“Deus não é de mortos, mas de vivos, porque aqueles que forem dignos da ressurreição, serão como os anjos do céu”.
.Já lá vão quase vinte e nove anos, sobre o brutal acidente em que, Francisco Sá Carneiro, perdeu a vida. Mas a imagem política e humana, o inconfundível carisma da sua personalidade - mais de que uma memória no sentimento colectivo das gerações que então o conheceram - é notório e público que continua muito presente e é já uma legenda!
A TRÊS DIAS
DA SUA MORTE – Vi em sonho, a figura de Francisco Sá Carneiro,
num aeroporto transformado num imenso braseiro de chamas a fumegar e arder!
Na noite de
Domingo para Segunda-feira, ou seja do dia 31 de Novembro para dia 1º de
Dezembro, de 1980, a dada altura da noite (já não me recordo a que horas despertei
por via desse agitado sonho), vi um avião arder num certo aeroporto que não
reconheci. E no meio das chamas a nítida figura que me parecia a imagem de
Francisco Sá Carneiro!...Foi tal a vidência que, quando retomei o estado normal
e acordei, estava envolvido em suores e reconhecia que estivera a chorar - Mas
porquê, ter-se antecipado em mim, tão horrível visão?!… - É a pergunta que
ainda hoje coloco a mim próprio.
REVELAÇÃO FEITA NA CABINE DE UM PROGRAMA DE RÁDIO..
No dia seguinte, descrevi o dito “sonho” a um conhecido astrólogo da nossa
praça, que fazia leituras astrológicas num programa da Rádio Comercial, ambos
colaborávamos - mas em áreas muito distintas. Mal acabara de chegar à cabine e,
aproveitando uma curta pausa em que rodava um disco na mesa de locução, comecei
por lhe confessar o meu desabafo, nestes termos:
“Imagine, ó Prof. Rakar.!...Sabe com quem sonhei esta noite?! ... Pois,
olhe foi com Sá Carneiro, o Presidente do seu Partido!!... Coitado do
homem!...- Vi-o num aeroporto a arder!! Acordei a chorar, horrorizado!!...Que
acha?!…
Porém, pese o dramatismo do meu relato, notei que o conhecido
astrólogo (um dos pioneiros na leitura da carta astrológica num órgão da C.S.),
estava mais interessado em ler o texto que trazia na mão, em fazer as suas
previsões astrológicas para cada um dos signos do Zodíaco nos restantes dias da
semana, de que prestar atenção aos meus sonhos. Estava mais ocupado em debitar
os seus palpites ( no seu estilo, “professorado, embora conduzido em tom
divertido e solto pelo meu bom amigo e colega locutor e produtor do programa,
que ia brincando com as suas especulações astrais), do que propriamente querer
servir de tradutor de oráculos
A CONFIRMAÇÃO DE QUE O
SONHO ERA AFINAL UMA MÁ NOTÍCIA ANTECIPADA
Infelizmente, não se tratara de um sonho vulgar mas da antecipação
premonitória de uma trágica notícia, que acabaria por ocorrer
naquela mesma semana – Pois, na Quinta-Feira, à noite, quando me encontrava na
Pastelaria Colonial, algo ali se faz soar de forma insólita e inesperada! –
Pelos vistos, ainda não era a notícia confirmada, no entanto, a mensagem que
ali soava, já trazia consigo a gravidade bastante para me deixar arrepiado,
estupefacto! - A pastelaria, hoje já não existe; situava-se, então, na Av. Almirante Reis, junto a um dos acessos do metro dos Anjos.
Por uns instantes, fiquei incrédulo, suspenso, numa espécie de instantânea
reflexão, num rapidíssimo introspectivo mal estar. Pois, nem queria acreditar
que aquele sonho, batia certo, e , subitamente, se transformasse no prenúncio
de uma horrível tragédia!… Meu Deus!... - Exclamava, bem no fundo de mim próprio.
Sem todavia exteriorizar uma palavra. Conquanto, este género de visões ou
sonhos premonitórios, já não me fossem completamente desconhecidos.Pois bem: não
é que, ao aproximar-me do balcão para tomar uma bica, alguém entra pelo café a
dentro, meio atormentado, com ar de caso, como se tivesse rebentado uma segunda
revolução, dizendo, bem alto, para que toda gente o ouvisse: “ Hei! pessoal!!
Caiu um avião no aeroporto! Morreram uns quantos políticos!!... Isto anda tudo
maluco!" Não acrescentou mais nada - conforme ali chegava, assim partia -
Mais parecendo um mensageiro vindo das brumas do além...
Acto contínuo - e após os escassos segundos - que foram todavia os suficientes
para que a minha mente pudesse discorrer muita coisa -, voltando-me, então,
para o gerente do referido café, de quem era amigo, que estava ali mesmo à
minha frente, disse-lhe, sem a menor hesitação, conquanto ainda de concreto,
nada soubesse “ Sr. Mendes! Foi Sá Carneiro que morreu!! Acredite!.. Foi Sá
Carneiro!!. Tenho a certeza!... Pode crer, Sr. Mendes!...Boa Noite!… Tenho de
ir pegar no gravador” Mal pronunciei estas palavras, depressa me dirigi à
estação de rádio onde trabalhava para colaborar no que fosse preciso. Mas,
nessa altura, já outros colegas estavam junto aos escombros, no local da
tragédia, a fazer a reportagem.
A MEDIUNIDADE É UMA GRANDE ARMA E O ESPÍRITO DE SÁ CARNEIRO - Haverá, com certeza, de contribuir para o
apuramento da verdade de quem o matou, a menos que aqueles que herdaram o seu legado,
não sejam dignos da sua - ELE NÃO FOI SANTO NENHUM MAS UMA MENTE ESCLARECIDA E BRILHANTE!
Acredito no
facto de que, o próprio espírito de Sá Carneiro, embora estando no lado de lá,
para além das chamadas fronteiras do além, não deixará todavia de seguir,
atento, a abjecta fraqueza humana, os maus instintos de quem o forçou a
abreviar o seu “percurso” terreno: a quem ainda teria tanto para dar no seio da
sociedade dos terráqueos ou dos que, por obras valorosas, de todo “da lei da
morte” ainda não se foram libertando...
MEDIUNIDADE
- O dom que também se desenvolve
O que há de mais terrível para todos aqueles que, como eu, lendo o Livro do
Destino, é contemplar os sofrimentos que não se podem evitar porque fazem parte
da trama desse destino"
"Sabia perfeitamente que acabara de assistir a uma catástrofe que não
ocorrera ainda no mundo físico, se bem que, sim, já tivesse tido já lugar nos
outros dois Mundos em que nós, homens, vivemos. Nesses mundos, as coisas
acontecem antes de se terem materializado na Terra; e, quando já se
concretizaram aí, é já demasiado tarde para impedir a sua concretização
aqui."
Palavras, aparentemente
ficcionadas, extraídas do livro O Homem dos Milagres, mas que eu subscrevo, em
boa parte. O seu autor, Paulo Ariel, entre outros episódios relacionados com a
cosmo-vidência, descreve e antecipa um desastre de aviação, nas canárias, em
que pareceriam todos os turistas, à excepção do que chagara atrasado ao
aeroporto e não lograra apanhar o avião da tragédia. (...) "as vítimas
inspiraram-me tamanha piedade, que invoquei o meu Superior para lhe pedir a
graça de me permitir partir para as Canárias, a fim de prevenir todos esses
turistas ingleses, que apanhavam banhos de sol, para que não apanhassem o seu
avião que, na verdade, seria o seu destino". (...) Sim, é claro que eu
estava a par de tudo isso, mas encontrava-me desesperado por não poder fazer
nada para evitar uma catástrofe tão medonha"
Diz a sua biografia que, “Francisco Sá Carneiro nasceu no Porto no dia 19 de Julho de 1934. Cresceu no seio de uma família da alta burguesia. Aos 22 anos concluiu o curso de Direito na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e principiou a sua carreira profissional como advogado. Católico praticante, frequentou os círculos mais progressistas da Igreja. Foi aqui que começou a defender publicamente a transformação do regime numa democracia parlamentar.”
FALECEU A 4 DE DEZEMBRO DE 1980
“Faleceu na noite de 4 de Dezembro de 1980, em circunstâncias trágicas e nunca completamente esclarecidas, quando o avião no qual seguia se despenhou em Camarate, pouco depois da descolagem do aeroporto de Lisboa, quando se dirigia ao Porto para participar num comício de apoio ao candidato presidencial da coligação, o General António Soares Carneiro. Juntamente com ele faleceu o Ministro da Defesa, o democrata-cristão Adelino Amaro da Costa, bem como a sua companheira Snu Abecassis, para além de assessores, piloto e co-piloto.”Francisco Sá Carneiro - Wikipédia, a enciclopédia livre
A AVIONETA NÃO SE DESPENHOU POR MERA FALHA DOS MOTORES - Mas porque alguém colocara, num dos pontos vulneráveis da mesma, um perigoso engenho – O alvo principal era Soares Carneiro, esta a minha convicção
Estava-se a três dias das segundas eleições presidenciais portuguesas após o 25 de Abril de 1974 previstas para 7 de Dezembro de 1980. O presidente em exercício de funções, Ramalho Eanes, contava com o apoio da maior parte dos socialistas (apesar da objecção do seu secretário-geral, Mário Soares), bem como dos comunistas, cujo candidato desistiu da corrida na véspera das eleições em seu favor. Também o PCTP-MRPP acabaria por dar o seu apoio incondicional ao general Eanes. O ambiente era de tensão no seio da AD, porque as sondagens davam uma vitória esmagadora a Ramalho Eanes, o que, aliás, viria a confirmar-se com 55,9 por cento (3 262 520 votos), tendo Soares Carneiro, se ficado pelos 39,8 por cento (2 325 481 votos)
AMBIENTE DE CRISPAÇÃO - PROPÍCIO A TRAIÇÕES
Quem pretender fazer qualquer género de ilações sobre as duas teses em confronto - se se tratou de um mero acidente (motivado por negligência na manutenção de um avião que não era novo), ou de atentado, terá primeiro que recordar o ambiente de crispação que, por essa altura, se instalou em torno do candidato proposto pela AD - E que tornar-se-ia cada vez mais nítido à medida que a derrota se antevia. Uns meses antes, Soares Carneiro, candidato da AD às presidenciais, declara à imprensa que, se fosse eleito, inviabilizaria um Governo PS/PCP ou qualquer outro que corresponda a "um acordo com comunistas".
Por seu turno, “Freitas do Amaral, declara que, se Ramalho Eanes fosse reeleito, não aceitaria assumir quaisquer funções governamentais". Sá Carneiro, assume igualmente idêntica posição
ANTÓNIO SOARES CARNEIRO
António Soares Carneiro nasceu em Cabinda. Militar, de formação especializada nas tropas de comandos. Era Secretário-Geral do Governo-Geral de Angola em 25 de Abril de 1974. Em 1980 foi candidato às eleições presidenciais, apoiado pela AD. Foi Chefe do Estado Maior das Forças Armadas no governo de Cavaco Silva Soares Carneiro - Wikipédia,
DE SEBASTIÃO DESEJADO A GENERAL MAL-AMADO E ODIADO
Como se depreende, quer o candidato (quer as principais figuras que propuseram o seu nome e o apoiavam), haviam criado um certo ambiente de rotura e de hostilidade com Eanes - Mas, por outro lado, cada dia lhes era mais notório que não lhes restava outra alternativa na governação que aceitá-lo.
Como descalçar a bota ou salvar a honra do convento? - Crescia aos olhos vistos o descontentamento nas hostes da AD, não faltando quem maldissesse a hora de ter proposto um candidato prestes a ser derrotado, que não galvanizava nem mesmo os sectores mais conservadores do seu eleitorado. E, por isso, para não sofrer com tal humilhação, o desejasse ver a milhas de distância e rapidamente substituído por um nome que se pudesse opor ao homem de Alcains .
SOARES CARNEIRO - DIRIGIU O CENTRO DE INSTRUÇÃO DE COMANDOS, EM LUANDA – Foi meu comandante - Era um operacional, aliás, mais um gestor militar de que um militar para o combate - Ainda por cima, com mentalidade salazarista
Penso que o General Soares Carneiro não merecia uma tal punição: de um momento para o outro ficar na ponta da baioneta. Safou-se do pior mas por um golpe de sorte. Não partilhava das suas ideias políticas, nem era e nem sou ainda hoje um militarista. Fiz a tropa porque fui obrigado. Porém, como meu Comandante do Centro de Instrução de Comandos, em Luanda, onde o conheci (quando ali frequentei o 6º curso de comandos - após conclusão do curso de sargentos milicianos, em Nova Lisboa), sempre me pareceu um homem de coragem, inteligente, cordato e um excelente oficial.
Ele não devia ter-se metido numa tal alhada. Tinha obrigação de saber que, um operacional do mato, não estava talhado para ter sucesso na guerra partidária urbana e que, com o processo democrático em curso, o lugar dos militares era nos quartéis.
Além disso, o seu ideário, julgo que estaria mais voltado para o antigamente de que para o futuro. Ramalho Eanes não seguiu a carreira militar: teve mais sorte mas também, politicamente, foi mais cauteloso e soube ver mais longe.
TRÊS PARTIDOS - UNIDOS POR UM ÚNICO OBJECTIVO – Conquistar uma maioria no Governo em S. Bento e um Presidente em Belém – Tiveram que se resignar apenas a uma das coisas - Mas a que preço!
E LÁ SE FOI O SONHO - Tal como a bola de sabão ou de cristal que se desfaz após um sopro
De recordar que, a Aliança Democrática, constituída pelo PPD,CDS e PPM, havia renovado a maioria absoluta de deputados com 41,7% dos votos, dois meses antes, em 5 Outubro. de 1980. No entanto, e apesar de Ramalho Eanes, três dias depois, defender o mesmo modelo de sociedade da AD, afirmando que "o eleitorado das presidenciais é constituído por portugueses e não por partidos", mesmo assim, para o núcleo duro da AD, Ramalho Eanes, não era o candidato da sua confiança. A campanha para as presidenciais, - iniciada em 22 de Novembro -, é desde logo declarada, pelos apoiantes do candidato da direita, frontalmente contra o então Presidente da República. Os ataques e as críticas que lhe são deferidos sobem de tom à medida que se aproxima o acto eleitoral. Soares Carneiro é um candidato cinzento, apagado, muito conotado com a extrema direita, ainda por cima não é civil e não consegue entusiasmar o eleitorado da AD, que, recentemente, havia renovado a maioria absoluta nas legislativas. Instala-se a frustração e o desalento, num sector político cujo maior sonho " invocado pelo então primeiro-ministro, era uma maioria, um governo, um Presidente"
INIGUALÁVEL - UM NOME QUE SE PERPETUARÁ PARA A HISTÓRIA! Para Francisco Sá Carneiro, não havia metas inatingíveis - Esqueceu-se, porém, que poderiam existir outros espinhos pelos caminhos nas suas próprias hostes
É tal coisa: quem tudo quer, tudo perde! Mas Sá Carneiro não era dos que facilmente estava disposto a perder! - E a encarar a derrota ao primeiro obstáculo! Ele era um espírito muito combativo, inteligente e de muita garra. De estatura aparentemente franzina, muitos até se admiravam onde é que aquele homem ia buscar tanta determinação e tanta energia. E, paradoxalmente, sempre tão amável e cordial - até nas relações com os seus adversários. Na sua personalidade o espírito combativo não era indissociável do carácter afável e humano. Viera para a política, imbuído de convicções firmes, sabia perfeitamente o que queria e não se importava de arriscar para atingir as suas metas - por mais que fossem as dificuldades!
Sá Carneiro, tenta a última cartada. Num derradeiro esforço para alterar a tendência de voto, decide ele próprio participar no comício do Porto. Possivelmente, acredita que Soares Carneiro, não iria ali acrescentar mais nada. E, à última hora, decide trocar bilhetes. Foi o seu azar e a sua pouca sorte - e também a de Adelino Amaro da Costa, vice-primeiro-ministro e ministro da defesa, bem como os restantes ocupantes que no fatídico voo perderam a vida: a bomba que estaria destinada ao General Soares Carneiro (que estava destinada: pois é minha convicção de que, gente - cuja imagem me aflora à mente - com rosto e com ambições políticas e que fora postergada, congeminara a traição), sim, essa ocorrência não prevista, salva-o de uma morte anunciada, não poupando, porém, as vítimas que os conspiradores não imaginavam.
QUEM COMETEU O ATENTADO, AGIU POR INICIATIVA PRÓPRIA OU A PEDIDO DE UM MANDANTE SUPERIOR?... Naturalmente que não agiu sozinho – Porém, fosse qual fosse a origem criminosa, devia ter havido mais cuidado no recrutamento de certas pessoas e não parece ter havido - Claro que não me estou a referir a Sá Carneiro.
O atentado aconteceu e creio que não deverá ser entendido apenas como mera cabala de ficção. Penso que, num dos partidos da AD, havia gente muito perigosa e a quem eram confiadas altas missões de segurança e, até , como condutor e guarda-costas do seu líder, que nunca deveria ter sido convidada para o despenho de tais tarefas.
.NÃO QUERO APONTAR SEJA QUEM FOR - Exprimo-me, não tanto na qualidade de analista mas sobretudo como espiritualista e numa perspectiva intuitiva e mediúnica. Recuso-me porém a apontar seja quem for. Até porque a mediunidade não é o reflexo de uma vontade determinada ou de uma visão absolutamente certa e infalível: é uma propensão, é uma faculdade, mas falível como qualquer outra. Mas é muito importante.
Sim, e quem sou eu para fazer qualquer julgamento? O que eu posso dizer é que, o peso da consciência - mesmo até nas consciências consideradas mais frias, mais criminosas e empedernidas - é algo que, mais tarde ou mais cedo, tende a que haja uma espécie de rebate. É uma espécie de poço artesiano: este jorra, quando a perfuração o toca; o recalcamento também se desfaz por força de uma força exterior à sua vontade. Vem de fora para dentro. Mercê, obviamente de pressões que se comprimem.
Diz-se que o criminoso volta sempre ao local do crime - E porquê? É o primeiro sinal de rebate. Se é fraco, entrega-se logo a seguir; se é forte, retira-se e faz tudo para se disfarçar. Alguns (tal a é a imaginação do disfarce) que até se oferecem para colaborar com a justiça, mal esta imagina que o criminoso, que procuram, está à sua frente ou ao seu lado. Quantos casos, não terão assim acontecido.
O arrependimento é algo que transcende o autor do acto ou da má acção cometida. É próprio da natureza humana. Não há ninguém que seja absolutamente imune a esse instinto de remissão ou impulso purificador. De uma maneira ou de outra ele tende a manifestar-se. Uma má acção tem sempre o seu ricochete. O reverso. Poderá não ser naquela altura, naquele momento, até poderá levar vários anos ou mesmo até ocorrer com os pés à beira da cova, mas o coração tem que expandir-se do recalcamento guardado. Que mais não seja num gesto que possa honrar a memória da vítima.
Claro que, as reacções são as mais diversas: nem todos o fazem da mesma maneira. Nos anais do mundo do crime há muitos exemplos. Uns, levam mais tempo, outros menos; uns, passados a hora da loucura, incapazes de suportar o peso e, mesmo antes de serem procurados ou que as autoridades sequer os identifiquem, entregam-se-lhes, soçobram, fraquejam, não resistem. A sua cabeça torna-se um vulcão e, de duas uma, senão vão logo a correr para abrir o seu coração torturado, dão em loucos ou atentam contra a própria vida. Outros, porém, mais cautelosos, mais frios, levam o seu tempo. Poderão não declarar: "fui eu! Eu sou o culpado! Prendam-me! Sou um criminoso!" Porém, cada um e a seu modo, lá chegará o dia em que abrirá a sua "arca"... acabará por franquear as portas da sua mente e libertar-se-á do peso que o oprime e apoquenta, da tortura que o persegue.
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Eu tive experiências solitárias em plenas tempestades oceânicas, onde a morte esteve continuamente muito perto de mim: explico isso noutro espaço; na personagem do navegante dos mares e ao longo de mais de três dezenas de dias: direi mesmo que a morte foi a minha mais fiel companheira de todos os instantes e de todas as horas. Claro, um tal permanente estado de espírito, reforçou, julgo eu, ainda mais as minhas faculdades mediúnicas - sim, certas faculdades. Mas não vou agora discorrer sobre essa questão: levar-me-ia longe. Até porque, tais faculdades, não surgem como e quando se quer. Acontecem - e até quando menos se espera. Claro, também podem ser induzidas. É quase o mesmo que sucede com o atleta que se prepara para a sua competição. Só pode alcançar a meta, o prémio desejado, com esforço, persistência e determinação: com o medium é quase algo semelhante. Não basta a propensão, é preciso que proporcione à mente, a necessária tranquilidade e tensão. Dois estados aparentemente opostos e contraditórios mas que, em espiritualidade, se conjugam perfeitamente - se interligam numa fecunda harmonia. Sacrifico é igual a purificação ou remissão.
Sim, disse atrás que não queria apontar nomes, é verdade: somos um país de brandos costumes; não temos uma tradição de violência. Mas também não é menos verdade que, os anos que seguiram à revolução de Abri - conquanto esta não fosse sangrenta - foram marcados por muita agitação e alguns actos de banditismo e de terrorismo. Inclino-me para um destes actos. Mas prefiro não fazer estripulações específicas e deixar que cada um faça o seu juízo.
As afirmações de “Sô Zé” não deverão ser entendidas como meras bocas, destituídas de crédito: se ele diz que fabricou a bomba é porque lhe foge a boca para o trombone ou pelo menos para aguma verdade - Sobretudo quando a um trauma se vem juntar outro - Ele lá terá as suas razões - Mas há que ter também em conta que, quem conta um conto ou lhe retira uma virgula ou lhe acrescenta mais um ponto
Conheço-o pessoalmente: ele diz que andou nos comandos em Angola, eu também lá andei (seis meses, após frequentado o curso de sargentos na ex-Nova Lisboa) mas não foi aí que travei conversa com ele. A minha passagem, por lá, felizmente, foi meteórica. Apenas o tempo para frequentar o curso e voltar à minha linda Ilha. Mas não me deixou saudades algumas - Embora reconheça que, muitos daqueles que ficaram por lá em missão de serviço, tenham adquirido traumas que bastem! Se calhar foi o caso de José: a quem, a um trauma, ter-se-á juntado outro, talvez ainda maior: o de Camarate. E que, para se aliviar de um problema de consciência ou de outro tipo de perturbações que o tenham afectado, haja decidido, duas décadas mais tarde , exprimir a verdade – Não direi a verdade nua e crua, mas talvez a sua verdade; aquela que ele entendesse efabular...
Porém, isso é uma questão a que só ele - José Esteves - poderá cabalmente responder e explicar. Ou então com ajuda do foro psiquiátrico - Não me parece que seja exclusivamente através de interrogatórios policiais, a que já fora submetido, ao que julgo por duas vezes - A última das quais na sequência das polémicas declarações à revista Focus - Desabafos, esses, que, pelos vistos, parecem não ter sido tomados a sério.
JOSÉ ESTEVES CONFESSOU À REVISTA FOCOS TER FABRICADO O ENGENHO EXPLOSIVO MAS APENAS PARA PREGAR UM SUSTO
Já lá vão quase três anos que o antigo segurança do CDS, afirmou à Focus que foi ele quem "fabricou a faca mas não a facada" "Eu fabrico a faca, mas não dou a facada. As armas não matam. Quem mata são os homens. Em camarate quanto eu fiz foi dizer" sim senhor patrão". O mesmo é dizer: Sr. Mandante! Tem aí o punhal! Agora espete-o ou mande-o espetar ´".
Apesar do caso já ter caído numa espécie de adormecimento, creio valer a pena recordar as suas declarações, que foram então reproduzidas através da Agência lusa
Diz Esteves - "Montei um engenho incendiário para pregar um susto. Foi entregue na Rua Augusta, numa loja, debaixo de um "puff". Já sabia que era para um individuo de tez escura". disse José Esteves à revista.
Assumiu a autoria do engenho "para pregar um susto" mas recusou ser considerado o assassino dos dois políticos portugueses e confessa que, ainda hoje, o caso Camarate lhe provoca sofrimento - José Esteves confessa ter fabricado engenho explosivo
"EM PORTUGAL É MAIS FÁCIL PÔR UMA BOMBA A UM GAJO QUE LHE DAR UM TIRO NA TOLA"- Palavras de José Esteves, em meados dos anos 80
Portugal é realmente um país d tradições pacíficas, de costumes brandos - Mas também onde alguns pouco, veem mais com os olhos fechados de que muitos com os olhos abertos - - Na imagem, ao lado, o Sr. Ferreira, que, em sua vida, pese a fatalidade que lhe caiu ainda jovem , foi sempre um homem muito clarividente e que nunca se resignou a sua sorte – Era um verdadeiro artista: Poeta, músico, grande animador de festas e tertúlias, fora da sua terra ou na pequena mercearia-taberna, de que era proprietário, homem do campo, para onde se dirigia sozinho a cavalo no seu macho e o cão à frente no caminho. Aqui lhe presto também a minha singela homenagem com esta fotografia que tive o prazer de lhe registar no sótão de sua casa(ex-loja), partindo amêndoa - E sem que um dedo fosse entalado. Era natural de Castelo melhor.
ALMOÇO COM JOSÉ ESTEVES NO CENTRO COMERCIAL DAS AMOREIRAS
Para assinalar o seu aniversário, José Esteves convidou um colega meu para almoçar num restaurante do Centro Comercial das Amoreiras - Por sua vez, este, antes de se dirigir para lá, perguntou-me se o queria acompanhar na referida refeição: - ´"É pá! Vem daí! Vem comigo! Ele paga a despesa! Pode ser que o tipo te dê alguma dica!"
A princípio hesitei mas logo a seguir acabei por aceitar. E lá fomos para o que esperávamos ser um breve convívio gastronómico, com aquele que continuava a ser apontado como o principal suspeito do Caso Camarate.
A ementa não teve nada de especial; ambos nos servimos dos pratos do dia, foram refeições simples - Houve apenas algum exagero no álcool: mas apenas da parte do José, que me pareceu mais solto e alegre; longe no entanto de ficar alcoolizado. Por minha parte não precisei desses temperos: nem mesmo em dia de aniversariante, optei pela tradicional garrafa de água.
Estive sempre sóbrio, mas atento e participante no agradável diálogo que se estabelecera rapidamente entre todos. Quanto ao dito furo, esse, não obstante o convívio se haver prolongado pela tarde adiante, estava longe de aparecer - Mas, por meu lado, também não me atrevia a provocá-lo, apostando mais em deixar correr o tempo, permitindo que o ambiente se distendesse e relaxasse o mais possível.
Não queria que, por minha iniciativa, resvalasse para algum incómodo antagonismo e deitasse tudo a perder. Porém, o meu amigo Mário, de vez em quando bem me piscava o olho, como quem diz:"atira-te"! Faz-lhe a pergunta! Mas eu achava que devia ser ele a tomar a dianteira: até porque eu aparecia ali por arrasto e ele é que era o convidado especial.
Só que a única expressão (algo enigmática e insólita) que lhe ouvimos pronunciar foi simplesmente esta: "Meus amigos! Em Portugal é mais fácil pôr uma bomba a gajo do que lhe dar um tiro na tola!"
Não acrescentou mais nada e também nenhum de nós insistiu no assunto ou procurou ali decifrar a sua afirmação. Só mais tarde é que comentamos, entre os dois, o que poderia significar aquela absurda frase. Mas depressa reconhecemos que a chave ou a interpretação do enigma podia prestar-se a todo o género de especulações, que ultrapassam o âmbito de qualquer um de nós. Mas lá que há expressões, que nos fazem pensar, isso é bem verdade!
COMO CONHECI O SR. JOSÉ ESTEVES
Nos anos 80, o José Esteves era uma visita frequente da estação de rádio, onde eu trabalhava e onde, de vez em quando, ali aparecia - creio que com o intuito de dar nas vistas - Fazendo-se passar por artista plástico.
Sempre afável e risonho, extremamente comunicativo, simpático. Entretanto, algum tempo depois, vim a saber que tinha aberto uma loja de venda de aves: importação de papagaios. Uma actividade de que confessava gostar muito. E, pelo que depreendi, o negócio até lhe estava a ir de vento em popa.
Anos mais tarde, face ao seu aparecimento nas televisões, verifiquei que a sua personalidade e as suas convicções religiosas se haviam profundamente alterado. Pelo menos era o que deixava transparecer através do seu visual e de algumas das suas palavras. Mas isso não acontece só com ele: o tempo não é imutável. A vida do ser humano muda ao longo dos anos; não apenas fisicamente mas também no plano intelectual e mental. Não há ninguém que resista a essa provação: seja benfazeja ou maléfica. Pessoalmente, também sinto essa influência.
O Atentado Acidental
(...) Eu já tinha 29 anos quando o acidente se deu. - diz o autor do blogue - Con(tro)versas numa postagem publicada, em 4 de Dezembro de 2006
Lembro-me perfeitamente que, quer a Procuradoria-geral da República, quer Freitas do Amaral, a exercer as funções de 1º Ministro, vieram poucos dias depois esclarecer que não havia qualquer indício de atentado! Conclusão que se manteve quando a polícia deu por terminada a investigação. Só que, uma coisa são as conclusões a que se chega racionalmente, outra são as “conclusões” de quem já tinha decidido, anteriormente, que se tratava de atentado. Confrontado com o resultado da investigação, o lobby do atentado, virou-se para a Assembleia da República, onde conseguiu que fosse nomeada uma comissão de inquérito ao “caso Camarate”.
Sempre achei estas comissões um absurdo! A Assembleia da República tem 3 funções – fazer leis, aprovar o programa do governo e fiscalizar a sua acção. Em nenhuma delas cabem comissões de inquérito a acidentes ou atentados, por muito ilustres que sejam as vítimas! Além disso, os deputados não têm qualquer formação especial para orientarem investigações nem os serviços da assembleia estão para aí vocacionados. Então, qual é a lógica de criar estas comissões a não ser para ter uma voz credível e que se possa manipular?
Apesar disso, a primeira comissão terminou sem conclusões claras. Mas os radicais da tese do atentado não desarmaram: pouco tempo depois conseguiram que fosse criada nova comissão. Que também não chegou a qualquer conclusão. E de comissão em comissão já vamos na 9ª (creio).
A primeira comissão que deu como provado o atentado foi a 5ª. E também foi a protagonista de uma das cenas mais ridículas de toda esta história: compenetrados do seu papel de investigadores, os senhores deputados resolveram ir visitar o armazém onde ainda estavam guardados os destroços do Cessna acidentado. Já tinham passado muitos anos, já não havia muito cuidado para impedir que os destroços fossem contaminados por outros objectos guardados no mesmo armazém, etc, mas, mesmo assim, os senhores deputados lá foram. A meio da visita, um dos senhores deputados pegou num destroço, ao acaso, e pediu para que fosse examinado no laboratório. Então não é que esse destroço apresentou vestígios de explosivos!!! Que se saiba foi o único. Nem comento!
(....)“QUEM É JOSÉ ESTEVES?”.
Foi comando em Angola, operacional de rede bombista após o 25 de Abril, guarda-costas de Freitas do Amaral e bruxo (não, não estou a brincar). Mais recentemente, aderiu ao islamismo e proclamou ligações à Al-quaida. Tão credível personagem, foi presa no próprio dia pela polícia judiciária, não por causa do caso Camarate mas porque era suspeito de ter colocado ossadas junto às instalações da SIC, de, vestido de árabe, ter ameaçado fazer-se explodir dentro das instalações da Procuradoria Geral da República e por ter colocado panfletos com dizeres em árabe, junto de bebidas à venda em grandes superfícies! A própria versão que José Esteves conta à Focus é mirabolante: Teria sido Amaro da Costa a pedir-lhe para fabricar a bomba, destinada a ser colocada naquele aparelho no dia anterior, para provocar um susto ao General Soares Carneiro que o usou numa deslocação. Este estava em campanha para a Presidência da República apoiado pela coligação PSD-CDS, mas estava a correr mal e Amaro da Costa esperava, assim, inverter a tendência de voto. Francamente, apresentar isto como prova envergonha qualquer um que não esteja desesperado.
Não tenho nenhum interesse especial na tese do acidente. Mas enquanto me contarem histórias da carochinha deste calibre" - Conclui o autor de Con(tro)versas
Não deixe de ver as últimas manobras de Freitas do Amaral, no seu livro: Camarate - um caso ainda em aberto" - Está enganado; diz Mota Amaral que "o Parlamento "já fez tudo o que tinha a fazer" .Por seu turno, Pedro Santana Lopes afirma que "Portugal vive tempos em que se sente muito a falta de Francisco Sá Carneiro e diz que os portugueses têm saudades "de uma maneira impressionante".