IRMÃ LÚCIA - A MINHA SINGELA HOMENAGEM POUCO ANTES DA SUA MORTE - Recordando o 13 de Maio em que eu e minha irmã, caímos a um poço
Anos 80 - O poço já emparedado
Em mais uma das centenas de orações, como expressão artística
Embora imbuído por
convicções profundamente místicas, não me considero propriamente o católico apostólico no sentido
tradicional do termo, já que sou mais induzido a devaneios espirituais
por força de sentimentos de circunstância e ocasionais (que me esforço de poder ter) de que por
rígidos conceitos teológicos ou doutrinários, se bem que os respeite e admire
tal como a mítica figura de Cristo, maravilhoso exemplo de entrega e de virtudes.
Mas, a bem dizer, muitas vezes. nem sei o que sou: ou haverá alguém que seja
sempre inteiramente igual e não tenha os seus heterónimos, as suas
hesitações e divagações?...
.
O RETORNO AO
SAGRADO
Com o escritor Vergilio Ferreira
“Fala-se tanto
nele, como aliás, estava previsto. Mas não no que dele mais importa e não passa
pelos deuses e muito menos pelas sacristias. O retorno do sagrado deve ter que
ver fundamentalmente com a recuperação da sacralidade do homem, da vida, da
palavra, do mundo. A sacralidade está no que suspeitamos de mistério nas
coisas, a força “original de tudo o que nos espera o nosso olhar limpo, a nossa
atenção humilde, a divindade está em nós. O grande acontecimento do nosso
tempo, que é o sinal do nosso desastre, é a profanação de tudo, a
dessacralização do que abusivamente foi invadido pelos deuses. Os deuses
morreram e quiseram arrastar consigo a morte do que era divino sem eles” in
Pensar - de Vergílio Ferreira
.
.
Lúcia de Jesus Rosa dos
Santos, mais conhecida por Irmã Lúcia, nasceu em Aljustrel, Fátima, Ourém, em 28 de Março de
1907 e faleceu no Convento das Carmelitas, Coimbra, em 13 de Fevereiro de 2005 –
Pouco antes da sua morte, telefonei para este Convento a perguntar se ela podia
receber correspondência, já que as visitas eram extremamente condicionadas,
responderam-me que sim, pelo que tomei a liberdade de lhe enviar, por correio
registado, uma pequena cartaem 18 de Outubro de 2004, cujo conteúdo
publiquei no jornal OFOZCOENSE
Foto de família - choramingas
Aos 12 anos - um menino marçano em lisboa
Sei que a missiva lhe foi entregue, que a recebeu. Guardo a cópia do
manuscrito e o impresso do registo, com muito carinho. As razões estão
expressas nessa breve missiva que aqui transcrevo - Seja-se ou não crente, há que admirar uma vida
de clausura, de fé e despojamento, completamente entregue à meditação e oração.
Eu não sou propriamente católico apostólico mas identifico-me com muitos dos seus valores:
gosto das suas orações, cânticos religiosos e liturgia sagrada - Há outros
aspectos em que a minha aproximação com o divino, se faz de forma diferente -
Mas, no fundo, o caminho e os objectivos são os mesmos.
.
CARTA À IRMÃ LÚCIA
Jorge T Marques . Finais dos anos 50
Com um conterrâneo meu - século XXI
Ainda
em vida da Vidente Irmã Lúcia, mandei-lhe uma singela carta, através da
qual lhe descrevi alguns episódios da minha vida - (...) - um deles bem
dramático, em que, num dia, desses meus verdes anos, a 13 de Maio, de 1956, pouco antes de ir a trabalhar como marçano para Lisboa, caí
a um poço, barrento e fundo e me ia afogando com a minha irmã. Também lhe
falei das minhas aventuras marítimas, juntamente com o envio de algumas
imagens, como preito de homenagem e testemunho da minha mais profunda
admiração, pela sua estóica vida, toda ela dedicada ao culto da sua fé .
Desejava-lhe muitos anos de vida, mas no mês seguinte, adoeceu e, não tendo recuperado, partiu,
certamente, de olhos postos na imagem que tanto venerava.
“Lisboa,
18 de Outubro de 2004.
À
vidente Irmã Lúcia:
Anos 80 - O poço já emparedado
Tomo
a liberdade de lhe enviar esta minha simples carta, acompanhada do relato e
fotos de uma odisseia, por mim vivida nos agitados mares do grande Golfo, tendo
apenas por companhia uma simples bússola para me orientar.
Sim,
dirijo-lhe estas linhas e a descrição dessa aventura, como preito da minha
homenagem e a expressão da minha mais profunda admiração, porque vejo em si a
representação de um espírito abençoado, pelo que só peço a Deus que lhe dê
muita saúde e ainda muitos anos de vida.
Mais tarde com a primeira filha
A
minha saudosa irmã Conceição, que Deus levou muito nova, deixando então duas
filhinhas, tinha uma grande devoção em Nossa Senhora de Fátima. E o episódio que
lhe vou recordar, ilustra, justamente, esse facto, quando eu tinha onze anos e
ela 15 .Foi a um domingo, dia 13 de Maio. Regávamos a nossa horta no Vale
Cardoso. Ela retirava a água do poço com ajuda do picanço; eu estava uns metros
mais abaixo para afastar a vara e o caldeiro de uma pedra. Nisto, o picanço
rebenta, ela cai e arrasta-me consigo para o fundo do poço. Este era fundo e
com margens barrentas. A nossa aflição, como deverá calcular, era enorme.
Nenhum de nós sabia nadar. Quando vinha ao de cimo, ela gritava por Nossa
Senhora de Fátima; eu gatinhava junto à margem, estava aterrorizado e apenas
cerrava a boca para evitar engolir mais água. O meu irmão Fernando, então com
nove anos, que encaminhava a água, apercebendo-se, corre em nosso auxílio. A
minha imã grita-lhe para ir buscar uma cana e para descer até um tufo de juncos
que havia na margem, e é o que faz sem perda de tempo. Estende-lhe a cana, ela
agarra-se à mesma e consegue gatinhar pela íngreme vereda. Depois, estende-me a
mão e salva-me também.
Creia,
já passaram muitos anos, mas a imagem está ainda muito presente na minha
memória. E, sempre que me ocorre, a primeira coisa que me vem à ideia, são os
apelos à Nossa Senhora de Fátima, pois não tenho a menor dúvida de que ela,
nesse dia, nos protegeu.
(....)
Aceite, pois, muito humildemente, o preito da minha mais profunda admiração”
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