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sexta-feira, 10 de agosto de 2012

JORGE AMADO - CEM ANOS HOJE, SE FOSSE VIVO: A LEMBRANÇA DO ESCRTOR QUE EU CONHECI: SIMPLES, ÍNTEGRO E VERDADEIRO: COMO PESSOA E COMO MESTRE DA ESCRITA - DOS MUITOS LIVROS QUE RETRATAM O POVO DA SUA ADORADA BAHIA - UNS DIAS ANTES DA MORTE DE GLAUBER ROCHA, ELE FALOU-ME DO SEU "IRMÃO DE SANGUE"

Se fosse vivo, completaria hoje 100 anos. Mas deixou-nos em 6 de Agosto de 2001 - Poucos dias antes dos seus 89 anos. Hoje, no  Brasil - e também em Portugal - é recordado o seu nome, através de várias iniciativas culturais. 
 Centenário de Jorge Amado relembra escritor que 'melhor escreveu um país'
.

Admiro a sua obra e a sua personagem: sim, Jorge Amado, fora também ele uma personagem: de algum modo auto-biográfica  nos seus romances: simples, generosa, sincera, inteligente e sensível. Jorge era Povo! Ele escrevia o que verdadeiramente sentia e observava. Ele não era dos escritores que se fazia caro com os seus leitores ou com as pessoas que o abordassem: era sempre amável. A todos atendia da mesma forma, como se fossem a extensão da sua  própria família. Entrevistei-o várias vezes, tal como a sua mulher, a escritora, Zélia Gattai. Em Lisboa, no Hotel São Jorge, onde o casal costumava ficar hospedado, e também no Estoril, onde a imagem foi registada. Claro que jamais me esquecerei desses agradáveis diálogos. De resto, ainda tenho comigo os registos.

O vídeo seguinte é de minha autoria - Foi registado no principio de Agosto - São palavras de Nuno Lima de Carvalho, de quem sou amigo, desde os anos oitenta. O Director da Galeria de Arte do Casino Estoril é um apaixonado pela cultura brasileira. Expôs vários artistas brasileiros. E teve, em Jorge Amado e em Zélia Gattai, dois dos seus maiores amigos - Foi convidado pelo ex-Presidente Sarney para participar nas celebrações do centenário do nascimento do grande escritor baiano. Na visita que fiz ao Salão de Pintura naif, Lima de Carvalho, que ali se encontra exposta até Setembro, deu-me o prazer de recordar algumas facetas do seu Jorge Amado.



 O DIA EM QUE JORGE AMADO ME FALOU DO CINEASTA  Glauber Rocha  - "MEU IRMÃO DE SANGUE" - CLARO QUE ELE QUERIA REPORTAR-SE AOS LAÇOS CULTURAIS E À PROFUNDA AMIZADE E ADMIRAÇÃO, COM QUE SE RELACIONAVAM E SE IDENTIFICAVAM

 Poucos dias antes da morte de , Glauber Rocha, deu-se este episódio curioso: ao encontrar-me, casualmente,  com Fernando Namora, à porta da Rádio Comercial,  ele sugeriu-me para ir entrevistar Jorge Amado, ao Hotel São Jorge (onde também ficava hospedada a sua grande amiga Beatriz Costa (que igualmente tive o prazer de entrevistar noutra oportunidade)  e pedir-lhe para que dirigisse uma mensagem de conforto ao seu grande amigo, visto ele estar muito adoentado no Hospital da Cuf.  Assim fiz. Jorge ficou muito sensibilizado, tendo dirigido palavras muito afectuosas e de estímulo ao consagrado realizador, seu compatriota. Tendo-me pedido, inclusivamente, se não me importava de lhe telefonar para o informar da hora em que a entrevista ia ser transmitida. Claro, que o fiz com muito gosto. Glauber ficou muito emocionado por saber que Jorge Amado ia mandar-lhe uma mensagem amável, no programa Café Concerto, de Maria José Mauperrim, que ele já conhecia:  Perguntei-lhe se não se importava de me dar uma entrevista: "como muito gosto! Quando você quiser" . Estávamos em meados de Agosto: a entrevista ficou combinada para uns dias depois: só que, entretanto, já havia partido para o Brasil, em estado muito crítico, no fundo, para ir morrer à sua adorável pátria brasileira.





GLAUBER ROCHA ERA UM AMIGO DE PORTUGAL E ADMIRADOR DA CULTURA QUE UNE OS DOIS POVOS IRMÃOS  E TINHA EM CURSO VÁRIOS PROJECTOS CINEMATOGRÁFICOS MUITO INTERESSANTES, QUE TEVE DE SUSPENDER POR FALTA DE APOIOS  - POIS FOI MALTRATADO E NÃO TEVE O JUSTO RECONHECIMENTO PELO PODER POLÍTICO - É O QUE SE PODE DEPREENDER PELO TESTEMUNHO, QUE TOMO A LIBERDADE DE AQUI REPRODUZIR: 

 
(...) Em Sintra, Carlos Pinto, técnico português de cinema, o hospeda por algum tempo na sua casa, na Casa das Magnolias até hoje recorda-se da frase do cineasta numa das primeiras vezes em que encontraram-se:
     — Venho aqui para Sintra para morrer. É o lugar mais bonito que conheço, já vivi em vários lugares do mundo e agora quero descansar.
     A 3 de fevereiro, Glauber Rocha encontra o Presidente da República, João Baptista de Oliveira Figueiredo que acabara de visitar um shopping center na cidade portuguesa de Cascais. A caminho de seu carro, o presidente identifica, em meio a multidão de curiosos, a figura de Glauber Rocha, que acena-lhe. Figueiredo acena também, aproximam-se e apertam as mãos, seguido de forte abraço, é trocado entre os dois. Figueiredo diz:
     — Glauber, você é que é feliz, porque pode respirar este ar longe das exigências do protocolo.
     — Toca para a frente o seu programa de Abertura, presidente. Diz então Glauber Rocha ao chefe de governo.
     Em março, foram assinados os acordos luso-brasileiros.
     Ainda recuperando-se da pericardite, a 8 de abril, Glauber Rocha concede longo depoimento ao crítico português João Lopes.
     Glauber Rocha com as olheiras habituais e malbarbeado, aparentemente não passando um aspecto absolutamente doente, aparece no vídeo "Sintra is a beautiful place to die".
     Em junho, está pronto a primeira fase do cenário do filme, que se chamará "O Império de Napoleão".
     No mês seguinte, o secretário de Estado da Cultura demite a administração do Instituto Português de Cinema, pondo fim à política que ele vinha desenvolvendo. O novo ministro empossado, Antônio Brás Teixeira, suspende o financiamento prometido.   Glauber Rocha mostra-se extremamente preocupado e adoece com profundo desalento.
     Glauber Rocha ofegante com uma cor muito macilenta e ferrosa senta à mesa na casa de João Ubaldo Ribeiro em companhia do escritor Jorge Amado e de Márcio Sousa, para compartilharem uma feijoada.
     — Você tá amarelo, tá anêmico, precisa se tratar... Diz, João Ubaldo Ribeiro.
     Glauber Rocha reponde puxando a bolsa do olho procurando sinal de algum glóbulo vermelho.
     A 30 de julho, Glauber Rocha, descobre que está tuberculoso, com o pulmão direito fudido e o esquerdo avariado com possibilidades de kanzer!
     A 3 de agosto, está muito doente e estendido na cama solta sangue pela boca. Com a saúde em declínio irremediável é internado num hospital próximo de Lisboa para tratamento de problemas broncopulmonares.
     No leito do apartamento 26, do Hospital da CUF, Glauber Rocha semiconsciente, chega a dizer:
     — Miguel, nada deu certo. Portanto, acho que a cinematografia de língua portuguesa voltou a ser um mito que deverá ser novamente reconstruído. Sob suspeita de tuberculose, logo fala-se em broncopneumonia, Glauber Rocha sem ter consciência de que está muito mal e apesar de estar no oxigênio e um pouco sem fôlego, faz comentários exaltados sobre a oposição e discursos sobre a “dialética da enfermidade”. Quer voltar ao Brasil para evitar que Golbery saía do Governo.
     "Um dia recebo um telefonema me convidando a participar de uma reunião no hospital juntamente com a Paula Gaetan, o João Ubaldo Ribeiro, o Jorge Amado e a mulher, dois médicos e o embaixador do Brasil. Ficou decidido que ele seria mandado para o Brasil. E agora é que eu vou abrir o bico: eu ouvi tanta besteira nesta reunião! Só se falou em drogas, com uma argumentação absolutamente primária. O hospital era muito conservador. Fazia um calor insuportável e o Glauber saía sem roupa pelo corredor. Ele era um personagem que agitava o hospital. Glauber estava um pouco inchado, com o aspecto horrível. A vinda dele para o Brasil foi decidida muito mais em função da coisa antidroga dos médicos portugueses do que por qualquer outro motivo". (Carlos Marques).
     A 20 de agosto, Glauber Rocha em estado de coma, é trazido para o Brasil.
     Rio de Janeiro, 21 de agosto, depois de 13 horas, sem soro e negligentemente assistido, uma vez acompanhado apenas por sua família e um policial nas funções de enfermeiro, chega ao Galeão ao amanhecer de sexta-feira. Ao vê-lo, o médico Pedro Henrique impede sua transferência para o hospital, exigindo que antes passasse pelo ambulatório do próprio aeroporto. Transportado em ambulância do aeroporto Santos Dumont, para o Centro Médico Bambina, em menos de uma hora, verifica-se a origem do mal, constatando, que a “broncopneumonia” instalara-se no organismo do cineasta há quarenta dias, aproximadamente. Mas, certamente, ele vinha sofrendo de septicemia (estado infeccioso em que há no organismo um ou diversos focos, que lançam periódica ou continuamente, os germes no sangue) nos últimos cinco dias ainda em Portugal, mas ninguém refere-se ao fato no relatório dos médicos portugueses. Nada pode-se fazer.
 Corredores frios de hospital e febre alta, Glauber Rocha sua muito e pergunta outra vez por sua mãe, dona Lúcia, seu corpo está nu e os tubos de borracha entram-lhe pelo nariz, ele parece o Cristo do Terceiro Mundo, visto de baixo, dos pés da cama, e lá no ar seu queixo ergue-se tentando engolir o ar da orla. Na cama da agonia apertam-lhe a mão e os joelhos, querendo impedir que ele vá, a luz que não queríamos que extinguisse ruma ao túnel junto com o mistério e as profecias de um Brasil sensível e popular que recentemente expira. Na parte da tarde, Glauber Rocha está inconsciente, em estado de coma. Olhos pisados, desalento, ombros caídos, e suas últimas palavras referem-se aos filhos.
     Sábado, 22 de agosto, 24 horas depois de chegar ao Rio de Janeiro vindo do aeroporto de Lisboa, Portugal; Glauber Rocha aos 42 anos falece em Botafogo, os últimos carinhos pela porta entreaberta. No relógio 9h20" - Excerto de GLAUBER MORTO! 27 ANOS ATRÁS, O BRASIL





"Filho de João Amado de Faria e de D. Eulália Leal, Jorge Amado de Faria nasceu no dia 10 de agosto de 1912, na fazenda Auricídia, em Ferradas, distrito de Itabuna - Bahia. O casal teve mais três filhos: Jofre (1915), Joelson (1920) e James (1922).

Com apenas dez meses, vê seu pai ser ferido numa tocaia dentro de sua própria fazenda. No ano seguinte uma epidemia de varíola obriga a família a deixar a fazenda e se estabelecer em Ilhéus. Em 1917 a família muda-se para a Fazenda Taranga, em Itajuípe, onde seu pai volta à lida na lavoura de cacau.

Em 1918, já alfabetizado por sua mãe, Jorge retorna a Ilhéus e passa a freqüentar a escola de D. Guilhermina, professora que não hesitava usar a palmatória e impor outros castigos a seus alunos. No ano de 1922 cria um jornalzinho, "A Luneta", que é distribuído para vizinhos e parentes. Nessa época vai estudar em Salvador, em regime de internato, no Colégio Antonio Vieira, de padres jesuítas. " - Excerto deJorge Amado - Biografia

"Além da escrita, Jorge Amado teve uma vida política ativa. Tornou-se membro do Partido Comunista Brasileiro (PCB), no tempo em que o Brasil vivia sob a ditadura de Getúlio Vargas. Rotulado de subversivo, viu vários exemplares do livro «Capitães da areia» queimados em praça pública, e optou por exilar-se na América Latina. Voltou pouco antes do fim do regime de Vargas, a seguir à II Guerra Mundial, e foi eleito membro da Assembleia Nacional Constituinte. Foi o responsável pela lei, em vigor até hoje, que garante a liberdade de culto no Brasil.

Quando o PCB volta a ser ilegalizado, em 1948, volta a exilar-se, agora na Europa. Conhece nesse período figuras grandes da cultura como Pablo Picasso ou Jean-Paul Sartre, antes de voltar ao Brasil, em 1950, afastando-se de vez da política ativa.

Continuou a escrever, sempre. Foi traduzido em 49 línguas e publicado em 55 países, estima-se que tenha vendido mais de 20 milhões de livros. Muitas das suas obras foram adaptadas a cinema e televisão. Ganhou inúmeros prémios literários, foi muitas vezes apontado como candidato ao Nobel." - Excerto de .Jorge Amado: 100 anos a escrever o Brasil.


 POETA MÁRIO CESARINY  - COMPLETARIA ONTEM  83 ANOS MAS PARTIU AOS 77

Não me lembrei ontem mas não me esqueci hoje de um poeta de quem também fui amigo e grande admirador. Aqui fica, como singela homenagem, um dos seus poemas e uma  foto com ele, no intervalo de um filme que lhe foi dedicado.

Lembra-te Lembra-te
que todos os momentos
que nos coroaram
todas as estradas
radiosas que abrimos
irão achando sem fim
seu ansioso lugar
seu botão de florir
o horizonte
e que dessa procura
extenuante e precisa
não teremos sinal
senão o de saber
que irá por onde fomos
um para o outro
vividos



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