Jorge Trabulo Marques – Jornalista, navegador solitário e investigador



Tu
dizes que tiveste “a sorte de ser um viajante e quase nunca ter parado
de viajar desde então. J'ai eu la chance d'être un voyageur et je n'ai
presque jamais cessé de voyager depuis.

"Nasci em um lugar muito exótico , em Tamatave, Madagascar, onde meu pai trabalhava em Obras Públicas da então chamada França Ultramarina ... não me peça lembranças de Madagascar, eu tenho saiu aos 2 ou 3 anos e não me lembro de nada ... Em 1946, minha família se mudou para Saint Pierre e Miquelon por duas estadias de quase 3 anos. Se, para lá, eu cruzar o Atlântico quatro vezes em transatlânticos, e se eu navegar modelos de veleiros nas mesmas lagoas onde patinamos no inverno , a chamada do Mar não me afeta. ainda não conseguiu! Mais pormenores em https://www.futura-



Marinheiro
Em
1969, Antoine descobriu-se a velejar por acaso, depois de alugar uma
casa na Riviera Francesa, que incluía um bote. Embora ele nunca tenha
parando de escrever e tocar, em 1974 ele também se apaixonou pelo mar e
para outras atividades.
A primeira aventura foi a travessia de São Tomé ao Príncipe. Estávamos em 1970.


Cinco anos depois, numa piroga um pouco maior, fiz a
ligação de São Tomé à Nigéria. Uma vez mais parti sem dar a conhecer os
meus propósitos, ao começo da noite, servindo-me apenas de uma simples
bússola. Ao cabo de 12 dias chegava a uma praia ao sul deste país
africano, tendo sido detido durante 17 dias por
suspeita de espionagem, após o que fui repatriado para Portugal. Os
jornais nigerianos destacaram em primeira página o feito.

Larguei
da praia Gambôa, por volta das oito da noite: quem me conduziu ao local
foi o saudoso professor Ferreira da Silva, a quem disse que ia passar
uns dias de retiro no ilhéu das Cabras, devido às perseguições e
espancamentos que estava a ser alvo por parte de um grupo de colonos,
devido aos meus artigos na revista Semana Ilustrada, que não se
conformavam com a liberdade de imprensa, instaurada pela revolução do 25
de Abril – Pois, além dos primeiros artigos, na imprensa, do massacre
do Batepá, também cheguei a dar destaque às manifestações
pró-independência.
A
única pessoa que sabia da minha intenção era a minha companheira
Margarida, que também me acompanhou na viatura do Prof Ferreira da Silva
–E que, segundo mais tarde vim a saber, além das lágrimas que verteu
quando me deu o último beijo de despedida, nessa noite ficou muito
preocupada, pois também se apercebeu do violento tornado que nessa noite
se abateu sobre a cidade e aquela área e que ainda me surpreendeu muito
próximo da costa – Lá me safei com extremas dificuldades, pois os
tornados são muito mais perigosos junto a terra de que no alto mar.
DE SIMPLES PRAIA DE PESCADORES A UMA DAS PRINCIPAIS CIDADES DA NIGÉRIA
Na
altura, a praia onde aportei, além da existência das instalações
petrolíferas, pouco mais era que uma humilde aldeia de pescadores –
Hoje, certamente, já terá dado ligar a grandes construções, que é o que
depreendo pelas imagens que pude consultar na Internet



Continuei
a velejar com luzes em vários pontos: quando amanheceu voltou a passar
outro barco por mim: era um pesqueiro: o barco abrandou a marcha e
ainda me passaram uma garrafa de água. Depois, já muito cansado por não
ter dormido em toda a noite, acabei por adormecer, tendo sido acordado
com abordagem de três pescadores, que, supondo que a canoa andasse
perdida, entraram a bordo da mesma e me ofereceram uma bebida à base de
uma fermentação e, amavelmente, me ajudaram a conduzir a canoa para a
praia.
Como
esta era baixa e o mar estava um bocado picado, e sendo a proa da minha
canoa mais baixa de que a deles, prenderam a canoa deles à ré da minha
e, ora progrediam ora recuavam, com os seus remos, que me pareceram
ainda mais pontiagudos que os de S. Tomé, envergando apenas umas simples
tangas.

Como
ainda tinha várias latas de comida comigo, troquei esses mantimentos
por saborosos frutos, que gentilmente me ofereceram também – Umas duas
horas depois, de carinhoso convívio, sou então conduzido por dois
jovens, que me levam numa das suas motorizadas ao longo da praia até à
sede das instalações de petróleo.
Sou
recebido por um dos chefes, um americano, que me pergunta se quero
ficar a trabalhar na refinaria, eu respondo-lhe que não é essa a minha
intenção, após o que então ordena que seja levado à esquadra da polícia
Dali
sou então encaminhado para a cidade de Calabar, onde fico detido numa
das celas do Departamento de Emigração para averiguações. Mas também
ali não tive razões de queixa, sempre me forneceram alimentação e nunca
me molestaram, senão o de me sentir aprisionado.
Curiosamente,
uns dias depois, entra o chefe na minha cela com um jornal na mão, que
mo oferece, com a manchete da noticia do português que tinha aportado
solitário às costas da Nigéria.
Depois
de ali ter estado uns oito dias, conduzem-me de avião para Lagos,
capital do país, donde sou repatriado para Portugal ao fim de 17 dias de
permanência, com o carimbo de repatriado no passaporte.

Regressado
a São Tomé, ainda no mesmo ano, e já com São Tomé e Príncipe
independente, tentei empreender a travessia ao Brasil, com o propósito
reforçar a minha tese, evocar a rota da escravatura através da grande
corrente equatorial e contribuir para a moralização de futuros
náufragos, à semelhança de Alan Bombard. Segundo este investigador e
navegador solitário, a maioria das vítimas morre por inação, por perda
de confiança e desespero, do que propriamente por falta de recursos, que
o próprio mar pode oferecer. Era justamente o que eu também pretendia
demonstrar - Navegando num meio tão primitivo e precário, levando
apenas alimentos para uma parte do percurso e servindo-me, unicamente,
de uma simples bússola, sem qualquer meio de comunicar com o exterior,
tinha, pois, como intenção, colocar-me nas mesmas condições que muitos
milhares de seres humanos que, todos os anos, ficam completamente
desprotegidos e entregues a si próprios - Porém, quis o destino que
fosse mesmo esta a situação que acabasse por viver.
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