

Fernando Baltazar já não está entre nós - Já não voltamos a desfrutar mais do seu entusiasmo, da sua dedicação e carinho, da alegria de colaborar e festejar connosco as celebrações do Equinócio da Primavera, do Outono ou o Solstício do Verão: despediu-se, trágica e inesperadamente um dos nossos mais entusiastas membros da Comissão dos Festejos, nos Templos do Sol, nos Tambores.

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Não há uma sem duas – Ainda não há um mês, foi o acidente do Tiago, do seu sobrinho neto, que sofrera o embate de um tractor, numa aldeia vizinha, quando conduzia um motociclo: a pesada máquina, ao atravessar-se-lhe, de repente, na via pública, deixara-o quase às portas da morte, partindo-lhe uma perna e provocando-lhe graves ferimentos.

Contudo, mal imaginara ele que, a tragédia – agora fatal – lhe ia bater também à porta – E também eu, , mal me poderia passar pela cabeça de que aquelas seriam as suas últimas palavras que lhe ouviria pronunciar
Familiares e amigos – toda a minha aldeia, onde era querido e estimado –, ficou profundamente consternada. Creio que todos vamos sentir a sua ausência., as suas palavras simpáticas e amistosas. Mas a mágoa está ainda muito presente e é imensa.
O seu olhar sincero, a sua expressão, sorridente e sempre franca, a sua simplicidade e a maneira como respeitava o próximo, infundia uma natural bondade, ternura e aproximação.
Generoso, comunicativo, afável: com a família, os amigos, com toda a gente. Porque, além de muito culto, era um espírito sensível, aberto, expansivo, dedicado e empenhado. E também um grande apaixonado com o chão que o viu nascer, há 83 anos – De resto, bem patente nas inúmeras fotografias que retratam as paisagens, o património construído, religioso, histórico, paisagístico e humano da nossa aldeia – Legou aos seus (e, no fundo, a todos nós) o mais completo arquivo fotográfico, daqueles tempos, em que, se ia à fonte de aguadeiras no mancho ou de cântaro à cabeça, as ruas eram ainda enlameadas, a iluminação nos lares era a Luz da candeia de petróleo ou do azeite e havia uma igreja no adro com um belíssimo e vestuto
campanário, e que já não existe - Agora, desse singelo templo, só fala a memória dos mais velhos e as fotografias que nos legou, das quais já se fez uma exposição. Tal como já não existem muitas pessoas queridas da aldeia, a que agora o seu corpo se foi juntar.

Morrer de morte natural, até se aceita. Mas quando esta é brutal, é um duplo impacto: é um misto de inconformação, de profunda dor e tristeza
Quem me transmitiu a notícia foi o Pala, um fozcoense de gema, amigo do nosso concelho e da defesa do seu património - Um daqueles valentes entusiastas, sempre disposto a divulgar e a defender as coisas boas da nossa terra, por iniciativa pessoal ou associando-se a outros amigos, agora através do blogue Foz-Côa Friends, de que é o principal dinamizador - Ele já se revelou também um bom amigo, um óptimo colaborador e passou a apoiar-nos, a dar-nos o seu estímulo na realização das nossas festividades. Também ele ficou muito chocado e muito triste com a sua morte, quando soube do acidente que o vitimou, através do site dos Bombeiros de Foz Côa.
Os seus pais eram amigos e, quando o conheceu, também ele passou a admirar as suas qualidades, a alegria, o entusiasmo, a maneira de ser, natural e muito humana. do Prof. Baltazar - Era das tais pessoas, em que a generosidade se espelha directamente da alma aos olhos e se reflecte no rosto, presente-se e é transmitida, logo às primeiras falas, como um espelho voltado ao sol, numa saudável convivência de empatia e de entusiasmo.

Mas era ali, entre duas íngremes vertentes e com o vale encaixado a servir de pano de fundo, a correr pasmado de sul para norte, que tantas as vezes terá sentido a alegria de se deliciar com as belas uvas, os saborosos frutos que ali colhia, em que tanto se esmerava - mas também onde sentia alguns desapontamentos, bem amargos, quando o granizo lhe destruía as colheitas! e não lhe deixava sequer uma folha nas videiras , tal como pude um dia ali testemunhar - Mesmo assim, embora vendo que os sacrifícios haviam sido inúteis, o professor seguia de cabeça em frente e não desanimava! - Tinha lá construído uma pequena casa , onde chegava a pernoitar - ou a oferecer essa hospitalidade aos amigos do clube de caça - e, só pela beleza daqueles espaços, pelo vale maravilhoso, pela cascata fantástica, onde o rio parece sufocar com as duas margens - talvez única no Côa e em Portugal - , sim, só por essas dádivas da natureza, eu creio que ele sentir-se-ia recompensado!
Pois foi precisamente, ante esse cenário que lhe era tão próximo e familiar, mas onde a terra se ergue, quase a pique, desde lá do fundo do rio, que a vida o traiu!.. Ele que tanto amava aquelas encostas e a que tantos sacrifícios se há entregado - ele, a mulher e o filho - pois bem: oh destino ingrato e incompreensível, para que és tão injusto aos que fazem da vida, não o ócio, o rame rame sem sentido, mas a permanente entrega, o sacerdócio da sua verdadeira razão de ser e de dar sentido às suas vidas!...
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