.VIRGÍLIO FERREIRA - É um dos maiores vultos da literartura portuguesa - Se fosse vivo, completaria 96 anos . Quis, porém, o destino, que partisse para a eternidade aos 80 anos, no dia 1 de Março de 1996, na sua casa de campo, em Fontanelas.
Tive o prazer de
ser um dos seus amigos. Desde que, nos princípios dos anos 80, me desloquei a
sua casa, por razões de ordem profissional, em dia do seu aniversário, fiquei
de tal maneira impressionado pelas palavras do escritor, no pano
intelectual e da sua escrita, que, praticamente, todos os anos, passei também a
ser uma das poucas visitas que, o autor de Manhã Submersa, recebia em sua casa. Tenho
ainda nos meus arquivos vários registos gravados e algumas fotografias, que
guardo com muito gosto - duas das quais aqui publico.
Já lhe dediquei
uma postagem, neste blogue.VERGÍLIO FERREIRA - E O QUE O AUTOR DE "O CÂNTICO FINAL
PENSAVA SOBRE A MORTE Todavia,
quero também, hoje aqui lembrá-lo e evocar a sua memória. Era do signo aquário
e, coelho, do signo chinês – Curiosamente, do mesmo signo, ocidental e chinês
de José Mourinho.
Às 15 horas do dia 28 de Janeiro, sexta-feira, de 1916, em Melo, concelho de Gouveia, nasce Virgílio António Ferreira, filho de António Augusto Ferreira e Josefa Ferreira.
Em 1920, os pais de Vergílio Ferreira emigram para os Estados Unidos, deixando-o, com seus irmãos, ao cuidado de suas tias maternas. Esta dolorosa separação é descrita em Nitido Nulo. A neve - que virá a ser um dos elementos fundamentais do seu imaginário romanesco é o pano de fundo da infância e adolescência passadas na zona da Serra da Estrela.
Aos 10 anos, após uma peregrinação a Lourdes, entra no seminário do Fundão, que frequentará durante seis anos. Esta vivência será o tema central de Manhã Submersa.
Em 1932, deixa o seminário e acaba o Curso
Liceal no Liceu da Guarda. Começa a dedicar-se à poesia. Entra para a Faculdade
de Letras da Universidade de Coimbra, continuando a dedicar-se à poesia, nunca
publicada, salvo alguns versos lembrados em Conta-Corrente e, em 1939, escreve
o seu primeiro romance, O Caminho Fica Longe. Licenciou-se em Filologia
Clássica em 1940. Conclui o Estágio no Liceu D.João III (1942), em Coimbra.
Começa a leccionar em Faro. Publica o ensaio "Teria Camões lido Platão?"
e, durante as férias, em Melo, escreve "Onde Tudo Foi Morrendo". Em
1944, passa a leccionar no Liceu de Bragança, publica "Onde Tudo Foi
Morrendo" e escreve Vagão "J". Na sua vida de professor liceal,
há dois monumentos fundamentais: a sua estada em Évora (1945-1958) - que
entrará para o nosso imaginário através de Aparição - e a sua vinda para Lisboa
(1959), onde ensinou no Liceu Camões até à sua reforma.
A primeira fase do seu percurso romanesco,
agora retirada da edição da Obra Completa enquadra-se no neo-realismo então
vigente. Ainda assim, Vagão J (1946) opera já uma pequena revolução sem
consequências: o movimento neo-realista passou-lhe ao lado, e o autor, perante
a incompreensão da crítica, recuou e só viria a reincidir muito mais tarde.
Com Mudança (1949) começa Vergílio
Ferreira a conquistar a sua voz própria. Aliás, em maior rigor, dever-se-ia
dizer que é a voz própria que começa a conquistar o seu autor. De facto,
Mudança estava arquitectado para ser um romance neo-realista exemplar - e em
muitos aspectos é-o; mas é também outra coisa, que posteriormente se veio a
interpretar como sendo a deslocação do neo-realismo para o existencialismo. Tal
deslocação ter-se-lhe-á imposto inconscientemente no processo de escrita,
sobretudo no tratamento do tempo e da figura da infância. Na velocidade do
tempo que estrutura o romance - e que decorre do modo de representação
neo-realista: materialismo histórico e materialismo dialéctico, a figura da
infância enquanto queda para o passado e queda tanto mais desamparada quanto
esse passado não é apenas uma memória mas sobretudo o sem fundo que fecha e
vela o próprio sentido do nosso trânsito pelo tempo, a figura da infância
introduz a desaceleração que toda a hipótese de um sentido arqueológico
introduz. Não significa isso que essa atenção ao mais original solucione os
problemas de sentido - ela desloca apenas as coordenadas da procura. Mas com
esse movimento transforma-se também o modo de representação..Vergilio Ferreira -
Vida e Obra...Vergílio Ferreira -
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.
ALGUNS DOS
PENSAMENTOS DE VIRGÍLIO FERREIRA
Quanto custa
amadurecer. Felizes daqueles que amadurecem cedo. Coitados daqueles que
amadurecem cedo. Quando é a altura de amadurecerem já estão podres.
Conta-Corrente 5
Um grande livro
não é bem o tema e personagens e situações e escrita e tom e tudo o mais que se
quiser: é o que sobra disso tudo e se não identifica com nada disso. E todavia
tal grande livro é mesmo tudo isso com que se identifica.
Conta-Corrente 5
Amanhã é dos
loucos de hoje, diz Pessoa. E dos loucos de amanhã? Se é depois de amanhã, os
tipos com juízo nunca mais têm uma oportunidade. E serão loucos sem amanhã
nenhum.
Conta-Corrente 5 .
Um comentário:
Obrigado pelo comentário -ou pela pergunta - O autor deste blogue é Luís de Raziel - Qualquer semelhança com a realidade é pura especulação heteronomística.
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