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sábado, 20 de julho de 2024

Os tubarões atacam nas horas mais mortas e agoirentas que antecedem os tornados, as mil tormentas - Seus ínvios instintos dos monstros não perdoam, mas não cruzei os braços, enfrentei-os e defendi-me da sua afiada e serrilhada lâmina dentária



                                                                  Jorge Trabaulo Marques 

 

      

                      

Leão dos mares há 49 anos 38 dias numa piroga - Os tubarões monstros 
atacam nas horas equatoriais mais mortas e agoirentas 
que antecedem os tornados, as mil tormentas! –
 Seus ínvios instintos monstruosos não perdoam!...
De comedores de homens- Dentuça pronta e afiada!
São reações piores que lâmina solta de fio de espada!

Mas nunca me rendi! Nem cruzei os braços!...
Nunca me dei por vencido e resisti!
Sempre me defendi de braço erguido!
À flor do mar e acima da crista
da mais alterosa vaga!
Girando-o lesto e de punho firme
em torno do frágil madeiro escavado
e a cortes de impiedosa e veloz catanada!
                          


A sós, com a minha intimidade mais profunda e solitária!
Evitando ser triturado pela sua cruel lâmina
serrilhada e afiada!
Sim, assustei-me dos brutais e fulgurantes ataques!
Que inesperada e traiçoeiramente me provocavam!
Desencadeados pelo maior criminoso dos mares!
Dos súbitos e ferozes impactos! - Dos seus horrores!
Das surtidas de cruéis e inveterados salteadores!

Seja o martelo ou o tigre! O branco! O azul! Ou outra cor!
O raposa! O frade! Seja qual for a espécie ou tamanho for!
- e muitas são! - Excetuando o tubarão-baleia!
- Enorme mas inofensivo! - Até brincalhão!
- Não é perigoso ou devassador!

Quando circundam de barbatana dorsal em riste
O pescador! O velejador ou náufrago, não perdoam!
Atiram-se como lobos contra o frágil ou rijo costado!
Seja no Atlântico Equatorial
Nos confins do Índico ou do Pacífico!
Mas, no conturbado Golfo da Guiné, onde me perdi?!...
Oh Deus!... Quantas investidas!.. Quantos tormentos eu não sofri!..
Perdido, sozinho, na vastidão do maior palco da pirataria humana!
Por isso, recordo de os olhos toldados de lágrimas estas sentidas palavras:
O mar não me dá tréguas!...
Não me dá uma pausa de descanso!...
Raros os momentos de absoluta tranquilidade!..
Tenho sempre o meu coração suspenso, em sobressalto!
Todos os meus sentidos em alerta máximo!.


Mas a minha tristeza e o meu infortúnio
nem sempre me deixam isolado... também têm
os seus visitantes inesperados!... –Mas muito indesejados!...
Mesmo assim, ignoram os meus pacíficos sentimentos
e não deixam de voltar com assiduidade!..
Quando vêm em cardumes, não se demoram...
Espalham-se para todos os lados, e, conforme chegam,
assim desaparecem!... Mas, quando solitários, e bem maiores,
noto que não há nada que os amedronte e lhes refreie o instinto
de vorazes predadores... 
Por isso, mesmo antes de os ver, é muito difícil
que a raiz dos meus cabelos, os poros dos meus braços
e dos meus pulmões, a palpitação do meu coração
os não pressintam a rondarem a canoa... a apertarem o cerco!...
Girando em círculos, cada vez mais apertados, concêntricos!...

Até investirem como se fossem disparos de violentos torpedos!.....

 

São os tubarões gigantes!...Surgem nas horas malditas!...
Nas horas que antecedem as tempestades, os habituais tornados,
quando o horizonte se reveste de névoas ameaçadoras,
O céu se cobre de cinza, a cor do mar se altera
e passa de azul cobalto a um agitado mar de chumbo!...
- São a imagem viva da morte aos olhos aterrorizados
dos náufragos e desamparados!... Atacam quase sempre!...
Até parece que sabem escolher os momentos fatídicos
para serem bem sucedidos com os seus fulminantes golpes!...



Vêm sempre ladeados por uma autêntica flotilha
de pequenos peixes zebrados! – Lembram
pequenos submarinos de guerra!... Há quem os endeuse
e diga que são seres pacíficos... Mas tudo isso é muito contingente...
Aqui portam-se como feras! -
Quais sinistras criaturas vigilantes,
a fazerem em surdina os seus giros...
Com a barbatana dorsal
singrando à flor das águas, tal qual
uma navalha apontada aos céus!..
- Investem com inesperada ferocidade!.. .
-Afasto-os à machinada!..
Depois deixam-me em paz...
Uma paz podre, temporária...
Até agora tenho tido muita sorte...
Jorge Trabulo Marques

Recordando os perigosos ataques dos tubarões nos 38 longos e penosos dias e noites solitárias, a bordo de uma frágil piroga no Golfo da Guiné, em Outubro e Novembro de 1975 - Desde a Ilha de Ano Bom a Bioko, à Ilha de ex-Fernando Pó, onde fui preso e condenado à forca por suspeita de espionagem, o que não era o caso, salvo, ln-extremis, pelo então Comandante Supremo das Forças Armadas, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, atual Presidente da Guiné Equatorial, que, naqueles derradeiros instantes, ordenou que fosse levado à sua presença, tendo acreditado na minha inocência, contrariando as ordens de seu tio, o então temível Presidente Francisco Macias

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