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Luís de Raziel – Pseudónimo de Vidente Vara de Deus
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Porque será que por vezes me sinto nas vestes de Cristo, envergando as suas túnicas, sendo levado a imitar os seus gestos, os seus passos; outras a rever-me na pele
de bruxo noturno? – Esta é uma estanha dualidade mística que me persegue desde a infância e adolescência: no tempo em que, umas vezes era tentado a isolar-me nos penhascos e a orar junto de imagens religiosas que eu próprio moldava de barro, noutras a acompanhar um ancestral culto das bruxas, para as quais a noite escura estrelada ou iluminada pelo luar era – a certas sextas-feiras – o seu vagueio predileto, o seu templo sagrado - ""Sê integro, sê inteiro! Sê Verdadeiro! Tal como és, tal como vieste à luz do mundo: desde aquele dia primeiro em que te descerraram as pálpebras e passaste a fazer parte do Grande Milagre da Vida - "; Assim tem sido esta a minha sina, o meu misterioso fadário
Há lugares que, conquanto se situem na Terra, não são deste Mundo - Transparecem um tal impacto, uma qualquer áurea ou força energética, sobre os quais não existe explicação. - É o caso do Solar do Vale Cheínho, também conhecido por Solar dos Ventos Uivantes do Vale Cheiroso
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Dualidade mística: umas vezes nas vestes de Cristo, outras... |
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Há lugares que, conquanto se situem na Terra, não são deste Mundo - Transparecem um tal impacto, uma qualquer áurea ou força energética, sobre os quais não existe explicação. - É o caso do Solar do Vale Cheínho, também conhecido por Solar dos Ventos Uivantes do Vale Cheiroso
"Toma-me, ó noite eterna, nos teus
braços
E chama-me teu filho... eu sou um rei
que voluntariamente abandonei
O meu trono de sonhos e cansaços.
Minha espada, pesada a braços lassos,
Em mão viris e calmas entreguei;
E meu cetro e coroa - eu os deixei
Na antecâmara, feitos em pedaços
Minha cota de malha, tão inútil,
Minhas esporas de um tinir tão fútil,
Deixei-as pela fria escadaria.
Despi a realeza, corpo e alma,
E regressei à noite antiga e calma
Como a paisagem ao morrer do dia.
Fernando Pessoa, 1913
há muito
interroguei já todos os da terra;
Além dos
cimos frescos, todas as sombras visito
E as fontes; erra o espírito para cima e para baixo,
E as fontes; erra o espírito para cima e para baixo,
Pedindo
sossego; assim foge o bicho f'rido pra os bosques,
Onde outrora
ao meio-dia repousava seguro à sombra;
Mas o seu
leito verde já não lhe restaura o coração,
Lamentoso e
sem sono o aguilhoa por toda a parte o espinho.
Nem do calor
da luz nem do fresco da noite vem ajuda,
E em vão
banhas as f'ridas nas ondas do rio.
e assim como
debalde a terra lhe oferece a erva alegre
Que o cure, e
nenhum dos zéfiros acalma os sangue a ferver,
Assim,
queridos! assim a mim também, parece, e ninguém
Poderá
tirar-me da fronte o sonho triste?
HOLDERLIN
Não havia luar mas a noite estava escura, o céu coberto de nuvens e não se viam as estrelas - Mas a noite era de um Outono ameno e convidava a andarilhar por antigos caminhos romanos e a devassar os seus mistérios.





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Pedi-lhe que me desse apenas um avanço de 5 minutos, garantindo-lhe que era capaz de (por caminhos e atalhos) chegar mais depressa ao Vale dos Areais, junto ao cruzamento da EN. 102 - É que, do planalto, até lá lá ao fundo, com as curvas e as contracurvas da estrada alcatroada, ainda são 4 Km - Enquanto, se se for pelos atalhos e alguns troços do milenar caminho romano, a distância é bastante mais encurtada - Só que, como, raramente, alguém ali passa e, parte deles, já estão quase intransitáveis, não faltam silvas, ervas e giestas a dificultar a passagem. Mesmo assim logrei chegar primeiro de que ele.
Ora, isso aconteceu naquele dia - porque estava inspirado - Mas nada agora me garante que possa voltar a dispor (para efeitos de aposta) de idêntica volatilidade e inspiração. É tal qual como a poesia nos poetas ou a prestação de um atleta numa pista de corta-mato ou de um jogador num campo de futebol: nem sempre a predisposição física e mental, é seguramente a mesma. Por isso, e também porque, nessa noite, gostava de estar sozinho, obviamente não acedi prestar-me a qualquer outro tipo de incursão nocturna, que não fosse ir ao encontro de um certo devaneio espiritual, que, mais uma vez, me iria conduzir aos meus tempos de criança, quando tomara parte no culto da Irmandade do Anjo da Luz, o anjo que surge nas noites de céu estrelado ao irromper a Estrela da Manhã - Mesmo assim, vim a saber que o voluntarioso grupo noctívago ainda foi de carro até à Quinta do Monte - Situada, lá para os alto da margem esquerda do Côa, por lugares já afastados da aldeia - Aí é a área do xisto, eu andava pelos morros do granito. Estiveram, pois, longe de imaginarem o meu verdadeiro itinerário.
ALÉM DO LATIDO DAS RAPOSAS, APENAS SE OUVIA O PIAR DOS MELROS NOS SILVADOS E DAS NOITIVÓS NAS CARRASQUEIRAS E NOS ESCASSOS OLIVAIS



Tenho quatro tambores na centenária casa que era dos meus pais (agora está desabitada e fico lá apenas por favor)pois, como é compreensível, só posso levar um de cada vez- São de vários tamanhos e de sons diferentes. Também disponho de um búzio, com o qual inicio e termino as minhas noites mágicas, envergando as minhas túnicas.




Corre a superstição de que a dita casa está assombrada e que aparece por lá o homem do gorro vermelho (o diabo) - E também consta que, gente vinda de fora, ainda lá faz alguns rituais. Sim, parece haver um fundo de verdade nisso - talvez atraída pelas velhas lendas do solar. Mas já não são os rituais de antigamente. Creio que foi por essa razão que o grupo de emigrantes lá se deslocou munido de artilharia pronta a fogachar.

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