Há horas menos felizes mas há que manter sempre a esperança, o saber e a firmeza
Do alto onde me encontro e mergulhado como estou, sinto esquecer toda a alegria e toda a dor como se estes instantes fossem a imagem natural do espaço e do tempo
Caro José:
Conheço o seu blogue mas não era por aí que eu queria comunicar consigo. É um facto que no futebol nada pode ser dado como certo ou adquirido. No futebol tudo pode acontecer - E era justamente isso que eu quis sublinhar nessa minha mensagem. “Claro que o futebol, embora se jogue no relvado, é um terreno muito movediço - Pois a bola é redonda e pode ir para os pontos mais inesperados - Nem sempre a melhor equipa é a mais beneficiada ou a que sai vencedora “- Este era o ponto crucial do que eu lhe pretendia transmitir. Pois não espere que alguma vez use a linguagem do totobola: perde; ganha ou empata. Isso é o estilo dos vendedores da banha da cobra, dos charlatães. Pois, como sabe, para as pessoas inteligentes meia palavra basta. É mais ou menos nessa linha (ou com metáforas) que eu prefiro dirigir-me.
Eu sei que está encontrando uma certa resistência interna e externa. A nível interno (passiva), por alguns jogadores que não estão na sua melhor forma e também não se esforçam por tê-la; e também activa por parte de alguns inimigos do actual Presidente do Milão, que nem o desejam a si nem o suportam a ele - e também afectos ao seu antecessor. Por outro, lado, existe a corrente negativa que vem de alguma imprensa - mas muito especialmente a onda de ódio que paira no ar por parte dos seus adversários e contra si. É realmente demolidora: se não desse tanto nas vistas, deixá-lo-iam em paz. Mas o que é se há-de fazer se essa é a sua intrínseca maneira de ser? faz parte da sua personalidade?!… Mudar de atitude?….Evitar a polémica e ser mais discreto?!… Duvido que resultasse. Pois, enquanto aí estiver, não tem outra saída senão resistir e enfrentá-los! - Não perdendo a confiança e continuando acreditar nas suas capacidades. Pois, conforme lhe disse na minha mensagem, as vitórias constroem-se com suor e lágrimas. Ou seja, nem sempre se pode ganhar; o importante é que se ganhe mais vezes do que se perca. E que as derrotas não comprometam nunca as vitórias.
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Mas, já agora, e muito modestamente, queria deixar-lhe aqui a minha sugestão: se é crente, reforce também a sua fé de modo a que o ódio e o mal de inveja de que é alvo possa ser extirpado - Se ainda tem a pedrinha que lhe dei no Estádio do Dragão, leve-a consigo e aperta-a bem numa mão e na outra durante os jogos - Esse é um acumulador energético, altamente positivo, capaz de o livrar em boa parte dessa corrente negativa.
Bom, mas vamos ser positivos. Pois é exactamente com este estado de espírito que se poderão quebrar e vencer quaisquer resistências, amarras ou dificuldades. Conforme disse na mensagem que a seguir reproduzo. É certo que vejo um certo ambiente confuso e de batalha mas creio que, no final,há-de erguer uma grande bandeira. Não lhe vou dizer qual estou antevendo - pois não é esta a razão das minhas palavras. Estou longe; mas por minha parte ( e dentro do possível) tudo farei para lhe desejar boa sorte! - Por forma a que erga no alto do mastro e no cimo das tais ameias do castelo que lhe falei, todas as bandeiras que deseja. Mas isso não depende de mim; depende do José. - Como sabe, nós somos considerados do terceiro mundo e, por isso, quando um portuga começa a destacar-se, não faltam ódios a querer tolher-lhe o caminho. Mas há que resistir e lutar - O pior que lhe poderia acontecer - nem era tanto conquistar títulos - mas soçobrar a meio da jornada. Isso é o que os seus adversários (aliás, inimigos creio ser o termo mais adequado) mais desejariam. Por conseguinte, ter bem presente no pensamento: Acreditar! Acreditar! E deixar que os cães ladrem - Os deuses protegem os audazes e gostam de os ter ao seu lado. Vamos a isso, José! Com saber, coragem, confiança e determinação, faça sempre por não Os desmerecer.Que, pelo menos, uma grande bandeira , no final, haverá de erguer! Luís de Raziel
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Date: 2008/11/26 Subject: Mister José Mourinho - Venho desejar-lhe boa sorte To: thespecialone@setanta.com, info@intermilan.ca Caro José Mourinho: Estive dentro do relvado na inauguração oficial do Estádio do Dragão, em 16 de Novembro de 2004 - Fiz fotografias e ofereci-lhe uma pedrinha mágica - Foi antes de começar o jogo com o Barcelona - Ao passar junto à cabine, instantes antes do desafio começar - Disse-lhe: pegue lá esta recordação e guarde-a bem guardada - Boa sorte!. - Espero que a tenha guardado - É o amuleto da sorte Eu recordo esse episódio no blogue que há pouco pouco tempo editei - Não tenho bem a certeza se esta mensagem lhe chega às mãos. Mas faço votos para que a possa ler. Pois gostaria de o serenar. Vejo que está sendo alvo de um certo fogo cruzado e pressinto que ande algo nervoso e inquieto - Aquela postura que lhe apontam como sendo de arrogante em meu ver é mais uma postura de defesa e de combate. Porque me parece uma pessoa de grande sensibilidade e muito trabalhadora. O seu êxito assenta num porfiado esforço e não é obra o acaso. É bom treinar uma equipa com bons jogadores. Porém, de nada serve se não houver sabedoria e inteligência para os orientar. Mourinho é um excelente líder e conhecedor da psicologia humana, conseguindo incutir confiança e determinação. É claro que, no meio da manada, há sempre uma ou umas quantas ovelhas tresmalhadas que não aceitam ser domadas - E cuja condução exige cuidados de mestre. Mourinho entende isso e procura levá-los pelo bom caminho.. Estou longe e não sigo com atenção o que se passa por aí nos campos de futebol. E, para lhe ser franco, embora goste de futebol, não é o tema que mais me preencha o tempo. Mas também não preciso, pois eu vejo as coisas através de ecos que me soam à mente. Em certos momentos recebo-os como se fossem flashes bastante iluminados. Mas também nem sempre isso acontece: pois, estas coisas de vidência, não é a mesma coisa que ir à torneira e beber um copo de água. è também algo nato Claro que o futebol, embora se jogue no relvado, é um terreno muito movediço - Pois a bola é redonda e pode ir para os pontos mais inesperados - Nem sempre a melhor equipa é a mais beneficiada ou a que sai vencedora. Mas é um facto que a vitória se constrói com muito suor e lágrimas. E Mourinho edifica as suas vitórias como quem constrói pedra a pedra um castelo. Sim, tem pela frente mais um novo castelo - Agora erguido numa alta colina. Mas vejo em torno dele um certo ambiente confuso e de batalha. Mas também o vejo a erguer, por fim, lá bem no alto, sobre o muro de uma das ameias, uma grande bandeira. É uma delas! Mas desejo-lhe do fundo do coração e vou torcer para que não lhe escape nenhuma. Luís de Raziel
Antes de usar as novas tecnologias, optava pela via epistolar .- Dirigi
cartas a várias personalidades, entre as quais a Jorge Nuno Pinto da Costa -
Não creio que as tenha lido - Foram sempre muito extensas e, por isso,
dificilmente as poderia ler.
Porém, como já tive oportunidade de referir, esse não era para mim o
aspecto essencial: o importante é que eu as tenha escrito e dirigido - E mesmo
que não lhas mandasse - como mais das vezes aconteceu - eu sentisse o natural
apelo de escrevê-las. Este era, sem dúvida, para mim, o dado mais relevante
Jorge Luís de Raziel Dezembro, 19 de 2002 Vidente Vara de Deus
Exmo.Senhor
Jorge Nuno de Lima Pinto da Costa
Presidente do Futebol Clube do Porto
Estimado e Mui Digno Presidente:
Espero tenha gostado das pedrinhas que lhe enviei na minha anterior carta,
tal como também estou confiante de que, através das mesmas, haja recebido as
vibrações mais positivas, por forma a alcançar os objectivos a que, tão
denodadamente, e com total entrega da sua própria vida, de há muito vem
prosseguindo, em prol do Futebol Clube do Porto.
Sobre a espantosa descoberta que lhe anunciei ( de um magnífico templo
(...) que descobri num ermo da minha aldeia, e cujas fotos tive o prazer de
lhas enviar, contrariamente ao que lhe prometi, ainda não é desta vez que lhe
vou revelar mais pormenores, mas um pouca lá mais para diante, e ainda antes da
Primavera, pelas razões que então lhe explicarei.
V.Exa é a primeira personalidade a quem eu faço uma tal revelação. Às outras ,
a quem tenciono também transmitir-lhe a boa nova, por enquanto, essas, nem
sequer imaginam - terão que aguardar.
Como terá verificado, tenho-lhe escrito sempre sob pseudónimo, sob o mais
completo anonimato, nunca publicamente, pois entendo que só assim, deste modo
discreto, em completo segredo, poderei corresponder a um profundo e instintivo
apelo ou místico condão, a que sou impelido a pronunciar-me, reconhecendo
emergir de um outro tipo de personalidade, que me habita, que não aquele pelo
qual sou conhecido, e até em actividade pública. Pois tenho receio de que, a
não ser assim, l se me quebre, porventura, um certo pendor, ao brilho do qual
tenho sentido a presença de Deus, e sido impelido( iluminado) a escrever laudas
e laudas, no meu computador, que vou guardando, em silêncio, na sua quase
totalidade.. Porém, e como preciso de alguém a quem me dirigir(mas alguém muito
especial), nesta minha comunhão com Deus e certos espíritos superiores, sim, e
a alguém cujo nome ou figura me ocorra, geralmente faço-o sempre de forma
epistolar, escrevendo espontaneamente, sem fim à vista, pelo que, a bem dizer,
nunca sei antecipadamente, como começo e onde termino.
Já por três vezes tive o prazer de o fotografar: duas das quais na presença
de um batalhão de fotógrafos no Estádio Jamor, para aonde me desloquei
expressamente, não só para fotografar a equipa do Futebol Clube do Porto, mas
também para a livrar de eventuais quebrantos - Sim, por isso, nessas duas
vezes, me plantei junto a uma das balizas, no interior do estádio, socorrendo-me
do poder anímico e cabalístico de dois fascinantes goguinhos, trazidos
expressamente de ermos lugares, abençoados, da minha aldeia, para com eles
poder erradicar possíveis maus olhados e qualquer tipo de enguiçada, ao bom
desempenho da nossa briosa equipa, do Futebol Clube do Porto.
Na outra oportunidade em que o fotografei, foi num conhecido restaurante,
algures na área do grande Porto, onde jantava com pessoas amigas, visivelmente
bem disposto, quando, inesperadamente, umas simpáticas fãs do brioso Clube,
irrompendo de suas cadeiras, não resistiram à tentação de ir cumprimentar e
pedir um autógrafo ao seu querido Presidente - Essas fotos, embora bonitas pela
sua espontaneidade, e beleza dos rostos que se juntavam ao correspondido
sorriso, não lhas mandei, na altura, por recear que me viesse a reconhecer,
pois o único fotógrafo que ali estava era eu, e eu calculo que o Sr.
Presidente, seja uma pessoa de boa memória visual. - Por isso, embora me tendo
visto ali, a fotografá-lo, presumo que nem sequer pôde imaginar que, quem ali
estava, era também para, uma vez mais, e enquanto médium, desejar-lhe muita
saúde, muita coragem, longa vida e muita sorte no seu combate!
Aliás, são os mesmos votos, que, uma vez mais, gostaria de lhe expressar,
certo de que um novo ano, aí está!!.... Pleno de confiança para um Presidente,
cauteloso e previdente, mas ao mesmo tempo, sem descurar do horizonte os
inevitáveis imprevistos, riscos e incertezas. Claro que, havendo determinação,
e clarividente visão de propósitos, tudo é possível de alcançar... Até o cume
das montanhas mais altas da cordilheira do Himalaia, é escalável!
De certo, já reconheceu que, os adversários mais directos do Futebol Clube do
Porto, pelos vistos, têm vindo a denotar enormes fragilidades e fraquezas,
muito aquém dos ânimos e do estado de espírito que animam as hostes da briosa
equipa, que, por mérito próprio, ocupa já o lugar cimeiro na tabela do
campeonato - E, digo-lhe, essa tão badalada contratação do espanhol para o Benfica, está
ferida de morte, quase à nascença, pois vai redundar noutro fiasco - Isto porque, embora
esse treinador tenha os seus méritos, ele, naquela casa, não se vai safar.
Porém, nada de foguetes, antes da festa, muito cuidado, com a enguiçada e
outros tentáculos, excessivamente terrenos, e muito bem organizados, que se
movem sub-repticiamente, como ouriços cacheiros, mas com pérfida eficácia, pelo
que, em meu entender, a restante fase do campeonato, infelizmente, vai ser
recheada de casos, ciladas, lesões, conluios e más arbitragens, em detrimento
do bom futebol - ou, antes, do engenho, da arte e do empenho dos atletas.
Mas será que, Deus, dorme?!...Estou em crer que não... Sim, vejo: Vejo, sob um
céu muito claro e luminoso, um extenso mar azul a perder-se-me de vista,
perdendo-se até a um infinito de um claro e esbatido horizonte, no entanto,
para cá daquela fímbria e esbatida linha, vejo também o recorte de uma linda
praia orlada de brilhante e branca espuma, em que a luz do sol se reflecte em
oiro e prata pelo dourado e branco areal, sorrindo em mil sorrisos com as
tranquilas e luzidias ondas! - E, no alto de uma pequena ilha, em frente, a
escassas milhas, e onde há um singular farol, vejo também, juntinho a esse
marítimo farol, duas maravilhosas ninfas, loucas de alegria, abrindo os braços
ao vento, ébrias de enlevo, e, por vezes, até ensaiando alguns pequenos passos
de etérea dança, ao som de um vago rumor que vem dos confins do oceano, vagido
místico e celestial, pelo que, assim, alegres e muito contentes, vão erguendo,
ao mesmo tempo, numa das mãos, alvacenta taça de um precioso néctar, que ora
bebem, ora erguem em honra aos céus! E cantam, cantam belos hinos! e até, às
vezes, pousando a sua taça, agitam bandeiras azuis e brancas, e, com a concha
das suas delicadas mãos, gritam hosanas a Deus! - Eis o meu sonho, que tive,
recentemente, e que lhe venho descrever, quase em vésperas de festejar mais um
aniversário - O qual espero, e desejo, seja passado com muita alegria, e também
vivido com a graça de um feliz Natal.
Um dia conto falar-lhe do seu signo, que, embora, sob o ponto de vista e a
leitura da actual astrologia, seja considerado como estando no primeiro
decanato da constelação de Capricórnio, tal era há 2OOO anos, que foi quando
nasceu a astrologia; agora já é mais influenciado pela de Aquário, uma vez que,
devido a um certo atraso no movimento aparente do sol, ao fim de 2160 anos,
passa a ser influenciado pela constelação seguinte. Mas, como, na actualidade,
o estudo tem sido feito, imaginando que, em Aquário, se esteja perante
Capricórnio, no fundo, o estudo vem dar ao mesmo - Mas, em parte, não será bem
assim. - Este assunto, ficará, pois, para outra oportunidade. Jorge Luís de Raziel
Entrevista ao
Escritor Vergílio Ferreira – 1916-1996 – “Depois da morte não há nada” – Eu já pensei que a morte era uma a passagem
para o além, para uma vida que se seguiria a esta…Aliás, quando pensei, tinha toda
a aparelhagem para isso, nesse mesmo além… Haveria um céu, haveria um inferno,
haveria um purgatório, etc - Recordando um
dos maiores vultos da literatura portuguesa, que me deu a honra e o prazer de
me receber, várias vezes em sua casa e de me conceder várias entrevistas, cujos registos ainda conservo - A entrevista que, hoje, aqui recordo, teve como tema
principal a questão da morte – Há vida para além da morte? – Entre outras
perguntas
VIRGÍLIO FERREIRA, DISSE-ME, UM DIA, EM SUA CASA:
“ESTOU CONVENCIDO QUE A MORTE É O FIM DE TUDO...MAS NÃO TENHO RAZÃO ABSOLUTAMENTE NENHUMA PARA AFIRMAR QUE DEPOIS DA VIDA NÃO HÁ NADA”
Eu já pensei que a morte era uma a passagem para o além, para uma vida que se seguiria a esta…Aliás, quando pensei, tinha toda a aparelhagem para isso, nesse mesmo além… Haveria um céu, haveria um inferno, haveria um purgatório, etc.…Hoje estou convencido que a morte é realmente o fim de tudo… Se eu não estivesse convencido disso, naturalmente a vida e o seu absurdo não se imporiam tanto!…
Evidentemente que estas certezas não se baseiam em nada… Baseiam-se num equilíbrio interior…(…) Aliás, é em função desse equilíbrio interior que nós aderimos a muita coisa na vida…Desde a mulher que se ama à verdade da política que se segue ou o clube de futebol a que se adere, etc.… Portanto, eu não tenho razão absolutamente nenhuma para afirmar que depois desta vida não há mais nada… A única razão é esse tal equilíbrio interior….Não vou discutir com ninguém que acredito num além!… Não vou discutir com ele para lhe pretender demonstrar que ele não tem razão e quem tem razão sou eu!… Estas coisas decidem-se no íntimo de nós…sem que nós, no fim de contas, para aí metamos prego nem estopa, como se costuma dizer…Estou convencido que a morte é o fim de tudo…. Mas não tenho razão absolutamente nenhuma para afirmar que depois na vida não há nada!.
P - Nunca se se viu à beira da morte?
R - V.F. Já estive à beira da morte duas vezes!… Uma vez porque fui atropelado e estive inconsciente durante seis horas e outra vez, há dois anos, que foi quando tive um ataque cardíaco e quase passei para o lado de lá!… Estive mesmo numa situação em que a minha mulher pensou que eu ia morrer!…Porque já não tinha consciência… também porque estava a abrir e a fechar a boca, como um peixe fora da água!… Mas devo dizer que, nesse momento… aliás, quando fui atropelado não tive tempo de pensar, porque, se tive, esse pensar, apagou-se-me!… Porque, quando há assim perda de consciência - eu não sabia, mas verifiquei por mim - a memória apaga-se-nos, até, digamos, uma hora ou duas horas ou mais, antes do acidente…Não assim, quando tive o enfarte.. porque, nessa altura, eu vi a coisa a progredir justamente o nada…. Mas não tive tempo de pensar na morte!…sentia-me apenas aflito, com um mal-estar tremendo!…Era só o que me preocupava.
P - Portanto, não teve consciência de ficar assustado?
R - V.F - Não…O problemas da morte, o facto de eu me preocupar com a morte não significa que a morte me assuste… apenas tendem a confundir essas duas coisas… Uma coisa é o medo da morte outra é a intriga que a morte nos causa…. A mim…dizer que não me importava de morrer, não é verdade… importo-me tanto como as outras coisas…Mas cada vez me importo menos à medida que o fim se chega… Simplesmente, uma coisa é isso, outra é nós querermos encontrar uma resposta para esta oposição de duas realidades que se opõem flagrantemente!… De um lado a vida, com todo o seu milagre; do outro lado a morte, com todo o seu vazio!… Portanto, a intriga deste problema é que sempre me obcecou… Não é o problema do medo da morte…
. Suponhamos, por absurdo, que eu depois da morte me encontrava de facto, digamos, a viver no além, com a minha auto-consciência, etc. etc… Também não ficava surpreendido!… Agora isso, de maneira nenhuma se me impõe… O que se impõe é a ideia de que isto acabou definitivamente!… Mas, como não tenho razões nenhumas , excepto esse equilíbrio interior, que há pouco disse…pois, naturalmente, não posso ter argumento nenhum para pensar nisso…Por conseguinte, se, por absurdo me encontrasse depois da morte?!…Não sei!… Ficava um bocado interrogado, mas não ficaria assim muito admirado disso!…
Significa, portanto, que este tipo de verdades não têm nenhuma fundamental razão de ser…Claro que eu não acredito em nenhuma sobrevivência para além da morte, não acredito!…O problema intriga-me!…Mas outros acreditam que sobrevirão!… Não tenho nenhum argumento contra eles!… E eles não têm nenhum argumento a opor-se-me a mim…Toda a condução da minha vida, tudo aquilo que eu tenho que pensar, centra-me nesta certeza: realmente depois da morte não há nada…
Anos oitenta - Em conversa com o escritor, tendo como tema - A Morte
O RETORNO AO SAGRADO
“Fala-se tanto nele, como aliás, estava previsto. Mas não no que dele mais importa e não passa pelos deuses e muito menos pelas sacristias. O retorno do sagrado deve ter que ver fundamentalmente com a recuperação da sacralidade do homem, da vida, da palavra, do mundo. A sacralidade está no que suspeitamos de mistério nas coisas, a força “original de tudo o que nos espera o nosso olhar limpo, a nossa atenção humilde, a divindade está em nós. O grande acontecimento do nosso tempo, que é o sinal do nosso desastre, é a profanação de tudo, a dessacralização do que abusivamente foi invadido pelos deuses. Os deuses morreram e quiseram arrastar consigo a morte do que era divino sem eles” in Pensar - de Vergílio Ferreira
Em mais uma das centenas de orações, como expressão artística
Embora imbuído por
convicções profundamente místicas, não me considero propriamente o católico apostólico no sentido
tradicional do termo, já que sou mais induzido a devaneios espirituais
por força de sentimentos de circunstância e ocasionais (que me esforço de poder ter) de que por
rígidos conceitos teológicos ou doutrinários, se bem que os respeite e admire
tal como a mítica figura de Cristo, maravilhoso exemplo de entrega e de virtudes.
Mas, a bem dizer, muitas vezes. nem sei o que sou: ou haverá alguém que seja
sempre inteiramente igual e não tenha os seus heterónimos, as suas
hesitações e divagações?...
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O RETORNO AO
SAGRADO
Com o escritor Vergilio Ferreira
“Fala-se tanto
nele, como aliás, estava previsto. Mas não no que dele mais importa e não passa
pelos deuses e muito menos pelas sacristias. O retorno do sagrado deve ter que
ver fundamentalmente com a recuperação da sacralidade do homem, da vida, da
palavra, do mundo. A sacralidade está no que suspeitamos de mistério nas
coisas, a força “original de tudo o que nos espera o nosso olhar limpo, a nossa
atenção humilde, a divindade está em nós. O grande acontecimento do nosso
tempo, que é o sinal do nosso desastre, é a profanação de tudo, a
dessacralização do que abusivamente foi invadido pelos deuses. Os deuses
morreram e quiseram arrastar consigo a morte do que era divino sem eles” in
Pensar - de Vergílio Ferreira
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Lúcia de Jesus Rosa dos
Santos, mais conhecida por Irmã Lúcia, nasceu em Aljustrel, Fátima, Ourém, em 28 de Março de
1907 e faleceu no Convento das Carmelitas, Coimbra, em 13 de Fevereiro de 2005 –
Pouco antes da sua morte, telefonei para este Convento a perguntar se ela podia
receber correspondência, já que as visitas eram extremamente condicionadas,
responderam-me que sim, pelo que tomei a liberdade de lhe enviar, por correio
registado, uma pequena cartaem 18 de Outubro de 2004, cujo conteúdo
publiquei no jornal OFOZCOENSE
Foto de família - choramingas
Aos 12 anos - um menino marçano em lisboa
Sei que a missiva lhe foi entregue, que a recebeu. Guardo a cópia do
manuscrito e o impresso do registo, com muito carinho. As razões estão
expressas nessa breve missiva que aqui transcrevo - Seja-se ou não crente, há que admirar uma vida
de clausura, de fé e despojamento, completamente entregue à meditação e oração.
Eu não sou propriamente católico apostólico mas identifico-me com muitos dos seus valores:
gosto das suas orações, cânticos religiosos e liturgia sagrada - Há outros
aspectos em que a minha aproximação com o divino, se faz de forma diferente -
Mas, no fundo, o caminho e os objectivos são os mesmos.
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CARTA À IRMÃ LÚCIA
Jorge T Marques . Finais dos anos 50
Com um conterrâneo meu - século XXI
Ainda
em vida da Vidente Irmã Lúcia, mandei-lhe uma singela carta, através da
qual lhe descrevi alguns episódios da minha vida - (...) - um deles bem
dramático, em que, num dia, desses meus verdes anos, a 13 de Maio, de 1956, pouco antes de ir a trabalhar como marçano para Lisboa, caí
a um poço, barrento e fundo e me ia afogando com a minha irmã. Também lhe
falei das minhas aventuras marítimas, juntamente com o envio de algumas
imagens, como preito de homenagem e testemunho da minha mais profunda
admiração, pela sua estóica vida, toda ela dedicada ao culto da sua fé .
Desejava-lhe muitos anos de vida, mas no mês seguinte, adoeceu e, não tendo recuperado, partiu,
certamente, de olhos postos na imagem que tanto venerava.
“Lisboa,
18 de Outubro de 2004.
À
vidente Irmã Lúcia:
Anos 80 - O poço já emparedado
Tomo
a liberdade de lhe enviar esta minha simples carta, acompanhada do relato e
fotos de uma odisseia, por mim vivida nos agitados mares do grande Golfo, tendo
apenas por companhia uma simples bússola para me orientar.
Sim,
dirijo-lhe estas linhas e a descrição dessa aventura, como preito da minha
homenagem e a expressão da minha mais profunda admiração, porque vejo em si a
representação de um espírito abençoado, pelo que só peço a Deus que lhe dê
muita saúde e ainda muitos anos de vida.
Mais tarde com a primeira filha
A
minha saudosa irmã Conceição, que Deus levou muito nova, deixando então duas
filhinhas, tinha uma grande devoção em Nossa Senhora de Fátima. E o episódio que
lhe vou recordar, ilustra, justamente, esse facto, quando eu tinha onze anos e
ela 15 .Foi a um domingo, dia 13 de Maio. Regávamos a nossa horta no Vale
Cardoso. Ela retirava a água do poço com ajuda do picanço; eu estava uns metros
mais abaixo para afastar a vara e o caldeiro de uma pedra. Nisto, o picanço
rebenta, ela cai e arrasta-me consigo para o fundo do poço. Este era fundo e
com margens barrentas. A nossa aflição, como deverá calcular, era enorme.
Nenhum de nós sabia nadar. Quando vinha ao de cimo, ela gritava por Nossa
Senhora de Fátima; eu gatinhava junto à margem, estava aterrorizado e apenas
cerrava a boca para evitar engolir mais água. O meu irmão Fernando, então com
nove anos, que encaminhava a água, apercebendo-se, corre em nosso auxílio. A
minha imã grita-lhe para ir buscar uma cana e para descer até um tufo de juncos
que havia na margem, e é o que faz sem perda de tempo. Estende-lhe a cana, ela
agarra-se à mesma e consegue gatinhar pela íngreme vereda. Depois, estende-me a
mão e salva-me também.
Creia,
já passaram muitos anos, mas a imagem está ainda muito presente na minha
memória. E, sempre que me ocorre, a primeira coisa que me vem à ideia, são os
apelos à Nossa Senhora de Fátima, pois não tenho a menor dúvida de que ela,
nesse dia, nos protegeu.
(....)
Aceite, pois, muito humildemente, o preito da minha mais profunda admiração”