Conheci-o, pela primeira vez, em 1980. Como o tempo passa!… Ainda o estou a
ver a chegar a uma estação de rádio, acompanhado do David Ferreira: ia ser
entrevistado pelo Júlio Isidro, creio que no programa da Grafonola Ideal.
Depois vi-o no programa televisivo “Febre de Sábado de Manhã. Por essa altura,
tive oportunidade de falar com ele. E também mais vezes: uma das quais, a
poucos dias do seu casamento: encontrei-o, já não sei a onde e teve a
amabilidade de me mostrar a sua nova casa: era para os lados da Avenida da
República. Ainda a estava por mobilar. Mas agora já há uns anos que não o vejo
pessoalmente. Espero que um dia calhe. Para lhe dar um grande abraço: mas que,
desde já, aqui já lhe envio, com os desejos de mais canções, de boa
música e muitas felicidades e alegrias - para ele, para os que acompanham e os
que ouvem e admiram. Que os longínquos astros o continuem a iluminar e a
propiciar muitos amigos e admiradores e que nunca se sinta sozinho: senão na
letra da canção mas não no sentimento, nas suas qualidades artísticas, nas
daqueles que o acompanham, na sua extraordinária sensibilidade e talento, nada
falte ao seu generoso coração.
“UM DIA HEI-DE IR A S. TOMÉ - CURIOSA COINCIDÊNCIA" -
Agora é o primo em Portugal, com o mesmo sonho, que ele teve, quando a situação
era inversa: não propriamente para conhecer pela primeira vez mas para
revisitar e matar saudades
Conheço. Rui Veloso, desde o principio da sua carreia, desde os tempos
em que eu era repórter da Rádio Comercial-RDP – Deu-me até o prazer de me
convidar a mostrar a sua casa, para onde contava ir morar, em Lisboa, após o
casamento – E lembro-me de me ter dito, quando lhe dizia que eu tinha estado em
S. Tomé e entrevistado o seu tio, Pires Veloso: "um dia hei-de lá ir"
- O sonho comanda a vida - E assim se cumpriu o sonho do Rui
Esta era a noticia dada pelo Téla Nón:
" Rui Veloso músico português promete noite animada de 10 de Junho, para
celebrar o dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas em São Tomé
e Príncipe. O artista que visita pela primeira vez o arquipélago são-tomense,
prometeu brindar o público com as canções que marcaram a sua longa carreira
musical.
Pisou pela primeira vez o solo são-tomense.
Um solo conhecido palmo a palmo pelos seus ancestrais. O seu avô conheceu a
terra que foi governada pelo seu tio Pires Veloso, o último Governador Colonial
de São Tomé e Príncipe.
Rui Veloso está em São Tomé a convite da
Embaixada de Portugal, para cantar e encantar o público, no espectáculo que
marcará as celebrações do dia de Portugal, de Camões e das Comunidades
Portuguesas no recinto da embaixada de Portugal.
Encantado com a beleza paisagística da
ilha de São Tomé, prometeu nos próximos dias descobrir a ilha do Príncipe, onde
o turismo ecológico é marca registada.
Um arquipélago que segundo o músico tem
um potencial turístico incomparável. Deu exemplo de alguns países s, até de
expressão portuguesa em África, onde o turismo cresce e é uma das principais
fontes de receitas, mas que não tem o potencial que as ilhas verdes de São Tomé
e Príncipe, oferecem ao visitante.- Abel Veiga - Rui Veloso em São Tomé para celebrar dia de Portugal de
Camões
CURIOSA COINCIDÊNCIA - NO 10 DE
JUNHO DE 2016, ENCONTRAVA-ME EU COM O SEU PRIMO, EM LISBOA - UM DOS
FILHOS DE PIRES VELOSO -Dizia eu, em Odisseias Nos Mares. noutro dos meus sites:
"Neste mesmo dia, lá andará o Rui, radiante por ver concretizado um dos seus belos sonhos ! - O de um dia poder contemplar aquelas lindas praias e o verde manto luxuriante das florestas
"Neste mesmo dia, lá andará o Rui, radiante por ver concretizado um dos seus belos sonhos ! - O de um dia poder contemplar aquelas lindas praias e o verde manto luxuriante das florestas
E veja-se, como o mundo é pequeno e há coincidências que dão que pensar:
- Pois bem, neste mesmo dia 10 de Junho, já quase pelo fim da tarde, encontrava-me eu, casualmente, na Feira do Livro, com o filho mais velho do General Pires Veloso (falecido, vai para dois anos), oportunidade para falarmos daquelas maravilhosas ilhas e das recordações, com que ficou, de quando ali esteve, aos 16 anos, com o seu pai, pouco tempo depois da revolução do 25 De Abril de 1974: inicialmente, como Governador de S. Tomé e Príncipe, até 18 de Dezembro do mesmo ano, data em que assumiria o cargo de Alto Comissário, em cujas funções se manteve até à independência daquele território, em 12 de Julho de 1975.
- Pois bem, neste mesmo dia 10 de Junho, já quase pelo fim da tarde, encontrava-me eu, casualmente, na Feira do Livro, com o filho mais velho do General Pires Veloso (falecido, vai para dois anos), oportunidade para falarmos daquelas maravilhosas ilhas e das recordações, com que ficou, de quando ali esteve, aos 16 anos, com o seu pai, pouco tempo depois da revolução do 25 De Abril de 1974: inicialmente, como Governador de S. Tomé e Príncipe, até 18 de Dezembro do mesmo ano, data em que assumiria o cargo de Alto Comissário, em cujas funções se manteve até à independência daquele território, em 12 de Julho de 1975.
RUI VELOSO - HÁ QUEM LHE IMITE AS CANÇÕES MAS NÃO A SINGULARIDADE E MANEIRA DE SER - COMO PESSOA E ARTISTA
Sem dúvida, no começo dos anos 80, foi uma grande pedrada nos convencionalismos do charco. Dos convencidos que inovavam mas repetiam-se e imitavam-se até ao enfado. Era uma música que trazia uma nova lufada e incarnava simultaneamente uma personagem da nova geração, que, desiludida, já dos políticos e, para curtir a falta de guita nas algibeiras, despontava para as "curtes" ou "speeds". Marcou o começo de um período e um outro estilo. E o pronúncio dos shoppings e dos grandes centros comerciais que desertificam a cidade, a massificam e desumanizam ainda mais, os alvores do flagelo dos ácidos que corroem e matam como a "estricnina". E (com a sua "camponesa") até do abandono dos campos. Ele meio agarotado meio romântico de um tempo pós exageros revolucionários, pós mazelas e fascismos da guerra colonial e prenúncio dos democratismos fingidos e hipócritas. Que parece jamais ter sarado. Aliás, se agravaram com a peste dos mercado global e dos liberalismo selvagens. .Que cada vez mais se reflete nos bairros da fome, da merda, da solidão e da miséria. E que então parecia já rever-se no próprio intérprete. Que o denunciava meio a sério meio a brincar. Talvez com mais eficácia das então já estafadas e comprometidas baladas militantes.
O Rui Veloso
é único no seu género musical e na sua pessoa. É uma espécie de cometa onde as
estrelas se confundem umas com as outras. É este o panorama sob a abóbada do
nosso pequeno firmamento que se ergue no estreito retângulo à beira-mar
plantado. Nasceu a 30 de Julho de 1957, em Lisboa, mas ainda foi bebé ( com
três meses) para o Porto. Não tem nada de Lisboeta. É um típico tripeiro: no
falar e no à-vontade de comunicar: os lisboetas são mais sisudos e convencidos.
Não quer dizer que sejam todos assim: mas o faduncho triste e a indolência dos
mouros do sul têm bastantes dissemelhanças da garra e vivacidade dos lusitanos
ou celtas do Norte. Herda do signo Leão as melhores qualidades e virtudes. A
determinação, o talento e a generosidade. Simples e ao mesmo tempo nobre de
carácter. Completou agora 30 anos de carreira mas eu desejo-lhe que toque e
cante mais trinta. Por muitas Primaveras bonitas que apetecem viver, mesmo dos
dias que "tão depressa brilham como depressa estão a chover". Que
viva ainda por muitas mais. Não sou um fã da musica rock. Mas gosto de o ouvir
cantar e apreciei muito o seu "Chico Fininho," antes de ele ser mais
uma "estrela no céu". Claro, das que verdadeiramente cintilam e
brilham!
Sem dúvida, no começo dos anos 80, foi uma grande pedrada nos convencionalismos do charco. Dos convencidos que inovavam mas repetiam-se e imitavam-se até ao enfado. Era uma música que trazia uma nova lufada e incarnava simultaneamente uma personagem da nova geração, que, desiludida, já dos políticos e, para curtir a falta de guita nas algibeiras, despontava para as "curtes" ou "speeds". Marcou o começo de um período e um outro estilo. E o pronúncio dos shoppings e dos grandes centros comerciais que desertificam a cidade, a massificam e desumanizam ainda mais, os alvores do flagelo dos ácidos que corroem e matam como a "estricnina". E (com a sua "camponesa") até do abandono dos campos. Ele meio agarotado meio romântico de um tempo pós exageros revolucionários, pós mazelas e fascismos da guerra colonial e prenúncio dos democratismos fingidos e hipócritas. Que parece jamais ter sarado. Aliás, se agravaram com a peste dos mercado global e dos liberalismo selvagens. .Que cada vez mais se reflete nos bairros da fome, da merda, da solidão e da miséria. E que então parecia já rever-se no próprio intérprete. Que o denunciava meio a sério meio a brincar. Talvez com mais eficácia das então já estafadas e comprometidas baladas militantes.
Ele também escorreito e magro,
afável e carinhoso, popular e desprendido, simpático e meio matreiro, amigo do
seu amigo mas sempre ele mesmo ("por mais amigos que tenha, sinto-me
sempre sozinho") com o mesmo olhar e sem vaidades. Hoje está um bocadinho
mais cheiinho. Mas é ainda a voz e imagem emblemáticas do eterno Rui das
baladas, canções e músicas inimitáveis! O sentir e as preocupações da juventude
do pós 25 de Abril e das atuais. gerações. Cujas letras e o canto, vão sendo
apreciadas e lembradas pelos que agora - tal como ele - já são pais. Num meio
quase submerso e invadido pelo género pimba, cujo amolecimento
pseudo-romântico, com resquícios de provincianismo piegas parece difícil de
curar, ele aí está, o Rui Veloso, igual a si próprio, ainda a cintilar, tal
como dantes, com a mesma alegria e matriz como principiou, tal como a estrela
da manhã, ao raiar no horizonte. Igual no seu brilho mas sempre o despontar de
uma nova alvorada. Sem porém lograr ocultar as duras realidades sociais da vida
que a matizam. Ele continua a ser a estrela brilhante da noite ou da manhã que
ao mesmo tempo que traz o brilho, alegria; é ainda aquela que é o bordão do
pastor e atenta vigia
Com pena minha, não o
tenho acompanhado nos seus concertos mas sei que continua a ser a mesma pessoa.
Romântico, risonho, folgazão e desprendido quanto baste. Já não há canções de
amor capazes de durarem um dia ou uma noite inteira. Curte uma trip de beijos e
depressa fareja outra na esquina. Não vai nos ácidos mas gosta de um bom Porto
doce e fininho. E, tal como o chico, conhece à distância os tripados da
Ribeira. O seu olhar e o sorriso - onde ainda há muita ternura, bondade e
franqueza - não o desmentem. Elevou-se e popularizou-se no panorama musical
português - e até já foi distinguido com uma das mais altas condecorações -, no
entanto, nem por isso o estrelato lhe subiu à cabeça e lhe modificou a sua
maneira de ser. Os egoísmos e a falsa modéstia não moram no rosto dele. O Rui é
do melhor que o nosso Genuíno Povo teM
ALGUNS DADOS BIOGRÁFICOS - Rui Veloso é
filho de Aureliano Capelo Veloso, engenheiro de profissão e político por
vocação, que foi o primeiro presidente da Câmara Municipal do Porto, no pós 25
de Abril. Com apenas seis anos de idade, o gosto de Rui Veloso pela música já
era notório e começou a aprender harmónica.
Em 1972, deixa-se influenciar pelos blues,
ouvindo incessantemente nomes como Eric Clapton, B.B. King e Bob Dylan. Com
essa idade, começou também a tocar guitarra. Pouco tempo depois, formou a seu
primeiro grupo musical.
A banda intitulava-se “Magara Blues Band”
e para além dele, integrava Manfred Minneman no piano e Mano Zé no baixo. A
banda deu vários concertos em casa de amigos e e em bares. Nesta altura, Rui
Veloso cantava sobretudo em inglês.
Em 1976, conheceu Carlos Tê, dando início
a uma parceria de sucesso. Para além da amizade que cresceu entre ambos, Carlos
Tê seria o autor de um grande número das letras cantadas por Rui Veloso. Carlos
Tê também recolheu frutos da sua ligação a Rui Veloso, sendo convidado
posteriormente para escrever para outros projetos de relevância, como os
Trovante e os Clã.
Em 1979, seria dado o seu
primeiro grande passo rumo ao sucesso. Curiosamente, foi a mãe de Rui Veloso
que se revelou decisiva em todo o processo, ao enviar duas cassetes com músicas
de Veloso e letras escritas por Carlos Tê, para a editora Valentim de Carvalho.
Todas as músicas presentes nas cassetes eram cantadas em inglês. A editora
ficou agradada com o que ouviu, mas pediu que Rui Veloso apresentasse músicas
em português. – Mais pormenores em http://www.fotosantesedepois.com/rui-veloso/
SPINOLA QUERIA CONTRARIAR O PROCESSO DE DESCOLONIZAÇÃO
Em
S. Tomé e Príncipe, não houve luta armada, porque as ilhas são
pequenas e o Povo é tradicionalmente
pacífico. Não obstante os sofrimentos infligidos por vários aspetos da
dureza e dominio colonial, que, de resto, estiveram na esteira de
algumas violentas revoltas
ao longo dos séculos.
No
entanto, existia um movimento, que pugnava pela libertação e
independência – Esse movimento, denominado MLSTP, foi fundado por um
grupo de estudantes nacionalistas, no exterior, que procurava, sob
várias
formas (umas públicas, através de um programa de rádio, no Gabão) e
outras clandestinas,
consciencializar a população.
Quando se deu o 25 de Abril, a maioria dos colonos foi apanhada de surpresa, pensando que a luta pela independência, dizia apenas respeito aos movimentos armados da Guiné, Angola e Moçambique e dificilmente admitiriam que o futuro de S. Tomé e Príncipe, ia justamente depender do que viesse acontecer naquelas colónias - Mas depressa se enganaram, porque, entretanto, mal a liberdade de expressão, foi instaurada, com o desencadear da revolução, não tardou a que, grupos de jovens nacionalistas, liderados pela Associação Cívica Pró-MLSTP, viessem para as ruas reclamar – através de várias manifestações populares - a “independência total e imediata”
Pois isso, tais factos, acabaram por provocar alguma insegurança e perturbação,
no até então ambiente de paz e de tranquilidade
(diga-se, imposto pela opressão) que acabaria por ser restaurado, alguns anos
depois do brutal massacre de 3 de Fevereiro de 1953, infligido por um Governador que
queria obrigar a população nativa a trabalhar à força nas brigadas
das obras públicas – Isto porque, os serviçais
contratados, a mão-de-obra proveniente de Cabo Verde, Guiné, Angola e Moçambique,
revelar-se-ia insuficiente para as
grandes plantações nas Roças.
O que se passou, em 1953, é do domínio público e deixou feridas e ressentimentos na alma,,
não fácies de apagar- Quando se deu o 25 de Abril, a memória ainda estava muito
fresca e terá sido essa a principal
razão pela qual, os ideais nacionalistas, tiveram
ponta e significativa adesão, com greves, reivindicações e manifestações populares, que se sucediam dia
a dia, embora de forma agitada e acalorada,
mas não pautada por atos de violência física.
Todos os sectores de atividade são afetados mas é
nas roças que mais se fazem sentir os efeitos - E é também donde começam a partir alguns
sinais alarmantes – Os roceiros, aos quais já lhe foram retiradas as armas dos paióis
milicianos, é onde a crispação e a insegurança é maior - Por seu turno, em Lisboa, os patrões
pressionam Spínola, a contrariar, nestas ilhas, a descolonização,
alegando que as ilhas estavam desertas e pertenciam a Portugal, que envia o coronel Ricardo Durão, anterior comandante da
CTSTP - pessoa muito grada dos recreios, dadas as jantaradas, com que o brindavam - ,
e, sem dar prévio conhecimento, ao Governador Coronel Pires Veloso, manda-o
para S. Tomé – Mas vai ter de regressar no mesmo avião – Este é um dos episódios que, me recordou, o oficial que o conduziu de regresso ao aeroporto para
partir no mesmo avião - Ouça o vídeo mais à frente.
PIRES VELOSO - TALVEZ ASSIM ESTIVESSE ESCRITO NOS ASTROS QUE SÓ ELE PODERIA SALVAR UM PARAÍSO DE MORTE E CONVULSÃO
Tal como já tive ocasião de referir, noutro dos meus sites, se há um governante, do período colonial, que não pode ser esquecido, em S. Tomé e Príncipe, ele é o General Pires Veloso, que,
mais tarde, em Portugal, passaria a ser conhecido por Vice-Rei do Norte
– Igualmente pelas mesmas razões: por ter evitado uma guerra civil,
quer, quando ali foi colocado como Governador e Alto Comissário, quer,
após o seu regresso a Portugal, na qualidade de Comandante da Região
Militar do Norte, como um dos protagonistas do 25 de Novembro de 1975,
Faltou-lhes lá o Tenente-coronel Ricardo Durão a liderar a revolta, que, uns dias antes, desembarcara no aeroporto de São Tomé. Se
o Tenente-Coronel Pires Veloso (mais tarde também promovido a
General), não o obrigasse a voltar no mesmo avião, estou certo de que,
as águas que correm nas pacíficas Ilhas de São Tomé e Príncipe,
ter-se-iam toldado por muitas manchas de sangue. E, sobretudo, se o
Governador, não apelasse à calma dos manifestantes: os quais se
rebelaram por motivos absolutamente injustificáveis, pois ninguém os
molestou - Seguiram, depois, para o quartel da Polícia Militar e Cinema
Império. Porventura, na perspectiva de que, Ricardo Durão, os viesse
comandar - Já que, o episódio do seu regresso forçado, não fora
tornado público.
O ex-comandante do Comando Territorial Independente de São Tomé e Príncipe (CTISTP), conhecia bem o arquipélago, as roças e os roceiros, com os quais convivera em
em opíparas comezanas, na Casa Grande, nas residências dos administradores. - Spínola, não queria a independência desta ex-colónia, alegando que as ilhas estavam desertas, quando foram descobertas pelos portugueses (estafado argumento para justificar o domínio sobre as populações autóctones), tendo-o enviado com a missão de se juntar aos roceiros e liderar um golpe contra-revolucionário.
Após
o 25 de Abril de 1974, Pires Veloso foi nomeado governador de São Tomé e
Príncipe, passando, a 18 de dezembro do mesmo ano, a alto comissário,
função que manteve até à independência do território, a 12 de julho de
1975.António Elísio Capelo Pires Veloso
– Sem a sua intervenção, sensata, ponderada e inteligente, dificilmente teria deixado de haver um segundo banho de sangue naquela Ilha – Já o disse numa postagem, publicada aqui neste site, de que não retiro uma linha, da qual transcrevo alguns excertos.
– Sem a sua intervenção, sensata, ponderada e inteligente, dificilmente teria deixado de haver um segundo banho de sangue naquela Ilha – Já o disse numa postagem, publicada aqui neste site, de que não retiro uma linha, da qual transcrevo alguns excertos.
O GENERAL PIRES VELOSO (ENTÃO TENENTE-CORONEL) AGIU BEM, AO OBRIGAR, RICARDO DURÃO (DA MESMA PATENTE E ATUAL GENERAL) A NÃO SAIR DO AEROPORTO E A VOLTAR NO MESMO AVIÃO A PORTUGAL -
ATITUDE SENSATA E INTELIGENTE – – Talvez
mais grave que o massacre de 3 a 7 de Fevereiro de 1953 (muito antes da
guerra colonial), levado a cabo por milícias, fortemente armadas,
dirigidas pelo próprio governador, Carlos Gorgulho, constituídas por
colonos, militares e alguns serviçais, que os roceiros e governo,
atiraram contra os naturais da Ilha. Só pelo facto de se recusarem ao
trabalho forçado nas obras públicas e nas grandes plantações do cacau e
café. Houve quem reagisse e, não tardou, que um caso isolado, fosse
tomado por "rebeldes" de uma "revolta comunista"
Mal
me apercebi da sua presença, e, vendo-o de camuflado, semblante
sisudo, pressenti imediatamente que não vinha para fazer coisa boa.
Não chegara a passar para o exterior do aeroporto: estava sozinho, junto
a uma porta fechada, do lado direito do edifício, voltada a sul e nos
limites ainda da área reservada.
Eu
costumava ali ter acesso para ir buscar o volume das revistas que a
redação me enviava semanalmente, de Luanda.. E, ao regressar, foi quando
me apercebi da sua presença - Estava nitidamente com olhar de caso: “Passa-se alguma coisa, Sr. Tenente-Coronel?! - Esboça uma sorriso amarelo e diz: “Não, obrigado!..Não há problema nenhum!!... Vim cá só a passear!.. E não estou autorizado, não sei porquê!.... Que eu saiba, a Ilha ainda não é dos pretos."” – Vi logo que havia por ali tentativa de golpaça e não insisti. Pires Veloso Governador
de S. Tomé e Príncipe, alertado para a sua presença, trocou-lhe as
voltas. Obrigando-o a regressar no mesmo avião. E lá foi de volta o
grandalhão oficial com uma verdadeira chapada sem dor, mas com muita
humilhação e muito bem dada!
No
seu livro de memórias ( “Vice-Rei do Norte - Memórias e Revelações) o
agora General Pires Veloso, faz uma breve referência, mas é omisso em
apontar o nome do oficial - Diz apenas o seguinte: “Sentindo
que a minha atitude em recusar receber um oficial superior, enviado
especial do Presidente da República, general Spínola – que fiz regressar
no mesmo avião que havia trazido, sem o ouvir – havia obtido a
aprovação entre os meus adversários, sabia ter conseguido com isso algum
crédito.”
Sem
dúvida, um procedimento sensato e inteligente de Pires Veloso; de
outro modo, dificilmente apaziguaria as tensões existentes entre colonos
e os dirigentes da Associação Cívica. Porque, o mais certo, era que os
colonos (sentindo-se encorajados e comandados) passassem deliberadamente
ao ataque, podendo desencadear a contra-revolução, de imprevisíveis
consequências.
O então Tenente-Coronel Ricardo Durão (hoje general) – homem forte do Comando Militar de S. Tomé e Príncipe não esperava que, o brioso oficial Pires Veloso, lhe desse uma grande tapona.
Peão de confiança de Spínola (não entrara na aventura contra-revolucionária spinolista de11 de Março de 1975 , porque não calhou, tal como outros, que viram o tapete sair-lhes dos pés .
O ex-comandante do Comando Territorial Independente de São Tomé e Príncipe (CTISTP), conhecia
bem o arquipélago, as roças e os roceiros, com os quais convivera em
altas jantaradas e almoçaradas, nas sedes das administrações: pois era
já um costume enraizado que a elite económica, há muito, mantinha com a
tropa. Mas, agora, de certeza que não vinha com esse propósito – Os
tempos eram de revolução. E os roceiros opunham-se ostensivamente! Já
tinham invadido o Palácio do Governo e dir-se-ia que só faltava pegarem
nas armas que possuíam nas arrecadações. O que não dispunham era de quem
os apoiasse ou de um comando operacional. Supõe-se que deveria ser a
missão que trazia na manga o velho amigo das altas comezanas e das
festanças.de fatiota branca. Só que nem sequer chegou a sair da gare do
aeroporto.. Saiu-lhe o tiro pela culatra - E ainda bem:
O bom senso de Pires Veloso, uma vez mais esteve à altura das suas responsabilidades, evitando mais uma enorme confusão - Ah, sim, não tenho a menor dúvida, teria havido muitas mortes em São Tomé: de
parte a parte, eu seria uma delas. - Fui tomado pelos colonos como o
bode expiatório de todos os problemas. E a única arma que dispunha era
a máquina de escrever, que ma escaqueiraram por completo, - Tive de
pedir uma emprestada a pessoa amiga. Sabe Deus as adversidades por que
então passei para poder continuar a enviar os meus trabalhos
jornalísticos para a revista Semana Ilustrada, em Luanda.
“Sentindo
que a minha altitude em recusar receber um oficial superior, enviado
especial do Presidente da República, general Spínola – que fiz regressar
no mesmo avião que o havia trazido, sem o ouvir - havia obtido a
aprovação entre os meus adversários, sabia ter conseguido com isso
algum crédito"
"Aproveitando
esse crédito, organizei uma reunião, no Palácio do Governo, com
dirigentes da Associação Cívica para tratar do assunto das armas da
Organização Provincial dos Voluntários"
Tentei convencê-los a serem eles próprios fazerem a entrega dessas armas no Quartel-General, o que fizeram, nesse mesmo dia.
Poderá
imaginar a sensação de alívio e bem-estar quando, ao cair da tarde, o
coronel Cardoso do Amaral, me comunicou que tudo tinha corrido muito bem
e que o armamento havia sido recebido!
Foi
uma fase no processo da descolonização, decisiva e marcante,
fundamentalmente porque havia conseguido, além do controlo de grande
quantidade de armas dispersas pelo Território, ter as Forças Armadas
disciplinadas, para além de um entendimento com respeito e confiança
mútos entre autoridades portuguesas, dirigentes do MLSTP, Associação
Cívica e população em geral”
(...) nós
tudo procurámos fazer para que a passagem de S. Tomé e Príncipe, de
colónia a pais independente, se fizesse com suavidade, tolerância,
compreensão, ora criando um mínimo de estruturas que ajudassem ao
funcionamento de uma nova Democracia, ora denunciando erros e, na medida
do possível, corrigindo-os do passado.
“Porém,
esta minha atitude de tolerância” – refere o agora General Pires Veloso
- , “compreendendo o estado de uma larguíssima maioria do povo (que
não pensava noutra coisa que não fosse a Independência
Imediata), fechando os olhos, por vezes, a pequenos incidentes
provocatórios e procurando o diálogo, não foi bem aceite por algumas
centenas de brancos ainda no Território.
Confusos,
não tendo entendido bem quão profunda havia sido a revolução de 25 de
Abril, um dia invadiram o Palácio querendo falar comigo.
Em
tom de crítica, acusaram-me de actuar como um verdadeiro Governador,
ser mole demais, sem capacidade de decisão e pedindo protecção para essa
noite, pois tinham informações de que os pretos iam massacrá-los.
Tranquilizei-os
na medida do possível, garantindo-lhes que eu, nessa noite,
pessoalmente, iria patrulhar a cidade, o que fiz, conduzindo um VW, por
vezes acompanhado com o meu ajudante de campo.
Nas
casas dos portugueses não apagaram as luzes e, quando ouviam o motor do
meu carro (era o único a circular), abriam a janela. Eu dava-lhes a
Boa-Noite e eles correspondiam.
Preservar o nome e a presença de Portugal
Viveu-se
então a fase final do processo, em ambiente de boas relações entre
autoridades portuguesas e são-tomenses, num clima de tranquilidade e
compreensão, que culminou, a 12 de Julho, com uma festa de dignidade
ímpar, com um respeito total entre todos”.
O ex-comandante do Comando Territorial Independente de São Tomé e Príncipe (CTISTP), conhecia bem o arquipélago, as roças e os roceiros, com os quais convivera em
em opíparas comezanas, na Casa Grande, nas residências dos administradores. - Spínola, não queria a independência desta ex-colónia, alegando que as ilhas estavam desertas, quando foram descobertas pelos portugueses (estafado argumento para justificar o domínio sobre as populações autóctones), tendo-o enviado com a missão de se juntar aos roceiros e liderar um golpe contra-revolucionário.
Mas
não chegou sequer a transpor a alfândega do aeroporto. Teve de
aguardar, junto à aerogare, mas do lado voltado para a pista e fora das
vistas do público, até que fosse recambiado no mesmo avião. Humilhação bem feita e à altura das circunstâncias.
Desta
vez não vinha de farda branca, como era costume pavonear-se pelas
roças nos jipes dos patrões. E nas suas jantaradas. Envergava o
camuflado de operacional. Vinha pronto para liderar a revolta. Cumprimentei-o
e perguntei-lhe o que se passava - pois vi logo, pela sua cara e
traje, que havia ali sinais de golpada à vista.
Ele conhecia-me, sabia bem que eu não estava do lado da sua barricada e foi parco de palavras. Que eu saiba, até hoje, o caso nunca chegou a ser notícia. E
tão pouco a informação foi conhecida naquele momento pelos
nacionalistas (mas foram informados, ainda nesse dia) pois, se o
vissem por lá, teria havido, logo ali, uma grande confusão...E
talvez tivesse sido ele a primeira vítima. A aerogare estava cheia de
gente, era dia de "São Avião!". Da maneira que andavam os ânimos
tensos, de certeza que não se safava de um valente aperto.
Simpático
com a burguesia roceira, que o obsequiara, na sede das administrações,
na "Casa do Patrão" ao pomposo velho estilo colonial - cínico com quem
lhe conviesse, e, nos meios do exército, era tido como um duro...
Amedalhado por "altos feitos" pela sua manifesta lealdade ao império
colonial, via-se que era dos tais que não deixava os seus créditos
entregues por mãos alheias. Os roceiros, haviam-no obsequiado com lautos
banquetes e ele não lhes queria ser ingrato. O que não toleravam é que os defensores do 25 de Abril, lhes falassem em independência e em liberdades democráticas. Certamente que eu
teria sido um dos que fazia parte das suas listas, dos traidores e
indesejáveis brancos a abater. Já em Lisboa, não podia passar frente
ao Bar PIC NIC no Rossio. - Ponto de encontro dos colonos mais
reacionários.
Um dia, uma dúzia deles, apanharam-me no Metro e voltaram agredir-me traiçoeiramente, como se estivessem na selva em São Tomé. Tal como fizeram na então chamada "Praça de Portugal", quando me dirigia a minha casa, por volta das oito da noite. Aguardavam-me
emboscados no interior de um carro estacionado. Não havia luz na
cidade, e, mal me viram, encadearam-me com os faróis e atiraram-se a mim
como lobos. Tendo-me deixado, quase morto e prostrado no asfalto.
Não
me mataram, porque, entretanto, viram os faróis de outro carro e
puseram-se na alheta. Noutra ocasião, arrombaram-me a casa,
escaqueiraram com todas as minhas coisas e puseram-me uma forca
pendurada à entrada da porta. Por duas vezes, furaram-me à navalhada os
pneus dos meu carro. Entre outras patifarias.
SORTE PARA O POVO SANTOMENSE E PARA O PRÓPRIO LÍDER DO ABORTADO GOLPE CONTRA-REVOLUCIONÁRIO
Se,
Ricardo Durão (agora general) ou algum militar aceitasse comandar os
roceiros, como aconteceu no Batepá, teria sido uma mortandade, talvez ainda
maior!... Milhares de santomenses teriam sido baleados!... Até porque
muitos dos implicados naquele massacre, ainda por lá por lá se passeavam
à vontade...
Pessoalmente,
também achei prudente não lançar o alerta, sobre a presença de Ricardo
Durão, uma vez que ia ser recambiado. Não havia interesse em gerar mais
tensões das que já existiam. Teve sorte.. E também o povo de
santomense, que se livrou de uma séria ameaça à sua integridade. Teria
havido muitos mártires!...E já bastava de sangue derramado por séculos
de colonização.
Pirou-se, quase da mesma forma que o Zé Mulato, o
capataz do sinistro campo da morte de Fernão Dias, outro dos grandes
assassinos no massacre do Batepá, que, para não se expor a eventuais
represálias, teve de embarcar para a terra do seu pai (antigo colono,
natural da região de Viseu), tendo entrado no aeroporto pela porta do
"cavalo" disfarçado com a sua fatiota azul de carpinteiro.
Quando alertei Pires Veloso, da presença do inesperado oficial, ele já lhe tinha dado instruções para regressar no mesmo voo. "Já sei que ele aí está: vai já no mesmo avião. Não se preocupe".
Quando alertei Pires Veloso, da presença do inesperado oficial, ele já lhe tinha dado instruções para regressar no mesmo voo. "Já sei que ele aí está: vai já no mesmo avião. Não se preocupe".
O movimento pró-independentista apreciou atitude do Governador,
que até então não acreditava nas boas intenções de Pires Veloso, pois
via-o com desconfiança - Os santomenses olhavam os militares
portugueses, como tropa de domínio colonial. Porém, a partir daquela
altura, o Governador passou a ser visto como um dos seus e com outros
olhos. No seu livro “Vice-Rei do Norte - Memórias e Revelações, o agora
General Pires Veloso, faz uma breve referência, mas, como atrás
referi, é omisso em apontar o nome do oficial - E alude também à
inesperada invasão dos colonos ao Palácio do Governo -
PIRES
VELOSO, O GOVERNADOR CERTO PARA LEVAR A CABO – E PACIFICAMENTE - UM
PROCESSO DE INDEPENDÊNCIA, QUE COMEÇARA DA FORMA MAIS TENSA E ATRIBULADA
Repito: não fosse a serenidade, firmeza e sensatez de Pires Veloso, nem quero imaginar o que poderia ter acontecido! Não se constava que algum negro tivesse molestado fisicamente qualquer branco! Mas, de facto, havia colonos que continuavam a agir como se nada tivesse mudado. A palavra independência era algo impensável e que lhes custava admitir.
Os
roceiros estavam fortemente armados e constituíam uma séria ameaça!
Nas propriedades agrícolas, havia muitas armas: as velhas Mauseres, que foram usadas pela infantaria Nazi. Com as quais, os colonos, habitualmente se treinavam.
Também
eu, aos 18 anos, fui obrigado a participar, nesses treinos, quando para
ali fui estagiar na Roça Uba-Budo, num campo de tiro ao alvo, situado
junto à praia, onde, aos Domingos de manhã, cada branco fazia para ali a
fogachada que quisesse.
.Pires Veloso, noutra das passagens do seu livro de memórias, “Vice-rei do Norte”,
alude às reações do Secretário-geral das ONU, Kut Waldheim e o
dirigente da OUA, Salim, Salim, junto do nosso embaixador na ONU, face
às queixas apresentadas pelos independentistas. No entanto, o antigo
Governador e Alto-Comissário, considera que a questão havia sido
empolada. E que, mais tarde, foram as mesmas personalidades a
reconhecerem que não se justificavam as tais razões invocadas com “ a falta de liberdades democráticas”.
PIRES VELOSO, USA O TERMO DE “A GUARDA PRETORIANA DOS DONOS DAS ROÇAS” – NÃO ESTAVA ENGANADO
E
não exagera. Os colonos nas roças estavam armados e bem armados.
Refere, ainda, em “Memórias e Revelações”, que, “era notória a
apetência dos responsáveis da Associação Cívica por terem armas em seu
poder, talvez para dizerem ao mundo, como os da Guiné, Angola e
Moçambique, que também eles haviam alcançado a independência com luta
armada” – Não creio que fosse este o desejo dos ativistas da Associação Cívica Pró-MLSTP – O santomense é por natureza pacifico. E, Pires Veloso, julgo que se apercebeu bem desse facto. As suas ações nunca foram além de comícios e manifestações. Não
vi que alguém ali tivesse pegado numa arma ou levantasse sequer essa
questão. Participei em algumas das reuniões dos seus dirigentes e
ninguém ali falou em pegar em armas.
É
um facto que existiam por lá alguns elementos mais fundamentalistas,
que Pires Veloso cita no seu livro, e com posições, mais extremistas,
com as quais eu próprio discordei à sua frente, que achavam que o fim do
colonialismo no arquipélago, só poderia terminar "com a saída completa dos colonos”
– E, de facto, atendendo ao comportamento irredutível de muitos deles,
sobretudo dos "cafusos", nas roças, em boa parte até tinham fundamentas
razões. Mas longe de desejarem pegar em armas. – Quem queria pegar nas
armas eram os empregados das roças, forçados pelos roceiros mais duros -
E só não aconteceu a tragédia, porque, à última hora, lhes faltou o
comandante das operações
“ A SITUAÇÃO ERA PERIGOSÍSSIMA”
DIZ PIRES VELOSO – Se era?!... ..As roças foram armadas pelo exército
com máuseres; mas os roceiros fizeram entrar na Ilha metralhadoras
clandestinas, que, certamente, ainda deverão estar por lá escondidas ou
enterradas, não tendo chegado a ser devolvidas com as velhas máuseres.
Recordo que, ao sul da Ilha, na Praia Grande, em 1964, foi encontrada uma baleeira abandonada. Eu vi essa baleeira branca e a PIDE por lá a investigar o caso, tendo admitido a hipótese de ter havido um descarregamento de armas por parte dos soviéticos (mais uma vez os comunistas à baila) para fins subversivos - Mas a versão era outra.
Mais tarde ouvi bichanar ao feitor geral da Roça Ribeira Peixe, onde eu trabalhava, o seguinte desabafo para o chefe dos escritórios: “Agora já podemos dormir descansados!... Estamos na selva do inferno mas já temos metralhadoras para matar o preto que se atreva a fazer-nos o que fizeram em Angola!. Enganámos os PIDEs. O exército só nos quis dar as máuseres, que nem para matar pássaros já servem, mas agora já temos com que nos defendermos”.
Recordo que, ao sul da Ilha, na Praia Grande, em 1964, foi encontrada uma baleeira abandonada. Eu vi essa baleeira branca e a PIDE por lá a investigar o caso, tendo admitido a hipótese de ter havido um descarregamento de armas por parte dos soviéticos (mais uma vez os comunistas à baila) para fins subversivos - Mas a versão era outra.
Mais tarde ouvi bichanar ao feitor geral da Roça Ribeira Peixe, onde eu trabalhava, o seguinte desabafo para o chefe dos escritórios: “Agora já podemos dormir descansados!... Estamos na selva do inferno mas já temos metralhadoras para matar o preto que se atreva a fazer-nos o que fizeram em Angola!. Enganámos os PIDEs. O exército só nos quis dar as máuseres, que nem para matar pássaros já servem, mas agora já temos com que nos defendermos”.
Pires Veloso, refere que “ a situação era perigosíssima” – inteiramente de acordo: – há muito se sabia que as roceiros estavam armadas até aos dentes. (...) Esclarece que “tratava-se
de material distribuído à chamada Organização Provincial dos
Voluntários que, no fundo, constituía a guarda pretoriana dos donos das
roças”
“Em determinado momento, para mim, a situação ficou altamente preocupante” – refere o ex-governador, “
quando, ocasionalmente, tive conhecimento de que, nalgumas roças, havia
arrecadações com material de guerra, melhor do que o exército dispunha.
Apesar dessas roças estarem já sob controlo dos “guerrilheiros”, estes
ainda não haviam mexido nesse material”
SE
OS ATIVISTAS PRÓ-INDEPENDÊNCIA, QUISESSEM PEGAR EM ARMAS, TÊ-LO-IAM
FEITO, - Tiveram essa oportunidade quando os roceiros abandonaram as
roças – Mas não o fizeram porque não era esse o seu objetivo.
Os
roceiros abandonaram as roças e alojaram-se no quartel militar e no
Cinema Império – Se os militantes da Associação Cívica, quisessem
enveredar pela via armada, não teriam devolvido essas armas, que foram
lá buscar – E fizeram-no, não porque quisessem fazer uso delas, mas para evitar que as mesmas os matassem.
Esta
a expressão ostentada, numa enorme cartaz, com que foram dadas as boas
vindas ao então Tenente Coronel Pires Veloso - O Primeiro e o último
governador pós 25 de Abril - Este o aviso de que a vontade do povo
santomense era soberana e imparável, por mais obstáculos que existissem.
Os ativistas – pró-independência - não enveredaram pela luta armada mas
causaram forte contestação e instabilidade, não dando tréguas a
qualquer ideia ou projeto que não visasse a total libertação do povo
oprimido do arquipélago. Promovendo uma constante onda de agitação
política e social. Não deram hipóteses a que os movimentos federalistas
ou neocoloniais, conquistassem adeptos e se implantassem.
“Independência” era a palavra de ordem mais ouvida nos comícios e manifestações de rua. E, nos cartazes, os slogans mobilizadores pautavam-se, sobretudo, por um claro e único objetivo, expresso em linguagem popular : “Independência
total, çà cu pôvô mecê ” - Independência total é tudo o que povo
quer. Os jovens ativistas da Associação Cívica, foram a principal força
interventiva e conciencializadora durante o processo de descolonização
–. Sem a sua coragem e o seu dinamismo, porventura, ainda hoje as duas
ilhas, eram colónias, tal como sucede a outros territórios que estão nas
mãos de 61 países.
INVADIRAM
O PALÁCIO, INSULTARAM O GOVERNADOR – E NO FINAL – QUANDO ME VIRAM ALI
PRÓXIMO – CORRERAM ATRÁS DE MIM PARA ME LINCHAREM
Uma
manhã, ao saírem do palácio, depois de insultarem, o Governador, Pires
Veloso – mal me viram sentado na esplanada do Restaurante Palmar, – onde
pretendia inteirar-se daquela estranha ocorrência -, imediatamente
correram furiosos atrás de mim! E eram umas largas centenas. Se me
apanhassem, naquele momento, estou convencido que me tinham esmagado e
linchado. - Mesmo assim ainda levei com uma pedra na cabeça. E o que
me valeu foi ter subido por umas escadas e me ter refugiado num
telhado. À noite foi socorrido por um santomense que me levou para sua
casa, onde estive escondido quase duas semanas.
Fugi
para uma escada, até que caísse a noite, para me escapar para qualquer
sítio, pois sabia que já tinham assaltado a minha casa e espatifado
tudo. Era demasiado arriscado ali voltar. Foi um rapaz negro (que me
distribuía a Semana Ilustrada) que, tendo-se apercebido da minha
entrada naquela escada (onde por acaso pude esconder-me sem que fosse
visto pelos moradores) que veio, mais tarde, em meu auxilio. Os colonos
(muitos deles, em vez de regressarem às suas casas), optaram por se
aquartelar com a tropa portuguesa. Nessa altura, as ruas à noite ficavam
praticamente desertas e eu tive então oportunidade de escapar dali.
Tendo passado quase duas semanas na casa dos pais desse generoso jovem,
num autêntico esconderijo, algures no mato.
PIRES VELOSO ALUDE
AINDA, NO SEU LIVRO: “VICE-REI DO NORTE – Memórias e Revelações” À
INESPERADA INVASÃO DOS COLONOS AO PALÁCIO DO GOVERNADOR
A
manifestação podia ter acabado numa tragédia: havia o desejo de pegar
em armas e atacar os defensores da Independência Total. Estes depressa
galvanizaram as populações e o movimento do pró era imparável. Só se
matassem o povo inteiro. Houve quem estivesse quase a perder as
estribeiras. – Felizmente que, a Providência ou os caprichos dos
destino, quiçá mesmo a bênção do santo que deu nome à principal
Ilha, enviaram a São Tomé e Príncipe, um homem probo e bom, corajoso e
sensato, de seu nome, António Elísio Capelo Pires Veloso, nascido em
Gouveia, a 10 de Agosto de 1926, e falecido no Porto, 17 de agosto de 2014, major-general
do Exército português, conhecido como o "vice-rei do Norte" pelo seu
desempenho militar no Golpe de 25 de Novembro de 1975 e pelo livro de
memórias que escreveu em 2009.
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“É
preciso explicar a importância do 25 de Novembro, se não tivesse
existido, o 25 de Abril teria desaparecido, (…) E não se pode ensinar às
crianças na História de Portugal, que o Eanes foi um herói. Pois se ele
não fez nada!”, afirmava então.- PÙBLICO Morreu Pires Veloso, o “vice-rei do Norte” - PÚBLICO
A
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