Jorge Trabulo Marques - Jornalista -
"EU NÃO SOU VELHO, SOU ANTIGO!... QUE É UMA COISA DIFERENTE". -
Quem sabe fazer a distinção, entre o que é velho e antigo, entre velharias e antiguidades, são precisamente os homens que têm gosto pela arte.
Quem sabe fazer a distinção, entre o que é velho e antigo, entre velharias e antiguidades, são precisamente os homens que têm gosto pela arte.
José Henrique de Azeredo Perdigão, no seu tempo, foi um deles. E,
certamente, não teve rival. Era um homem simples, culto, afável e comunicativo.
Aliás, as grandes figuras são generosas e despidas de vaidade. Ele era um
desses extraordinários exemplos.
O seu diálogo infundia um prazer especial. É justamente a impressão que ainda
hoje tenho, sempre que reouço a entrevista que me deu a hora e o prazer
de conceder, parecendo-me que ainda o estou a rever atrás da sua enorme
secretária, pejada de dossiers e de papéis. Com uma transbordante jovialidade,
rara para a sua idade. Já lá vão uns bons anos.
.José de Azeredo Perdigão - Os Grandes Portugueses
O Dr. Azeredo Perdigão, daquele foi o braço direito do milionário Calouste Gulbenkian, desde que escolheu Portugal para seu retiro, devido à guerra que grassava além dos Pirenéus, personalidade que soube sempre manter uma vida simples, discreta, mas muito intensa e trabalhosa, longe da comunicação social e também um respeitoso distanciamento dos sucessivos governos que conheceu.
A entrevista, que me deu a honra e o prazer de me conceder, senão a única mas das raras em sua vida, ficou a dever-se ao excelente relacionamento que mantinha com o Arquiteto Sommer Ribeiro, que, além de Diretor do Centro de Arte Moderna da Fundação Gulbenkian, ali desempenhava importantes funções.– E porquê este raro privilégio? – Nomeadamente, pelo meu papel na divulgação das atividades culturais desta instituição, através da Rádio Comercial RDP, na qual era repórter.
Quando me acompanhou ao seu escritório, o que inicialmente estava previsto eram apenas umas breves declarações, sobre o papel da Fundação nos novos países de expressão portuguesa, e o que pensava sobre as comemorações dos descobrimentos – De facto, não se podia exigir mais de quem se apresentava por detrás de uma enorme secretária toda ela coberta de papéis e com ares de que todo o tempo lhe era pouco, tanto mais que não tardaria a completar 91 anos de idade . Porém, para minha agradável surpresa, o diálogo evoluiu naturalmente –E mesmo para além do que ficou registado no gravador. O que é editado em vídeo ( e transcrito para texto) é apenas um excerto da longa e interessante entrevista que aqui tenho a honra de apresentar, se bem que os temas que ali me levaram não estejam incluídos neste registo: não por serem menos importantes mas para não tornar o vídeo demasiado long
JOSÉ AZEREDO PERDIGÃO, O HOMEM QUE FEZ MAIS PELA CULTURA EM PORTUGAL DE QUE TODOS OS GOVERNANTES, DEPOIS QUE ELE MORREU
A Fundação Calouste Gulbenkian. GOZA DE PRESTÍGIO INTERNACIONAL, SENDO CONSIDERADA UMA DAS MAIS IMPORTANTES A NÍVEL MUNDIAL NO SEU GÉNERO
Tive o privilégio - o grande prazer de entrevistar -
algumas das mais importantes figuras da vida nacional, em vários domínios,
guardo em cassete(cerca de 300) parte dessas entrevistas. José Azeredo
Perdigão, foi uma dessas figuras. Recebeu-me no seu gabinete. E, aquilo que
inicialmente estava previsto apenas para uma curta declaração,
transformar-se-ia numa longa e interessante entrevista - Parte da qual vou aqui
transcrever - Pois, o seu magnífico exemplo, julgo que se insere perfeitamente
neste site de Os Templos do Sol - Ele que ajudou a fundar - e foi seu primeiro
administrador - um dos maiores Templos da Cultura em Portugal..
Da extensa entrevista, que me concedeu, apenas breves minutos foram transmitidos na Rádio Comercial, onde era repórter. Veja como ele conheceu Calouste Gulbenkian e o que ele pensava sobre o futuro da mais importante fundação de Portugal - Hoje, bem diferente do que foi: extinguiram a Companhia de ballet e venderam o Palacete de Paris, uma das maravilhas arquitectónicas, que fora a residência de Gulbenkian - possivelmente para eventual jogada financeira.
"EU NÃO SOU VELHO, SOU ANTIGO!... QUE É UMA
COISA DIFERENTE"
(...) JTM - Uma vida ligada à fundação, a muita
coisa, a muita actividade: valeu a pena o que fez?
JAP - Se eu pudesse ou
tivesse a possibilidade de retornar a viver, eu faria as mesmas coisas mas com
menos erros, evitando os erros com a experiência que a vida me deu.
São tantas as coisas que eu
desejaria fazer e não posso fazer, mas não quero mostrar-me excessivamente
ambicioso ou excessivamente ingrato com a sorte que o destino me deu, porque me
permitiu realizar algumas coisas que outros não tiveram a sorte de o fazer.
Eu tenho na realidade de
agradecer, digamos, a Deus, o dar-me capacidade e os meios de eu poder ser útil
ao meu semelhante durante os anos de vida longos que eu já tenho.
JTM - Vai fazer 91 anos em 19 de Setembro. Aqui à
frente de uma secretária com muitos papéis, muitas coisas, muitos livros! Ainda
a escrever com essa acuidade mental!...Com essa garra?... Com essa força?!...
Como é que explica, essa sua força, essa sua longevidade! Mercê de alguma
disciplina interior?...como é que explica tudo isso?...
(...) JTM - Uma vida ligada à fundação, a muita
coisa, a muita atividade: valeu a pena o que fez?
JAP - Se eu pudesse ou
tivesse a possibilidade de retornar a viver, eu faria as mesmas coisas mas com
menos erros, evitando os erros com a experiência que a vida me deu.
São tantas as coisas que eu
desejaria fazer e não posso fazer, mas não quero mostrar-me excessivamente
ambicioso ou excessivamente ingrato com a sorte que o destino me deu, porque me
permitiu realizar algumas coisas que outros não tiveram a sorte de o fazer.
Eu tenho na realidade de
agradecer, digamos, a Deus, o dar-me capacidade e os meios de eu poder ser útil
ao meu semelhante durante os anos de vida longos que eu já tenho.
JTM - Vai fazer 91 anos em 19 de Setembro. Aqui à
frente de uma secretária com muitos papéis, muitas coisas, muitos livros! Ainda
a escrever com essa acuidade mental!...Com essa garra?... Com essa força?!...
Como é que explica, essa sua força, essa sua longevidade! Mercê de alguma
disciplina interior?...como é que explica tudo isso?...
JAP - Eu não posso explicar a
longevidade, que não depende de mim... Agora o que eu procuro é não praticar atos
que possam direta ou indiretamente reduzir-me o tempo de vida. Sou uma pessoa
disciplinada... mas nem por isso, por ser disciplinado, deixo de fazer tudo
aquilo que me agrada e tudo aquilo que devo realizar
JTM - Mas... desculpe-me a pergunta: deve-se
também a alguma dieta especial ou aquele sono, enfim, àquelas horas de se
deitar sempre em determinado período ou isso tem a ver com uma força espiritual
interior?
JAP - Sou um indisciplinado!
mas simplesmente tenho uma disciplina interior, sim, mas na vida, na maneira de
ser, na maneira de me conduzir, eu não posso ter disciplina, não posso ter
programas; as circunstâncias é que me dominam, as circunstâncias é que me
forçam e as circunstâncias é que me orientam!
JTM - A nível de dieta: pratica alguma dieta
especial?
JAP - Não pratico dieta
nenhuma especial! Eu sou uma pessoa normal, modesta, simples... Tenho uma vida
simples!... Simplesmente trabalhosa!
JTM - E a nível de desporto: chegou a praticar
algum desporto?
JAP - Quando jovem pratiquei vários desportos... até joguei futebol!... Fiz esgrima...Montei a cavalo... Ainda hoje, se tivesse tempo, por exemplo de montar a cavalo, ainda hoje montava a cavalo. Me sentia com forças de montar a cavalo!
JTM - Isso é realmente espantoso!... Porque, há
pessoas, que aos sessenta ou setenta anos, ficam velhas!... Envelhecem!..
JAP - Bem vê... eu costumo
dizer quando me perguntam a idade que tenho – eu não digo a idade que tenho,
porque não quero gabar-me da idade que tenho – eu não sou velho!... Eu sou
antigo! que é uma coisa diferente!...Faço uma distinção entre a antiguidade e a
velhice: eu pertenço à categoria dos antigos!.. E não à categoria dos velhos!
JTM - Ser velho, é digamos, é ser velho em espírito! É já não fazer coisas... é deixar passar o tempo!...
JAP - Pois é... Eu não!... Eu continuo a trabalhar em média dez
horas por dia..
JTM
- Neste momento, está a escrever algum livro?
JAP - Não tenho tempo para escrever livros...O tempo falta-me
até para responder às cartas que me escrevem.
JTM
- Cartas?!...
JAP - Sim!... Eu recebo centenas de cartas por mês!
JTM
- E responde a todas a essas cartas?!...
JAP - Não respondo a todas mas respondo à maior parte..
JTM
- Nesta altura, a sua maior atenção vai para essa toda correspondência e,
naturalmente, aqui para a Administração da Fundação?
JAP - É a Administração da Fundação Gulbenkian que, no fundo, me
absorve toda a minha atividade... tudo se centraliza na Fundação Gulbenkian...
Hoje a minha vida é esta cadeira, onde estou sentado e todas as atividades que
emergem dos despachos que eu dou e das relações com o Conselho de Administração
que eu presido
JTM
- -Digamos, tem sido uma vida inteiramente votada à Fundação!.. Ou pelos menos
substancialmente votada à Fundação.
JAP - Não!... Antes da Fundação eu tive outra vida, que foi da
advocacia.
JTM
- Quero-me referir desde que entrou para a Fundação.
JAP - Exclusivamente dedicado à Fundação Gulbenkian. Mesmo pelos
estatutos da Fundação...Pelo testamento do Sr. Calouste Gulbenkian, eu não
posso exercer qualquer outra atividade lucrativa, além da Presidência da
Fundação Gulbenkian... Razão porque eu cancelei a minha inscrição como
advogado. Hoje sou advogado honorário mas sem exercer qualquer atividade
profissional
JTM - Conheceu esse grande homem!...O fundador
desta Fundação: uma palavra para esse homem... Nunca é por demais sublinhá-lo.
JAP - É um homem que eu conheci
como meu cliente... Convivi com ele durante o tempo em que aqui esteve até
falecer. Eu considero-o uma pessoa superior, em todos os sentidos! Na
inteligência!.. Na da ação! Mesmo na generosidade!.. Porque, o facto de ele ter
constituído esta Fundação, é uma prova do seu espírito humanista!... Ele era,
sem dúvida, um humanista!
JTM – Um amigo de Portugal!..
JAP - Sim!... Muito!... Ele
simpatizou com Portugal... Ele veio para aqui para estar, simplesmente, uma
semana ou duas semanas em período de repouso... e foi ficando... Foi
prolongando... E aqui esteve uns poucos de anos até morrer... Porque acabou por
morrer em Portugal... A prova evidente que o nosso meio, o meio social, o meio
político e económico lhe agradavam!... Ele sentia-se bem aqui, assim...
JTM - Adotou o país como pátria sua!
JAP - Sim, adotou o país... É difícil saber qual era a pátria dele... Porque ele era arménio de raça...Nasceu na Turquia!... Tinha o seu domicílio em Paris e estava naturalizado inglês. Por isso, já vê que é difícil dizer-lhe a pátria dele...Veio viver para Portugal... Suponho eu, com a intenção de poder repousar... Foi no período da guerra, não é verdade...em que a França foi ocupada... A França foi ocupada e depois foi dividida em França livre e França ocupada... O governo de Pétain veio paraVichy e ele entendeu que devia ir para Vichy . Esteve em Vichy algum tempo ... Havia naturalmente dificuldades em Vishy...Estavam em guerra... e pensou em vir para um país, no sul da Europa, que estivesse em paz... E escolheu Portugal. E veio, digamos, para um período de férias!... E, afinal, interessou-se por nós... Achou-se bem... Foi bem acolhido!... Foi bem acompanhado por bons médicos. Porque foi uma das coisas muito importantes, a confiança que ele tinha nos médicos... Porque ele preocupava-se muito com a sua saúde... Ele teve aqui médicos muito bons.. Quero citar um nome que é Fernando do Fonseca , já falecido e que foi realmente uma das figuras notáveis da medicina portuguesa, um dos médicos do Sr. Calouste Gulbenkian(não foi único!), mas foi um deles.... Foi um conjunto de circunstâncias... A paz pública! Que nós gozávamos aqui em Portugal... isso encantava-o!
JAP Imediatamente... Se não
foi no próprio dia, foi um dos dois dias imediatos...
JTM - Foi consigo que ele tratou a criação da
Fundação?..
JAP - Foi comigo que ele
tratou a criação da Fundação Gulbenkian... Não admira... pois era o seu
advogado... Era o seu consultor jurídico... E, consequentemente, ele
necessitava de um consultor jurídico para criar um Fundação em Portugal...
"O RISCO DA FUNDAÇÃO ACABAR EM
CONSEQUÊNCIA DE UMA CARÊNCIA DE MEIOS FINANCEIROS, NÃO EXISTE"
JTM - Quando o projeto apareceu era um projeto
menos ambicioso ou que foi galgando, foi tornando-se forte com o tempo?...
JAP - Eu estou convencido que
no espírito dele a Fundação talvez não tivesse a dimensão que ela tem hoje!...
Eu pergunto a mim próprio se porventura me tivessem perguntado quando a
Fundação foi constituída, se ele teria o desenvolvimento e a dimensão que hoje
tem, eu diria que não.
Os fundos.... Naturalmente,
que, à primeira vista, com estas despesas todas, faz-nos criar aquela dúvida ou
pelo menos a interrogação: será que os fundos darão para que a Fundação possa
viver muitos anos?... Ou eles terão seu limite?
Uma das minhas preocupações
foi precisamente assegurar a continuidade, digamos assim, a perenidade da
própria Fundação... Esse risco de a Fundação acabar em consequência de uma
carência de meios financeiros não existe.
JAP – Porque a Fundação está
bem assegurada!... A Fundação tem realmente um património que garante a sua
sobrevivência...
JTM . Para muito!... Muito tempo!...
JAP - Por muito
tempo...nunca se sabe... Nada é eterno!... E sobretudo nós não podemos prever
como evoluem os investimentos que ele tem... A sua fortuna...Como evoluem esses
investimentos. Onde é que as coisas em que ele investiu podem realmente ser
produtivas ou deixar de ser produtivas... ou extinguirem-se mesmo.. É um
contingente na vida moderna, que nós não podemos ter a certeza de sobreviver
física e economicamente...
JTM - O importante é sublinhar o que se fez!...que
foi imenso! Que foi bastante...em vários domínios: na cultura, na ciência, na
saúde e noutros sectores de atividade. E, Portugal, teria naturalmente
enfrentado algumas dificuldades se não fosse o apoio da Fundação?
JAP - É evidente que a
Fundação da Gulbenkian tem ajudado a resolver alguns problemas da vida
nacional... Mas, se a Fundação não existisse, os governos encontrariam outros
meios para resolver essas dificuldades... É claro que a Fundação Gulbenkian tem
feito muito... Mas, não quer dizer que, se a Fundação não existisse, não
encontrasse para os mesmos problemas, soluções, talvez até soluções melhores
(Nestas duas imagens - o autor da entrevista)
(.....)
Nunca pensei em que a Fundação Gulbenkian se substituísse
ao Governo, nem se imiscuísse na governação pública. A Fundação Gulbenkian tem
tido sempre uma independência total do Governo, uma independência colaborante,
mas nunca uma dependência.
Na
mesma entrevista (igualmente gravada) foram ainda colocadas questões sobre o
apoios da Fundação aos novos países de expressão portuguesa e as comemorações
dos descobrimentos, entre outros temas. Em of
contou-me que a Fundação Gulbenkian chegara a emprestar dinheiro ao governo de
Oliveira Salazar para evitar a banca rota.
Dir-se-ia que a sua vida estava intrinsecamente ligada ao crescimento e à morte das plantas e das flores. Cuidavam dos jardins com o mesmo carinho e esmero como se sentissem parte da mesma casa e do mesmo património. Até os patos os reconheciam e grasnavam, quando passavam junto dos lagos. - Creio que, desde o mais humilde servidor, jardineiro, contínuo, vigilante, escriturário, músico ou artista, consultores jurídicos, económicos ou culturais, Directores do Museu e Centro de Arte Moderna, das Bibliotecas, Orquestra e do Ballet, aos mais destacados corpos gerentes da sua administração, ao seu Presidente, se sentiriam unidos na mesma grande família, verdadeiramente irmanada e empenhada em honrar os propósitos do grande patriarca Calouste Sarkis Gulbenkian
Extinguiram a Companhia de Ballet (Fundação
Gulbenkian extingue Ballet)
e venderam uma das maravilhas da Fundação
Gulbenkian, em Paris - Autênticos crimes Lesa-Património, Lesa-Humanidade
Setembro do16 - Homenagem a Azeredo Perdigão
A 19 de Setembro assinalam-se os 120 anos de nascimento de José de Azeredo
Perdigão, que presidiu à Fundação Calouste Gulbenkian desde a sua criação, em
1956, até à data da sua morte, em 1993. A inauguração de um novo busto no
edifício da Coleção Moderna, uma conferência, com a participação de dois
antigos presidentes da República, e um concerto com o Coro e Orquestra Gulbenkian,
são alguns dos momentos da homenagem preparada pela Fundação ao seu primeiro
presidente. https://gulbenkian.pt/wp-content/uploads/2016/05/NL_FCG179web.pdf
- Argumentam os mesmos do desaparecimento o Ballet
Gulbenkian
que a venda do histórico imóvel, serviu para cobrir a abertura de
instalações mais modernas e ao lado de outras do mesmo género, mas onde a
concorrência é bem maior e cujo local jamais poderá superar a importância da
mais bela obra arquitetónica, situada no 51
Avenue d'Iéna 75116 Paris, France coração do
histórico Paris, onde desde há quase meio século, esteve instalado o Centro
Cultural da Fundação Gulbenkian - Agora, que fizeram a negociata, e cometeram a
suprema barbaridade, andam por lá, pelas ditas novas instalações, armados em
velhas e azougadas carpideiras, com badaladas exposições em “Memória do sítio“
ABANDONOU-SE O CENTRO ARTÍSTICO
INFANTIL – ONDE AS CRIANÇAS APRENDIAM A ARTE PARA DAR LUGAR A UMA CAFETARIA DE
LUXO
Antes existia lá um centro
artístico infantil, onde as crianças aprendiam os primeiros rudimentos
artísticos, agora encontra-se lá instalada mais uma cafetaria, onde uma chávena
de chá lhe custa 2 euros, ou seja – Ao oportunismo liberal consumista, onde
poder extrair lucro, nada escassa- Para disfarçar, puseram à dita Cafetaria-
geladaria, o nome pomposo de Centro Interpretativo Gonçalo Ribeiro Teles
Fica sitiado unto à entrada lateral para a “Fundação,
pela Av. Marquês Sá da Bandeira, no local onde antes funcionara o Centro
Artístico Infantil (conhecido por “Centrinho”), desocupado há mais de dez anos,
está a nascer um novo projeto que alia um centro de informação multimédia sobre
o Jardim, dirigido a todos os públicos, a um espaço de lazer onde os visitantes
poderão deliciar-se com um gelado no verão ou uma bebida quente no inverno. O
horário de funcionamento deste novo equipamento acompanha o do Jardim: das 10h
às 19h. Jardim com centro interpretativo e nova esplanada
Os
jardins da Fundação Gulbenkian foram concebidos por bons mestres: os arquitetos
paisagistas António Viana Barreto e Gonçalo Ribeiro Teles. E creio que, pelo
menos enquanto o Dr. Azeredo Perdigão foi presidente, houve o cuidado de ser
fiel à sua conceção naturalista – mas também humanista – dos seus autores. E
essa harmonia foi mantida, porque havia os chamados jardineiros da casa. E
agora já não há.
António Ramos Rosa - Era um dos frequentadores dos jardins da Gulbenkiam, pelo menos enquanto morou na Rua do Bocage - Numa das imagens, sentado num banco em profunda reflexão, tranquilamente e como que abstraído do mundo e, noutra oportunidade, junto a um dos velhos eucaliptos.
.
Estar Só é Estar no Íntimo do Mundo
Por vezes cada objecto se ilumina
do que no passar é pausa íntima
entre sons minuciosos que inclinam
a atenção para uma cavidade mínima
E estar assim tão breve e tão profundocomo no silêncio de uma plantaé estar no fundo do tempo ou no seu ápice
ou na alvura de um sono que nos dá
a cintilante substância do sítio
O mundo inteiro assim cabe num limbo
e é como um eco límpido e uma folha de sombra
que no vagar ondeia entre minúsculas luzes
E é astro imediato de um lúcido sono
fluvial e um núbil eclipse
em que estar só é estar no íntimo do mundo
António Ramos Rosa
LUGARES ÚNICOS E ÍNTIMOS DO MUNDO, TENDEM A DESAPARECER -
Pois bem, dos tais jardineiros que por lá cresciam e envelheciam, como que seguindo o mesmo curso das plantas em cada estação do ano, apenas encontrei um deles, que não deixou de me falar das saudades, que lhe vinham ao pensamento de outros tempos, de um outro espírito do lugar e camaradagem:
Estar Só é Estar no Íntimo do Mundo
Por vezes cada objecto se ilumina
do que no passar é pausa íntima
entre sons minuciosos que inclinam
a atenção para uma cavidade mínima
E estar assim tão breve e tão profundocomo no silêncio de uma plantaé estar no fundo do tempo ou no seu ápice
ou na alvura de um sono que nos dá
a cintilante substância do sítio
O mundo inteiro assim cabe num limbo
e é como um eco límpido e uma folha de sombra
que no vagar ondeia entre minúsculas luzes
E é astro imediato de um lúcido sono
fluvial e um núbil eclipse
em que estar só é estar no íntimo do mundo
António Ramos Rosa
LUGARES ÚNICOS E ÍNTIMOS DO MUNDO, TENDEM A DESAPARECER -
Pois bem, dos tais jardineiros que por lá cresciam e envelheciam, como que seguindo o mesmo curso das plantas em cada estação do ano, apenas encontrei um deles, que não deixou de me falar das saudades, que lhe vinham ao pensamento de outros tempos, de um outro espírito do lugar e camaradagem:
José Henrique de Azeredo Perdigão
Viseu - 19 de Setembro de
1896 — Lisboa, 10 de Setembro de 1993
Funcionário n.º 1 da Fundação
Calouste Gulbenkian e seu presidente vitalício entre 1955 e 1993, ano em que
faleceu com 97 anos.
Natural da Casa do Miradouro, em
Viseu (19 de Setembro de 1896) filho de José Cardoso Perdigão e de sua mulher
Raquel de Azeredo, licenciou-se em Direito, pela Faculdade de Direito da
Universidade de Lisboa, e pós-graduou-se em Ciências Jurídicas, pela Faculdade
de Direito da Universidade de Coimbra. No ano de 1919 estabeleceu-se como
advogado em Lisboa e, a 26 de Julho de 1920, casou pela primeira vez com Alice
Raquel Xavier Dantas da Silva, da qual teve um filho e uma filha. Foi um dos
advogados mais solicitados do seu tempo em Portugal. Participou em alguns dos
maiores processos civis, criminais e comerciais, ganhou fama de implacável e
era pago a peso de ouro.
Democrata republicano participou
na fundação, com Raul Proença, Jaime Cortesão, Aquilino Ribeiro, Raul Brandão,
Faria de Vasconcelos e outros, a revista Seara Nova, onde publicou diversos
estudos e comentários sobre economia. Além de exercer a advocacia, deu aulas e
regeu cadeiras em várias universidades, publicou numerosos trabalhos. Exerceu
funções públicas como conservador do Registo Predial, fez parte do Conselho
Superior Judiciário, pertenceu ao Conselho de Administração do Banco Nacional
Ultramarino e de outras empresas, foi presidente da Assembleia-Geral do Banco
Fonsecas, Santos & Viana e da Sacor, e presidente da Assembleia-Geral e
do Conselho de Auditoria do Banco de Portugal. Em 1942 conheceu o milionário e
filantropo Calouste Gulbenkian (que escolheu Portugal como refúgio durante a
Segunda Guerra Mundial), que impressionou, sendo contratado como seu assessor
jurídico. Em 1948 Gulbenkian decidiu fazer o seu testamento, para dar destino à
sua fabulosa colecção de arte, e a sua confiança em Azeredo Perdigão foi
decisiva para a criação da futura fundação em Portugal, que negociou as
condições mais favoráveis com o governo português. A 8 de Julho de 1949 falecia
a sua primeira mulher Alice Raquel Xavier Dantas da Silva. Calouste Gulbenkian
morreu em 1955 e, após uma batalha jurídica entre com Cyril Radcliffe, o
advogado inglês do milionário, Azeredo Perdigão venceu e foram aprovados os
estatutos da Fundação Gulbenkian, a 18 de Julho de 1956, com sede em Portugal.
Azeredo Perdigão não queria a interferência de Salazar na fundação e consegui
essa independência, pois o Presidente do Conselho, que não gostava das suas
opiniões políticas, também não duvidava do seu patriotismo e acreditava que ele
defendia os interesses nacionais. Azeredo Perdigão foi nomeado presidente
vitalício da Fundação Calouste Gulbenkian e, desde então, abandonou a sua
actividade de advogado para se dedicar inteiramente à fundação, sendo nessa
ocasião homenageado pela Ordem dos Advogados Portugueses.José
de Azeredo Perdigão
José Henrique de Azeredo Perdigão
Licenciado em Direito pela
Faculdade de Direito de Lisboa e pós-graduado em Ciências Jurídicas pela
Universidade de Coimbra. Foi doutor honoris causa em Direito pelas
Universidades de Coimbra, do Porto, Nova de Lisboa, Baía, Rio de Janeiro e São
Paulo, em Artes pelo Royal College of Arts de Londres, em Ciências Humanas pela
Universidade de Southeastern (EUA), em Humanidades pela Universidade de Sophia
(Japão) e em Arquitectura pela Universidade Técnica de Lisboa.
(…) Foi sócio de mérito da Academia Nacional de Belas-Artes e da Academia Portuguesa de História, entre outras instituições. Foi governador da Fondation Européenne de la Culture. -Chanceler das Ordens de Mérito Civil, foram-lhe atribuídas numerosíssimas condecorações nacionais e estrangeiras, entre elas as grã-cruzes portuguesas da Ordem da Torre e Espada, da Ordem de Cristo, da Ordem do Infante D. Henrique e da Ordem do Mérito. Foi membro do Conselho de Estado. Azeredo Perdigão
(…) Foi sócio de mérito da Academia Nacional de Belas-Artes e da Academia Portuguesa de História, entre outras instituições. Foi governador da Fondation Européenne de la Culture. -Chanceler das Ordens de Mérito Civil, foram-lhe atribuídas numerosíssimas condecorações nacionais e estrangeiras, entre elas as grã-cruzes portuguesas da Ordem da Torre e Espada, da Ordem de Cristo, da Ordem do Infante D. Henrique e da Ordem do Mérito. Foi membro do Conselho de Estado. Azeredo Perdigão
O QUE SE DIZ SOBRE A ADMINISTRAÇÃO DE JOSÉ AZEREDO
PERDIGÃO E DAS ADMINISTRAÇÕES QUE LHE SEGUIRAM
"Os grandes vultos de Azeredo e Madalena Perdigão
foram os motores de uma instituição com um prestígio e dignidade notáveis. O
amor pelas pessoas e pela cultura de Azeredo Perdigão obrigava a preços muito
económicos nos concertos, Perdigão se visse pessoas à porta do grande auditório
sem bilhete, muitas vezes jovens sem dinheiro, dizia aos porteiros: “deixem
entrar toda a gente, não fica ninguém à porta na Fundação Gulbenkian”. Longe
estão os dias de Azeredo Perdigão, longe está a elegância e a qualidade do
homem que fez da instituição o verdadeiro ministério da cultura de Portugal.
Hoje em dia a administração da Gulbenkian decide acabar com um património, que
já não é pertença de uma instituição mas universal, de um dia para o outro, sem
reflexão pública, de forma autoritária e como se tratasse de uma empresa que se
quer deslocalizar. O respeito pelo público e pelos artistas foi o primeiro
património a desaparecer o que se seguirá?" Gulbenkian - memória
- Crítico.
"A Fundação tem recrutado para a sua
Administração gente oriunda da vida política e "banqueiros" (melhor
seria dizer gestores bancários): Isabel Mota, Teresa Gouveia, Marçal Grilo,
André Gonçalves Pereira, Artur Santos Silva, Diogo Lucena, Rui Vilar. Nenhum
destes gestores tem a menor sensibilidade ou currículo académico na área
cultural."
Gulbenkian-
uma nota - Crítico
(...)o Ballet Gulbenkian já não pertence a 9
membros de um conselho de Administração, pela sua história já é um património
Português e Mundial. Pelo facto de uma Fundação ser privada não lhe assiste o
direito moral para a destruição gratuita de algo que é de todos. Existem
limites para a barbárie Ballet Gulbenkian - Contrariar o Medo De Existir - Crítico
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