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domingo, 14 de agosto de 2011

JOSÉ MANUEL OSÓRIO - O FADISTA QUE MAIS TEMPO RESISTIU AO TRÁGICO FADO DA SIDA – Apagou-se a voz do talento, da coragem, do amor ao fado e à vida - Ganhou duas vezes a Grande Noite do Fado - Em 1970 é distinguido com o Prémio da Imprensa para melhor fadista mas a PIDE – que já o perseguia - é impede-o de cantar no palco do Coliseu.

                                            Jorge Trabulo Marques 




Afinal, os homens que amam o fado e a vida, também partem - mas deixam saudades. José Manuel Osório, o doente com sida mais antigo de Portugal, faleceu em Lisboa aos 64 anos. A primeira vez que o conheci foi na Brasileira do Chiado, quando trabalhava para uma estação de rádio. Era a sua zona de eleição dos convívios e do engate.
Posteriormente, também o cheguei a ver, por varias vezes,  divagando pelo jardim do Príncipe Real  e pela noite lisboeta do Bairro Alto
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José Manuel Osório, artista de talento bem conhecido pelo seu contributo para valorização do Fado, além de ativista  intelectual e politico, faleceu dia 11 de Agosto, aos 64 anos, pai do jornalista Luís Osório


Fadita mas também o entusiasta animador cultural e investigador do fado:.  Osório, era o mais antigo doente de SIDA em Portugal, doença que enfrentou durante muitos anos, desde 1984,  com grande dignidade e coragem, que o tornaram  digno da admiração e apreço de quantos o conheceram


é 

Outra personagem que tinha  idêntico  comportamento parecido nas deambulações solitárias, em certos locais da cidade, era também o poeta e pintor, Mário Cesariny, que, quando se cruzavam, se cumprimentavam em curtos diálogos. Pude observar esses encontros nas minhas  andanças em busca de apontamentos de reportagem para a então DRP-Rádio Comercial, 

Com o Mário Cesariny, encontrei-me variadíssimas vezes; pois,  quando não andava lá nas suas escapulidelas solitárias do  engate, era bastante sociável na esplanada de um café ou até nas típicas discotecas, animadas com espetáculos de travestis, então muito na moda. Enquanto, o José Manuel Osório, quando não atuava e animava as sessões de fado ou de teatro,  era mais reservado e dado às suas  aventuras sexuais.

Também me cruzei com ele algumas vezes, ambos nos conhecíamos na profissão que exercíamos. Eram cumprimentos fugazes. Ainda chegámos a estar juntos na mesma mesa do típico café da Brasileira do Chiado. Embora simpático, mas, nesses espaços, não era dado a grandes falas;  a sua postura era mais a de observador e introspetivo. Certamente, já absorvido  por outras preocupações, com  doença que havia contraído, que vitimaria António Variações. 


Entretanto, seria ele próprio a vir depois para os jornais e televisões a assumir e a expor frontalmente a luta em que se havia envolvido: e, pelos vistos, com toda a sua coragem e determinação. Mostrando que, os doentes da SIDA, não eram os tuberculosos ou leprosos, dos quais se devia fugir, como o diabo da cruz. Ele foi, de facto, um dos mais determinados  exemplos de frontalidade e de coragem. 

 



Nascido em 1947 na República do Zaire, viveu em África até aos 10 anos e foi só quando veio para Lisboa, aos 11 anos, é que iria descobrir as suas capacidade musicais e a sua paixão pelo fado nas coletividades da zona de Cascais


Gravou o seu primeiro disco em 1968 e dois anos depois é distinguido com o Prémio para Melhor Fadista, atribuído pela Casa da Imprensa., troféu que  a repressiva polícia  o impede de vir a receber no espetáculo do Coliseu.

Estava previsto receber, em Novembro próximo, o  Prémio Amália Rodrigues Ensaio/Divulgação, mas o destino, pelos vistos, estava assim traçado.

Ligado também ao teatro amador (fundou o Grupo Independente de Teatro da Faculdade de Direito, onde foi aluno), levou à cena dezenas de espectáculos na década de 70 e participou na fundação do grupo A Barraca.. Colaborador do Museu do Fado, trabalhou na candidatura do fado a Património Imaterial da Humanidade

 Foi preso pela PIDE por interpretar peças proibidas e acabou por emigrar, vivendo o Maio de 68 em Paris, ao lado de artistas como Sérgio Godinho, José Mário Branco, Luís Cília ou José Afonso.

Regressado a Portugal, estudou Direito e piano no Conservatório de Lisboa, e dedicou-se à investigação, que lhe valeu vários prémios.

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Tony Banza - Uma das vozes singulares das ruas de Lisboa - Artista com o qual se terá cruzado várias vezes, também, José Manuel Osório nas suas deambulações pelo Chiado  - Visto ser a Rua  Garrett, um dos pouco prediletos deste fadita


                         Este registo é de minha autoria 


Depois de 25 de Abril de 1974, José Manuel Osório  dá o seu contributo para a fundação de "A Barraca". Compõe música juntamente com Fernando Tordo e Samuel na peça "A Cidade Dourada" (A Barraca) e compõe e interpreta ao vivo a música "As Espingardas da Mãe Carrar", de B. Brecht, na Casa da Comédia, sob a direcção de João Lourenço.

Grava mais três discos de Fado, sempre com música de fados tradicionais, e encerra a sua carreira discográficaPassa nomeadamente nas casas de Fado amador de Cascais e Estoril, nunca encarando com muita seriedade a profissão de cantar o Fado.

Aproveitando todos os conhecimentos adquiridos como intérprete, inicia uma carreira como Produtor de Espectáculos e Manager de artistas, actividade que mantém até 1990.

José Manuel Osório esteve também ligado à organização da Festa do Avante, no apoio directo à criação de um espaço para o Fado, o «Retiro do Fado».

Por razões de saúde, vê-se obrigado a abandonar a actividade profissional.

Em 1993, pela mão de Ruben de Carvalho, regressa e leva a cabo uma iniciativa artística na área do Fado: "As Noites de Fado da Casa do Registo", inserida na Lisboa/94, Capital Europeia da Cultura, impulsionando o Fado.

Em 1998 é convidado pela EBAHL para coordenar as Festas de Lisboa'98.

Em 2005 coordenou o projecto Todos os Fados (Visão, Abril 2005) Os Fados da Alvorada (2010) e a colecção Fados do Fado (2011) ambas da Movieplay.

Colaborador inestimável do Museu do Fado, estudioso exemplar, José Manuel Osório dedicou grande parte das últimas décadas à investigação do Fado, resgatando um conjunto de importantes temas e personalidades para a sua História.

José Manuel Osório faleceu a 11 de Agosto de 2011



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