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quinta-feira, 27 de novembro de 2008

JOSÉ MOURINHO TEM QUE LIVRAR-SE DE UMA CERTA CORRENTE NEGATIVA À SUA VOLTA - Há horas menos felizes mas há que manter sempre a esperança, o saber e a firmeza







Fotos de Luís de Raziel





Há horas menos felizes mas há que manter
sempre a esperança, o saber e a firmeza














Do alto onde me encontro e mergulhado como estou,
sinto esquecer toda a alegria e toda a dor
como se estes instantes fossem a imagem natural
do espaço e do tempo




Caro José:
Conheço o seu blogue mas não era por aí que eu queria comunicar consigo. É um facto que no futebol nada pode ser dado como certo ou adquirido. No futebol tudo pode acontecer - E era justamente isso que eu quis sublinhar nessa minha mensagem. “Claro que o futebol, embora se jogue no relvado, é um terreno muito movediço - Pois a bola é redonda e pode ir para os pontos mais inesperados - Nem sempre a melhor equipa é a mais beneficiada ou a que sai vencedora “ - Este era o ponto crucial do que eu lhe pretendia transmitir. Pois não espere que alguma vez use a linguagem do totobola: perde; ganha ou empata. Isso é o estilo dos vendedores da banha da cobra, dos charlatães. Pois, como sabe, para as pessoas inteligentes meia palavra basta. É mais ou menos nessa linha (ou com metáforas) que eu prefiro dirigir-me.

Eu sei que está encontrando uma certa resistência interna e externa. A nível interno (passiva), por alguns jogadores que não estão na sua melhor forma e também não se esforçam por tê-la; e também activa por parte de alguns inimigos do actual Presidente do Milão, que nem o desejam a si nem o suportam a ele - e também afectos ao seu antecessor. Por outro, lado, existe a corrente negativa que vem de alguma imprensa - mas muito especialmente a onda de ódio que paira no ar por parte dos seus adversários e contra si. É realmente demolidora: se não desse tanto nas vistas, deixá-lo-iam em paz. Mas o que é se há-de fazer se essa é a sua intrínseca maneira de ser? faz parte da sua personalidade?!… Mudar de atitude?….Evitar a polémica e ser mais discreto?!… Duvido que resultasse. Pois, enquanto aí estiver, não tem outra saída senão resistir e enfrentá-los! - Não perdendo a confiança e continuando acreditar nas suas capacidades. Pois, conforme lhe disse na minha mensagem, as vitórias constroem-se com suor e lágrimas. Ou seja, nem sempre se pode ganhar; o importante é que se ganhe mais vezes do que se perca. E que as derrotas não comprometam nunca as vitórias.

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Mas, já agora, e muito modestamente, queria deixar-lhe aqui a minha sugestão: se é crente, reforce também a sua fé de modo a que o ódio e o mal de inveja de que é alvo possa ser extirpado - Se ainda tem a pedrinha que lhe dei no Estádio do Dragão, leve-a consigo e aperta-a bem numa mão e na outra durante os jogos - Esse é um acumulador energético, altamente positivo, capaz de o livrar em boa parte dessa corrente negativa.

Bom, mas vamos ser positivos. Pois é exactamente com este estado de espírito que se poderão quebrar e vencer quaisquer resistências, amarras ou dificuldades. Conforme disse na mensagem que a seguir reproduzo. É certo que vejo um certo ambiente confuso e de batalha mas creio que, no final, há-de erguer uma grande bandeira. Não lhe vou dizer qual estou antevendo - pois não é esta a razão das minhas palavras. Estou longe; mas por minha parte ( e dentro do possível) tudo farei para lhe desejar boa sorte! - Por forma a que erga no alto do mastro e no cimo das tais ameias do castelo que lhe falei, todas as bandeiras que deseja. Mas isso não depende de mim; depende do José. - Como sabe, nós somos considerados do terceiro mundo e, por isso, quando um portuga começa a destacar-se, não faltam ódios a querer tolher-lhe o caminho. Mas há que resistir e lutar - O pior que lhe poderia acontecer - nem era tanto conquistar títulos - mas soçobrar a meio da jornada. Isso é o que os seus adversários (aliás, inimigos creio ser o termo mais adequado) mais desejariam. Por conseguinte, ter bem presente no pensamento: Acreditar! Acreditar! E deixar que os cães ladrem - Os deuses protegem os audazes e gostam de os ter ao seu lado. Vamos a isso, José! Com saber, coragem, confiança e determinação, faça sempre por não Os desmerecer. Que, pelo menos, uma grande bandeira , no final, haverá de erguer!
Luís de Raziel

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Date: 2008/11/26
Subject: Mister José Mourinho - Venho desejar-lhe boa sorte
To: thespecialone@setanta.com, info@intermilan.ca

Caro José Mourinho:

Estive dentro do relvado na inauguração oficial do Estádio do Dragão, em 16 de Novembro de 2004 - Fiz fotografias e ofereci-lhe uma pedrinha mágica - Foi antes de começar o jogo com o Barcelona - Ao passar junto à cabine, instantes antes do desafio começar - Disse-lhe: pegue lá esta recordação e guarde-a bem guardada - Boa sorte!. - Espero que a tenha guardado - É o amuleto da sorte

Eu recordo esse episódio no blogue que há pouco pouco tempo editei - 

Não tenho bem a certeza se esta mensagem lhe chega às mãos. Mas faço votos para que a possa ler. Pois gostaria de o serenar. Vejo que está sendo alvo de um certo fogo cruzado e pressinto que ande algo nervoso e inquieto - Aquela postura que lhe apontam como sendo de arrogante em meu ver é mais uma postura de defesa e de combate. Porque me parece uma pessoa de grande sensibilidade e muito trabalhadora. O seu êxito assenta num porfiado esforço e não é obra o acaso. É bom treinar uma equipa com bons jogadores. Porém, de nada serve se não houver sabedoria e inteligência para os orientar. Mourinho é um excelente líder e conhecedor da psicologia humana, conseguindo incutir confiança e determinação. É claro que, no meio da manada, há sempre uma ou umas quantas ovelhas tresmalhadas que não aceitam ser domadas - E cuja condução exige cuidados de mestre. Mourinho entende isso e procura levá-los pelo bom caminho..

Estou longe e não sigo com atenção o que se passa por aí nos campos de futebol. E, para lhe ser franco, embora goste de futebol, não é o tema que mais me preencha o tempo. Mas também não preciso, pois eu vejo as coisas através de ecos que me soam à mente. Em certos momentos recebo-os como se fossem flashes bastante iluminados. Mas também nem sempre isso acontece: pois, estas coisas de vidência, não é a mesma coisa que ir à torneira e beber um copo de água. è também algo nato

Claro que o futebol, embora se jogue no relvado, é um terreno muito movediço - Pois a bola é redonda e pode ir para os pontos mais inesperados - Nem sempre a melhor equipa é a mais beneficiada ou a que sai vencedora. Mas é um facto que a vitória se constrói com muito suor e lágrimas. E Mourinho edifica as suas vitórias como quem constrói pedra a pedra um castelo. Sim, tem pela frente mais um novo castelo - Agora erguido numa alta colina. Mas vejo em torno dele um certo ambiente confuso e de batalha. Mas também o vejo a erguer, por fim, lá bem no alto, sobre o muro de uma das ameias, uma grande bandeira. É uma delas! Mas desejo-lhe do fundo do coração e vou torcer para que não lhe escape nenhuma.

Luís de Raziel

terça-feira, 18 de novembro de 2008

VERGÍLIO FERREIRA - E O QUE O AUTOR DE CÂNTICO FINAL, ALEGRIA BREVE e APARIÇÃO - PENSAVA SOBRE A MORTE

Por Jorge Trabulo Marques - Jornalista  - 


Entrevista ao Escritor Vergílio Ferreira – 1916-1996 – “Depois da morte não há nada” –    Eu já pensei que a morte era uma a passagem para o além, para uma vida que se seguiria a esta…Aliás, quando pensei, tinha toda a aparelhagem para isso, nesse mesmo além… Haveria um céu, haveria um inferno, haveria um purgatório, etc  -

Recordando um dos maiores vultos da literatura portuguesa, que me deu a honra e o prazer de me receber, várias vezes em sua casa e de me conceder várias entrevistas, cujos registos ainda conservo -  A entrevista que, hoje, aqui  recordo, teve como tema principal a questão da morte – Há vida para além da morte? – Entre outras perguntas





VIRGÍLIO FERREIRA, DISSE-ME, UM DIA, EM SUA CASA:


ESTOU CONVENCIDO QUE A MORTE É O FIM DE TUDO...MAS NÃO TENHO RAZÃO ABSOLUTAMENTE NENHUMA PARA AFIRMAR QUE DEPOIS DA VIDA NÃO HÁ NADA”








Eu já pensei que a morte era uma a passagem para o além, para uma vida que se seguiria a esta…Aliás, quando pensei, tinha toda a aparelhagem para isso, nesse mesmo além… Haveria um céu, haveria um inferno, haveria um purgatório, etc.…Hoje estou convencido que a morte é realmente o fim de tudo… Se eu não estivesse convencido disso, naturalmente a vida e o seu absurdo não se imporiam tanto!…
Evidentemente que estas certezas não se baseiam em nada… Baseiam-se num equilíbrio interior…(…) Aliás, é em função desse equilíbrio interior que nós aderimos a muita coisa na vida…Desde a mulher que se ama à verdade da política que se segue ou o clube de futebol a que se adere, etc.… Portanto, eu não tenho razão absolutamente nenhuma para afirmar que depois desta vida não há mais nada… A única razão é esse tal equilíbrio interior….Não vou discutir com ninguém que acredito num além!… Não vou discutir com ele para lhe pretender demonstrar que ele não tem razão e quem tem razão sou eu!… Estas coisas decidem-se no íntimo de nós…sem que nós, no fim de contas, para aí metamos prego nem estopa, como se costuma dizer…Estou convencido que a morte é o fim de tudo…. Mas não tenho razão absolutamente nenhuma para afirmar que depois na vida não há nada!.












P - Nunca se se viu à beira da morte?

R - V.F. Já estive à beira da morte duas vezes!… Uma vez porque fui atropelado e estive inconsciente durante seis horas e outra vez, há dois anos, que foi quando tive um ataque cardíaco e quase passei para o lado de lá!… Estive mesmo numa situação em que a minha mulher pensou que eu ia morrer!…Porque já não tinha consciência… também porque estava a abrir e a fechar a boca, como um peixe fora da água!… Mas devo dizer que, nesse momento… aliás, quando fui atropelado não tive tempo de pensar, porque, se tive, esse pensar, apagou-se-me!… Porque, quando há assim perda de consciência - eu não sabia, mas verifiquei por mim - a memória apaga-se-nos, até, digamos, uma hora ou duas horas ou mais, antes do acidente…Não assim, quando tive o enfarte.. porque, nessa altura, eu vi a coisa a progredir justamente o nada…. Mas não tive tempo de pensar na morte!…sentia-me apenas aflito, com um mal-estar tremendo!…Era só o que me preocupava.


P - Portanto, não teve consciência de ficar assustado?

R - V.F - Não…O problemas da morte, o facto de eu me preocupar com a morte não significa que a morte me assuste… apenas tendem a confundir essas duas coisas… Uma coisa é o medo da morte outra é a intriga que a morte nos causa…. A mim…dizer que não me importava de morrer, não é verdade… importo-me tanto como as outras coisas…Mas cada vez me importo menos à medida que o fim se chega… Simplesmente, uma coisa é isso, outra é nós querermos encontrar uma resposta para esta oposição de duas realidades que se opõem flagrantemente!… De um lado a vida, com todo o seu milagre; do outro lado a morte, com todo o seu vazio!… Portanto, a intriga deste problema é que sempre me obcecou… Não é o problema do medo da morte…


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Suponhamos, por absurdo, que eu depois da morte me encontrava de facto, digamos, a viver no além, com a minha auto-consciência, etc. etc… Também não ficava surpreendido!… Agora isso, de maneira nenhuma se me impõe… O que se impõe é a ideia de que isto acabou definitivamente!… Mas, como não tenho razões nenhumas , excepto esse equilíbrio interior, que há pouco disse…pois, naturalmente, não posso ter argumento nenhum para pensar nisso…Por conseguinte, se, por absurdo me encontrasse depois da morte?!…Não sei!… Ficava um bocado interrogado, mas não ficaria assim muito admirado disso!…

Significa, portanto, que este tipo de verdades não têm nenhuma fundamental razão de ser…Claro que eu não acredito em nenhuma sobrevivência para além da morte, não acredito!…O problema intriga-me!…Mas outros acreditam que sobrevirão!… Não tenho nenhum argumento contra eles!… E eles não têm nenhum argumento a opor-se-me a mim…Toda a condução da minha vida, tudo aquilo que eu tenho que pensar, centra-me nesta certeza: realmente depois da morte não há nada…
















Anos oitenta - Em conversa com o escritor, tendo como tema - A Morte

O RETORNO AO SAGRADO

“Fala-se tanto nele, como aliás, estava previsto. Mas não no que dele mais importa e não passa pelos deuses e muito menos pelas sacristias. O retorno do sagrado deve ter que ver fundamentalmente com a recuperação da sacralidade do homem, da vida, da palavra, do mundo. A sacralidade está no que suspeitamos de mistério nas coisas, a força “original de tudo o que nos espera o nosso olhar limpo, a nossa atenção humilde, a divindade está em nós. O grande acontecimento do nosso tempo, que é o sinal do nosso desastre, é a profanação de tudo, a dessacralização do que abusivamente foi invadido pelos deuses. Os deuses morreram e quiseram arrastar consigo a morte do que era divino sem eles” in Pensar - de Vergílio Ferreira


segunda-feira, 17 de novembro de 2008

OS POETAS NÃO MORREM... MÁRIO CESARINY - É UM DELES! - Oh Meu Cesariny! Como o tempo corre? Como a vida foge! - E, todavia, até parece que foi ontem!


Por Jorge Trabulo Marques - Jornalista e investigador

OS MÚSICOS, OS PINTORES E OS POETAS NÃO MORREM,
MESMO QUANDO CHEGADA A HORA,
A MORTE LHES FECHA OS OLHOS.




Cesariny já não faz parte dos vivos.
Morreu ontem ás 5, 30 da manhã, em sua casa!
Ainda o estou a ver…
Quando à mesma hora desceu a avenida da Liberdade
Em madrugada fria de Dezembro

Madrugada já perdida
No silêncio do tempo.
Esquecida na memória dos dias.
Boina na cabeça.
Grossa gabardina de gola alta, cingida ao corpo,
Cascol escuro enrolado ao pescoço.
Defendiam – no da frieza húmida da noite.
Andar calmo e discreto.
Não de alguém que por ali deambulasse, sem destino
Ou por ali derivasse, sem propósito, nem rumo definidos
.


Antes de o reconhecer, pelo mesmo passeio que sigo,
Evolui vulto que mal se destaca na névoa, tingida a
oiro turvo pela luz escassa, que a luz pública
mal divisa e distingue.
Estranho e dormente é também o silêncio
que só de vez em quando, é interrompido
por escassos carros que vão passando.
eles mesmos, lembrando, por vezes,
vagarosas silhuetas, difusas,
vindas de largas ruas
de alguma cidade fantasma!

Mas o que vejo é Cesariny,
nítido e inconfundível, na figura,
no andar seguro e tranquilo, no sorriso maroto
de uma inocência nunca perdida,
que a idade parece ter preservado intacta.

Aí está ele! Cabeça levantada. Olhar em frente,
Olhando, horizontalmente, à linha mal iluminada do passeio.
Estilo de ave a quem ninguém impede o voo
de animal selvagem, sem rédeas nem freio.
No passo certo carrega o saber para onde vai,
a indiferença ao caminho, a ausência de embaraço inoportuno,
como quem não trás nada sobre os ombros, o incomode:
nem peso em que vá derreado nem a própria gravidade

Vetustos edifícios da antiga avenida,
árvores nuas, descarnadas,
imergem no nevoeiro que tudo ofusca.
Ambiente monótono, estranho! sem vivalma
nas horas de abandonar bares e discotecas, nem partidas
para outras aventuras na vertigem do cio.
A espessa atmosfera, transfiguração em espiral contínua,
confunde e disfarça - Mesmo sem o convite,
persistem o belo e o mistério.



Já lá vão uns anos – mais de vinte ! –
Oh Meu Cesariny! Como o tempo corre?
Como a vida foge! - E, todavia,
até parece que foi ontem! - Um repórter de rádio,
pequeno gravador na mão, atrás do imprevisto,
do inesperado, vagueando na solidão da noite húmida e fria,
quase despovoada de vida e de luz, na mira de algo
que valesse uma noite perdida! - E, um poeta, ateado pelo fogo
e a rebeldia dos seus mais cruéis demónios, fidelíssimos amantes
de inspiração altíssima nas horas mais solitárias e incandescentes,
tocado pelos deuses de Olimpo: Hermes, Apolo e Dionísios
- de quem era ao mesmo tempo enteado e dilecto mensageiro,
atraído pelas tentações e volúpias de uns e outros,
qual viajante solitário em busca de “ palavras
e nocturnas palavras gemidos,
palavras que nos sobem ilegíveis À boca
Palavras diamantes palavras nunca escritas
Palavras impossíveis de escrever”..


Oh, sim, o inseparável apaixonado “dos braços dos amantes”
que “escrevem muito alto” 
Muito além do azul onde oxidados morrem”
O insólito sonâmbulo que vai peregrinando, sem âncora
e sem bússola, de olhos fechados, mas com um grande à-vontade
de quem já trata por tu as avenidas, ruas e os mais discretos becos,
esventrando, por instinto nato, os seus mais recônditos recantos,
fazendo deles o centro do mundo,
e que, tão depressa neles é visto e aparece
aureolado com o brilho de uma estátua em jardim iluminado,
como, imediatamente, se transfigura e funde
ou, mesmo, como súbita névoa que ao pousar
se dilui na atmosfera e no ar desaparece!


Vale a pena, pois, rever os passos de tão singular figura!
Passeando-se, com a subtileza de um mago,
ou com a altiva nobreza de um Príncipe encantado,
por lugares proibidos – devassando
os escombros das “sombras
que têm exaustiva vida própria”.
Indiferente às aparências, ao escárnio severo,
alheio aos múltiplos perigos e maledicências
que, nas horas mortas, no pico das horas
mais furtivas e silenciosas,
poderão reaparecer ou ressurgir
quando menos se espera: no dobrar de cada esquina
ou num passo mais em falso ou descuidado! Desafiando
convenções sociais, a censura alheia,
não se importando “de ser visto
na companhia de gente
altamente suspeita!”



Meu Caro Cesariny:
Como sabe, na vida há um tempo para tudo:
Há-o para o amor, a sensualidade, a poesia - para tudo
há o tempo que o homem quiser fazer enquanto for vivo.
E, também, após a morte! – há um tempo para o repouso absoluto!
- Este agora é o seu tempo! O do indomável guerreiro
ter também o justo descanso! – O do luminoso poeta ,
ao descer, lentamente, à Terra, que o criou,
subir, em espírito e, talvez também, em corpo inteiro,
imediatamente ao Céu!


E, quanto a mim, amigo:
o meu tempo, pelo menos, por agora,
a estas tardias horas da madrugada,
em que a memória de novo me faz recuar
àquela fria noite de Dezembro,
é a de um longo momento de sentida emoção:
- tão só para recordar o belo poema,
os lindos versos, ditos palavra a palavra,
que tive o privilégio de gravar,
tal qual acabavam de ser criados,
por um inesperado poeta que, ali,
imerso em nevoeiro e névoa, quase irreal,
os dizia, com a mesma expressão
sublime e sagrada de quem diz uma oração!
(jtm)
Lisboa, 27 de Novembro de 2006


sábado, 15 de novembro de 2008

IRMÃ LÚCIA - A MINHA SINGELA HOMENAGEM POUCO ANTES DA SUA MORTE - Recordando o 13 de Maio em que eu e minha irmã, caímos a um poço

Anos 80 - O poço já emparedado


Em mais uma das centenas de orações, como expressão artística

Embora imbuído por convicções profundamente místicas, não me considero propriamente o católico apostólico no sentido tradicional do termo, já que sou mais induzido a devaneios  espirituais por força de sentimentos de circunstância e ocasionais (que me esforço de poder ter) de que por rígidos conceitos teológicos ou doutrinários, se bem que os respeite e admire tal como  a mítica figura de Cristo, maravilhoso exemplo de entrega e de virtudes. Mas, a bem dizer, muitas vezes. nem sei o que sou: ou haverá alguém que seja sempre inteiramente  igual e não tenha os seus heterónimos, as  suas hesitações e divagações?...

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O RETORNO AO SAGRADO

Com o escritor Vergilio Ferreira
Fala-se tanto nele, como aliás, estava previsto. Mas não no que dele mais importa e não passa pelos deuses e muito menos pelas sacristias. O retorno do sagrado deve ter que ver fundamentalmente com a recuperação da sacralidade do homem, da vida, da palavra, do mundo. A sacralidade está no que suspeitamos de mistério nas coisas, a força “original de tudo o que nos espera o nosso olhar limpo, a nossa atenção humilde, a divindade está em nós. O grande acontecimento do nosso tempo, que é o sinal do nosso desastre, é a profanação de tudo, a dessacralização do que abusivamente foi invadido pelos deuses. Os deuses morreram e quiseram arrastar consigo a morte do que era divino sem eles” in Pensar - de Vergílio Ferreira


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Lúcia de Jesus Rosa dos Santos, mais conhecida por Irmã Lúcia , nasceu em  Aljustrel, Fátima, Ourém, em 28 de Março de 1907 e faleceu no Convento das Carmelitas, Coimbra, em 13 de Fevereiro de 2005 – Pouco antes da sua morte, telefonei para este Convento a perguntar se ela podia receber correspondência, já que as visitas eram extremamente condicionadas, responderam-me que sim, pelo que tomei a liberdade de lhe enviar, por correio  registado, uma pequena carta em 18 de Outubro de 2004, cujo conteúdo publiquei no jornal OFOZCOENSE

Foto de família - choramingas
Aos 12 anos - um menino  marçano em lisboa
Sei que a missiva lhe foi entregue, que a recebeu. Guardo a cópia do manuscrito e o impresso do registo, com muito carinho. As razões estão expressas nessa breve missiva que aqui transcrevo - Seja-se ou não crente, há que admirar uma vida de clausura, de fé e despojamento, completamente entregue à meditação e oração. Eu não sou propriamente católico apostólico mas identifico-me com muitos dos seus valores: gosto das suas orações, cânticos religiosos e liturgia sagrada - Há outros aspectos em que a minha aproximação com o divino, se faz de forma diferente - Mas, no fundo, o caminho e os objectivos são os mesmos.

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CARTA À IRMÃ LÚCIA
Jorge T Marques . Finais dos anos 50

Com um conterrâneo meu - século XXI
Ainda em vida da Vidente Irmã Lúcia, mandei-lhe uma singela carta, através da qual lhe descrevi alguns episódios da minha vida - (...) - um deles bem dramático, em que, num dia, desses meus verdes anos, a 13 de Maio, de 1956, pouco antes de ir a trabalhar como marçano para Lisboa, caí a um poço, barrento e fundo e me ia afogando com a minha irmã. Também lhe falei das minhas aventuras marítimas, juntamente com o envio de algumas imagens, como preito de homenagem e testemunho da minha mais profunda admiração, pela sua estóica vida, toda ela dedicada ao culto da sua fé . Desejava-lhe muitos anos de vida, mas no mês seguinte, adoeceu  e, não tendo recuperado, partiu, certamente, de olhos postos na imagem que tanto venerava.

“Lisboa, 18 de Outubro de 2004.

À vidente Irmã Lúcia:

Anos 80 - O poço já emparedado

Tomo a liberdade de lhe enviar esta minha simples carta, acompanhada do relato e fotos de uma odisseia, por mim vivida nos agitados mares do grande Golfo, tendo apenas por companhia uma simples bússola para me orientar.
Sim, dirijo-lhe estas linhas e a descrição dessa aventura, como preito da minha homenagem e a expressão da minha mais profunda admiração, porque vejo em si a representação de um espírito abençoado, pelo que só peço a Deus que lhe dê muita saúde e ainda muitos anos de vida.


Mais tarde com a primeira filha
A minha saudosa irmã Conceição, que Deus levou muito nova, deixando então duas filhinhas, tinha uma grande devoção em Nossa Senhora de Fátima. E o episódio que lhe vou recordar, ilustra, justamente, esse facto, quando eu tinha onze anos e ela 15 .Foi a um domingo, dia 13 de Maio. Regávamos a nossa horta no Vale Cardoso. Ela retirava a água do poço com ajuda do picanço; eu estava uns metros mais abaixo para afastar a vara e o caldeiro de uma pedra. Nisto, o picanço rebenta, ela cai e arrasta-me consigo para o fundo do poço. Este era fundo e com margens barrentas. A nossa aflição, como deverá calcular, era enorme. Nenhum de nós sabia nadar. Quando vinha ao de cimo, ela gritava por Nossa Senhora de Fátima; eu gatinhava junto à margem, estava aterrorizado e apenas cerrava a boca para evitar engolir mais água. O meu irmão Fernando, então com nove anos, que encaminhava a água, apercebendo-se, corre em nosso auxílio. A minha imã grita-lhe para ir buscar uma cana e para descer até um tufo de juncos que havia na margem, e é o que faz sem perda de tempo. Estende-lhe a cana, ela agarra-se à mesma e consegue gatinhar pela íngreme vereda. Depois, estende-me a mão e salva-me também.

Creia, já passaram muitos anos, mas a imagem está ainda muito presente na minha memória. E, sempre que me ocorre, a primeira coisa que me vem à ideia, são os apelos à Nossa Senhora de Fátima, pois não tenho a menor dúvida de que ela, nesse dia, nos protegeu.

(....) Aceite, pois, muito humildemente, o preito da minha mais profunda admiração”

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Morte da Irmã Lúcia - PÚBLICO.PT

 Atualização - Não deixe de ler: “Em Teu Ventre” – Livro de José Luis Peixoto – Sobre as aparições de Fátima  http://www.vida-e-tempos.com/2015/11/em-teu-ventre-livro-de-jose-luis.html