Lemos alguns do seus versos numa das celebrações do Equinócio da Primavera, em Março de 2012, nos Templos do Sol, aldeia de Chãs, de V. Nova de Foz Côa
O único
poeta português, cuja obra é inspirada nos antigos poetas da cultura japonesa ,
para além da que já traduziu para a nossa língua portuguesa
Do Poema
O problema
não é
meter o
mundo no poema; alimentá-lo
de luz,
planetas, vegetação. Nem
tão-pouco
enriquecê-lo,
ornamentá-lo
com palavras
delicadas, abertas
ao amor e à
morte, ao sol, ao vício,
aos corpos
nus dos amantes —
o problema é
torná-lo habitável, indispensável
a quem seja
mais pobre, a quem esteja
mais só
do que as
palavras
acompanhadas
no poema.
Casimiro de Brito, in "Canto Adolescente
é uma casa ou uma coisa. Um brinquedo
ou um lugar onde se acolhem
as primeiras sementes do exílio. Sei
que minha filha
se senta nela, nessa luz
menina. São sentinela
uma da outra. E regresso à luz
que foi minha,
gentil
e se partiu. Regresso
à luz branca do mar
à luz macia dos poços da noite
ao fogo efémero que afagou
as fendas do corpo. Saltam
peixes, precipitam-se no ar
com suas bocas sedentas
de luz — a minha também. Apodrecem
restos de ouvidos
que me ouvem cantar. E já não sei
brincando com a filha
se a luz é memória
ou domicílio
Nasceu no
Algarve, em 14 de Janeiro de 1938, onde estudou (depois em Londres) e viveu até
1968. Depois de uns anos na Alemanha passou a viver em Lisboa. Teve várias
profissões mas actualmente dedica-se exclusivamente à literatura –
“Por dentro
da palavra correm os rios de uma poética que foi, cada vez mais, procurando o
essencial. Casimiro de Brito, autor de Poemas da Solidão Imperfeita (primeiro
livro, 1957), faz um percurso que o aproxima da filosofia oriental (Poemas
Orientais, 1963, já disso são testemunho). O encontro do escritor nascido no
Algarve (Loulé, 1938) com o mundo da "cultura orientalista"
intensifica-se entretanto em obras como Na Via do Mestre (2000). Traduzido em
várias línguas, dedicou-se também à tradução de poesia japonesa. Poeta, ficcionista
e ensaísta, passou pela Poesia-61 mas conquistou uma voz própria" -
InEntrevista - Poetas Visitados - Casimiro de Brito .
Em criança,
o poeta passava vários dias na casa dos avós, na serra do Algarve, que
"não eram letrados, mas possuíam uma biblioteca oral fascinante".
Havia o hábito de se juntarem à noite, na hora da ceia, à lareira e as
histórias iam-se contando, sendo partilhadas por todos. Esse hábito da infância
cravou-se-lhe na memória, determinando-lhe uma orientação poética contaminada
pelo mundo e pela presença das coisas, fortemente enraizada na concretude e
sensorialidade do mundo" - In Casimiro de Brito - Agulha - Revista de
Cultura
Temas das
guerras e o flagelo do nuclear não passaram despercebidos na poesia de Casimiro
de Brito:Jardins de Guerra (1966) Vietname - Em Nome da Liberdade (1967) ,
entre outros.E .. Nagasaki e Hiroxima, através de: “exemplar espectáculo/ onde
somos a bala e o corpo baleado e/ lavoura do crime e o crime/ com raiva
gritado” - In “Vietname: outra maneira”, de Casimiro de Brito –
“As
civilizações foram atrofiando o homem que entretanto se afastou do primitivo
das manifestações primordiais.O homem não tem importância nenhuma, o bichinho
que nós somos é uma parte mínima do conjunto das coisas que existem no
universo. Tem particularidades e uma delas, terrível, luminosa, é a capacidade
de criar deuses e leis. (...) os poetas devem ter obsessão de que transportam
em si o mundo. Não é uma coisa boa nem má, são eles que possuem o dom da
palavra - Nuuma entrevista dada a Maria Augusta Silva, editada no livro Poetas
Visitados, da qual tomamos a liberdade de transcrever alguns excertos,
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