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terça-feira, 10 de junho de 2008

HOMENAGEM AO POETA FERNANDO ASSIS PACHECO - APÓS A CELEBRAÇÃO DO SOLSTÍCIO 2005 E 2006 - Ergueu aqui os braços em Outubro de 1955, um mês antes de partir para a eternidade


Jorge Trabulo Marques - Jornalista -                                          C

COMO FOI QUE FERNANDO ASSIS PACHECO SE DESLOCOU AO LUGAR DOS TAMBORES - TEMPLOS DO SOL



Sua filha  - Na homenagem




Castro do Curral da Pedra


Actor João Canto e Castro 

SÓ UMA DAS PEDRAS ERA CONHECIDA - A PEDRA DA CABELEIRA - QUE ELE VISITOU - MAS LONGE DE SE SABER QUE ERA ATRAVESSADA PELO SOL NOS EQUINÓCIOS 

Foi em Outubro de 1995. Estava-se em plena polémica das gravuras. Encontrei-o a meio da tarde desse dia, em Foz Côa, e já de regresso do Vale do Côa, para onde fora destacado, em reportagem, pela revista Visão. Embora visivelmente cansado da jornada, saudou-me com um ar de muita satisfação e alegria, parecendo não dar por perdido o esforço da sua missão, cujo contentamento acentuou ainda mais quando me perguntou se eu era daqui. Respondi-lhe que era natural de uma aldeia que também tinha bonitas gravuras, no seu termo, as da Quinta da Barca, junto ao Côa, e uma fragas muito curiosas, nas proximidades, que gostaria que visitasse

O Saudoso poeta Manuel Daniel,  vitima da Covid, na Pedra dos Poetas, anos depois 





 
Maria do Rosário Pinto Ruella Ramos - mulher do falecido poeta e os seus dois filhos: João Ruella Ramos Assis Pacheco; Rosa Ruella Ramos Assis Pacheco - num convívio com a população local, que teve lugar após a
celebração do solstício e a cerimónia de homenagem a Fernando Assis Pacheco.


E foi então que, acendendo amavelmente ao meu convite, surgiu a oportunidade de se deslocar, com o repórter fotográfico, José Oliveira, até à Pedra da Cabeleira de Nossa Senhora, bem como a outros locais da área, que o deixariam verdadeiramente encantado, tendo mesmo prometido ali voltar! – E longe ainda de se saber que existiam os tais fenómenos solares, que, mais tarde, eu pessoalmente haveria de descobrir E muito menos de se imaginar que esta seria a sua despedida para sempre?





JÁ SE HAVIA POSTO O SOL QUANDO DALI SAÍAMOS - e também já estava a fazer-se demasiado tarde para a longa viagem que tinham pela frente, até Lisboa. Ao vê-lo tão feliz , quando descíamos do alto do Castro do Curral da Pedra, onde se avista uma panorâmica, de raro alcance e beleza, e ao passarmos junto a uma pedra que parecia quase um pequeno altar, disse-lhe: Olha, Fernando! Já que vais tão contente, sobe para aquela pedra e agradece ali aos deuses que aqui foram adorados, pelos antigos povos; agradece-lhe a tua vinda aqui! E assim fez, irradiando uma enorme alegria, abrindo espontaneamente os braços aos céus, num largo e expressivo sorriso, voltando-se em várias posições para com os quadrantes da Terra e repetindo umas palavrinhas que, em jeito de evocação, eu lhe dissera. A última das quais foi com a mão esquerda estendida ao longo do corpo e a direita apontando para onde se havia posto o sol! – Hoje quando revejo essa imagem só penso numa coisa: que aquela direcção para onde ele então apontava, só poderia estar já a indicar-lhe o caminho da eternidade!... O caminho dos deuses! Como não tinha película na máquina, pedi um rolo emprestado ao José Oliveira. Ele foi ainda mais generoso, registou o momento e deu-me o negativo.


A MORTE UM MÊS DEPOIS - Um mês depois, e justamente quando dali regressava a casa, ao ligar o rádio, qual não é o meu espanto e a minha tristeza quando ouço a notícia da sua morte, que o surpreendeu com uma mão cheia de livros à saída da livraria Bucholz, em Lisboa.

Foi a 30 de Novembro, aos 58 anos .No dia seguinte dirigi-me à mesma pedra e, com ajuda de um pequeno cinzel, fixei, dentro de um pequeno triângulo, as iniciais do seu nome, como singela homenagem à sua memória. Depois disso, já por lá passei muitas vezes, e, sempre que por ali passo, não deixo de o imaginar lá, com a mesma postura e expressando aquele seu largo sorriso aberto, que, aliás, lhe era tão familiar e que os seus entes queridos e muitos amigos, dificilmente esquecerão


. Olá Fernando! ainda te vejo
Ali a sorrir e abrir os teus braços!

Sempre que por ali passo, não deixo de me lembrar de ti
e de olhar o centro da mesma pedra, o pequeno altar granítico
que emerge quase ao rés-vés com o distante horizonte a poente,
num dos pontos mais destacados do vasto planalto rochoso,
sulcado de morros e giestas! - E, ao deter-me junto a ele,
ao circunvagar tudo à minha volta, dificilmente
perco a oportunidade de contemplar
os mesmos espaços que tu abraçaste
num sorriso e num abraço, tão largo,
tão amplo e aberto, que dir-se-ia
quereres ao mesmo tempo respirar
aqueles puros ares e abraçares todo o Universo!...


 








Lembras-te, ó Fernando, como tudo aconteceu,
antes de te convidar a ires à minha aldeia? .... Encontrei-te
em Foz Côa! Acabavas de chegar do Vale Sagrado,
de mais um trabalho jornalístico – Fisicamente,
dizias que vinhas um bocado arrasado. Tinhas razão:
o Outono já ia avançado. O tempo ainda aquecia;
já não era o sol moreno e abrasivo do Verão,
mesmo assim, aquele dia de Outubro de 95, havia sido bem quente: “A vila
é bonitinha. O clima da região atira nesta época do ano para os trinta
graus à sombra.” Recordo o pormenor da tua reportagem
para a Revista Visão – Aquele que viria a ser
o teu último trabalho!
De facto, contornar aquelas ladeiras, dar um salto
à Quinta da Barca, fazer uma descida pelos trilhos
da íngreme Canada do Inferno,
visitar os diferentes núcleos de gravuras
ao fundo do rio, mesmo indo de jipe nalguns percursos,
descendo e subindo, com um calor daqueles,
é muito cansativo. A visita compensa mas é desgastante.
No entanto, a alegria que transparecia no teu rosto,
ocultava o teu cansaço.

.Pois, mal saías de uma aventura, não hesitaste
em meter-te noutra - Sinal
de que tinha valido a pena
aquelas tuas descidas
ao fundo do Côa, ao mais longínquo
fundo dos tempos?

Na verdade, sempre que por ali vagueio,

por aqueles ermos lugares da minha aldeia,
não deixo de me lembrar de ti,
como se estivesse
ainda a ver-te abrir os braços aos céus,
coroados por aquele teu largo sorriso,
que te era tão pessoal, tão genuíno e tão teu!

Olhando à volta, ainda lá vejo recortado
o teu vulto, como que projectado
na linha do sol posto,
recortado com um perfil humano
por todo o espaço!








Vejo-te ainda com uma das mãos,
estendida ao longo do corpo
e, com a outra, apontada ao crepúsculo
com aquele olhar compenetrado,
como se quisesses descortinar
o que haveria para lá da mancha doirada
e rosácea, que se estendia acima do horizonte,
ao longo da extensa cordilheira dos montes,
e no sentido de sul para norte,
muito para lá do vale e da sinuosa linha,
onde o sol, momentos antes, se havia despedido
daquele nostálgico fim de tarde outonal.
Ao qual tu agora te rendias, plantado
no centro daquela pedra,
num gesto tão aberto, num esgar
tão vigoroso e arrebatado!…
- Oh ímpetos incontrolados da alma!
Oh misteriosos delírios de luz!
Oh trágicos prenúncios, inesperados símbolos da vida! –
Não era quereres respirar a pureza daqueles largos ares
ou sentires a emoção da plenitude da sua beleza
- oh misteriosas alturas! - mas tocares,
bem de perto, com o teu peito, o teu coração
e as tuas mãos, os místicos confins do Cosmos,
as maravilhas, os enigmas do Infinito!


Como se já intuísses ou adivinhasses
através dos teus versos proféticos
- ó poeta do “OS ÚLTIMOS DESEJOS”,
cujo repto há muito havias lançado -
que o verdadeiro caminho que te esperava,
Era “ voar como os Anjos”
Seguires em frente, a poente - além
do vasto e esmorecido horizonte


.
.













E, talvez, tomasse então a via

onde o sol se havia escondido,

instantes antes, suave,
nostálgico, chamejante e triste….
Naquela direcção, entre os quatro pontos,
onde estendeste a mão e mais te fixaste,…
E que ali se abria, escancarava,
tão amplamente e tão misteriosa,
ao teu olhar rendido e emocionado,
como se, de facto, aquela via
fosse a grande estrada, premonitório,
que, ali, já previamente, traçavas
a caminho da indecifrável eternidade!


Lusa -A Festa do Solstício de Verão - o dia mais longo do ano para o Hemisfério Norte - constou de um cerimonial que integrou música, poesia e a evocação de sacrifícios e rituais celtas

Os festejos aconteceram ao pôr-do-sol, no local onde existe um antigo altar de pedra e um megálito [construção granítica] com três metros de diâmetro.


Os participantes - incluindo o actor e músico João Canto e Castro que se associou ao evento - tiveram oportunidade de testemunhar a passagem dos raios solares sobre o eixo da Pedra do Solstício.

"Estamos aqui a comemorar o Verão tal qual como ele foi comemorado há milénios, com a presença de druidas vestidos com túnicas brancas, trazendo o seu bordão e transportando cordeiros ao ombro", disse Jorge Trabulo Marques, da comissão promotora dos festejos.

Há hora prevista - cerca das 20:45 - Jorge Trabulo Marques, jornalista e investigador que tem estudado o fenómeno, pediu silêncio à ruidosa assistência.

"É um momento de recolhimento e de meditação", disse Jorge Trabulo Marques, minutos antes de ter soado o rufar dos tambores e de João Canto e Castro ter tocado em viola de arco, uma área de Sebastião Bach, acompanhado por Jorge Carvalho (pandeireta) e Gonçalo Barata (acordeão).

O momento do solstício foi vivido com muito entusiasmo por parte dos presentes, a maioria habitantes da freguesia de Chãs, Vila Nova de Foz Côa.

Olívia Domingues, de 78 anos, residente na aldeia, esteve atenta a todos os pormenores dos festejos e no final disse à Agência Lusa que tinha "gostado muito".

"Vi riscos vermelhos e amarelos na pedra, parecia um guarda-chuva", descreveu após assistir ao momento em que os raios solares incidiram sobre o eixo do gigantesco pedregulho.

"Nunca tinha visto, sou daqui mas foi a primeira vez que aqui vim, porque me disseram que isto era muito bonito", concluiu.

João Canto e Castro também se mostrou satisfeito por ter participado na celebração do Solstício do Verão.

"Estou encantado com isto. Nunca tinha visto uma coisa tão bonita. Estou admirado com a beleza do local", disse.

"Isto é uma coisa fantástica, merece ser vista por todos", acrescentou o actor e músico, sublinhando que no próximo ano espera regressar ao local, que se situa a cerca de um quilómetro da localidade de Chãs.

"Espero voltar e trazer uns amigos para não perderem este magnífico acontecimento", disse à Agência Lusa.

Por seu lado, o presidente da Junta de Freguesia de Chãs, António Pimentel, afirmou que pela primeira vez a autarquia se envolveu nos festejos do Solstício do Verão, melhorando os caminhos de ligação ao local onde se encontra a Pedra do Sol ou Pedra do Solstício.

O autarca referiu que tendo em conta a importância do sítio dos Tambores - onde também existe uma outra pedra conhecida por Cabeleira de Nossa Senhora onde no dia 21 de Março foi festejado o Equinócio da Primavera - vai interceder junto do Parque Arqueológico do Vale do Côa para que aquele local seja "devidamente estudado e integrado nos roteiros turísticos desta região"


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