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sexta-feira, 6 de maio de 2011

O DOURO É LINDO MAS DE COMBOIO POCINHO A BARCA D’ALVA, MAIS LINDO É – LINHA APODRECE E OS FOZ CÔA FRIENDES FORAM MOSTRAR QUE A QUEREM REACTIVADA



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JORNADA IRREVERENTE E DIVERTIDA - POIS O HUMOR É A FORMA MAIS INTELIGENTE PARA DIZER COISAS SÉRIAS - POR ISSO, DIGNA DE SER ATÉ SAUDADA JUNTO AOS SAGRADOS TEMPLOS DO SOL NOS TAMBORES - QUE NÃO ESTÃO ASSIM TÃO LONGE DO MAGNÍFICO CENÁRIO DO DOURO - SE CALHAR ATÉ FOI ATRAVÉS DE UMA BOA PARTE DAS SUAS MARGENS OU DO SEU LEITO QUE OS PRIMITIVOS POVOS, QUE OS CULTUARAM, ALI TERÃO CHEGADO.

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Embora inicialmente concebido para divulgar as actividades nos Templos do Sol. no Monte dos Tambores, concluí que o assunto se ajustava perfeitamente - pela proximidade e não apenas. Pois, como é sabido, cada vez mais o mundo se transforma numa gigantesca aldeia global - O tempo em que as imagens das televisões não invadiam, a tranquilidade ou a rotina dos lares, já lá vai... Hoje já ninguém fica indiferente ao que se passa, não apenas na casa do seu vizinho, na sua aldeia, no concelho, distrito, no seu país, como até nos pontos mais distantes da Terra - E os Templos do Sol (dos quais se divisam perfeitamente alguns dos montes que ladeiam o Douro), situando-se, os dois magníficos calendários solares pré-históricos, num local que é como que a ponte, que une a meseta ibérica ao douro maravilhosos e à terra transmontana, e, sendo também eles a herança vivia de costumes antigos às celebrações aos ciclos da Natureza, significa que (independente até de qualquer distância) ambos reflectem, não propriamente um espírito microcósmico mas macrocósmico - pois o sol, quando nasce e brilha, é para todos.

Assim sendo, este blogue tinha, obviamente, que apoiar e associar-se à extraordinária iniciativa levada a cabo pelos Fozcôa friendes - um grupo de cidadãos que rejeita remeter-se à cómoda situação dos meros egoísmos pessoais - Olha mais longe!... Pugna em defesa da comunidade - É o caso do louvável exemplo que decorreu no passado dia 23 de Abril - E cujo objectivo era chamar atenção para o estado degradante em que se encontra o património da CP, ali mesmo nas faldas do monte, sobranceiro a uma panorama ímpar do Douro, onde recentemente foi inaugurado o Museu do Côa - aquele que já é considerado o melhor museu da Europa, no género .


E a constatação de que via férrea, poderia agora estar a canalizar milhares de visitantes, vindos nomeadamente da vizinha Espanha, através do troço que separa o Pocinho de Barca D'Alva é francamente frustrante - Aquilo que agora poderia ser uma extraordinária mais valia, tendo-a quase à porta e não podendo desfrutar da sua utilização, é uma vergonha, um atentado à região. A linha tem estado para ali apodrecer, desde há mais de duas décadas, impedindo as gentes destas terras - de duas das regiões mais isoladas do resto do pais e que tem sido as mais esquecidas, - de poderem beneficiar de um dos mais importantes factores de desenvolvimento - as acessibilidades dos caminhos de ferro.


Porém, foram tantas e tais as impressões e também os sentimentos contraditórios, em tão surpreendente e agradável caminhada, que, por minha parte, acabei, de facto, por não saber como descrevê-los. Sim, veja-se, como um simples passeio pedonal, pode transformar-se num pacífico manifesto de prazer e de protesto e, ainda por cima, deixar tantas e tão variadas recordações.

E creio, que, até por todos quantos participaram e percorreram os oito quilómetros da linha desconjuntada e desbaratada, que separa o Pocinho à Estação da Foz do Côa. - Pois quem é que não susteve a marcha por uns instantes?... Ou chocado perante tanto desprezo e o desleixo que lhe deparava, a cada passo aos seus pés, ou para se deslumbrar ante a beleza das margens e do rio, com assomos e sorrisos de uma Primavera, que embora parecendo começar o dia timidamente, pouco a pouco, ia-se abrindo em luminosas clareiras de sol, como que dando as boas-vindas aos intrépidos caminhantes - Ora detendo o olhar extasiado numa flor, ora para colher um espargo (sim, houve até quem levasse uma mão cheia deles) enfim, aspirar aqueles ares, parar um pouco e inebriar os pulmões com aqueles aromas das ervas e arbustos, misto de um cheirinho húmido que vinha do rio, trocar dois dedos de diálogo com os companheiros que seguiam na fila ou lado a lado, ou, então, simplesmente, suster a passada a contemplar este ou aquele trecho de paisagem que, a cada ângulo do percurso, era um sucessivo renovar de surpresas e de emoções.


Porém, de volta ao bulício da cidade, pelo menos no meu caso, defrontei-me com um dilema: fiz tantas fotografias - de tão extraordinários momentos e circunstâncias - que, de facto, me fora difícil fazer as escolhas. Sem quase me aperceber, fui deixando passar os dias como se, em cada dia, tivesse o sagrado dever de repetir aquela fantástica caminhada ao longo daquele espantoso cenário do Douro. - para lembrar às autoridades que, o abandono de coisas boas, também é crime.

Até porque, que é belo é uma dádiva da natureza: é para ser partilhado. E uma das maneiras mais agradáveis de partilhar a beleza daquele rio, é permitir que o comboio volte ali a circular - No fundo, foi aquilo que um grupo de cidadãos, ali foi transmitir a quem de direito. Sublinhe-se, com a presença de tantos espíritos jovens e generosos - Que, no regresso a casa, também terão pensado para os seus botões: - Não prometam!... Ponham as mãos à obra: reabilitem imediatamente aquela linha! -

ERAM MAIS DE DUZENTOS NA MESMA CAMINHADA, AO LONGO DE VELHOS CARRIS, QUE ATÉ PARECIAM FANTASMAS, EM GRITANTE CONTRASTE COM A MARAVILHOSA PAISAGEM 
 
À chegada formaram um cordão ao longo da velha linha, de costas para a esventrada Estação do Côa, voltados para a aprazível albufeira do rio, ergueram os mãos, bateram palmas, repetiram o gesto, saudando a barca da Senhora da Veiga, que, aquela hora (meio-dia)navegava leito acima, envergando camisolas brancas - quais pombas e pombos brancos da paz) e, com a sigla estampada no peito da mensagem que pretendiam transmitir (REABERTURA DA LINHA - POCINHO BARCA D'ALVA - OBRIGATÓRIO TRÂNSITO PELA LINHA), foram depois recebidos a toque de caixa e de tambores pelos "É PÁ NA LUTA!"- uma malta pró caneco!..Irreverentes pró caraças! Verdadeiramente endiabrados, vestindo-se a preceito, com fraques e sobre-casacas e enxalmos dos tempos da Maria da Fonte, erguendo cartazes, fazendo soar palavras de ordem, bem ensaiadas, bem trinadas, - arrancadas às vozes do povo que representavam - óculos escuros à época dos comboios a vapor, não fosse por ali aparecer algum vampiro ou dos fantasmas que ameaçam apoderar-se dos escombros, já meio assombrados, da tão saudosa estação - a qual - mesmo completamente, desassoalhada e escaqueirada no seu interior, parece apostada em manter as paredes firmes - como símbolo heróico de protesto e de resistência - à estupidez, à incúria e à inércia de governantes negligentes e irresponsáveis



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Unidos por um objectivo comum: que o troço de caminho de ferro, entre o Pocinho e Barca D’Alva, seja reactivado - Uns, vindos de Foz Côa, das freguesias, outros de mais longe, do Porto, de Coimbra, de Lisboa, Faro, de vários pontos de Portugal.
Comunicaram-se através do Blogue Foz-Côa Friends e, sob a batuta de João Pala, José Lebreiro e José Ribeiro, José Constanço e Carmen Guerra, decidiram fazer uma caminhada, desde o Pocinho, à velha estação da Foz do Côa - E não foram só protestar - também confraternizar, desfrutar de uma bela manhã primaveril, almoçar à sombra de frondosas amoreiras, botar discursos e formar uma sólida associação. Para assim terem uma voz mais forte e lembrarem ao poder constituído, que querem voltar a ver os comboios a circular do Pocinho a Barca D'Alva - É seu desejo determinado que esse troço de 28 Km, que foi amputado, na década de oitenta, não continue naquele miserável estado de abandono, um insulto às consciências de quem ali passa e quem navega nas calmas águas do rio e escancara os olhos naquelas vias enferrujadas, negras e destroçadas, parafusos amontoados, postos e fios caídos, velhos edifícios - outrora acolhedores e postos de repouso e de abrigo - e que agora parecem ter sido acabados de bombardear na guerra do Iraque.
Todos consideram que a reactivação é fundamental para o desenvolvimento da economia da região. Sobretudo para o turismo e até mesmo para a circulação de mercadorias e de passageiros - E prometem voltar à luta se a linha não voltar a ter o percurso inicial.

O Douro vinhateiro, Património da Humanidade, com a sua beleza ímpar, a singularidade das suas encostas, repletas de surpresas, onde a rudeza e a formosura da sua paisagem, com os seus contrates e o seu lado humano e selvagem, se harmonizam numa imagem surpreendente! Única no mundo! - Sim, só por esta benesse da Mãe Natureza - embora, pelos homens, arrancada a ferros – justifica-se plenamente o investimento - - E então porque razão se espera ou perde mais tempo? - Quando a vida é tão curta e o tempo corre tão rápido e é tão precioso!
O abandono da linha é gritante! É um contraste escandaloso com a beleza natural das margens do rio e da tranquilidade idílica das suas águas. Manter-se a linha, tal como está, é o mesmo que, a uma extraordinária bailarina, lhe cortassem as pernas. Jamais poderia bailar! - O mesmo se passa com a ligação ferroviária do Douro Maravilhoso -Quem parte do Porto, não pode ir a Espanha. Só de automóvel ou de avião. Ou então terá que dar uma grande volta pela linha da Beira Alta.
Foi construída, há mais de um século, para os comboios circularem de Campanhã a Barca D’Alva - Entenderam as autoridades daquela época, que a sua construção era importante para o desenvolvimento da região do Alto Douro e Trás-os Montes – E, agora, não é?!... Vamos lá meter mãos à obra e arranjar depressa aqueles velhos carris, pôr a linha em ordem, porque, tal como está, quer os velhos edifícios das estações, como os carris, mais parecem escombros ou esqueletos de fantasmas, em que até as pobres aves se arrepiam e assustam, fogem espantadas! -História - Linha do Douro. -
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quinta-feira, 5 de maio de 2011

PROF.FERNANDO BALTAZAR, UM DOS NOSSOS MAIORES AMIGOS, DEIXOU OS TEMPLOS DO SOL NA TERRA ONDE NASCEU – ALDEIA DE CHÃS - E PARTIU PARA O REINO DA LUZ














Fernando Baltazar já não está entre nós - Já não voltamos a desfrutar mais do seu entusiasmo, da sua dedicação e carinho, da alegria de colaborar e festejar connosco as celebrações do Equinócio da Primavera, do Outono ou o Solstício do Verão: despediu-se, trágica e inesperadamente um dos nossos mais entusiastas membros da Comissão dos Festejos, nos Templos do Sol, nos Tambores.

Morreu na sua propriedade da Cardina, ontem, vitima de um trágico acidente, ao conduzir o seu pequeno tractor. A encosta, situada na margem esquerda do Côa, é muito declivosa e, embora ainda não conheça os pormenores, presumo que, infelizmente, aconteceu, o que, afinal, já vitimou muitos agricultores nesta região, onde o labor do campo, exige os maiores esforços para se colherem os frutos da terra – É, de facto, uma contrapartida, demasiado pesada, e, por vezes, com o preço da própria vida: são frutos do melhor que há, neste Alto Douro Maravilhoso, mas à custa de pesados riscos e esforço hercúleo

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O seu funeral realiza-se hoje às 17 horas para o cemitério de Chãs, aldeia de onde vivia e era natural À família enlutada, em meu nome pessoal e interpretando o sentimentos dos demais elementos da Comissão das Celebrações nos Templos do Sol, apresentamos as nossas mais sentidas condolências




Não há uma sem duas – Ainda não há um mês, foi o acidente do Tiago, do seu sobrinho neto, que sofrera o embate de um tractor, numa aldeia vizinha, quando conduzia um motociclo: a pesada máquina, ao atravessar-se-lhe, de repente, na via pública, deixara-o quase às portas da morte, partindo-lhe uma perna e provocando-lhe graves ferimentos.

Foi na véspera, à noite, do meu regresso a Lisboa. Não podendo contactar os seus pais, foi através dele que procurei saber do seu estado – Haviam-me dito que era preocupante, mas ele já tinha noticias um pouco animadoras, de que o seu estado parecia evoluir e estar livre de perigo.
Contudo, mal imaginara ele que, a tragédia – agora fatal – lhe ia bater também à porta – E também eu, , mal me poderia passar pela cabeça de que aquelas seriam as suas últimas palavras que lhe ouviria pronunciar
Familiares e amigos – toda a minha aldeia, onde era querido e estimado –, ficou profundamente consternada. Creio que todos vamos sentir a sua ausência., as suas palavras simpáticas e amistosas. Mas a mágoa está ainda muito presente e é imensa.

Ele era um dos nossos: um dos genuínos amigos dos Templos do Sol e um grande amigo da sua(nossa) aldeia, onde fora sempre uma pessoa muito admirada e respeitada – Era o Sr. Professor. Toda a gente nutria por ele uma natural simpatia. Tanto aqui , como no concelho, no Porto, onde também viveu, em todo o lado, onde ele houvesse estabelecido um diálogo, trocado até umas breves palavras, Fernando Baltazar, deixava sempre um sorriso, um gesto de cordialidade e um ar de simpatia.

O seu olhar sincero, a sua expressão, sorridente e sempre franca, a sua simplicidade e a maneira como respeitava o próximo, infundia uma natural bondade, ternura e aproximação.

Generoso, comunicativo, afável: com a família, os amigos, com toda a gente. Porque, além de muito culto, era um espírito sensível, aberto, expansivo, dedicado e empenhado. E também um grande apaixonado com o chão que o viu nascer, há 83 anos – De resto, bem patente nas inúmeras fotografias que retratam as paisagens, o património construído, religioso, histórico, paisagístico e humano da nossa aldeia – Legou aos seus (e, no fundo, a todos nós) o mais completo arquivo fotográfico, daqueles tempos, em que, se ia à fonte de aguadeiras no mancho ou de cântaro à cabeça, as ruas eram ainda enlameadas, a iluminação nos lares era a Luz da candeia de petróleo ou do azeite e havia uma igreja no adro com um belíssimo e vestuto campanário, e que já não existe - Agora, desse singelo templo, só fala a memória dos mais velhos e as fotografias que nos legou, das quais já se fez uma exposição. Tal como já não existem muitas pessoas queridas da aldeia, a que agora o seu corpo se foi juntar.
Morrer de morte natural, até se aceita. Mas quando esta é brutal, é um duplo impacto: é um misto de inconformação, de profunda dor e tristeza

Quem me transmitiu a notícia foi o Pala, um fozcoense de gema, amigo do nosso concelho e da defesa do seu património - Um daqueles valentes entusiastas, sempre disposto a divulgar e a defender as coisas boas da nossa terra, por iniciativa pessoal ou associando-se a outros amigos, agora através do blogue Foz-Côa Friends, de que é o principal dinamizador - Ele já se revelou também um bom amigo, um óptimo colaborador e passou a apoiar-nos, a dar-nos o seu estímulo na realização das nossas festividades. Também ele ficou muito chocado e muito triste com a sua morte, quando soube do acidente que o vitimou, através do site dos Bombeiros de Foz Côa.

Os seus pais eram amigos e, quando o conheceu, também ele passou a admirar as suas qualidades, a alegria, o entusiasmo, a maneira de ser, natural e muito humana. do Prof. Baltazar - Era das tais pessoas, em que a generosidade se espelha directamente da alma aos olhos e se reflecte no rosto, presente-se e é transmitida, logo às primeiras falas, como um espelho voltado ao sol, numa saudável convivência de empatia e de entusiasmo.

Apesar de já ter tido alguns problemas de saúde, nem por isso deixava de ir no seu jipe até à Cardina, lá para os lados do Poço do Fumo, junto ao Maçoeime, afluente do Côa. No Inverno ou no Verão, ao longo do ano, deslocava-se ali a cuidar da sua vinha –Lugares isolados e montanhosos, mas mágicos! Que exercem um irresistível fascínio. No rio já não trabalham os antigos moinhos. Existem lá os casebres mas estão ao abandono - Perdeu-se a tradição e os caminhos eram ruins.

Mas era ali, entre duas íngremes vertentes e com o vale encaixado a servir de pano de fundo, a correr pasmado de sul para norte, que tantas as vezes terá sentido a alegria de se deliciar com as belas uvas, os saborosos frutos que ali colhia, em que tanto se esmerava - mas também onde sentia alguns desapontamentos, bem amargos, quando o granizo lhe destruía as colheitas! e não lhe deixava sequer uma folha nas videiras , tal como pude um dia ali testemunhar - Mesmo assim, embora vendo que os sacrifícios haviam sido inúteis, o professor seguia de cabeça em frente e não desanimava! - Tinha lá construído uma pequena casa , onde chegava a pernoitar - ou a oferecer essa hospitalidade aos amigos do clube de caça - e, só pela beleza daqueles espaços, pelo vale maravilhoso, pela cascata fantástica, onde o rio parece sufocar com as duas margens - talvez única no Côa e em Portugal - , sim, só por essas dádivas da natureza, eu creio que ele sentir-se-ia recompensado!

Pois foi precisamente, ante esse cenário que lhe era tão próximo e familiar, mas onde a terra se ergue, quase a pique, desde lá do fundo do rio, que a vida o traiu!.. Ele que tanto amava aquelas encostas e a que tantos sacrifícios se há entregado - ele, a mulher e o filho - pois bem: oh destino ingrato e incompreensível, para que és tão injusto aos que fazem da vida, não o ócio, o rame rame sem sentido, mas a permanente entrega, o sacerdócio da sua verdadeira razão de ser e de dar sentido às suas vidas!...

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