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terça-feira, 26 de janeiro de 2021

Tempo Covid - Tempo de recolhimento, reflexão e solidariedade de que dispersão egoísta e inconsciente


Aqui, na imobilidade da pedra, sob a vasta unidade do Universo,
onde o corpo ascende das pétreas cúpulas à consagração da Terra!
Aqui, sob arcadas que desafiam leis do equilíbrio e da gravidade!
O  dia tem a limpidez dos amplos espaços, como livro aberto!
Aqui, abro meus braços, rendido à atmosfera pura e unificada!
Habitando o esplendor de uma morada imaterial e desnudada!
Absorto no silencio da minha intimidade e das minhas preces,
na miragem de um sonho transparente, tangível e imaculado!
Completamente tranquilo e liberto de quaisquer estranhos ruídos!

E dos gritos urgentes das sirenes que tornam a cidade num inferno!
 
Maciço dos Tambores, aldeia de Chãs - V. N. de Foz Côa
 

 

O tempo é de recolhimento e solidariedade de que dispersão e egoísmos – É o que tenho procurado fazer e recomendo para dias e noites de maior segurança e tranquilidade, como parecem manifestar estas ovelhinhas, altivas, amorosas, obedientes e curiosas, depois de, ao fim da tarde, regressarem ao curral emparedado do pastor José Júlio, da minha aldeia –

 Nos dias em que apascentava, mais de uma centena de ovelhas, por vales, encostas e ladeiras – Uma vida inteira, sem gozo de férias, feriados e dias santos, dedicada inteiramente a guardar gado, desde o romper da alvorada até quase ao crepúsculo, com os chocalhos das badanas e carneiros a tilintarem com os coro das cotovias, da poupa ou do cuco – Mas o peso da idade, não perdoa - Já teve que vender parte dele –


Agora, tem apenas umas poucas ovelhas, com que vai matando saudades e recolhendo algum leite e fazer uns queijos para consumo caseiro, tal como fazia na minha adolescência a minha saudosa mãe, com o nosso gado na Quinta do Muro, sobranceira ao vale maravilha da Ribeira Centeeira - a extensão mais bela do Graben de Longróiva - , depois do gado descer da penedia dos Tambores, freguesia de Chãs e recolher ao curral da Quinta, antigo castro, aproveitado para uma casa de campo, agora em ruínas.


A pastorícia, também já vai desaparecendo com a galopante desertificação do chamado Portugal profundo. - Longe vão os tempos em que existiam vários rebanhos de gado, os pastores até dormiam nas suas cabanas e eu ia levar a marmita do almoço ao nosso pastor Dias de canseiras e de sacrifícios, mas saudáveis e felizes

 

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