Jorge Trabulo Marques - Jornalista
Entrevista a Manuel da Fonseca, em 14 de Dezembro de 1993 - - Nasceu há 110 anos, em Santiago do Cacém –
Faleceu aos 82 – O diálogo, diretamente de sua casa, três meses antes da sua
morte,
De sublinhar, que, neste dia 16 de Outubro de 2021, em que edito este video, decorreu na Biblioteca Municipal Manuel da Fonseca, em Santiago de Cacém, a cerimónia de apresentação do livro vencedor da XIII Edição do "Prémio de Conto Manuel da Fonseca" – “Contos de Macau” da autoria de João Morgado, sob o pseudónimo de Liang.
BIOGRAFIA - De seu nome completo, Manuel Lopes Ferreira Fonseca, mais conhecido como Manuel da Fonseca - Vulto destacado do Neorrealismo- Escritor, poeta, contista, romancista e cronista, Manuel da Fonseca fez parte do grupo do Novo Cancioneiro e é considerado por muitos como um dos melhores escritores do neo-realismo português.
Nas suas obras, carregadas de intervenção social e política, relata como poucos a vida dura do Alentejo e dos alentejanos.
Autor de uma obra ancorada na realidade e eivada de um apontado regionalismo, a escrita de Manuel da Fonseca ultrapassa a contingência histórica de que nasceu, por um enaltecimento da vida, compreendida como intrinsecamente livre das imposições, frustrações, mentiras e condicionamentos impostos pela sociedade, ânsia de libertação, simbolizada, por exemplo, na repressão sexual imposta a algumas figuras femininas ou na admiração de figuras marginais como o "maltês" ou o vagabundo. Cerromaior (1943), O Fogo e as Cinzas (1951) e Seara de Vento (1958) são algumas das suas obras mais emblemáticas Excertos bibliográficos . Pormenores em
Era presidente da Sociedade Portuguesa de Escritores quando esta atribuiu o
Grande Prémio da Novelística a José Luandino Vieira pela sua obra Luanda, o que
levou ao encerramento desta instituição.
Partiu ainda jovem para Lisboa para realizar estudos secundários, tendo desempenhado posteriormente na capital diversas atividades profissionais no comércio, na indústria e no jornalismo.
Antes de colaborar em Novo Cancioneiro, com Planície, coleção onde se afirmariam algumas coordenadas da estética poética Neorrealista numa primeira fase, editou, em 1940, Rosa dos Ventos, obra pioneira do neorrealismo poético português, nascida do convívio com um grupo de jovens escritores, entre os quais Mário Dionísio, José Gomes Ferreira, Rodrigues Miguéis, Manuel Mendes e Armindo Rodrigues, unidos numa "obstinada recusa de ser feliz num mundo agressivamente infeliz, uma ânsia de dádiva total e o grande sonho de criar uma literatura nova, radicada na convicção de que, na luta imensa pela libertação do Homem, ela teria um papel estimável a desempenhar contra o egoísmo, os interesses mesquinhos, a conivência, a indiferença perante o crime, a glorificação de um mundo podre" (DIONÍSIO, Mário - prefácio a Obra Poética de Manuel da Fonseca, 1984, p. 21).
Não existindo descontinuidade entre a poesia e a prosa de Manuel da Fonseca, nem entre ambas e o escritor, que as impregna de um cariz autobiográfico, alimentado por recordações da convivência com o homem alentejano, ficção e obra poética interpenetram-se na evocação de personagens, narrativas, romances, paisagens alentejanas. Mário Dionísio (id. pp. 32-33) vê na oposição cidade/vila, recorrente na obra de Manuel da Fonseca, a oposição entre o que é "apaixonado e violento, desgraçado e heroico, profundamente humano, grave, limpo" e o que é ridículo, repugnante, mesquinho, "de ambição medíocre, de preconceitos míseros, que desvirtuam e lentamente asfixiam uma imagem ideal de vida que, na poesia de Manuel da Fonseca, quase sempre se identifica com tudo o que a infância e a adolescência têm de ingénuo e generoso e transparente e que a vida embacia, adultera e destrói."