HOMENAGEM À ACTRIZ E À POETA
Olá, Rosa, é ainda Inverno!
Lá fora, a imensa abóbada
tolda-se de brumas, densas névoas!
Chove, o dia é cinzento e húmido,
há vento, o ar é gélido, faz frio!
Sim, dou-me conta de tudo isso!
E, até, já soube que abalaste
para outra vida, que já partiste!...
Porém, da janela velhinha
da casa onde eu nasci, descubro,
algures, em sítio indefinido
a tua distinta figura a passear-se
por um jardim florido e a sorrir
ao espaço aberto do mistério
e do céu que era único,
aos teus verdes olhos!
Era um espaço aberto,
um pedaço imenso,
era o céu, que era único,
um abraço imenso!
Maravilhoso, só teu!..
Vejo-o através das vidraças
enquanto ouço o chilrear dos pássaros
nos lindos versos que tu cantaste...
Mas, agora, esses teus belos versos,
soam tristes! - Porque, os sinos dobram!…
Tocam e dobram em tristes versos por ti!…
Sabes: Rosa Lobato Faria:
Mas a culpa é da saudade do velho campanário
da igreja da tua aldeia e não é minha,
porque, os poetas nunca morrem!
São de ontem, de agora e de sempre! - São eternos!
E, ao partirem, nunca encerram a porta!
Porque, atrás deles, outros os seguem!
Deixam sempre a porta escancarada,
deixam-na solitária e livre! - Fica
completamente franqueada!
Passam, partem! - São fugazes
e etéreos como é o próprio tempo..
Vão para longe e estão por perto..
Vão-se embora e logo voltam..
Estão connosco lado a lado,
E, mesmo que se ausentem,
estão sempre à nossa beira:
falam por eles os seus versos
que temos em nossa casa
na estante da biblioteca
ou à mesa da cabeceira.
E todos os dias - ó Rosa! - há novas alvoradas,
que esperam por nós e lufadas de ar fresco lá fora,
telas de manhãs cinzentas ou luminosas,
soalhentas ou diferentes, para abrirmos
devagarinho aquela velhinha janela
por onde te vimos, manhã cedinho, partir...
Jorge Trabulo Marques
enquanto ouço o chilrear dos pássaros
nos lindos versos que tu cantaste...
Mas, agora, esses teus belos versos,
soam tristes! - Porque, os sinos dobram!…
Tocam e dobram em tristes versos por ti!…
Sabes: Rosa Lobato Faria:
Mas a culpa é da saudade do velho campanário
da igreja da tua aldeia e não é minha,
porque, os poetas nunca morrem!
São de ontem, de agora e de sempre! - São eternos!
E, ao partirem, nunca encerram a porta!
Porque, atrás deles, outros os seguem!
Deixam sempre a porta escancarada,
deixam-na solitária e livre! - Fica
completamente franqueada!
Passam, partem! - São fugazes
e etéreos como é o próprio tempo..
Vão para longe e estão por perto..
Vão-se embora e logo voltam..
Estão connosco lado a lado,
E, mesmo que se ausentem,
estão sempre à nossa beira:
falam por eles os seus versos
que temos em nossa casa
na estante da biblioteca
ou à mesa da cabeceira.
E todos os dias - ó Rosa! - há novas alvoradas,
que esperam por nós e lufadas de ar fresco lá fora,
telas de manhãs cinzentas ou luminosas,
soalhentas ou diferentes, para abrirmos
devagarinho aquela velhinha janela
por onde te vimos, manhã cedinho, partir...
Jorge Trabulo Marques
Rosa Lobato de Faria, poetiza, romancista e atriz - Faleceu no passado dia 2 - Estava internada num hospital privado de Lisboa há uma semana devido a anemia e já há mais de seis meses que sofria de complicações devidas a uma cirurgia motivada por uma infecção intestinal.
Nasceu em Lisboa em abril de 1932- Poetisa e romancista – O essencial da sua poesia está reunido no volume Poemas Escolhidos e Dispersos, de 1997. O seu primeiro romance, O Pranto de Lúcifer, veio a público em 1995. Seguiram-se-lhe Os Pássaros de Seda (1996), Os Três Casamentos de Camilla S. (1997), Romance de Cordélia (1998), O Prenúncio das Águas (1999), A Trança de Inês (2001), O Sétimo Véu (2003), Os Linhos da Avó (2004), A Flor do Sal (2005), A Alma Trocada (2007), A Estrela de Gonçalo Enes (2007) e As Esquinas do Tempo (2008).
Foi também autora de diversos livros infantis. Está traduzida em Espanha, França e Alemanha e representada em várias coletâneas de contos, em Portugal e no estrangeiro.
Foi também conhecida do grande público como atriz de televisão e cinema.
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Foi também autora de diversos livros infantis. Está traduzida em Espanha, França e Alemanha e representada em várias coletâneas de contos, em Portugal e no estrangeiro.
Foi também conhecida do grande público como atriz de televisão e cinema.
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..
Rosa Lobato Faria
Se eu morrer de manhã
abre a janela devagar
e olha com rigor o dia que não tenho.
Não me lamentes. Eu não me entristeço:
ter tido a noite é mais do que mereço
se nem conheço a noite de que venho.
Deixa entrar pela casa um pouco de ar
e um pedaço de céu
- o único que sei.
Talvez um pássaro me estenda a asa
que não saber voar
foi sempre a minha lei.
Não busques o meu hálito no espelho.
Não chames o meu nome que eu não venho
e do mistério nada te direi.
Diz que não estou se alguém bater à porta.
Deixa que eu faça o meu papel de morta
pois não estar é da morte quanto sei.
Rosa Lobato Faria
(faleceu em 02-02-2010)
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Rosa Lobato Faria
Se eu morrer de manhã
abre a janela devagar
e olha com rigor o dia que não tenho.
Não me lamentes. Eu não me entristeço:
ter tido a noite é mais do que mereço
se nem conheço a noite de que venho.
Deixa entrar pela casa um pouco de ar
e um pedaço de céu
- o único que sei.
Talvez um pássaro me estenda a asa
que não saber voar
foi sempre a minha lei.
Não busques o meu hálito no espelho.
Não chames o meu nome que eu não venho
e do mistério nada te direi.
Diz que não estou se alguém bater à porta.
Deixa que eu faça o meu papel de morta
pois não estar é da morte quanto sei.
Rosa Lobato Faria
(faleceu em 02-02-2010)
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