Jorge Trabulo Marques - Jornalista e foto-jornalista - Fomos nós que fizemos a única reportagem fotográfica deste evento
A
apresentação pública, decorreu ao fim da tarde, do passado sábado, numa sala do
Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado: cerimónia simples,
sem câmaras de televisão (o único jornalista e fotógrafo, fomos nós, mas por
mero acaso) sala cheia mas numa quase sessão intimista, como, de resto revelam ser
os desenhos e as aguarelas de um álbum do último Rei de Portugal,
barbaramente assassinado no dia 1 de Fevereiro de 1908. Todavia, estava à
frente do auditório, na mesa da apresentação da obra, uma
das figuras mais mediáticas da atualidade, o Prof. Doutor Marcelo
Rebelo de Sousa, na qualidade de Presidente da Casa de Bragança.
De facto, mesmo com a presença de
distintas e conhecidas figuras públicas, a cultura continua a ser um parente
pobre. Se fosse, um livro de Mourinho ou até de um treinador ou jogador de
futebol, medianos, não faltariam fotógrafos, jornalistas, repórteres dos
jornais, da rádio e da televisão. Aliás, quando dali saímos e passámos pela
FNAC, estava a decorrer ainda a sessão de autógrafos de Sasha Grey, ex-vedeta
da pornografia cinematográfica. Incrível!... Uma fila enorme e um batalhão de
objetivas a registarem todos os seus gestos e sorrisos, no que, aliás, exibia
um desempenho de eximia e talentosa atriz profissional - Estes são os valores
dos novos tempos. Os de "Juliette Society"
Pois, realmente, mesmo tratando-se do lançamento de um álbum artístico de
inegável interesse histórico, foi para mim uma verdadeira surpresa, ver-me,
inesperadamente, como único repórter fotográfico, a fazer o registo da
cerimónia. Mas ainda bem que ali estive. Deu-me prazer fazer as fotografias e
assistir ao lançamento de uma obra valiosíssima - Com uma tiragem
limitada, para que o significado da efeméride fosse ainda mais simbólico e
expressivo. – Tendo, no final da sessão, sido um dos felizes
contemplados dos exemplares, com que agraciaram os convidados
Trata-se, com efeito, do Álbum das jornadas 1885, de desenhos e aguarelas, fac-simile comemorativo da passagem dos 150 anos, sobre o nascimento do Rei D. Carlos, numa iniciativa conjunta da Fundação Casa de Bragança e do Museu nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado - Documentada com um ensaio de Raquel Henriques da Silva, numa edição de 300 exemplares dourados, 100 dos quais bruxados.
Trata-se, com efeito, do Álbum das jornadas 1885, de desenhos e aguarelas, fac-simile comemorativo da passagem dos 150 anos, sobre o nascimento do Rei D. Carlos, numa iniciativa conjunta da Fundação Casa de Bragança e do Museu nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado - Documentada com um ensaio de Raquel Henriques da Silva, numa edição de 300 exemplares dourados, 100 dos quais bruxados.
CURIOSA COINCIDÊNCIA
Porém, quando nos preparávamos para sair, vimos chegar Marcelo Rebelo de Sousa – Perguntando, no balcão, qual o motivo da sua presença, foi-nos então explicado, que ia ali haver o lançamento de um álbum. Não tendo muitos pormenores, achamos não interromper o nosso passeio inicial. Contudo, como a visita ao estúdio, também foi curta, de regresso, ao passarmos pelo mesmo local, constatamos que a cerimónia ainda não havia terminado – Nesse momento, a curiosidade jornalística falou mais alto, despedi-me dos meus amigos e fui assistir à parte final da cerimónia. O Professor Marcelo Rebelo de Sousa, já se havia expressado, sobre a importância da obra, quem falava era Raquel Henriques da Silva, autora do ensaio sobre o Álbum das jornadas 1885, constituído por 154 desenhos e aguarelas, realizados ao longo desse ano por D. Carlos.
Nessa tarde, numa deslocação ao estúdio do meu amigo, o pintor João do Ó, acompanhado por outro velho amigo, o jornalista e escritor Altino Tojal, autor de “Os Putos”, que encontrara, casualmente, na feira de Alfarrabistas e Colecionismo, no Chiado, pois bem, ao passarmos na Rua Serpa Pinto, aproveitamos para uma curta visita ao Museu Nacional de Arte Contemporânea, quase sobre hora de fechar.
Tomei a liberdade de aqui transcrever alguns excertos dos textos, que acompanham o referido álbum - Começando pela ordem, como são expostos, reproduzindo na íntegra o do Prof. Marcelo Rebelo de Sousa, já que é bastante mais curto
D. Carlos, “o Homem da Cultura, nomeadamente do Esteta” – Diz Marcelo Rebelo de Sousa
"Portugal é avaro em reconhecer o mérito dos seus melhores em vida. Prefere fazê-lo após a morte. Às vezes, muitas décadas ou mesmo alguns séculos volvidos.
O Rei D. Carlos, enquanto Rei e enquanto Homem, conheceu essa dita, sobretudo nos últimos anos da sua vida. As querelas entre os que deveriam apoiá-lo, ou, pelo menos, compreende-lo e a sua conversação em alvo essencial daqueles que pretendiam derrubar o regime que simbolizava aliaram-se para criarem o clima que culminou com o seu assassinato.
Cento e cinquenta anos transcorridos sobre o seu nascimento, a distância cronológica e psicológica permite já a todos – monárquicos, constitucionais ou legitimistas, e republicanos, conservadores ou radicais – reconhecerem tantos dos seus méritos. Um dos quais foi o do Homem da Cultura, nomeadamente do Esteta.
O Álbum, cujo fac-simile, ora se edita – em feliz convergência entre o Museu Nacional de Arte Contemporânea e a Fundação da Casa Bragança – além de assinalar um século e meio iniciado em 28 de Setembro de 1863, homenageia um dos inúmeros talentos desse Rei e desse Homem que só a posteridade soube começar a reconhecer na sua grandeza.
A presente edição não seria possível sem a inteligência solicitude do Senhor Dr. Paulo Henriques, a constante atenção da Senhora Dra. Maria de Aires Silveira e a inexcedível competência da Senhora Dra. Maria de Jesus Monge.
E não teria a riqueza interpretativa que merece sem o contributo, como sempre excepcional, da Senhora Professora Doutora Raquel Henriques da Silva. -Marcelo Rebelo de Sousa -Presidente do Concelho de Administração da Fundação da Casa de Bragança
“…a memória do Rei e do País, de modo alargado e generoso” - Paulo Henriques -Diretor do Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado
Um álbum é um objeto singular, repositório de imagens reunidas com as mais diversas intencionalidades que têm em comum a vocação primeira de legar memória.
Obra de um único autor, ou partilhada com parentes intelectuais ou de sangue, o álbum obriga a um manuseamento e observação por um único espectador de cada vez, devido à sua formatação em livro.
Ocorre a palavra intimidade a propósito dos álbuns: pessoal à vontade de quem recolhe e associa as imagens; pessoal também à atitude de quem as observa e interioriza, não diferente dos livros de devoção da Idade Média e do Renascimento, obras-primas de imagens e caligrafia para uso privado de personagens de raro estatuto social
.
(…..) Auto-retrato do Rei D. Carlos através dos lugares de que foi Morgado, como refere Raquel Henriques da Silva, terá sido também a apresentação do seu Portugal à jovem Princesa de Orleãs, a futura Rainha D. Amélia que o conservou consigo até á morte, em 1951.
Em data da efeméride dos 150 anos do nascimento de D. Carlos de Bragança, Rei de Portugal, esta edição é justa homenagem a um soberano que conheceu e amou profundamente o seu país, com utopia e desejo de modernidade, económica e cultural.
Através desta edição do Álbum de Jornadas divulga-se a memória do Rei e do País, de modo alargado e generoso, facto possível pelo entusiasmo esclarecido do Presidente da Fundação da Casa de Bragança, Professor Marcelo Rebelo de Sousa, e do empenho rigoroso da diretora do Museu-Biblioteca em Vila Viçosa, Dra. Maria de Jesus Monge.
Expresso a minha gratidão por este desafio e excelente colaboração.
Paulo Henriques - Diretor do Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado.
"Dos álbuns existentes, relacionados com a arte do desenho, este é o mais qualificado e mais controlado do princípio ao fim" - Lê-se no texto introdutório de Raquel Henriques da Silva
Álbum das Jornadas 1885, do Rei D. Carlos de Bragança
"Álbum das Jornadas 1885 é uma espécie de casa de acolhimento para 154 desenhos e aguarelas, realizados ao longo desse ano por D. Carlos. Como acontece com outros álbuns do mesmo autor, trata-se de registos ´sobre o motivo´ em cadernos de formatos e tipologia de papéis diversos, depois de transferidos, através de colagem simples, para as folhas de um álbum de bastante maiores dimensões que, ao longo das cento e cinquenta folhas numeradas, acolhe de um até seis trabalhos por folha. Actualmente, a documentação não nos permite saber se o álbum de acolhimento – que tem o selo da Casa Férin de Lisboa, onde terá sido comprado – foi organizado pelo próprio artista. Sem dúvida que o título Álbum das Jornadas 1885, aposto em letras desenhadas a lápis de cor, é obra sua. Creio que, pelo menos as primeiras páginas, terão também sido por ele organizadas, sobre uma selecção de desenhos vindos de diversos cadernos de bolso, desmembrados para o efeito, por simples acto de arranque das respectivas folhas, embora, em casos raros, possa ter havido recortes. Mas a partir de certa altura, que não é possível precisar com rigor, deve admitir-se que a selecção e disposição de desenhos possa ter sido realizado por outrem que, no essencial, seguiu, o espírito da obra em construção, guiada pelo conceito eficaz de ´jornada´. Há outros casos , na vastíssima obra, em que se verifica a mesma situação: D. Carlos decide fazer um álbum, define o seu tema, começa a organizá-lo, com gosto e artisticidade mais ou menos caprichosa, e depois …. ou o abandona incompleto (também no caso em estudo há algumas folhas em branco intercaladas) ou de critério ou de qualidade estética final
Dos álbuns existentes, relacionados com a arte do desenho, este é o mais qualificado e mais controlado do princípio ao fim. Um dos traços dessa unificação é o facto, muito importante para a reflexão histórica , de quase todos os desenhos e aguarelas, embora raramente assinados, estarem datados (sempre 1885) e tratarem , tematicamente , sítios precisos, também na quase totalidade, identificados em legenda, mais ou menos desenvolvida, aposta, parece que pelo seu autor, no primeiro desenho. Há raros casos de dupla legendagem ou dupla datação, uma delas (certamente a inicial) em traço leve e outra, a definitiva (aposta após a colagem no novo suporte?), sempre num traço firme e muito marcado, outro elemento de unificação do álbum, gerador de uma ritma expressiva ao longo do seu manuseio.
(…) Como artista, D. Carlos foi um ilustre
membro da segunda geração naturalista da pintura portuguesa, aquela que expôs
regularmente no Grémio Artístico, fundado em 1891, e, depois, na Sociedade
Nacional de Belas Artes, desde 1901, neste caso numa dimensão nacional que
faltava à primeira associação, predominantemente lisboeta. Não sendo objectivo
deste texto reflectir sobre o conjunto da obra do artista interessa aqui
realçar que, apesar dos bons professores que teve, ele foi essencialmente um
auto-didacta, muito vocacionado e talentoso, como provam os seus desenhos
infantis e juvenis. Em 1885, continuava a ser o principal meio técnico através
do qual exprimia, numa obra vastíssima, dispersa por colecções públicas e
particulares, a grafite e a carvão, manter-se-á, ao longo da breve carreira,
como recurso permanente, particularmente amado e dominado. Aliás, o pleno
domínio técnico das infindáveis virtualidades expressivas desses materiais,
existe já em 1885 como bem manifesta a elevada qualidade da maioria das obras
recolhidas no Álbum
Raquel Henriques
da Silva - Carcavelos, Junho de 2013
Excertos
de um interessante e aprofundado ensaio
(ACTUALIZAÇÃO)
(ACTUALIZAÇÃO)
Marcelo Rebelo de Sousa – É o 20º Presidente da
República Portuguesa http://www.publico.pt/politica/noticia/a-tomada-de-posse-de-marcelo-rebelo-de-sousa-ao-minuto-1725618 Um simpatizante da monarquia à frente dos destinos da República de
Portugal Marcelo Rebelo de Sousa 20º Presidente da República
09-03-2016 -Marcelo Rebelo de Sousa jurou
esta quarta-feira, 9 de Março, sobre a Constituição da República Portuguesa,
como 20.º Presidente da República Portuguesa. Eram 10:10. O novo Chefe de Estado tomou posse no
Parlamento, perante o plenário da Assembleia da República, comprometendo-se a "defender, cumprir e fazer cumprir
a Constituição da República Portuguesa".
3 comentários:
Qual o preço deste livro? Onde está disponível?
Olá Miguel. O álbum é distribuído pelo Museu do Chiado, em Lisboa - Não me consta que esteja à venda noutro local. E a edição é limitada
Obrigado pelo seu interesse
Obrigado pela resposta. Cumprimentos
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