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domingo, 17 de outubro de 2010

ANTÓNIO RAMOS ROSA, POETA DO SOL E DA FACILIDADE DO AR, PARABÉNS ! 86 JÁ CANTAM! VENHA O SÉCULO E MAIS VERSOS!

Fotos de autoria de Luís de Raziel

António Ramos Rosa é, sem dúvida, o maior poeta português vivo. Completou hoje 86 anos. Um estilo e uma obra inigualável. Uma palavra que ouça e que lhe agrade é o bastante para imediatamente brotar poesia. Tal qual jorra a água cristalina de uma nascente. Uma palavra que ouça e não lhe agrade, pode também ser o suficiente para o deixar incomodado e abandonar o diálogo. Nele o verbo tem a força fulgurante do raio , o brilho e as cores incandescentes da sua luz. Tive o prazer de assistir a vários desses momentos de luminosa inspiração. Numa altura critica da sua saúde, quando tinha alguma dificuldade em escrever, passei-lhe vários poemas ao papel. Outros, em que o seu manuscrito era quase irreconhecível, levava-os para minha casa para os passar à máquina. Estabeleceram-se entre ambos e a Agripinia Costa Marques, sua mulher, a inseparável companheira e amiga de todos os dias, laços de muita estima e afectividade.

De um momento para o outro, dizia-me: “Jorge, escreva aí.. ." E então lá vinha o poema tal qual lhe tinha aflorado, inteirinho: verso atrás de verso. Depois lia-lho e as correcções só se fossem para corrigir alguma palavra em que eu me tivesse enganado ou de pontuação.

Foi nos anos 80 que falei com ele pela primeira vez: estava hospitalizado, na sequência de uma forte depressão. Afinal própria de um poeta que questiona a existência e a palavra, até ao vazio , ao sublime, ao delírio, à exaustão... A entrevista foi breve mas fascinaram-me as suas palavras. Já conhecia a sua obra, que muito admirava e passei também admirar a sua personalidade. Ao despedir-me, ofereceu-me um dos desenhos que ali fizera. Que guardo, entre outros, que posteriormente, me viria também a oferecer. E até uns poemas para um livro que ainda não cheguei a editar.


Além dos agradáveis momentos, das belas recordações, forjadas nas palavras poéticas que lhe ouvi, nos grados e amistosos diálogos que se estabeleceram, também tive o prazer de o fotografar, em sua casa e noutras situações: dois desses registos, que hoje aqui edito, fazem parte desses variadíssimos testemunhos.

Em dia de aniversário, não quis deixar de o felicitar. Fui cumprimentá-lo à residência (lar) onde está hospedado com a esposa. Foi um cumprimento breve, pois o dia era de alguma intimidade com a família mais próxima. Vi-o um pouco mais velho, que da última visita (pois a idade é já avançada e os anos começam a pesar), sim, mas pareceu-me continuar a ser o poeta que nos deslumbra e surpreende pela extrema clarividência e lucidez: já não me reconheceu eu visitei-o muitas vezes em sua casa. Mas teve esta resposta na ponta da língua: “sabe que, a minha cabeça, com esta idade, pensa apenas nos poemas e mais nada!..." E , encarando-me, olhos nos olhos, com aqueles olhos claros, luminosos, límpidos, que, ao mesmo tempo que se escancaram, parecem perscrutar o fundo das almas, imediatamente acrescenta: “…e olhe que eu leio sem óculos!..”.Ao mesmo tempo recosta-se ao meu braço e tive a sensação que memória o ajudou. Porém, ao notar que o momento era mesmo de família mais chegada, com pena minha (e do pintor João neves, que me acompanhava e que gostaria de lhe apanhar alguns dos traços para lhe oferecer um retrato) não houve tempo para mais. Acabava de transpor a soleira do lar e lá foi amparado pela neta e logo seguida da filha para o centro de um frondoso jardim onde já o esperava a Agripina e um pequeno bolo de aniversário para um convívio mais reservado e amistoso, que se antevia alegre e muito feliz. Pois até uma das empregadas do Lar se admirava por o "sr. António" ter saído à rua. -E porque não?! Com uma tão linda tarde outonal de sol!



De facto, e meditando, atentamente, na nostalgia que geralmente transparece da presente quadra, que sucede ao Estio e antecede ao Inverno, os dias passam de tal maneira a correr que mal se dá conta. A vida é fugaz e muito breve, esvai-se muito rapidamente. Todavia, eu desejo-lhe que perdure e não se desfaça tal qual a bola de sabão soprada por um criança ou a bola neve, como diz outro grande poeta - Mas, afinal, quem poderá contrariar as leis da vida?!...

"A vida é o dia de hoje,
A vida é ai que mal soa,
A vida é sombra que foge,
A vida é nuvem que voa;

A vida é sonho tão leve
Que se desfaz como a neve
E como o fumo se esvai:
A vida dura um momento,
Mais leve que o pensamento,
A vida leva-a o vento,
A vida é folha que cai!"

“- Excerto de João de Deus, notável Poeta Português de outro tempo e de outra geração

Contudo, eu prefiro terminar esta minha singela homenagem, com este seu “ENTARDECER”, extraído do livro - FACILIDADE DO AR

Vejo as vermelhas caudas do crepúsculo
e o verde fulgor do mar.
Lenta é a tarde
e quero demorá-la em densas pálpebras,
consagrando-a à companheira imóvel
na melancólica quietude do casario
em que as consoantes são de espessa pedra e surda plenitude.
Neste murmúrio de sombra ainda tão solar
quero envolver-me cúmplice dos muros
e da côncava expansão do tempo,
até às praias distantes de um sossegado azul.
Assim me alongarei nas mãos da sombra imóvel
com o fogo do silêncio e a melancolia das colinas,
vivendo o instante de um dinamismo lento
em que estar é ser seguro na igualdade.

António Ramos Rosa

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António Ramos Rosa, gosta do espaço azul e dos rubros horizontes de sangue, eu sei - Aqui lhe dedico este vídeo que fui buscar à Internet - palavra que eu sei que não lhe soa bem, tal como a palavra computador. Mas gostarão, certamente, os seus admiradores de ver as imagens de fogo, em que ele tanto se inspira, que tanto os encantam e de escutar a maravilhosa melodia que as acompanha.

Sim, na poesia de António Ramos Rosa, o sol, o mar, a claridade, os grandes espaços, estão sempre presentes. Um dia, respondeu-me em versos, a uns versos meus: simples, despretensiosos e a que dei o titulo: "Poetas!... Vinde Ver o mar! "- Aquele mar que eu vivi intensa e solitariamente, durante quase 40 dias a fio, a que me refiro noutro blogue. Este é o de Luís de Raziel. É a mesma pessoa mas na pele e no espírito de outra personagem. Pelo menos, até ver...

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21 DE JANEIRO DE 2013 ANTÓNIO RAMOS ROSA - UM CAMINHO DE PALAVRAS

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