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sábado, 16 de janeiro de 2021

Poeta Casimiro de Brito – Fez 83 anos no dia 14 - “O problema não é meter o mundo no poema (…) problema é torná-lo habitável, indispensável” Os seus versos, não são meras cogitações ou abstrações, mas estados de alma da mais pura poesia.

Lemos alguns do seus versos numa das celebrações do Equinócio da Primavera, em Março de 2012, nos Templos do Sol, aldeia de Chãs, de V. Nova de Foz Côa

O único poeta português, cuja obra é inspirada nos antigos poetas da cultura japonesa , para além da que já traduziu para a nossa língua portuguesa

Do Poema

O problema não é

meter o mundo no poema; alimentá-lo

de luz, planetas, vegetação. Nem

tão-pouco

enriquecê-lo, ornamentá-lo

com palavras delicadas, abertas

ao amor e à morte, ao sol, ao vício,

aos corpos nus dos amantes —

o problema é torná-lo habitável, indispensável

a quem seja mais pobre, a quem esteja

mais só

do que as palavras

acompanhadas

no poema.

Casimiro de Brito, in "Canto Adolescente


.


REGRESSO À LUZ


Eu não sei se a luz na infância
é uma casa ou uma coisa. Um brinquedo
ou um lugar onde se acolhem
as primeiras sementes do exílio. Sei
que minha filha
se senta nela, nessa luz
menina. São sentinela
uma da outra. E regresso à luz
que foi minha,
gentil
e se partiu. Regresso
à luz branca do mar
à luz macia dos poços da noite
ao fogo efémero que afagou
as fendas do corpo. Saltam
peixes, precipitam-se no ar
com suas bocas sedentas
de luz — a minha também. Apodrecem
restos de ouvidos
que me ouvem cantar. E já não sei
brincando com a filha
se a luz é memória
ou domicílio
.

Nasceu no Algarve, em 14 de Janeiro de 1938, onde estudou (depois em Londres) e viveu até 1968. Depois de uns anos na Alemanha passou a viver em Lisboa. Teve várias profissões mas actualmente dedica-se exclusivamente à literatura –

“Por dentro da palavra correm os rios de uma poética que foi, cada vez mais, procurando o essencial. Casimiro de Brito, autor de Poemas da Solidão Imperfeita (primeiro livro, 1957), faz um percurso que o aproxima da filosofia oriental (Poemas Orientais, 1963, já disso são testemunho). O encontro do escritor nascido no Algarve (Loulé, 1938) com o mundo da "cultura orientalista" intensifica-se entretanto em obras como Na Via do Mestre (2000). Traduzido em várias línguas, dedicou-se também à tradução de poesia japonesa. Poeta, ficcionista e ensaísta, passou pela Poesia-61 mas conquistou uma voz própria" - InEntrevista - Poetas Visitados - Casimiro de Brito .

Em criança, o poeta passava vários dias na casa dos avós, na serra do Algarve, que "não eram letrados, mas possuíam uma biblioteca oral fascinante". Havia o hábito de se juntarem à noite, na hora da ceia, à lareira e as histórias iam-se contando, sendo partilhadas por todos. Esse hábito da infância cravou-se-lhe na memória, determinando-lhe uma orientação poética contaminada pelo mundo e pela presença das coisas, fortemente enraizada na concretude e sensorialidade do mundo" - In Casimiro de Brito - Agulha - Revista de Cultura

Temas das guerras e o flagelo do nuclear não passaram despercebidos na poesia de Casimiro de Brito:Jardins de Guerra (1966) Vietname - Em Nome da Liberdade (1967) , entre outros.E .. Nagasaki e Hiroxima, através de: “exemplar espectáculo/ onde somos a bala e o corpo baleado e/ lavoura do crime e o crime/ com raiva gritado” - In “Vietname: outra maneira”, de Casimiro de Brito –

“As civilizações foram atrofiando o homem que entretanto se afastou do primitivo das manifestações primordiais.O homem não tem importância nenhuma, o bichinho que nós somos é uma parte mínima do conjunto das coisas que existem no universo. Tem particularidades e uma delas, terrível, luminosa, é a capacidade de criar deuses e leis. (...) os poetas devem ter obsessão de que transportam em si o mundo. Não é uma coisa boa nem má, são eles que possuem o dom da palavra - Nuuma entrevista dada a Maria Augusta Silva, editada no livro Poetas Visitados, da qual tomamos a liberdade de transcrever alguns excertos,

 

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