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POEMA DE - António Ramos Rosa De quem sou amigo e tive o prazer de privar . Fui visita de sua casa, por várias vezes. Passei-lhes versos à mão, que ele me dizia à medida que os criava, saindo-lhe tão vertidos da sua mente, como água cristalina que brota da nascente da montanha - Numa altura em que tinha alguns problemas de saúde e algumas dificuldades de escrever - Mas cujo espírito fervilhava de continua inspiração. Encontra-se internado num lar com sua mulher, Agripina Marques. Completou, no passado dia 17 deste mês, 87 anos - Não obstante a avançada idade, e, sobretudo, com a saúde fragilizada, continua a escrever e a fazer os seus desenhos. E oxalá tão cedo não perca a sua tão prodigiosa inspiração e lucidez - Aqui lhe deixo um grande abraço. Com os versos que a seguir tomo a liberdade de transcrever -
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VERSOS QUE TALVEZ NÃO AGRADEM AOS CARDEAIS MAS QUE MARAVILHARIAM AS SAUDOSAS FILHAS DA ANTIGA IRMANDADE DO ANJO DA LUZ - E QUE AQUI TOMO A LIBERDADE DE REPRODUZIR, EXTRAÍDOS DO SEU LIVRO TR3S - Livro que um dia teve a amabilidade de me oferecer e autografar em sua casa - Inseridos num conjunto de poemas eróticos, subordinados aos títulos: "NÃO SEI DONDE VEM O VENTO"; "PEQUENAS COMBINAÇÕES DA PÁTRIA E DO MAU TEMPO" E "INVENÇÃO NATURAL
não se masturbam,
que não vêem as telenovelas,
que vêem, quanto muito, os filmes de Bergman
e o Evangelho segundo São Mateus de Pasolini.
Não, eles nunca lêem os livros pornográficos
e nunca pensaram em ter amantes.
Eles não conhecem o turbilhão das visões
das figuras eróticas,
eles lêem os exercícios espirituais
de Santo Inácio
e têm o odor da santidade
e irão para o céu porque nunca pecaram,
nunca acariciaram um pénis,
nunca o desejaram túmido e ardente
na sua boca casta.
Aos cardeais como são exemplares
mesmo quando os espelhos os perseguem
com os membros e órgãos de mulheres
na fulguração da nudez líquida e ardente!
Todavia eu conheço a obstinada chama
do desejo,
a sua glauca ondulação,
os seus olhos deslumbrados pela oceânica
vertigem
de um corpo embriagado pela sua simetria
dos seus astros dispersos.
.
Não, eu não creio na inocência imaculada
dos solenes cardeais.
Eu sei que a sua carne é a mesma argila
incandescente e turva
de que o meu corpo frágil é composto.
Eles conhecem o sofrimento de ser duplos,
o vazio do desejo,
a violência nua das imagens monstruosas,
a adolescência do fogo nos labirintos negros.
Mas eu sei que os cardeais não gritam,
nem levantam a voz,
nem atravessam a fronteira do pudor
e adormecem ao rumo das orações.
É esta imagem que eu quero conservar
na religiosa monotonia do seu sonho.
e pela volátil coerência
António Ramos Rosa
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