Afinal, os homens que amam o fado e a vida, também partem - mas deixam saudades. José Manuel Osório, o doente com sida mais antigo de Portugal, faleceu em Lisboa aos 64 anos. A primeira vez que o conheci foi na Brasileira do Chiado, quando trabalhava para uma estação de rádio. Era a sua zona de eleição dos convívios e do engate.
Posteriormente, também o cheguei a ver, por varias vezes, divagando pelo jardim do Príncipe Real e pela noite lisboeta do Bairro Alto
.
José Manuel Osório, artista de talento bem conhecido pelo seu contributo para valorização do Fado, além de ativista intelectual e politico, faleceu dia 11 de Agosto, aos 64 anos, pai do jornalista Luís Osório
Fadita mas também o entusiasta animador cultural e investigador do fado:. Osório, era o mais antigo doente de SIDA em Portugal, doença que enfrentou durante muitos anos, desde 1984, com grande dignidade e coragem, que o tornaram digno da admiração e apreço de quantos o conheceram
Entretanto, seria ele próprio a vir depois para os jornais e televisões a assumir e a expor frontalmente a luta em que se havia envolvido: e, pelos vistos, com toda a sua coragem e determinação. Mostrando que, os doentes da SIDA, não eram os tuberculosos ou leprosos, dos quais se devia fugir, como o diabo da cruz. Ele foi, de facto, um dos mais determinados exemplos de frontalidade e de coragem.
Nascido em 1947 na República do Zaire, viveu em África até aos 10 anos e foi só quando veio para Lisboa, aos 11 anos, é que iria descobrir as suas capacidade musicais e a sua paixão pelo fado nas coletividades da zona de Cascais
Gravou o seu primeiro disco em 1968 e dois anos depois é distinguido com o Prémio para Melhor Fadista, atribuído pela Casa da Imprensa., troféu que a repressiva polícia o impede de vir a receber no espetáculo do Coliseu.
Estava previsto receber, em Novembro próximo, o Prémio Amália Rodrigues Ensaio/Divulgação, mas o destino, pelos vistos, estava assim traçado.
Ligado também ao teatro amador (fundou o Grupo Independente de Teatro da Faculdade de Direito, onde foi aluno), levou à cena dezenas de espectáculos na década de 70 e participou na fundação do grupo A Barraca.. Colaborador do Museu do Fado, trabalhou na candidatura do fado a Património Imaterial da Humanidade
Foi preso pela PIDE por interpretar peças proibidas e acabou por emigrar, vivendo o Maio de 68 em Paris, ao lado de artistas como Sérgio Godinho, José Mário Branco, Luís Cília ou José Afonso.
Regressado a Portugal, estudou Direito e piano no Conservatório de Lisboa, e dedicou-se à investigação, que lhe valeu vários prémios.
.
Depois de 25 de Abril de 1974, José Manuel Osório dá o seu contributo para a fundação de "A Barraca". Compõe música juntamente com Fernando Tordo e Samuel na peça "A Cidade Dourada" (A Barraca) e compõe e interpreta ao vivo a música "As Espingardas da Mãe Carrar", de B. Brecht, na Casa da Comédia, sob a direcção de João Lourenço.
Grava mais três discos de Fado, sempre com música de fados tradicionais, e encerra a sua carreira discográficaPassa nomeadamente nas casas de Fado amador de Cascais e Estoril, nunca encarando com muita seriedade a profissão de cantar o Fado.
Aproveitando todos os conhecimentos adquiridos como intérprete, inicia uma carreira como Produtor de Espectáculos e Manager de artistas, actividade que mantém até 1990.
José Manuel Osório esteve também ligado à organização da Festa do Avante, no apoio directo à criação de um espaço para o Fado, o «Retiro do Fado».
Por razões de saúde, vê-se obrigado a abandonar a actividade profissional.
Em 1993, pela mão de Ruben de Carvalho, regressa e leva a cabo uma iniciativa artística na área do Fado: "As Noites de Fado da Casa do Registo", inserida na Lisboa/94, Capital Europeia da Cultura, impulsionando o Fado.
Em 1998 é convidado pela EBAHL para coordenar as Festas de Lisboa'98.
Em 2005 coordenou o projecto Todos os Fados (Visão, Abril 2005) Os Fados da Alvorada (2010) e a colecção Fados do Fado (2011) ambas da Movieplay.
Colaborador inestimável do Museu do Fado, estudioso exemplar, José Manuel Osório dedicou grande parte das últimas décadas à investigação do Fado, resgatando um conjunto de importantes temas e personalidades para a sua História.
José Manuel Osório faleceu a 11 de Agosto de 2011
Nenhum comentário:
Postar um comentário