempre!
Fui eu que enterrei o meu nome sob a pedra
Fui eu que me enterrei para sempre sob o nome
Todo em mim é ausência ou um contacto vão
Por isso tu não me vês e eu não te vejo a ti
Mas se eu te escrevo ainda estas palavras nuas
Estas palavras mais pobres do que a sombra vazia!
Não será este caminho uma forma do grito?
Aqui onde escrevo algo principia
Aqui o embate contra um bloco negro
Aqui se abre um muro aqui a ferida fala
Aqui designo a pedra da asfixia
A forma desgarrada de um grito flutua
(António Ramos Rosa)
O jovem que um dia queimou os versos que escreveu é agora poeta maduro, reconhecido pela obra e admirado pela forma como transforma palavras em versos.
António Vítor Ramos Rosa nasceu em Faro em 1924. Mudou-se para Lisboa logo após a II Guerra Mundial. Deu aulas de Português, Francês e trabalhou como empregado de escritório. Cedo abandona o emprego, para se dedicar inteiramente à actividade literária.
Ensaísta e tradutor, diz que escreve pela necessidade de quem procura um espaço de libertação. Foi fundador de várias revistas e muitos dos poemas que escreveu estão publicados fora de Portugal.
Ramos Rosa é autor de uma obra com dezenas de títulos, iniciada em 1958. Entre os vários prémios que recebeu destacam-se o Prémio Pessoa, em 1988, e o Grande Prémio da Associação Portuguesa de Escritores (APE), no ano seguinte.
Este ano, foi galardoado com o prémio de poesia do PEN Clube Português pelo livro "Génese".
.
-O escritor, galardoado esta semana com o prémio de poesia do PEN Clube português pelo livro "Génese", será homenageado com o espectáculo coreográfico " Rosa de Papel".
A sessão comemorativa inclui ainda uma mesa redonda, com a presença do autor e dos escritores Urbano Tavares Rodrigues, Gastão Cruz, Casimiro de Brito, João Rui de Sousa, Hélia Correia e Pedro Mexia. Nesta cerimónia, que decorrerá no teatro D. Maria II, em Lisboa, serão interpretados dois poemas de Ramos Rosa por Amélia Muge e lançado o nono número da revista "Textos e Pretextos" inteiramente dedicado ao poeta. A revista é editada pelo Centro de Estudos Comparatistas da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
(…) Entre os vários prémios que já recebeu destacam-se o Prémio Pessoa, em 1988, e Grande Premio da Associação Portuguesa de Escritores (APE), no ano seguinte. – Excerto Teatro Nacional D. Maria II presta homenagem ao poeta Ramos Rosa
|
NOTÍCIA DA SUA MORTE
Além da sua vastíssima obra poética, escreveu livros de ensaios que marcaram sucessivas gerações de leitores de poesia, como Poesia, Liberdade Livre (1962) ou A Poesia Moderna e a Interrogação do Real (1979), traduziu muitos poetas e prosadores estrangeiros, sobretudo de língua francesa, e organizou uma importante antologia de poetas portugueses contemporâneos (a quarta e última série das Líricas Portuguesas). Era ainda um dotado desenhador.
Prémio Pessoa em 1988, António Ramos Rosa, natural de Faro, recebeu ainda quase todos os mais relevantes prémios literários portugueses e vários prémios internacionais, quer como poeta, quer como tradutor. – Excerto de António Ramos Rosa (1924-2013), uma vida dedicada à poesia .
Todas as imagens são do autor deste site
OUTRAS POSTAGENS DEDICADAS AO POETA
23 de Setembro 2013 - António Ramos Rosa - Morreu o Poeta da Festa do Silêncio que se fez Felicidade do Ar e da Luz http://www.desoculto.com/2013/09/antonio-ramos-rosa-morreu-o-poeta-da.html
21 DE JANEIRO DE 2013 ANTÓNIO RAMOS ROSA - UM CAMINHO DE PALAVRAS http://www.desoculto.com/2013/01/antonio-ramos-rosa-um-caminho-de.html
22 de Outubro de 2011 - ANTÓNIO RAMOS ROSA "TU PENSAS QUE OS CARDEAIS NÃO SE MASTURBAM, QUE NÃO VÊM AS TELENOVELAS http://www.desoculto.com/2011/10/antonio-ramos-rosa-tu-pensas-que-os.htm
17 DE Outubro de 2010 -ANTÓNIO RAMOS ROSA, POETA DO SOL E DA FACILIDADE DO AR, PARABÉNS ! 86 JÁ CANTAM! VENHA O SÉCULO E MAIS VERSOS http://www.desoculto.com/2010/10/antonio-ramos-rosa-poeta-do-sol-e-da.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário