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terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

WANDA RAMOS E OS “POE-MAS COM-SENTIDOS” “NAS COXAS DO TEMPO" – PARTIU EM 1998 – HOJE LEMBREI-ME DE LER OS TEUS VERSOS




Adorável Poetiza:
Já lá vão 13 anos. Foi em 1998 . Não consigo agora lembrar-me do dia e do mês. Nasceste no Dondo, em Angola, em 1978 – Mas também não fizeste questão de indicar o mês do teu nascimento. Porém, se bem me recordo, quando me recebeste em tua casa, para me falares dos teus poemas e dos teus romances, fiquei com a sensação de que eras do signo caranguejo e nasceste em Julho. Penso que não estou enganado – até porque me parece ser o signo que se coaduna com a tua sensibilidade.Estou a ver-te e a ouvir-te falar como se estivesse ao pé de ti. Mas porque razão ainda não reencarnaste?... Sim, compreendo, tinhas tanto tempo de vida à tua frente... e foi tal o teu desgosto - mas, sobretudo sofrimento - que por isso mesmo não terás muita vontade em voltar. Vagueia, vagueia... pelo espaço interestelar... Aos espíritos é dada essa faculdade: não conhecem tempo nem fronteiras... Aproveita para viajares, pois o Universo é imenso e maravilhoso

Eu sabia que a doença minava a tua resistência. Mas quem são os amigos ou admiradores dos poetas que acreditam que eles nos vão deixar tão cedo?... Pois é, mas estava escrito nas últimas linhas das páginas do teu destino que, o teu corpo descesse à terra e o teu espírito partisse para outras galáxias: sim, partem cedo aqueles que os deuses amam. No entanto, esses mesmos deuses como são os grandes senhores do Universo, permitem, pelos menos, aos terrenos, aos que por enquanto aqui ficam, que as suas valoras obras se perpetuem e sejam eternas.

Resta-nos, pois, essa consolação e esse prazer, “nos caminhos da inconsciência”
Hoje, ao deparar-me com um dos teus livros, em minha casa, lembrei-me de ti Vieram-me à memórias aquelas fotografias que te fiz, na Feira do Livro, numa das áleas do Parque Eduardo VII., junto ao stand da Editorial Caminho – Como o tempo corre... parece que ainda foi ontem, e, no entanto, foi nos finais dos anos 80 Já vão mais de duas décadas. Vou editá-las agora como singela homenagem aos teus poemas e à efémera mas profícua carreira literária, a que te votaste, enquanto a claridade dos astros, permitiram que fizesses parte do reino dos vivos. Claro, que, mesmo do lado de lá, eu sei que também não pertences ao reino dos mortos. Mas aos dos espíritos luminosos que cintilam na longínqua luz das estrelas.
E voo também tomar a liberdade de transcrever um poema dos teus versos “Nas Coxas do tempo”, extraído do livro “POE-MAS SEM SENTIDOS” a Edgar Alan Poe
.

1.
Nas coxas do Tempo
Ser bissexual
onde púberes cogitam
desejos vãos
cavalgam como flores, narcisistas
Invioláveis
pequenas fêmeas
onde o prazer se eterniza

era pelo tempo das orgias
o ébrio tempo dos rituais báquicos

adolescentes ousados
engrinaldados os sexos
mulheres absolutas enraizadas
pujantes homens concêntricos
a devastarem-se na cúpula das noites
em que a Humanidade celebrava
o delírio do seu apogeu
.
II
nas coxas caducas do tempo actual
ressequidos desgraçados
os homens achatam-se
destruídos pelas deflagrações
pela guerra fera pelo ódio
bélico dos grandes leaders
as entranhas dos animais expõem-se
- não às multidões orgíacas de deuses –
mas a adubar a terra
onde armas hão-de flori em vez d’esperanças
e a urgência do amor relegada decididamente

e a necessidade de amar dilacerando os ventres
onde cancros de geram mas que realizações
a guerra pertinaz enfática
arrasa alucinada cidades e países
e escoa pelas sendas que rasga no mundo
multidões compactas destes homens
fatídicos em que o sémen se verterá em gangrena

desperdiçar a exuberância destes corpos
ah abandonar-lhe nas mãos armas
esta verdade pungente de que a terra se povoa
da sua impotência
que não mais procriam
Excerto

Em 1970 publica em edição de autor o livro de poesia “Nas Coxas do Tempo”. Apesar de ter sido incluída em antologias como “Experiência da Liberdade” em 1975, a sua estreia comercial só acontece em 1979, na editora Oiro do Dia, com a plaquete “E Contudo Cantar Sempre”. No mesmo ano, “Que Rio Vem Forçar a Entrada Desta Casa?” é incluído na “Jovem Poesia Portuguesa- volume 1” da Limiar, ao lado de Eduarda Chiote e João Camilo. Em 1983 publica um volume de prosas poéticas na &etc, “Intimidade da Fala” e a sua obra poética termina três anos depois com “Poe-Mas-Com-Sentidos”.

Estreou-se na prosa com “Percursos (Do Luachimo Ao Luena)” em 1981 (Com o qual venceu o Grande Prémio da APE.), e publicaria ainda em prosa, quer romance quer contos, “As Incontáveis Vésperas” (1983), “Os Dias, Depois” (1990), “Litoral (Ara Solis)” (1991) e o póstumo “Crónica com Estuário ao Fundo” (1999), além de dispersos como “Um Homem de Cabeça de Pedra” (1988) na Colóquio Letras.

Acabo o ano de 2008 precisamente a acabar o seu segundo romance, “As Incontáveis Vésperas”. Foi um livro no qual tropecei por acaso, numa feira no Mercado Ferreira Borges, e que me venderam pelo brutal preço de 1 euro. Conhecia o nome do catálogo da &etc, e de alguns poemas com os quais já me cruzara.
A minha experiência com a sua prosa é esta: li e quero mais. Recomendo.

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